Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

29.9.07

PULANDO DE GALHOS EM GALHOS DA RUA DO MEIO ATÉ OS BAIRROS....

OS BAIRROS MIRAMAR E VISCONDE, Filhinha. Odila Araujo, Anita Alvarez Parada e dona Yayá Vieira... das nossas Histórias

Uma das primeiras famílias que habitaram os bairros Miramar e Visconde de Araújo, foi a de Filhinha, esposa de Tolizano. Ela mãe de José Carlos e umas outras meninas que se casaram. Uma se casou com José um ferroviário e a outra com Herval Meireles um colega meu do SENAI e irmaoirmão de Meirelles da Sucan. Filhinha era prima de minha bisavó e ia na casa dela sempre com minha avó Nhasinha. Retratei este fato numa crônica no livro “Cabelos Brancos” e publicada no jornal “O REBATE”.

Era um menino de l0 anos e a caminhada da Rua do Meio até a casa de Filhinha parecia uma viagem. Por entre troncos de árvores e, vendo saltitar nas valas límpidas ( hoje um valão fédido que corta toda a extensão dos bairros), piabas e muriongos eu podia dimensionar uma vegetação florida e um mundo todo de natural essência. Ia com minha avó que por sua vez fazia todo o trajeto me colocando a par das existências humanas de Macaé e de Sua Gente que ela tanto conhecia e era conhecida.

Foi assim, nesta longa conversa de uma caminhada celestial/terrena que eu ia sabendo das existenciasexistências das histórias vivas de Macaé. Jamais, eu e minha avó podíamos imaginar que isto viria a ser publicado...Quando a gente passava pela Praça da Igreja era de dona Artemia, maemãe de Pilar, Anita, Cezário, Tonito e Ermínia que ela falava. Daí em diante o tempo formava um rosário de gente de um tempo que eu pouco vivi. Lafaiettte Vieira de Faetinho e Walter, Joaquim Santos, Jose´Siqueira de dona Delzinha, Yayá Vieira, , Joaquim Santos. ConceiçaoConceição Prata eram sonoridades humanas que entravam em minha cabeça com carinho ev amor na pessoa que me familiarizava no tempo.

As longas conversas formatavam nosso entendimento e formava o conhecimento que só a fala humana pode fazer.

II

Andávamos por ruas e vielas onde hoje existem o Banco do Brasil, a Fafima e o Luiz Reid. Arvores, gente de cavalo e muitas bicicletas. Alguns cumprimentavam, outros nos olhavam e a caminhada era elegantemente/ linda. Soltando das suas mãos eu pulando por entre galhos, espantando a passarinhada, vendo preás e gambás que corriam por entre matos e cercas que pareciam não Ter fim. Era assim onde hoje tem o ABC e o Hotel Portugal.

Algumas casas de ferroviários com cercas de restos de trens e só. Era esta pura cidade que percorria com minha avó da Rua do Meio até o que é hoje o Bairro Miramar.

Chegávamos na casa de Filhinha que era a única casa do Bairro onde tinha uma espécie de Quitandinha ao lado. A linha de trens ficava a uns 40 metros da casa e havia uma caixa d’ água, a direita, onde o Expresso o Noturno e o Rápido eram abastecidos O apito vinha de longe entrando pelos nossos curiosos ouvidos de meninos... .. Este apito tinha o tom harmonioso de uma época de belíssima transformação de Macaé. Era o ano de l949 e todo o potencial de Ferrovia estava voltado para Macaé como está, neste início de Século, para o Petróleo.

A vida de Macaé começava a ter modificações estruturais e culturais com a vinda de centenas de homens e mulheres transferidas. Muitos em busca de emprego na então Leopoldina.

A casa de Filhinha foi o marco que deu inicio a criação deste bairro e o José Carlos, que ainda esta morando lá, tem as fotos que marcaram sua infância no grande quintal com a geografia da época.

A vida do bairro teve inicio com dezenas de famílias de ferroviários que compraram seus lotes e foram cimentando uma nova história macaense e forjando, no suor das oficinas de Imbetiba, a vida e a cultura de novas gerações, que se misturaram e formaram uma Macaé ecléticamente genética e mais apurada.

DONA ODILA ARAÚJO

Pouca gente sabe que temos uma dama que fez história no Teatro Brasileiro. Era mesmo uma macaense que saindo de Macaé, brilhou nos conhecimentos da vida teatral no Rio de Janeiro. Dona Odila Araujo mãe de Cordely. Esta talvez mais conhecida por ser jovem e habitar em nosso cotidiano. Cordely como sua mãe também fez Teatro. Eu sempre ouvia falar em dona Odila por Tutuca e Jojó. A gente andava junto desde os tempos de estudante e sempre Ruy me falava de suas tia, irmã de sua mãe.

O teatro veio para esta macaense como para a maioria dos grandes em suas várias profissões. Chegou a ela como vendedora de ingressos e projetou-se no palco pelo talento que soube desenvolver na filha Cordely. Ainda morando em Macaé e chegando aos 90 anos ela mesma me contou o que falo e escrevo.

II

O Rio de Janeiro nos anos 40, mais preciso em l943, viu chegar alguns valores do interior que fizeram historias. Dona Odila foi uma delas. Trabalhando no antigo Rex e Capitólio esta mulher, nascida na Rua Alfredo Backer numero l, em Macaé, mudaria sua historia e se firmaria com brilho na vida do Teatro Brasileiro.

Teatro Gloria na Cinelândia perto do Amarelinho fazendo bilheteria e secretariando os mais famosos artistas da época ela foi se firmando e formando sua história. Do tempo em que se selava os ingressos e se conheciam os freqüentadores por nomes e por cadeiras. O teatro do Rio engatinhava.

No Fênix como secretária, depois foi com Dulcina e Odilon para o Teatro ginástico da Graça Aranha; Ela sempre que se refere ao Odilon ainda usa o doutor Odilon.

Assim esta pequenina mulher macaense foi sendo pilar na teatrologia nacional onde sua filha Cordelly trabalhava nas peças de Nelson Rodrigues amigo pessoal de dona Odila de quem fala que era uma pessoa muito perguntativa. Nelson gostava de secar as pessoas com pergunta. Fala isso e sorri. Por 12 anos ficou com Dulcina e o Dr. Odilon.

Depois Meson de France. Eva Tudor, sempre vem até Macaé visitá-la e Odila ainda tem saudades do Rio, de sua casa em Copacabana e Lido onde se reuniam os seus amigos de teatro. Rodolpho Mayer, Floriano Faissal, Iara Cortes, Dayse Lucidi, Jece Valadão. Agildo Ribeiro, Paulo Nosling são alguns dos seus amigos recordativos.

Fala com sensibilidade especial sobre Sérgio Cardoso e relata que foi com Sérgio, que Tarcísio Meira teve seu primeiro papel no teatro.

Acha que o mais lindo do teatro é quando a companhia viaja. Conheceu o Brasil todo nas companhias que trabalhou. Cordelly trabalhou em 7 gatinhos de Nelson Rodrigues e ela fala com orgulho de seu neto Cláudio José Araújo Motta que ela criou e hoje é um dos mais renomados químicos do país e que leciona mestrado nas Ufrj.

Este seu neto é um dos mais importantes expoente do mundo em sua formação. Estudou no Luiz Reid nos anos 70. Orgulha- se de ter sido amiga de Agildo Barata e Ney Braga. Ë irmã de dona Odiléa mãe de Jojó, Julinho e Tutuca. Seus últimos dias foram vividos na Rua Conde de Araruama.

Vizinha de António Parodi ela viveu seus encantados dias de belas recordações. O olhar fixamente preso no belo do Rio de Janeiro e suas recordações faziam de dona Odilha a mais autentica das harmonias com o belo.

Sua morte foi a morte de uma história viva da cultura do teatro brasileiro...

25.9.07

VIOLENCIA SEM LIMITES EM NOSSA REGIÃO...

ANA LUIZA QUEIRÓZ MATOSO SIQUEIRA É ASSASSINADA EM MACAÉ.

Vitima da crueldade humana, seqüestrada, espancada e morta em pleno vigor de sua existência. Aninha estava administrando o estacionamento de sua propriedade em frente ao Colégio Luiz Reid. Viúva do conhecido patologista clínico Jair Picanço Siqueira, Ana Luiza era uma pessoa alegre, feliz e não se importava com a herança recebida. Mantinha uma vida simples, herdada de sua mãe Heleosina Matoso que era uma das mais antigas funcionárias da prefeitura.

Aninha estudou em colégios públicos. Formou-se em pedagogia mais vivia para o lar. Preocupada com o futuro de sua filha ela jamais podia imaginar que a violência que cresce na cidade pudesse abater-se sobre sua família. Morava na residência da família dos Pincanços Siqueiras sem se importar com o que viria acontecer.

Seqüestrada, torturada e morta este vulto de nossa história é mais uma vítima da sanha avassaladora dos criminosos que vivem na região.

TRECHOS DAS HISTÓRIAS VIVAS DA REGIÃO

DE ROLDÃO PEREIRA, BACELLAR E A VIDA BOEMIA NA REGIÃO........................................ José Milbs

BINHO BACELLAR

Celso Rubens de Campos Bacellar

Nas aulas noturnas do Ginásio Macaense, que era de ensino particular mantido por uma Fundação, comecei a ter novos amigos. Diferentes dos de infância ou do SENAI. Embora estes continuassem sendo parte da harmonia afetiva de minha existência macaense, outros passaram a habitar meu mundo. Celso Rubens de Campos Bacelar era irmão mais novo de Bebeto, do mesmo sobrenome desse meu colega de SENAI e de estripulias no “Bar Mocambo” de Seu Nicomedes.

Era neste bar, deste homem lindamente gentil que a gente escondia as roupas nas matanças de aulas e fazíamos nossas primeira investidas na marginalidade pura de uma cidade ainda pura...

O pai de Binho e Bebeto era o vereador Jayme Bacellar, que como Chefe da Estação, tinha sido eleito vereador por dois mandatos. Seu Jayme Reunia em sua casa, na rua Júlio Olivier, perto da Rinha de Galo, expoentes da vida social de Macaé como Roldão Pereira que foi brutalmente assassinado em frente a sua casa por Jamil da Rodagem, bairro de Carapebus, Jamil foi preso, condenado, cumpriu pena e foi posto em liberdade.

Roldão era de uma das mais tradicionais famílias macaenses do final de século. Irmão de Nilton Carlos jornalista internacional e ex repórter do “O REBATE” nos anos 40, Sua morte trouxe grande comoção para toda a comunidade, que exigiu justiça.

II

Com Binho Bacellar comecei o que se chama hoje dia de “colar com fulano”. Colamos um no outro e daí formou-se uma amizade muito bonita. Cinemas, bailes, o primeiro chope, a primeira namorada enfim errávamos juntos e juntos sempre saíamos de casa.

As vezes tinha que sair de noite para as fugidas da juventude numa cidade ainda tímida e pura. Era Alan Guerra, o “Birosca” juntamente com Ferdinando Agostinho que tinham de ir pedir a minha avó para eu ir e se comprometiam em me trazer de volta antes sempre das 22 horas. Minha avó, nem de longe imaginava que Alan tinha sido expulso de Macaé pelo Delegado Jonathan Desertos Bastos como pessoa não grata a nossa comunidade. Valia mais que uma intespestiva ação de um policial desprovido de senso de humor a historicidade de Alan como membro de uma das mais ilustres familias da região.

Alan cumpria direitinho a intimação até porque como sobrinho do Camilo Nogueira da Gama tinha crédito na família.

Mais tarde Birosca escreveu no jornal que dirigi. No “O REBATE”. Tinha a coluna “Desfolhando a Margarida” e juntamente com Armando, Luiz Pinheiro, Osmar Sardenberg, Lecino Mello, Euzebio Mello, Padre Nabais, Padre Armindo, Pastor Edmundo, Dilton Pereira, Jairo Vasconcellos. Tonito Parada, Álvaro Bastos, Tem Mello, , Mirto, Cláudio Upiano e outros formavam a equipe mais eclética e democrática da imprensa macaense. Esta tônica era a essência cultural do “O REBATE” no final da década de 60 até meados dos anos 70.

Esta turma de Ferdinando e Alan está uma geração a frente da minha mais suas histórias e feitos correram gerações e muitas delas ainda fazem partes de belíssimas gargalhadas de fazerem balançar e tremer dentaduras reluzentes.

III

Contam que no trecho da rua Conde de Araruama até a Marechal Deodoro tinha um correr de casas com telhadas interligados. Brabinho e Abelardo estavam procurando pombos quando Brabinho desabou onde era a Fabrica Lynce, de Lacerda, e caiu dentro do tonel de cachaça Itaquira que tinha acabado de chegar de Carapebus, para distribuir.

Ferdinando inventou que havia defecado no tonel e o caso ficou sob suspeita até hoje. Quase que Antenor teve de se haver com Elias para ressarcimento.

Quando contei este fato a meu filho Luís Cláudio ele falou que deveria haver algo genético neste tipo de tombo furtivo porque o Cássio, filho de Brabinho e seu colega de Colégio no Luiz Reid, também caiu do telhado do Luiz Reid nos anos 80. Quando ele, “Xereleco” e André Peixoto procuravam fugir das aulas. Foram acusados injustamente de tentarem furtar o bar de João Machado irmão do Flaubert...

IV

Havia um Café onde depois foi feita a “Sorveteria Vem Cá” de Elísio e Casimiro Abreu. Neste bar tinha um garçom feio, com olhos esbugalhados, revezados para o centro da testa de onde convergiam uma morbidez de fazer inveja os personagens de Dante. Este garçom era chicoteado por Célio Ferraz, Birosca, Ferdinando e Brabinho. Engolia a seco por que havia, como hoje ainda existe, um certo respeito por gente enturmada.

Passados 40 anos, um dia o Célio estava num bairro de Caxias, tomando uma cerveja numa esquina, quando viu um vulto de óculos escuros, um grande rádio de pilha tocando música rancheira e com uma roupa totalmente identificada com o personagem de sua juventude. Quando ele chegou mais perto não havia dúvida. Era mesmo o Garçon “Puaba”. Célio, mirando o personagem e apontando para Ferdinando brada nas alturas: ........Puabaaaaa... Incontinente recebeu a chegada do velho garçom bem perto de seu rosto que sentenciou algo que devia estar engasgado em sua garganta. ///Puaba é a puta que o parillll. Célio entendeu e, depois de um intervalo onde o afeto suplanta as diferenciações de credo, religião e política, abraçaram-se longamente.

Naqueles anos 40, Manoel Maia vendia Caqui, Bueno Agostinho trabalhava ensacando Sal na Rua Sacadura Cabral no Rio de Janeiro e Dodô do bicho trabalhava na Fábrica de Sandálias de Landor Pereira, pai de Fred e Fernando. As nossas ruas tinham em suas poeiras as verdadeiras essências de suas histórias.

Jonas Willeman, Zé Baiaco, Baiano Leiteiro eram vistos em nossas esquinas da vida com suas alegres falas e sorrisos nossos...

(trecho do Livro O Pinguin da Rua do Meio)

15.9.07

PADRE NABAIS UM SIMBOLO DO "O REBATE" N A RESISTENCIA DOS ANOS 70


PADRE NABAIS EM MACAÉ. VIVA NABAIS...

Os anos 60/70 foram de grande importância politico;social para a nosso região. "O REBATE" lutava em favor das Liberdades e suas páginas eram sensuradas pelos detentores do poder. Nas oficinas da Rua Marechal Deodoro, 15o, no centro de Macaé funcionava nossa oficina. Era ali que, com letras compiadas uma a uma a gente fazia o jornal ir às ruas e o colocava nos corrêios para centenas de pessoas que moravam fora da região.
Padre Nabais era um de nossos COLUNISTAS. Suas matérias vinham sempre trazendo as belezas de seu apoio a nosso trabalho e fortalecia nossas almas com suas palavras de carinho e afeto.

Sempre à frente de seus pares ele sabia de nossa luta e caminhava com a gente "ombro a Ombro" na busca das liberdades democráticas e na batalha contra a corrupção que já existia em grande escala no poder.
Nabais jamais se intimidou com as idas e vindas de censores no nosso jornal. Seu linguajar, de além mares, misturava com as nossas falas e trazia o conforto para a investida em novas edições do "O REBATE "nos anos de chumbo...
Hoje recebe de meu velho companheiro Ubiratan, dos bons tempos alegres do nosso tempo de Previdência Social, que este grande amigo e Padre estará em Macaé, na Paróquia que ele fundou nos anos que referi acima.

Ubiratan:

Alô, Milbs. O Padre Nabais informou à secretária da Igreja de S. Paulo Apóstolo q estará em Macaé em 19/9, chegando entre 12 e 13:00h. No dia 20/9, às 19h30, deverá celebrar a missa na mesma igreja. Um abr.

Uma grata e feliz névoa de saudosa alegria tomou conta de minhas paredes memoriais e, indo ao PC, fiz este texto que passo para a internet com o intuito de imortalizar este homem simples, esta jovem português dos anos 70 que deu, com minha geração, passadas largas na redemocratização do Brasil
Interessante que sempre temos um Português nas grandes transformações de nossa história. E Nabais foi um destes portugueses que deram o grande impulso na imprensa de Macaé na busca de uma luz na liberdade que a gente almejava...
Boas vinda amigo Nabais. (José Milbs de Lacerda Gama, editor de O REBATE no www.jornalorebate.com )

11.9.07

ODALCY LORINHO DA TELERJ E OS OLHOS DE MANFREDO...

OS OLHOS AZUIS DE MANFREDO E O SORRISO TIMIDO DE ODALCY LORINHO...

Existem duas Macaés nestes últimos 25 anos. Uma Macaé que diminui a cada dia e que se encolhe e outra que incha de uma forma, às vezes benéficas outras ruins para a sua história.

A Macaé verdadeiramente moldada em nossa história vive nos cantos, vendo ser feita uma tentativa de passar um mata-borrão em suas origens e abortar figuras terrivelmente alheias as verdades históricas de suas raízes. Sorte nossa que a PETROBRAS trouxe muita gente boa e muitos de seus filhos estão ai a misturar-se com o sangue dos nativos...

Por isso é que quando morre um pilar de nossa história a gente fica pensando na lacuna que se abre de uma forma triste e saudosa. Manfredo Frota era uma espécie de remanescente de uma Macaé que se esvai no tempo. Sua beleza humana trazia na fala e na inteligência o brilho herdado de seu pai Silvino que se moldou de forma harmoniosa às noites boêmias da cidade nos anos 50. Os seus olhos esverdeadamente azuis se pareciam com os de Ereny Monteiro e faziam a gente pensar que tinha hereditariedade em seu saudoso cunhado Paulo Neto que era também possuidor deste azul que mais parecia o mar de Imbetiba em seus dias de belezas e encantamento, hoje tão triste e moribundamente amarelado...

II

Manfredo, Milcélio, Cláudio Itagiba, Fernando, seu irmão, Alvinho Paixão, Dodô, Palito de seu Hipólito, Byra irmão de Iltamir eram uma parte viva das noites macaenses e Manfredo se sobressaia por ser um dos poucos que lia e relia os grandes vultos da cultura brasileira e internacional. Às vezes sua presença se fazia junto do Elso Mussi, outras vezes estava com Motinha, Turrinha, Tonito, Levy, Barcellar, Walter ou Faetinho no bar São Cristóvão de Sylvio e Ivo Lopes. Vez outra no Ipiranga em sua domingueira, com Arley, Dunga ou Buruca ou Celso Mancebo. Era sempre uma presença macaense que ele harmonizava com seu vulto esguio e belo.

Quantas vezes Manfredo entrava no bar de dona Dadá e discutia com Birosca sobre Futebol e era ouvido por Luiz Pinheiro ou Luiz Carneiro? À tardinha era com Itinho Cabeludo da Boa Vista ou Mirian Almeida da Rua do Meio ou Cláudio Moacyr ou Zezinho Crespo ou Bill.

Era sempre Manfredo que trazia as novidades filosóficas que falava com Euzébio Mello, Ferdinando ou Carminha Garrido. Seus olhos romperam as décadas de 50, 60 e nos fez seu admirador e amigo. Quantas noites Antônio Parodi, Roberto e Ricardo Moacyr o viram passar com seus livros embaixo do braço indo para o Imperatriz conversar com o mestre Upiano? Manfredo fechou para sempre os seus olhos azuis...

Acho que foi por isso que, após a ressaca, a Imbetiba amarelou. Devia estar sendo misturada na essência deste nosso macaense que se foi.

III

Macaé está triste. Um pilar de sua consistência cultural morre em pleno início vigor de sua inteligenvia.

Quem sabe volte a brilhar na beleza dos pirilampos que voltarão as nossas ruas com o blecaute que se anuncia? Será que os vaga-lumes têm olhos azuis?Afirmo que tem.

‘Uma das poucas idas as noites neste início de século recebi de outros olhos verdes/azuies um cândido agradecimento pelo meu texto. Era sua filha que vinha até minha solitária mesa afagar-me em gratidão pelo que disse do bom Manfredo... Numa mesa distante eu era a programação afetuosa de uma linda e doce Reiquiana...

IV

Lorinho, o nosso Odalçy

O ano era de l979 e era muito difícil formar o PT em Macaé. Além do temor de participar de um partido que se ensaiava como de esquerda, Macaé, historicamente, tinha suas raízes de esquerda num modelo diferente onde os anos de lutas tinham no PCB a hegemonia.

Tínhamos uma missão difícil. Fomos à luta para fundar o partido. Euzébio Mello, Honório José, Omir Rocha, Odalcyr Motta e Eu. Estava feita a primeira comissão do Partido dos Trabalhadores do Estado do Rio de Janeiro. Depois se fundou no Rio e o PT se espalhou. Hoje é um partido gordo bem nutrido e, em alguns de seus membros com cara de PSDB e PSD. Bem distante das origens mais ainda com cheiro de PT apesar dos perfumes importados que alguns usam nas noites macaenses. Mais ainda tem a teima dos que, iguais a Lorinho, Euzébio e Omir, sabem que a mentira tem pernas curtas e que a fantasia tem que sair após as festividades do Poder.

Nós fundadores sabíamos disso por essência ideológica. Euzébio se foi. Omir idem e agora perdemos o nosso Lorinho em triste desastre de automóvel.

Odalcyr sempre esteve à frente das lutas políticas de Macaé. Na Telerj, onde trabalhou por anos e anos, sempre esteve ao lado das justas lutas de seus companheiros preferindo as poeiras das ruas ao refrigerados da diretoria. Era sempre com seu olhar brejeiro e sorriso tímido que a gente o via nas ruas de Macaé onde sempre esteve. Lorinho vem de uma história nitidamente macaense. Na Rua 7 de setembro onde morou com sua mãe com Ceil e Ilse seus irmaosirmãos ele começou trabalhando no O REBATE com Milton Madureira com quem aprendeu o valor do trabalho profissional. Estudando no Luiz Reid foi para a Telerj onde saiu para o trabalho particular. Fiel a família tinha grande carinho por seus filhos e era deles o seu orgulho quando se tinha tempo para conversar. Sua coragem nas lutas ele sempre que podia me confidenciava vir do sangue dos Motas. Havia uma quase certeza que era descendente de Motta Coqueiro. Lourinho é mais um pilar da história das nossas ruas que se vai prematuramente como foi Euzébio e Omir. Parece que o destino tinha que fazer uma das suas e ceifado a vida deste bravo companheiro. Morreu trabalhando o bom e puro Lorinho da Telerj.

As lagrimas que corriam da face do amigo Izaac de Souza e a tristeza do olhar meigo de Mazinho Rocha,no momento que comunicavam a morte de Lorinho, eram a demonstração do afeto que eles tinham por este bravo companheiro...

Com Lorinho se podia conversar sobre as belezas de uma velha cidade que teima em esquecer os verdadeiros valores de suas ruas empoeiradas e alegres...(José Milbs de Lacerda Gama editor de "O Rebate" www.jornalorebate.com

4.9.07

MANOEL DO CARMO LOSADA: o médico dos pobres...

MANOEL DO CARMO LOSADA, o último dos grandes médicos humanistas da região de petróleo...... José Milbs

A região de petróleo ainda engatinhava como toda região banhada pelo Sol e pelo frescor de suas tardes e ruas empoeiradas quando chegou em Macaé um jovem aloirado, sorriso alegre e timidez aflorada. Formado em medicina ele aportou em Macaé. Cidade onde a história da medicina sempre esteve voltada pelo social e,que tem no Júlio Maximiliano Olivier, seu maior vulto. Parecia que o Dr. Manél era a própria encarnação do grande Doutor Júlio. Alegre, sempre em contacto com os mais pobres e, atendendo com carinho os menos favorecidos da sorte, foi criando uma áurea de encantamento e respeito em toda a nossa comunidade.

Vendo crescer as dificuldades do POVO da região, com dezenas de políticos explorando o voto e negociando vantagens para seus familiares e amigos, com nomeações em alto cargos do Estado e do Município, pensou em ser candidato. Em 1962 candidatou-se a deputado e em 1970 a prefeito. Em ambas as tentativas foi um dos mais votados mais não se elegeu...

Manoel do Carmo Losada era um dos mais belos exemplares da medicina. Diferente dos 90% dos “Médicos Eletrônicos” dos anos 2000, aparentava aos olhos populares que ele tinha nascido para a medicina. Menino pobre do Rio de Janeiro, veio até a nossa cidade a convite do então médico Dr. Heleno que sumiu das nossas ruas não se sabe até hoje o porquê. Heleno, se não conseguiu criar seus lastros médicos, porém tem o mérito de haver nos presenteado com a vinda do nosso “Dr. Manél” que fez sua história marcada pelo amor ao próximo e o carisma dos grandes amigos.

Particularmente fui seu amigo. Na profissão ele cuidou de minha avó Nhasinha (Alice Lacerda) e, sabendo das nossas dificuldades financeiras, jamais se preocupou com a parte comercial da profissão. Pelo contrário, sua vinda diária a Rua Doutor Bueno, 18O (Rua do Meio), era sempre com uma sacola de remédios e algumas saborosas frutas que ele mesmo espalhava pela mesa simples de nossa casa...

Acompanhou até os últimos momentos a nossa avó e, como um filho, levou-a até o Rio de janeiro para os exames finais que lhe diagnosticavam “pleuris”...

Trabalhamos juntos no velho INAMPS e, seu plantão era um dos mais concorridos. Sua sala de atendimento vivia sempre irradiando uma constante alegria que era entrelaçado pelas alegres gargalhada de clientes e segurados. Parecia que havia uma névoa de espiritualidade neste homem simples, fantasiado de médico. Como se baixasse em seus atendimentos a mola impulsionadora da cura das tristezas humanas. Eu presenciava a chegada dos doentes e os via sair com as faces alegres como se tivessem deixado suas angustias e dramas no consultório do PU...

Era assim este homem/médico que a cidade perdeu. Seus últimos dias de vida foram na luta pelo “Parkinson” que o curvava a cada passada. Jamais, no entanto, perdeu a beleza de seu olhar o sorriso quando encontrava algum amigo ou cliente. Eu mesmo me consultei, quando o vi pela última vez caminhando com Maria Aparecida da Costa Losada, minha colega de primeiro ano ginasial B. Ao me ver, suas mãos ainda trêmulas pela doença, falamos das amenidades que a saudade toca nestes momentos especiais aos seres humanos. Brincamos, falamos das políticas, das pessoas etc. Antes, porém perguntei - como que o fazendo rever seu passado no mundo da medicina: - Manoél, que você acha destas minhas manchinhas avermelhadas que brotam nos meus braços? Elas vêem, somem e voltam... Seu sorriso voltou aos anos de 1960 quando o conheci. E pude reencontrar o “Médico dos Pobres de volta às consultas”:

O que você tem é uma alergia comum a idade. Ou procure um (a) dermatologista ou mande fazer com sua filha/farmacêutica Aninha, o Hidraktine a 10. Fiz o Hixixine, o usei e as manchas sumiram...

Manoel do Carmo Losada foi um dos mais competentes estudiosos no campo da Pneumologia. Nele brotava a essência dos ensinamentos de Hipócrates...

Criou o Dispensário de Tuberculose em Macaé e, ele mesmo, serviu de cobaia para os vírus. Arriscou sua vida na busca das curas de centenas de doentes do Pulmão.

Ao homenageá-lo “pos-morte” o faço para que seu nome fique imortalizado na internet como símbolo de amor a medicina que foi sempre sua existência. (José Milbs de Lacerda Gama, editor de www.jornalorebate.com).


História da Medicina
As origens da medicina, conhecimentos de anatomia no Egito Antigo e na Grécia Antiga, os avanços da medicina na época moderna, medicina na atualidade, o Juramento de Hipócrates

Hipócrates - pai da medicina
Hipócrates: pai da medicina

Por meio de descobertas arqueológicas, descobrimos que os povos da antiguidade, como os egípcios, já realizavam operações complexas, fato que comprova grande desenvolvimento e inteligência desse povo. Este povo fez grandes avanços na medicina graças ao seu sofisticado processo de mumificação de corpos. Os mumificadores, ao abrirem os corpos dos faraós para retirar as entranhas, conseguiam muitas informações sobre a anatomia humana.

Sabe-se que os gregos foram os pioneiros no estudo dos sintomas das doenças. Eles tiveram como mestre Hipócrates (considerado até hoje o pai da medicina). Um outro povo que teve também um grande conhecedor da medicina (o grego Galeno, que morava em Roma) foi o povo romano. Após Hipócrates e Galeno, a medicina teve poucos avanços.

Na Idade Média, era comum que o médico procurasse curar praticamente todas as doenças utilizando o recurso da sangria. Este era feito, principalmente, com a utilização de sangue-sugas. Porém, neste período os conhecimentos avançaram pouco, pois havia uma forte influência da Igreja Católica que condenava as pesquisas científicas.

No período do Renascimento Cultural (séculos XV e XVI ) houve um grande avanço da medicina. Movidos por uma grande vontade de descobrir o funcionamento do corpo humano, médicos buscaram explicar as doenças através de estudos científicos e testes de laboratório.

Contudo, no século XVII, William Harvey fez uma nova descoberta: o sistema circulatório do sangue. A partir daí, os homens passaram a compreender melhor a anatomia e a fisiologia.

No século XIX todo o conhecimento ficou mais apurado após a invenção do microscópio acromático. Com esta invenção, Louis Pasteur conseguiu um enorme avanço para medicina, ao descobrir que as bactérias são as responsáveis pela causa de grande parte das doenças.

Felizmente, a medicina atual dispõe de inúmeras drogas capazes de curar, controlar e até mesmo de evitar inúmeras doenças. Aparelhos eletrônicos sofisticados são capazes de fazer um diagnóstico apurado, passando informações importantes sobre o paciente. Os avanços nesta área são rápidos e possibilitam um vida cada vez melhor para as pessoas.

O Juramento de Hipócrates

" Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."