Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

28.8.07

DO BOM FUTEBOL DE ITINHO CABELUDO...

A MORTE DE ITINHO CABELUDO, A RUA DIREITA E OS NAMOROS...


Foto: Ana Chaffin



As meninas e os meninos ficavam andando de lá pra cá e muitos casamentos se firmaram nestas puras e belas andanças de uma Macaé ainda muito nossa. Eu só revi este tipo de pureza interiorana quando em l961 estive no Congresso da UBES, representando o Estado do Rio, em Goiânia.

Lá era na Rua Anhanguera que a juventude repetia o que eu via em Macaé. Foi um tempo nacionalmente brasileiro sem as televisões para massificar. A Rua Direita iluminada e as ruas periféricas recebiam as voltas para casa de centenas de jovens após estes domingos e Quintas- feiras. Era hora de um fortivo aperto de mãos no sagrado escuro das noites e caminhadas para “levar em casa a namorada”...

As principais sessões de cinema eram no Domingo e nas quintas. As terças era para a galera com faroeste . Nestas, poucas mulheres, porque o pau comia em alegres palavrões das turmas de Aroeira, Barra e Cajueiros. Nequinho contava o filme alto, peidava, soltava barbantinho cheiroso e jogava pedra na tela. Éramos verdadeiros índios. Torcer pelos bandidos era coisa comum a todos...

Alguns iam até para espantar a Águia do filme da Paramount. Tinha dia que a luz acendia umas l5 vezes. Nos domingos e quintas a coisa era mais educada e tinha muita gente que não podia entrar. Alguns já de mãos dadas com suas respectivas namoradas sempre com os pais ou mães atrás dando uma de vigilante. Era tempo da chegada de gente do interior como Alcione e Cilênio que se juntavam a nós.

Edgar Moraes, que mais tarde trabalhou na Autorizada de um multinacional, criaria com seu humor lindamente nativo a Auto-rizada num catucamento a autorizada de Ruy Borges que, com seu humor sempre aflorado, riu da idéiaidéia e até foi ia visitar o concorrente o nosso Edgar.

O velho Honorato ainda residia na Praia Campista e mais tarde seria um dos primeiros moradores do Novo Cavaleiro com sua espôsaesposa Madalena e sua filha Elsa. Honorato conhecia a história de Macaé e ao inicio deste milênio faleceu aos 90 anos. Um negro que me contava muita coisa bonita de Macaé nos anos 20...

Os beijos furtivos eram roubados nos camarotes do Cine Taboada ou nos momentos em que uma passagem de cena para outra escurecia a sala, mais tinha se que ter muito cuidado porque o Lanterninha Mudo vinha com sua lanterna para o clareamento inoportuno e cruel. As vezes era Zé Macaco, Genilson ou o próprio senhor Paulo Manhaes que, clandestinamente, chegava com suas lanternas terríveis e feias...

Acho que o Mudo, um negro belamente feio e alegre, recebia ordens dos pais da época. Uma espécie de propina extra para evitar alongamento de carícias e beijos.,Por falar nisso, e o seu Farid? Ex- dono do cinema e sua esposa a Onça?

Dizem que nunca pisou por estas bandas mulher tão feia e cabeluda. Quando a luz apagava gritavam: - Olha o roubo Farid. E, lá vinha Elso Mussi, junto com a Onça, alumiando as cadeiras em busca dos gritantes.

As máquinas velhas que Farid, o dono do cinema, nos obrigava a ouvir os ruídos em sucessivas mutação quando tinham que mudar as cenas dos faroestes, faziam com que sua mãe fosse lembrada em urros de Farid Ladrão e, Elcio Mussi seu gerente, tinha que acender a luz de propósito para descobrir donde vinha as berrações contra Farid e sua mulher: a conhecida e temidachamada de Onça.

De fato a meiga Shaffira era de fato uma sócia humana de uma onça com sua cabeleira pintada de um vermelho fúnebre e esvoaçado. Quem a conhecia, no entanto, podia sentir a alma linda que brotava de seu olhar meigo e sua voz de mulher libanesa.

O mudo negro ainda podia ser visto subindo as escadas em direção aos camarotes em busca de baderneiros...

Mais tarde a família de Paulo Manhães assumiu os dois cinemas.

Existe quem afirme que o nosso Alvinho Paixão, um dia que a luz acendeu, foi flagrado torcendo para o bandido num filme de Rock Lane. Ele sempre ia ao Santa Isabel escondinho para não dar a entender que gostava da faroeste. Esperava a luz apagar , comprava o impresso e ficava num canto torcendo. Sendo um dos mais eficientes advogados da época de Ouro de Macaé achava que não ficava bem frequentar estas sessões onde o pau sempre cantava solto. Não queria, no entanto, o nosso bom Alvinho, fugir as suas origens e discutia com Dunga, Fernando Santos e Wilde alguns dos bons filmes do Velho Oeste Americano...

Nuvio ainda vigiava o namoro de Norma com Jamil a mando dos velhos pais que moravam na Imbetiba...

Memória é uma coisa estranha. Ela viaja num tempo que nem a gente que quer fazer dela uma cronica consegue comandar. As vezes ela vai num tempo longe e nos faz escrever coisas que só a gente entende. Outras vezes nos faz ficar num presente, pedindo ao autor que misture com textos que não tem nada haver com o que estáva sendo desenvolvido. Tentando por no ar fatos de memórias, veja por exemplo, o que falo a seguir, ao colocar nesta história a presença de Itinho.

II

ITINHO CABELUDO

Morreu Itinho Cabeludo um dos pilares do cotidiano. Quando falo em cotidiano me refiro a essência viva de nossa história, que é feita longe dos gerenciamentos de bancos, empresas e jantares festivos, falo da essência das ruas, das coisas que tocam a profundeza do vital que teimam em passar um borrão nestes últimos 30 anos de profundidades marítimas e mídias compradas.

Pois bem ,soube da morte deste lindo e feliz amigo que fazia de nossas ruas o prolongamento do seu paraíso interior .Itinho Cabeludo trazia para nós, independente do seu tormento interior, um belo universo de alegrias e falas amigas. Itinho deixava, creio eu, na soleira de sua humilde casa na Rrua da Boa Vista, toda a trama de tristeza com a perda trágica de seu filho Fanta e sua vida de homem pobre das nossas existências macaenses,

Vinha para a rua, com sua camisa do Botafogo e com seu sorriso ainda cheirando a pinga, fazia de cada um de nós o seu próprio palco, na representação que ele sabia ser ator, num mundo de mentiras e falsas atitudes vãs. Itinho Cabeludo deixou, ou havia deixado de beber nos últimos meses e, lutava para deixar o cigarro.

Itinho foi umum grande jogador de Futebol. A "mardita" da birita, que tantos valores levam para o brejo da vida o apanhou numa destas horas de melancolia que rodeiam muitos de nós. Milcélio está ai para relatar e, Arthur da sinuca, para confirmar. Nem mesmo quem ele abordava na rua, com sua doce e pura aporrinhação, nega este fato histórico. E, ontem mesmo quando recebi um telefonema de Alan Birosca de Porto Seguro, falamos de sua vida.

Quis homenageaa-lo no jornal que Armando esta soltando em Macaé. Armando não entendeu bem a linguagem que fiz. Comparando o brilho que se apagava com a morte dele, ao brilho que Gorghi via nos homens de rua do folclore de seu tempo, e a vida que vivenciou nos seus olhares, quando vivo na Alemanha de sua infância.

Temos que entender determinados setores da vida que ainda acham que o belo tem a forma estereotipada nas novelas e nos penteamentos de cabelos com toques de noites em bares intelectuais.

Este belo intelectualizado e meio moderno foi o que levou o Armando a não entender o brilho irradiante deste negro puramente macaense que, com cheiro de pinga de noite anteriormente sofrida e bebida, tinha tanta sabedoria e esbanjava cultura popular. Entendo o velho Armando. Passou muito tempo nos refrigerados da TELERJ e perdeu o cheiro das ruas. Está se recuperando devagar...

Itinho morreu, e com ele morre muita coisa desta cidade onde se reluta em fazer a verdadeira história em festas engravatadas e com cheiro de perfume importados, churrascarias e teatros polpudos.

A verdadeira vida macaense não está nestas solenidadessolenidades. A nossa essência vem das poeiras da ruas, do suor dos pescadores, do malho que estica ferro na bigorna da ferrovia e o petroleiro que enfrenta o mar...

A nossa essência está mesmo no cheiro de pinga vinde de nossos canaviais e não importado de outras cidades como querem fazer crer os donos do poder transitório atual. Muitas de nossas histórias estão cimentadas no apito dos trens, no buzo de Imbetiba e, no cheiro de bosta dos bois que desfilavam nas ruas principais indo para Aroeira. Tentar negar isso é tentar por para baixo do tapete nossas belezas e tirar a podridão catingosa de histórias inexistentes.

Por isso é que quando morre um Itinho, morre um pouco de nós mesmos.

Conversando nas andanças da Praia dos Cavaleiros com Parodi e José Alves de Souza, o nosso Batistinha do SENAI ,que jogou l0 anos no Americano e teve ao seu lado na nossa seleção, Zé Que Não Dança, Bibinho, Hélinho Cabral. George, Geraldo Cara Suja, Garfante”, Elmo e outros. Batistinha me dizia dos dribles e jogadas de fundo que nasciam nas pernas meio tortas de Itinho e que fazia vibrar os velhos corações macaenses nas décadas do Futebol de Ouro.

Lembro que, quando de meu primeiro livro e o citei nas andanças pela Rua da Boa Vista, ele me catucou e balbuciou com sua voz de macaense nato: "você esqueceu, no seu livro, de falar em dona Letícia Carvalho, que é sogra do Birosca. Jogamos bola juntos e nunca saiu de minha cabeça os acordes de seu piano quando passava em frente a sua casa vindo das peladas da Praça da Luz. Itinho ainda falou de seu Pierre, de seu Barreto, de dona Pastora, dona Elisa Dinyz, Brandina, de dona Albertina e de dona Honorina. Sempre que podia, trazia notícias de minha filha Lais a quem sempre olhou com carinho e afetuosidade. Era uma história viva de nossa cultura popular...

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... Lá detrás daquele morro, tem um Pé de Manacá.

21.8.07

BOCA DE BAGRE, JOÃO BOCA PRETA E VULTOS DAS MINHAS ANDANÇAS...

TEXTO DO LIVRO 'SAGA DE NHASINHA'

BOCA DE BAGRE - Nova Aurora danificada foto de Armando Rozário

... Na saída podemos ver gente nova que habita esta região histórica de Macaé. Vimos, num olhar de soslaio, "João boca Preta" já lutando com doença que lhe curva o corpo e lhe purifica a alma. João faz parte das histórias vivas desta cidade tão fraca em lembranças.

Sua presença nas noites, sinucas, carteados e nos prostíbulos oficiais e oficiosos era sempre marcante. João Boca Preta foi para o Rio de Janeiro e voltou já cansado.

Quando já tinha escrito estas linhas soube que no inicio deste milênio "João Boca Preta" tinha morrido. Estava mesmo cansado da vida e seu vulto curvado pelo peso de uma doença já não tinha o afetivo cumprimento que tanto o caracterizou em nossas ruas.

Não falava mais em Cláudio Moacyr que era seu líder e amigo e que me dizia sempre "ter sido recebido" num Centro Espírita em Nova Iguaçu. João achava que Cláudio tinha reencarnado e estava enviando mensagens.

Morreu acreditando e, se verdade for, deve estar com ele em algum lugar falando fatos de uma Macaé que ficou para trás.

As poucas vezes que João Boca Preta foi visto por mim na rua Direita, ele vinha magro, cabisbaixo, tentando forçar uma situação salutar que só a ele enganava. Foi juntar-se a Motinha, Alvinho, Wilde, Ronald de Souza ou, quem sabe, ouvir no silencio perguntativo de sua presença entre nós, os sorrisos de Tinoco ou o olhar puro e malicioso de Zé Clímaco. João deixa em Macaé a saudade que deixou Dunga, Cláudio Upiano, Zé Caxias e José Calilzinho do fluminense.

Fazia parte de uma melancólica e Pura Cidade que nunca virá a ser igual como nunca será igual as doces presenças de gente como ele.

Quem sabe ira rir das brincadeiras de Jonas Macacada, irá receber os puxões de orelhas de dona Fifi, o olhar severo de Elias ou, talvez pedir votos ainda, para seu velho amigo Cláudio Moacyr?...

E as saudades de Dona Elisa tia de Milcélio? E as centenas de filhos que esta Santa Senhora espalhou em nossa cidade no inicio e meados do Século? Dona Elisa estava para o lado de lá da cidade como Dona Durvalina estava para o lado de cá. Dividindo Macaé num limite geográfico do Centro para a Aroeira. Dona Elisa fazia suas curas. Sob suas divinas mãos nasciam os filhos e afilhados. Quem não bebeu da sua garrafada para engravidar? Perguntou minha mãe Ecila quando seu nome foi citado no Casarão da Boa Vista onde ela nasceu e mora os descendentes de Jayme Franco?

Do Centro da cidade para o lado de cá até os Cajueiros e Praia Campista era o reinado da mãe de Zequinha, a mãe Durvalina. As pessoas precisavam procurar no tempo e no espaço estas divindades humanas e suas belezas. Só assim poderão entender o significado de Macaé ter tanta espiritualidade rondando o nosso ar.

Minha mãe Ecila era, na Rua da Boa Vista o que eu era na Rua do Meio. Juntos vimos os descendentes de Dunga de igual história e Álvaro, de seculares porres noturnos, quando a cidade ainda era escura e seus habitantes dormiam com os passarinhos. A gente identificava as pessoas e se conheciam pelo balancear de corpos e falas altas. Ao Sair do Casarão Ecila perguntou de Cila e Noca.

Num carro velho, ainda tocado a manivela a gente olha e reconhece Lalá irmão de Boca de Bagre e Zé Puleiro que, ainda mantém a pureza macaense vindo da beleza pura de sua face desdentada mais que ainda conserva a beleza que emana dos corações silvestres.

Boca de Bagre freqüentava as matinês do Santa Isabel e Taboada sempre carregando gibis para trocas.

Quando ele queria "empurrar" um gibi em troca por algum que ele não tinha lido era comum dizer . olhando dentro dos olhos do possível cliente: tenho aqui um do Fantasma e dois de Rock Lane. E arrematava, num 171 divino: E olhe que eles trabslham bem (se referendo ao Fantasma e ao RockLane)... E, continuava: "O de Buck Jones é novinho e olhe que ele trabalha beme atira melhor anda... Assim Lalá ia trocando seus gibis. Às vezes, conosco, da Rua do Meio, às vezes, com Chico Gibi, filho de Heitor Paes. Levava "espiga"? Não sei. Sei que a ele trocava cinco velhos que a gente nao tinha lido, por um que a gente já tinha lido. Dai, acho eu, o empate neste comércio puro.

Ao olhar, por entre as gretas da recordação que todos temos dos bons tempos vividos, não pude deixar de ver a figura alegre de "Boca de Cumbaca" e suas gaiolas de canários da terra, sentir o detestável odor que vinha do levantar dos braços de Cata-Quaibo, Calombo e Pisa Mansinho quando jogávamos as peladas nos Cajueiros, no Areal da Rua da Poça ou no Campinho da Cocheira no final da Rua Dr. Bueno.

Sarta-N'agua, Mistral e Feito. Uma cidade onde, como disse numa de minhas crônicas e que António Ferreira da Silva, o Parodi, sempre se refere como uma realidade existente. Realcei, que havia "uma espécie de igualdade onde o afetivo determinava um socialismo que nem sabíamos existir e ter suas origens na ternura do afeto".

Era mesmo uma cidade de essências igualitárias e pura esta Macaé tão bem definida por Paulinho Mendes Campos como Cidade Pura nos anos de 1980.

Ainda no trecho da Rua da Boa Vista minha mãe viu e comentou a presença dócil de Jair Lacerda e Nila simbolismo de um amor eterno e feliz.

Foi assim, caminhando no tempo e no real que se recordava deste lugar que para ela tinha significado único.

Lembrou de João Punhal, sua história nos quartéis e de Sergipe uma figura meiga que habitou Macaé quando poucos se arriscavam em deixar o Norte do Brasil para vir para cá. Lembrou a mãe de Marialva Rodrigues, Lalá e Lilinha, perguntou por Madai, esposa de seu Barbosa outro nordestino que fez história em nossas infâncias. Não esquecia de Patureba, Tuiu e de dona Artemia que morava na esquina da rua Direita e que era mãe de Pilar, Tonito, Cezário, Anita e Hermínia.

As histórias de Filoca, pai de Amilar. As doces mentiras de João Barbeiro e Paulo Camarão ainda estão vivas nas recordações de quantos tiveram o sagrado privilégio de acreditar nelas e viajar em suas narrativas. Esta cidade ainda existe em cada um de seus descendentes. Basta que se catuque em suas paredes...

Sobre as memórias da Praça Verissimo de Mello, reviu o local onde o velho Pé de Tamarindo tinha sido arrancado violentamente pelo progresso e, sentiu arrepio ao ver a construção de mictório em frente ao velho coreto onde se davam os grandes comícios e retretas na Velha Macaé dos anos de 1930...

Vendo a "Nova Aurora" perguntou por "Tinho" e o maestro Aquiles .que morou em nossa casa na Rua do Meio. Aquiles foi um dos primeiros pilares das nossas tradicionais bandas. Se espantou com a construção na metade do terreno da Nova Aurora e perguntou pelos leões que ornamentavam a casa ao lado onde morava Luiz Fernando do Banerj e sua família.

E ""Sila tia de Jodyr e Iza? De uma "Lyra" que ainda pode ser ouvido seus acordes no paraíso onde deve habitar esta meiga senhora que viveu no Século de Puro de nossa Macaé de memória fraca e filhos fortes.

Na "Lyra," teceu falação sobre seu Sucena pai de uma sua afilhada Gerson. Recordou as tardes noites onde o desfile desta entidade se dava nas ruas periféricas. Naquele tempo as pessoas que faziam aniversário recebiam a presença da "Lyra dos Conspiradores" que desfilava nas ruas do aniversariante e se concentrava nos quintais até que a madrugada vinha. Era comum ver isso no aniversário de "Pequenino", Sucena, Lacerda e "Sto. Gavião".

Nestas noites, sob o fardamento de lindos ternos e camisas engomadas se podiam ver os vultos de homens famosos da comunidade macaense que passavam, cumprimentavam e eram saudados por quem estava sentado nas "Cadeiras das Calçadas".

Foi assim, de memória em memória, que a Rua da Boa Vista foi sendo desfilada em sua história de gente que fazia história. "Papa-lambida", seu José da Cunha Barreto, Luiz Pinheiro e sua filharada foram abrindo espaços nos pensamentos e suas presenças tiveram vidas e fatos havidos.

E sobre Ubirajara Barreto e "Talita"ela ficou um longo tempo recordando a infância na casa de seu "Lulu" Pinto com Alice e suas irmães, Gerson e Ruy.

Por detrás da sede da "Sociedade Musical Nova Aurora" tinha uma Rua que hoje não tem mais. Um correr de casas antigas. Havia uma que morava dona Nazareth que era filha de dona 'Cota' uma linda senhora que freqüentava a Igreja Católica da Praça no tempo em que o Monsenhor Jason era Padre. Sempre com seu tradicional chalé negro, estas senhoras eram a presença viva da beleza macaense no meado do século.

Uma menina era vista sempre em companhia de Dona Nazareth. Pude rever anos depois esta jovem no PT que fundei em final de década de 70. Marly tem duas lindas filhas que sempre a acompanham em seu trabalho na educação da cidade. Marly recorda de Luiz Carneiro que, vindo de Quissamã, deu os primeiros passos na história do esporte macaense.

A "Nova Aurora", embora descaracterizada em sua fachada por mãos destruidoras e de intenções comerciais, fica ao lado de uma outra casa que ostentava dois lindos leões na entrada que eram a alegria de toda a comunidade quando de suas idas para os passeios na Rua Principal. Era vizinho da casa onde morava Luiz Fernando e sua família.

Dizem que fizeram as casas na frente e conservam os leões. É uma pena que o "enjaulamento" se tenha consumado nesta preciosa obra de cimento e arte... (Texto da Saga de Nhasinha, fala de Ecila quando de sua última vinda à Macaé)...

15.8.07

ELSA SOARES ROCHA, MÃE DO NOSSO OSMARZINHO DEIXA SAUDADES...

ELSA SOARES ROCHA, MINHA CONTEMPORANEA DAS RUAS EMPOEIRADAS DOS CAJUEIROS E IMBETIBA, FALECE NO AEROPORTO.


Quem nasceu e morou nos Cajueiros, nos anos 60 conheceu Dona Elsa Soares da Rocha. Casado com o ferroviário Osmar Rocha, ela sabia todas as histórias que britavam de nossas ruas e vielas no tempo em que as noticias eram dadas de boca em boca. Macaé, como toda cidadezinha de interior, era uma manancial de alegres conversas em cadeiras estendidas nas calçadas e pessoas sentadas em bancos e pedras. Eram assim que se formavam a cultura, milenarmente passada de pai para filho antes da chegada do destruidor de mentes que é a TV mal administrada pelos serviçais do USA no Brasil...


Elsa era uma destas belas mulheres de nossa histórica Macaé. Criando filhos e esperando o velho companheiro Osmar chegar de suas andanças pelas noites macaenses. Osmar era meu amigo de caminhadas nas esquinas esfumaçadas e mal iluminadas de Macaé. Éramos o que as pessoas chamavam de “Boêmios da Velha Guarda”. Osmar tinha a mais linda voz da região. Cantava igual ao meu amigo Nelson Gonçalves e, juntos vimos os dois cantarem e se admirarem numa inesquecível noite na Fazenda do Carlos de Freitas Quintela.

Nelson, sentado em minha mesa, com sua esposa e seu filho Nelsinho, ficou encantado como Osmar Rocha podia cantar com tanta sonoridade suas canções. Nesta noite o “Meu Descanso” se dobrou aos dois grandes seresteiros. Era deste Osmar, boêmio, alegre, risonho, menino das ruas e bom ferroviário que os olhares de Elsa fixaram um amor que a acompanhou na juventude e a animava na criação da filharada.

Aos 68 anos, no vigor de uma entrada alegre na 3ª idade, Macaé perde a presença alegre de Elsa Rocha. Atualmente residindo com um de seus filhos no Parque Aeroporto, a notícia de sua morte ressoou com tristeza em toda Velha Macaé, principalmente nos Cajueiros onde ela fincou alegres amizades e firmes heranças de bondade...

Aos seus filhos os sentimentos de toda a equipe de O REBATE. Em especial ao meu amigo particular Osmar Rocha Filho, uma das mais simpáticas figuras do Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Mazinho presta serviços no Forun de Macaé que, jamais deveria deixar de ser Forun Abílio de Souza. A todos ele transmite o carisma feliz que herdou de Osmar e Elza.

E a vida continua...

José Milbs de Lacerda Gama editor de O Rebate, 75 anos de Histórias na Região de Petróleo do RJ...

12.8.07

MÉDICO MACAENSE MORRE NO RIO DE JANEIRO

JOVEM MÉDICO MORRE NO RIO E É SUPULTADO EM QUISSAMA

Carlos Magalhães Pereira da Silva, médico macaense/quissamaense, morre no Rio de Janeiro. Membro de uma das mais antigas famílias das cidades de Macaé e Quissamã, este jovem médico prestava serviços na clinica São Lucas onde tinha uma grande gama de amizades devido ao seu espírito alegre e comunicativo. Carlos estava sempre em companhia das pessoas simples do interior de Quissamã que o procuravam para consultas ou mesmo para longas conversas sobre seus pais e avós. Sua presença feliz e jovem vai fazer muita falta a funcionários, amigos, médicos clientes que já estavam acostumados com suas brincadeiras nos corredores e salas da Clinica.

Carlos era filho do meu colega de longas e felizes conversas no saudoso INAMPS. Marcelino Carlos Pereira da Silva, seu pai, faz parte da história da medicina de nossa região. Com sua companheira Adriana, está sofrendo a perda deste belo filho que tantas alegrias proporcionaram a todos que com ele conviveu.

Contemporâneo de meus filhos Luis Cláudio e Ana Cristina, Carlos é de uma geração que está caminhando para os 40 anos e que eu vi crescer nas minhas entradas e saídas de casa onde eles sempre estavam juntos na alegria de suas juventudes.

Quissamã e Macaé estão de luto. São duas cidades que conhece, de perto, todo potencial de carinho que Carlos, seus pais e seus avôs sempre distribuíram a todos que com eles conviveram.

Seu avô, Amílcar Pereira da Silva foi um dos homens mais ilustres que viveram em nossa comunidade. Vindo de Minas Gerais, espalhou sua genética pela região e foi um dos incentivadores da cultura nas duas cidades. Em Macaé, ele construiu o antigo Colégio Caetano Dias. Carlos era parecido com seu avô nos gestos trejeitos e no falar compassado na timidez que caracteriza todos os bens mineiros...

Tentava acompanhar os passos profissionais de seu pai na medicina e esbanjava sorrisos por todos os lados como se sua presença junto à comunidade tivesse período de esgotamento. Quem conviveu com Carlos jamais soube de seus problemas interiores, comuns a todo mortal, e que não era sentido em suas falas e atendimentos. Não deixava que aflorasse seus sentimentos e evitava, com isso, passar as tristezas que, às vezes tomava conta de seu pensamento.

Nas poucas vezes que tive contacto com ele, nos últimos anos, era só lembranças e recomendações a todos que me cercavam e que ele sabia serem seus amigos

Às 12 horas de hoje, 12 de Agosto de 2007, ele foi sepultado em Quissamã.. Centenas de moradores, amigos, colegas de profissão estiveram presentes e confortaram Marcelino e Adriana nesta dor...

O REBATE, que sempre esteve presente na história de Macaé e Quissamã, durante seus 75 anos de existência, se una a dor de todos que conviveram com Carlos Magalhães Pereira da Silva, o nosso “Carlos de Dr. Marcelino”, nesta perda tão prematura...(José Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornalorebate.com )

6.8.07

ELIETE LACERDA SANTOS DA COSTA....

ELIETE LACERDA SANTOS DA COSTA, nasceu em MACAÉ onde morou até se casar com o português Antonio Fino da Costa. Filha de José de Moura Santos e Maria Leonor Lacerda Santos morou na Rua Doutor Bueno, famosa Rua do Meio. Estudou no Colégio Macaense, freqüentou as lindas e inesquecíveis sessões dos Cines Taboada e Santa Izabel. Uma das jovens mais bonitas de sua época era uma das mais assíduas presenças na Praia de Imbetiba, point social da região nos anos 50 e 60. Gostava de visitar o FAROL VELHO DE IMBETIBA em suas caminhadas.

Eliete mudou-se para o Rio de Janeiro e foi morar com sua Tia, Ondina Lacerda Coelho e com seu Tio Jonas Lacerda Coelho, na Rua Araxá, 522, no Grajaú. Foi ali que ela conheceu o grande amor de sua vida e com ele teve duas lindas filhas: Maria Eduarda e Maria Clara.

Durante a infância de suas filhas, residiu na Rua Caruaru e, mais tarde mudou-se para a Avenida Atlântica em Copacabana. Quando tinha 6 anos de idade, Eliete morou no Bairro Del Castillho com seus pais e seus irmãos José Mathias, Nelson, Maria Clyce e Terezinha. Ali era uma das mais alegres meninas do Bairro Operário do Rio de Janeiro e foi uma grande tristeza para toda a comunidade sua volta para Macaé... Praia de Imbetiba

Em Copacabana continuou sua existência de afeto, desta vez, voltada para suas filhas e neto. Na morte de sua querida irmã Maria Thereza Lacerda Santos e de seus pais abriu-se um vácuo em sua existência e, mesmo alegre e risonha com todos, a gente notava que a saudade falava por entres as poucas rugas que seu belo rosto deixava a mostra.

A natureza, com sua presença em todas as vidas deixa, para muitos que sabem da percepção, estes traços das saudades que ficam presas nas paredes das nossas memórias. Eliete não sabia esconder este sentimento e ele a acompanhou até o seu passamento...

Seus dois genros, casados com Clarinha e Eduarda, ambos Almirantes da Marinha de Guerra do Brasil, respectivamente Almte. Washington Luz e Marcus Fernando de Oliveira podem aquilatar o grande afeto que ela espalhou em vida a quantos tiveram o privilégio de sua convivência.

Seu único neto, Marcus Fernando Filho foi, sem sombra de dúvida, um grande presente que recebeu da natureza humana, o que a fazia entender a beleza da Perpetuação da Espécie...

Na qualidade de primo, quero deixar acessado em todos os sites de buscas do mundo, esta homenagem que faço em nome de todos os parentes de Eliete Lacerda Santos da Costa que, em vida foi um exemplo de amizade e carinho com todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. (José Milbs de Lacerda Gama, escritor e editor de www.jornalorebate.com

2.8.07

SILENCIO NAS ARTES. MORRE O PROFESSOR DAVID....

PROFESSOR DAVID MORRE EM CAMPOS E É SEPULTADO EM MACAÉ


Uma das mais alegres presenças nas nossas ruas e que sempre se destacou pela simplicidade e inteligência, o Professor David Nunes Pereira faleceu ontem na cidade de Campos.

Paulista, David, veio para Macaé aos 35 anos. Dedicado ao Magistério com especialidade em Inglês foi se afeiçoando a todos os macaenses e se juntando as nossas histórias. Colunista de O REBATE nos anos 67/76 ele assinava uma página, até então inédita em jornais de interior. Sua coluna era aulas de Inglês que ele passava para os leitores e tinha, ao lado, a tradução.

Sempre a frente de seu tempo, ajudou na fundação do PT que, por muito tempo funcionou junto a seu curso na Rua Julita Oliveira.

A vida de David sempre foi marcada pelo carinho ao trabalho. Pintor, Artista Plástico, poliglota e exímio contador de histórias. Despreocupado da matéria levada à vida como ela deveria ser levada pelos grandes homens que se dedicam a arte. Não se cansava de falar de sua prole. Seus oito filhos: Davidson – Andreo – Alexandre – Eduin – Agatha – Anderson – Paulo e Eduardo Mendez Nunes Pereira ele ensinou a arte das tintas e do convívio com o natural. David fazia questão de participar de todas as transformações sociais de nossa comunidade.

Participou da criação da Escolinha de Artes de Macaé e das mais célebres exposições que a cidade teve no curso destes 40 anos de sua vivencia na comunidade. Nos anos 60, quando O REBATE estava sendo objeto de censura e perseguição policial ele sempre acolha nossas preocupações, espantando a tensão e brincando como se “tudo isso iria passar e que não passavam, eles, de tigres de papel. Falava em inglês e todos sabiam que se tratava de um apoio a nossas lutas...

Ultimamente David não estava muito satisfeito com o Partido dos Trabalhadores. Continuava filiado, sabendo de tudo e de todos mais não aceitava determinadas posições à direita de alguns setores do PT. A última vez que tive contato com este velho guerreiro de nossas ruas ele perguntava sobre Pianos. David conhecia tudo de piano e buscava algum para um seu amigo. Nos intervalos de nossa conversa, dentro do Ônibus do Novo Cavaleiro, a gente sentiu que o nosso afeto era muito maior que a distancia de nossas casas.
Dona Maria Mendez da Silva, companheira de lutas e alegrias do nosso David, as condolências de tuda equipe de O REBATE. Sabendo ela que o exemplo de carinho e afeto que seu esposo espalhava por onde ia e vivia, ficará nas lembranças de todos os moradores da Região do Petróleo...
Embora morando no mesmo Bairro, pouco nos víamos. Macaé perde o “nosso Professor David do PT”...(José Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornalorebate.com )

Sobre David, assim se expressou nosso diretor Moctezuma: "moctezuma diz:

assim foi o prof. David; bem falante, convincente, altivo, entusiasmado, o "BONDE DO BEM DE MACAHE" ..

Uma colega do David Armando escreveu:

"Foi muito bom para Macaé a presença do "nosso Mister Davis" como ele gostava se ser chamado nas aulas de O REBATE".

Assim falou o Companheiro Caxeta:


Bom dia Milbs,

Confesso que estou lendo a reportagem do professor Davi em lagrima, primeiro porque não sabia do seu quadro de saúde, já que ele nunca comentou sobre isto, e não tive oportunidade de render as ultimas homenagens ao nosso professor. Digo tudo isto, porque ultimamente o professor, o companheiro, o amigo Davi estava trabalhando conosco em Cabiúnas e sempre que eu podia ia até sua sala ao lado para discutir política, falar sobre o partido dos trabalhadores, sobre o trabalho, sobre a vida, ouvir as sua piadas, era um grande otimista. Em algumas vezes, fazia questão de almoçar junto e deslocávamos de pé até o restaurante, e ele no alto de seus 70 anos, cabelos grisalho, sempre sorridente, cumprimentava a todos pelo caminho, além de exibir a sua saúde. E que na última vez que eu lhe vi, tivemos oportunidade de subirmos juntos, almoçar e retornar juntos, jamais poderia imaginar que aquele almoço seria a nossa despedida.

Um dia entrei em sua sala naqueles momentos tenso em que muitas vezes o trabalho nos reserva, quando não conseguimos enxergar o horizonte e estava lá o professor Davi com sua fala arrastada e expondo os seus conselhos: E aí professor, repondia e aí Caixeta quando a coisa está difícil, mudamos nem que seja o nosso visual, esta me vendo, deixei meu cabelo crescer, estou mudando o meu visual. Imediatamente lhe respondi que faria o mesmo em sua homenagem e em nome das mudanças, respondeu: quando crescer vem aqui para que eu possa pintar o seu retrato.

Conheci professor Davi em um de seus discursos no encontro do PT na câmara de vereadores, quando falava da possibilidade das mudanças que o Brasil precisava, quando acreditávamos que a solução do Brasil era um trabalhador na presidência, quando éramos perseguidos por sermos sindicalista, que continua até hoje. Davi era um grande maestro na arte da oratória, confesso que nos deixou um legado, e sempre demonstrou que temos que ter esperança, sempre.

Dessa forma, retorne a pátria espiritual, vai professor Davi, Vai com Deus... Caxeta

Sobre o Mestre, politico e artista, assim falou Eliane Geronimo:

Professor Davi deixa saudades e ensinamentos.

Conheci o mestre Davi como não poderia deixar de ser, nos grandes movimentos
em nossa cidade na ultima greve geral, paramos a cidade, lembro-me com
saudades dos tempos que éramos chamados de malucos, particularmente sinto-me
honrada de ter conhecido e feito parte dos grandes movimentos políticos, e
sindical em nossa cidade, eram loucos xiitas?Do significado raízes, sinto
saudades dos grandes companheiros, como ele verdadeiramente mestre na arte
da cidadania, na luta de um país justo, sem exploradores e explorado,
aproveito para lembrar outros camaradas.Magé, Carlos Martins, Ivânia,
Arlene, Tavares, in memória Mario do Carmo.Entre outros.Profundamente
saudosa.
Eliane.

Sabrinha Salgado fala da presença de David na vida da região e escreve:


Grande saudade deixara nosso querido professor David, alma nobre,
própria daqueles que não se traem, nem se deixam levar pela soberba,
mantendo-se firme em seus propósitos. Carismatico por natureza...
sabia nosentusiasmar com seu jeito singular... com a irrevêrencia daqueles que sabem
o seu próprio valor... para nós que o admiramos sua imagem e conduta para
sempre ficará gravado em nossas lembranças. Abraços fraternos
Sabrina Salgado.