Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

28.12.09

DEPOIS DE DÉCADAS DE SERVIR O MELHOR CAFÉ TORRADO E ARTEZANAL, ZÉ MENGÃO FECHA SUAS PORTAS NO LIMIAR DOS ANOS 2010...


(foto de Luiz Cláudio Bitencourt)


Uma notícia que já deixa o sabor das saudades. Durante mais de 40 anos os moradores da Região de Petróleo do RJ estavam acostumados com a delícia do "saboramento" do Café do meu velho amigo José Rangel bem conhecido e admirado como o "nosso Zé Mengão".
Zé, tenho a felicidade de conhecer desde os anos 60. Ainda menino, saído das estradas enlameadas e belas de Carapebus, veio para Macaé. Com a mesma sutileza e maestria que sabia manusear os estrumentos de capina e roçamento de matas, Zé transferiu todo seu encantamento profissional para um relacionamento humano que lhe trouxe centenas de amigos e admiradores.
Meu primeiro contacto com este Mestre no Manejo das Relações Humanas, foi no Bar de Seu Aristotelis Candido. Fomos visinhos. Eu trabalhando do IAPETEC e ele gerenciando o Bar. Grandes Tardes/Noites de uma Macaé Bucólica que se esvia no tunel do esquecimento...
José, ali, no Bar, inciava sua mutação de jovem de interior num grande Mestre no tratar com as pessoas. Muitas noites ele, com sua velha gentileza transportava o meu colega do IAPETEC, Dilson dos Santos, o querido "Dilson Batatinha" das noites Campistas. Dilson era nosso Tesoureiro. Dormia na Agência. Cansado das jogadas noturnas e, em repouso forçado pelo cansaço, nas mesas, era levado, carinhosamente pelo Zé até seu quarto, ao lado da Tesouraria. Após deitar o Velho Batatinha, ele ainda tinha tempo para fechar as portas dos velhos e enferruxados cofres e voltava ao seu trabalho. Era assim, com alegres tratamentos e uma intocável hoestidade, que este menino começou a galpar os pilares da vida comercial de Macaé.
Convidado pelo seu primo Rangel, Zé assumiu a Gerência do "Bar e Restaurante Imperatriz", Neste Bar não haviam portas. Era dia e noite com chegadas e mais chegadas de onibus de todas as regiões do país. Sempre fazendo questão de servir e fazer o Cafezinho, ele era conhecido e admirado por todos os que passavam e tinham que fazer paradas em Macaé.
Assim como, a "Mãe Benta" do velho Petrônio Ramos e seu Café de Chaleira, nos anos 40 e 50 que fizeram histórias na Estação de trens de nossa cidade, o café de Zé Mengão corria mundos nos sabores adocicados de milhares de lábios.
Novos tempos.
Macaé ganha Rodoviária e o nosso Zé Mengão cria seu próprio comércio. Os anos 70, quando Macaé ainda engatinha no Progresso e estava prestes a ver terminada a "Praga do Mota Coqueiro" nos cem anos de sua famosa praga, eis que que ele, Zé, abre suas portas num dos locais mais tradicionais de Macaé. Ali mesmo, onde "Dona Dadá". simbolo de nossa história comercial nos anos 10 e 20, reinou no servimento de nossa velha sociedade. Dona Dadá era onde se podia deliciar os famosos Pão com Manteiga e café em Chicaras Brancas e esquentadas. As mesas eram de mármores e eram sentadas pelas mais famosas bundas da região.
Zé deu seguimento a este trabalho de histórias. Hoje, soube pelo meu colunista e amigo Carlos Augusto Gloria Sardinha, o nosso "Guto da Ampla", que a família, dona do local, pediu para Zé desocupar o imóvel. Que mundo cão este em que a gente vive e vê sua crueldade ser perpetuada. nada contra os proprietários. Me entristece é ver que o Zé, 40 anos de luta, não teve como adqurir o local. Me pergunto: Será que meu pai Da Gama tinha razão quando me disse que QUEM TRABALHA NÃO TEM TEMPO PARA GANHAR DINHEIRO?
Quantas pessoas, com menor índice de tempo no ramo estão ai com Super Mercados, Empresas de Onibus, fazendas abarrotadas de gados, com chifres para todo os lados...
Não creio que Zé tenha sido mal comerciante. creio que ele foi honesto demais com o trato e por isso terá que fechar seu velho BAR DO ZÉ MENGÃO. Tem gente que não aprendeu está famosa técnica de ganhar dinheiro fácil...
Particularmente eu devo muito ao velho Zé Mengão. Não só pelos Cafés que tomava, nas madrugadas e saia de fininho sem pagar até os 50 votos que tive em Rodagem/Carapebus no ano de 1962 quando concorri a vereança pelo PTB de Roberto e Paiva Muniz. Zé foi me cabo eleitoral.
É uma pena que se fecha mais um dos mais belos locais de nossa História. ( José Milbs de Lacerda Gama, memorialista, cronista, jornalista e editor de O REBATE.

Recebi do amigo Luiz Claudio Bittencourt.
Milbs, essa foto tirei em 2007, as 5:18 da manhã - por ocasião de caminhadas fotográficas.
Tento fazer a minha parte e registrar os pedacinhos que ainda restam.
Em breve te mandarei um foto interessante - um feliz 2010 com muita saúde e jovialidade.
Dunga - aquele do tempo dos festivais de música - com muita honra

PRISCILA LACERDA ESCREVE AO EDITOR MILBS DE LACERDA DE CAMPINA GRANDE PERNAMBUCO
Priscila Lacerda deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Lacerda Historia":

Olá, estou aqui também para descobrir algo sobre o meu parentesco. Minha avó contou-me que na época que portugal descobria o Brasil, veio de Portugal Miguel Furtado de Lacerda que coabitou com uma cabocla chamada maria de Jesus(fato acontecido na Paraíba). No qual teve Antônio Furtado de Lacerda que Casou com Maria Barbosa dos Santos. Que gerou 11 Filhos . Maria Lacerda da Silva, Miguel Lacerda da Silva, Rita Lacerda da Silva, José Lacerda da Silva, Antônio Lacerda da Silva, João Lacerda da Silva, Francisco Lacreda da Silva e outro dois que faleceram pouco antes. Então João Lacerda da Silva nascido em 1938 quando seus pais morreram saiu de casa com 18 anos e foi para Minas Gerais e casou-se por lá. E até hoje minha avó Francisca Pereira de Lacerda,tem muita esperança em vê-lo novamente ela diz que se tive-se um desejo era reencontra-lo. Ela diz que acha que ele mora em São Paulo agora, e acha que ele não quer mais saber de sua familia. Hoje parte da familia Mora em Campina Grande e Outra ''minha avó'' moramos em Pernambuco. Isso um é pouco que sei.

Angela NadjaBerg Ceschim Oiticica ESCREVE SOBRE FECHAMENTO DO VERMELINHO
Triste notícia esta! (Aliás já haviam fechado o Vermelhinho e o
Escondidinho em frente a ABI) Locais históricos onde houve grande luta
contra a ditadura, aliás duas ditaduras, a de Getúlio e a dos militares
de 64). Ponto de encontro de grandes jornalistas e literatos, neses
bares passaram a geração 45, o Pasquim, e todos os movimentos de
varguarada até o final dos anos setenta e oitenta. É um absurdo mesmo!

Hare Krishna

Angela Oiticica


Falo desta notícia. Que absurdo!
Especulação Imobiliária termina com o fechamento do Bar do Zé Mengão.
Assim como meu "Amarelinho" na Lapa e o "Bar do Luiz" na Senador Dantas,
no Rio, Macaé é vencida, em suas mais enraizadas tradições. Sejam bem
vindos enquanto a água da Atalaia continuar a abastecer a cidade.
Depois, quem sabe, a gente beba petróleo com "pão de queijo de
plástico". Viva o enriquecimento ilícito que segue no interior o exemplo
que vem de Brasilia...
|José Milbs, editor e historiador


Abrs

Angela NadjaBerg Ceschim Oiticica

18.12.09

UMA HISTORIA DE GENTE 40 ANOS DEPOIS. Izaac criaria o jornal 'PALANK', Euzébio reeditaria 'O SÉCULO' com 'Nato', 'Manel', Phydias, Ricardo e Cláudio .


Era uma época de grandes e intermináveis mutações nas cabeças pensantes. Uma gama de jovens vindo de toda a parte do mundo aportava em MACAÉ.
Ricardo Meireles, lançava seu 'Palácio do Urubu' e ia até a Europa. Nato e Manel Reis, Armando Rosário, "Gloria Nacional" e outros imaginam o "Burziguin". Morria "Caubizinho" em triste desastre em São Gonçalo e Luiz Geraldo Pinto idem numa ponte no Sul do país.

10-Ago-2007
MINHA REDE NA VARANDA DO SITIO

UM POUCO DAS HISTÓRIAS DOS ANOS 70 E O FIM DO MOVIMENTO HIPPIES

Durante um longo período fiquei afastado do sítio que minha mãe trocou pelo terreno que minha avó deixou para ela como herança. O terreno era na Rua do meio onde nasci.
O sitio, na Granja dos Cavaleiros, parte uma antiga fazenda da Família do Escritor macaense Luiz Lawrie Reid que se tornou loteamento.

A época participava no movimento hippie e só falava em deixar a cidade e ir para o campo. "Ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer". Era tudo que queria e minha mãe fez minha vontade.

Deixar a cidade e ir morar longe dos burburinhos fazia minha cabeça e eu aceitei de pronto. Embora continuasse morando na Rua Visconde de Quissamã, numa vila,, eu vinha todo o dia no sitio e me encantava com a mansidão solitária. O local no início dos anos 70, não tinha estrada, luz, nada. Simplesmente tinha "tudo" para mim.

Apenas uma picada feita por andar humano e bicicletas formava o caminho. Uma trilha (no bom sentido). Pequena estrada feita, pelos loteadores para vender os lotes que tinham de 5 mil a 10 mil metros quadrados.

Passarinhos expulsos de Macaé tinham por aqui seu local tranqüilo e firme para procriação. Bacurau pelo caminho, borboletas de todas as cores, preás, rãs, enfim eram alguns dos componentes que se podia admirar nos 2 quilômetros que separavam o sitio da estrada.
Rolinhas, papas capins, tizius, sabiás, andorinhas, pombos selvagens, pombas - Rola, anuns, gaviões e, patos que se fizeram selvagens, vindos do sitio de Lafaiete Cyríaco, que mais tarde também foi expulso de seu belo recanto poético, davam a certeza que ainda existia paraíso para se viver dentro de uma cidade que começava a ter sua historia deteriorada, em sua essência, pela chegada da "corrida do petróleo" criando ganâncias materiais aos menos avisados. Os bobos proprietários vendiam tudo que tinham acumulados ao longo da vida de seus pais e avós e vendiam para os que chegavam.

De vês em quando, cavalos e cavaleiros passavam e, nos cumprimentos, se podia notar purezas, ainda latentes, em seus cavalgamentos sem destino.

DAS BONDADES HUMANAS

As manhãs eram sempre maiores e já se podiam notar os verdadeiros moradores do lugar. Seu Flanque (como é conhecido) tinha a beleza nascente da bondade e da presteza.
Peroba, Cimar, Natalina, Beto, João seus irmãos e seu pai Pacuçu, se misturavam a novos Baianos como Manoel Vieira que morava do meu lado com dona Lindaura que trouxe e espalhou uma raça de bons meninos baianos. Dona Lindaura nos deixou em plena forma e vigor.

Jorge Barbudo, Moraes, José e Milward enfim o local começava a se formar com gente que conhecem cada palmo e cada planta. Dona Rola, com sua meiga presença, era uma espécie de abelha Rainha deste paraíso intocado numa Macaé ainda não desbravada,. Roberto, seu filho, irmão de Chicão sabe, como eu, o quanto as coisas mudam e se transformam. Nosso bairro ainda era conhecido como Molambo, nome herdado das longas e intermináveis idas e vindas na Fazendo dos descendentes do Luiz Lawrie Reid.

Morou ainda por aqui Manoel do PU e seus filhos, ele, autor de "Cascudinho Azarento", musica de sua autoria que fala num peixe de seu sertão nordestino. Durante a música ele apela para não falar no nome deste peixe que ai dá azar e não se pescaria nada.

Cantou no Festival que fizemos no "O REBATE" nos anos 60 e que mereceu aplauso e preferência de José Carlos Oliveira, Jaguar e Olga Savani, embora Piry tenha vencido o Cascudinho Azarento fez sua história.

Era desta gente pura como o ferroviário Marinho e seus filhos, notadamente Stalin, que foi registrado com Estalin, num dos famosos erros cartoriais macaenses, que se iniciou o bairro. Com isso a minha recordação vai ficando cada dia mais presente e fortalecida.
A presença de Moraes, no sítio, vinha de sua morada com Barreto, irmão de Milward, bem lá onde fica o final do ônibus 80 que faz trajeto Cavaleiros /Aroeira. Nesta época não tinha estrada, e uma picada nos levava ao sítio deste amigo Barreto, que era vizinho de Salvador Baptista dos Santos e Roberto Bueno de Paula Mussi. Dodô saiu da área e Roberto continua morando lá.

Durante muito tempo editei o jornal O REBATE neste bairro, num galpão construído com a mão de obra local, e suas paredes, por incrível que pareça, feitas de pau a pique.
Um dia estava passando na porta de um bar e um menino me chamou atenção pelo olhar ativo e esperto, perguntei- se ele queria ser tipógrafo e ele sem saber nem o que era, me disse que sim, depois de anos foi um dos bons impressores e compositores do jornal.

Ricardo ainda mora na região, e, como Natalina e outros trabalhavam comigo no jornal que era uma espécie de orgulho do Bairro. Chicão e Peroba, um dos mais antigos moradores daqui, sempre falam com Luís Cláudio, meu filho, que o Molambo já teve um jornal Semanal e um Diário, já que Luís Cláudio, Magrinho, Elton, Ricardo, Natalina, Fraga, editaram o DIARIO MACAENSE que infelizmente não vingou por falta de uma coisa muito comum no jornalismo que é o acocoramento ao poder, que não fizemos e, por isso perdemos o bonde da história, embora este bonde não seja lá um bonde muito digno de se viajar.

Em novembro era tempo de colher Jabuticabas, Acerolas, Pitangas, Amoras. Os pés de Mangas começam a ter seus frutos caídos com os ventos vindo do Sul e as Jaqueiras nos dando a certeza que teremos doces no mês de dezembro quando se aproximar o final do ano. Muitos cajus brancos e vermelhos e abricó....

O sitio é um local ainda virgem na Macaé que se prostituiu com o progresso descompassado e feio. O galo ainda canta nas madrugadas e os anus brancos e negros teimam em aninhar-se nas árvores que mantenho ainda de pé em teimosa posição de reação as multinacionais que me cercam por todos os lados. Expulsaram o Lafaiete Ciryaco, o Alfredinho Tanus, filho de Camil, o meu primo Lélio Almeida, o Paulo da Farmácia e, encolheram o terreno de dona Rola, mãe de Chicão e Peroba.

A NASCENTE E OS GINDASTES

As empresas chegam e compram tudo nesta área, que puseram o nome de expansão urbana. Resisto e continuo preferindo o cantar dos galos, o pio dos passarinhos ao barulho fedorento de guindastes empacotando correntes de ferro e container.

A nascente que brota no final do terreno é a maior de todas as riquezas do Sítio. Estou cercado de multinacionais e firmas de apoio.Elas aterraram brejos, nascentes e córregos. Mantenho minha nascente de Aba de Morro com sua água cristalina que me abastece quando a Cedae me deixa sem água da rua e o Aprígio não me atende.È a minha herança para meus filhos que tem sua origem na Fazenda Airys que meu avô Mathias deixou para minha avó nos anos l926 e que, trocados daqui e dali, veio a dar nesta Estância Vista Alegre onde moro.

Pus a cama na varanda...
Me esqueci do cobertor...
Deu um vento na roseira...
Meu cuidado se cobriu todo de flor.

AINDA SOBRE O SÍTIO

Dizem que a maioria dos lotes desta Granja foi adquiridos da Família Reid por ex -ferroviários. Este em que moro foi de Moacyr Amaral, um ex-pracinha, que construiu a casa, que ainda resiste ao tempo. Moacyr a construiu quando de sua volta da 2ª Guerra Mundial nos anos 40. Moacyr Amaral morou aqui e trouxe seu cunhado Jorge Marinho que casou se com e meiga Leda que nos presenteou com seus filhos Marcinho e Alexandre.

Ruy Almeida, irmão de Luiz Almeida que tem nome de uma rua aqui perto , me dizia, quando de suas andanças por aqui onde deixou um belo sitio para seus filhos. Este lugar será a Macaé do futuro. Achava que Ruy estava ficando maluco, como ser uma coisa do futuro num lugar que só tem mato e bicho? O tempo passou, vieram às empresas do petróleo, firmas compraram quase todo o bairro.

Ele construiu uma grande casa onde não tinha nada, seu espírito futurista tinha tocado o seu lado comercial e cumpriu suas profecias: o bairro cresceu. O Molambo virou "Vale Encantado".
Como eu ia dizendo, minha mãe trocou o terreno na Rua do Meio de 330 ms2 por este sitio de 11 mil metros quadrados. Diziam que ela não devia fazer isso. Trocar um terreno perto da Praia de Imbetiba, por um punhado de mato? Ela apenas disse:- “para fazer a vontade de meu filho não vejo isso como lucro ou perda e, virando se para mim, perguntou,. você quer mesmo? o Everaldo Esteves, me telefonou, e fecha o negócio hoje. Respondi sim. .Trocou o terreno pelo sítio, como se diz nas conversas dos tabaréus: elas por elas.

Vindas diárias de carro ou de ônibus se tornaram bons motivos para que conhecesse este paraíso.

DESBRAVANDO AS MENTES EMPOEIRADAS

Era o limiar dos anos 70 e as movimentações sociais caminhavam para que começasse a gostar do local. Pipocavam em todo o mundo os gritos de liberdades nos movimentos contracultura e Hippies. Macaé não podia dizer não. Dissemos presente, embarcamos na canoa de cabeça.
Marcelo do "Grilo" havia aberto seu bar que era o point da época. Lorote Soutinho do fluminense, cria o "860" na Imbetiba de onde se muda toda a galera, deixando a rua principal para se localizarem na orla, onde mais tarde viria à busca do ouro negro e com isso incentivaria a prostituição, mudando o point para a Praia dos Cavaleiros sentenciando em parte a morte da orla de Imbetiba.

Fernando Pereira, abre a "Boca do Suco" que funcionava no centro da cidade e que era uma das opções dos nativos e noctívagos. Uma provocação a repressão que via no titulo uma maneira de cutucá-la.

Samuel Marques pensava em abrir o "Chaplin's," e o abriu mais tarde com apoio de Andréia. Antes Glauro abriria o "Degrau" , no "Velho Casarão" do seu Ibrahim ex -dono do Jogo do Bicho, pai de meus amigos Alan e Flamarion. Três bares em três ruas históricas de Macaé. Boca do Suco na Teixeira de Gouveia; Chaplin, na Silva Jardim e Degrau na Rua Washington Luiz Pereira de Souza.

Izaac criaria o jornal 'PALANK', Euzébio reeditaria 'O SÉCULO' com 'Nato', 'Manel', Phydias, Ricardo e Cláudio Santos. Era uma época de grandes e intermináveis mutações nas cabeças pensantes. Uma gama de jovens vindo de toda a parte do mundo aportava em MACAÉ.
Ricardo Meireles, lançava seu 'Palácio do Urubu' e ia até a Europa. Nato e Manel Reis, Armando Rosário, "Gloria Nacional" e outros imaginam o "Burziguin". Morria "Caubizinho" em triste desastre em São Gonçalo e Luiz Geraldo Pinto idem numa ponte no Sul do país.

"Boca de Bagre" bate de caminhão em Pernambuco e também morre. Deixa o mano "Zé Puleiro" e o "Lalá" tristes. "Fernandel"; "Flavinho" e "Manel das 7 em porta" são alguns das "praças" famosas."Chiquinho Tatagiba" e Ary reinam nas velhas paradas macaenses assim como o "Velho Mota" reinava na Campista. Gordo puxa cadeia na IIha Grande e volta contando historias dos famosos da época.Fala em C.O., em Mariel e em Lúcio Flávio Vilar Rios. Histórias de cadeeiros passadas pelos personagens que vivenciaram. Tudo sob o forte brilhar do belo Luar de Imbetiba e o Sol ameno de nossas tardes...

II

Armando Rosário, deixa o Rio, a "Manchete" e a "Banda de Ipanema" e vem de mala e cuia fotografar Macaé através do "BURZINGUIN", um jornal alternativo que circulava em xérox. "Aninha", minha filha com 8 anos é capa deste jornalzinho lindo. Não sei se ela foi fotografada por Livinho, por Rômulo ou por João Carlos Campos. Fato é que este jornal circulou com muitas fotos e muita gente boa escrevendo. Era o final dos anos 70.

RESISTENCIA E A U.R.

"O REBATE" resiste a tudo e a todos e, mesmo capengando, entra na Contracultura e enfrenta a ditadura . Fuxicando a onça, somos enquadrados na LSN. Lá fui eu e Euzébio responder IPM na Marinha e no Exército. Sorte ter tido como auditor o Almirante Grecco amigo de nossas avós e Jacob Goldemberg um simpático mineiro que entendia nossos escritos.
Denunciados que fomos por uma câmara de vereadores subserviente ao poder e acocorada ao sistema tive minha matricula na Faculdade de Direito impedida de renovação e Euzébio não pode fazer a Universidade. Deixamos de nos formar nas Universidades e nos tornamos bacharéis na Universidade das Ruas (u.r.).

Valia tudo para conhecer o Maravilhoso Mundo Novo que habitava a cidade. Erasmo de Roterdã é lido e Marcuse idem. Fernando Pereira vinha do movimento estudantil de Ibiúna com novos enfoques, Baroni com uma nova arquitetura se faz presente nas caminhadas sob o luar de "Jurubatiba"; ainda virgem das especulações.

A meiguice curiosamente pura de Sandra Waytt, o olhar introspectivo de Edinho e Henry, seus irmãos mais novos, refletem numa Macaé que enfrenta tudo e se propõe guerreira e transformativa.

A poetisa já bailava em Sandra no seu interior que aflorava em versos cândidos e revolucionários. Eleonora Borges nem pensava em abrir o Mahathan nem Armando o Macaé Jornal. O MOVIMENTO ESTUDANTIL DE IBIUNA JAMAIS PODERIA PREVER O RASTRO DE CORRUPÇAO QUE CONTAMINARIA O PT DOS ANOS 2000...

A cidade fervilha.

Fernando Frota lança "Apurrinhola" que chega em boa hora. Estava acabando o ciclo das gargalhadas e dos puros sorrisos e a Apurrinhola vinha fazer voltar o humor e as gargalhadas verdadeiras e nativas.

(Para quem não sabe, vou tentar explicar: Apurrinhola foi uma criação do imaginário de Fernando Frota. Ela, a Apurrinhola era para aporrinhar as pessoas. Invisível, Segundo o criador Freta, a máquina aporrinharia na parte mais sensível de certas pessoas. Tirava dinheiro do bolso quando o cara ia pagar conta; dava tropeçadas em pessoas que faziam poses, engravatados e com cheiro de mofo e empapuçadas pelo poder; falava coisas verdadeiras ao ouvido dos safados, enfim, era uma máquina de aporrinhar mesmo.

Niltinho foi o primeiro a ver este humor e, de soslaio, dava suas catucadas inteligentes e espertas. Quem não curtiu a Apurrinhola de Frota, perdoem, não viveu as loucuras sadias dos anos 70...
Frota, uma cabeça sempre de pensamento rápido e alegre, ria antes de completar os efeitos da Apurrinhola o que dificultava o entendimento quando relatava. È que ele, quando dizia que a "apurrinhola" tinha tirado certas quantias do bolso da pessoa visada, já gargalhava, prevendo o final. Sé quem acompanhava sua onda, em ondas anteriores entendia e sacava no ato. Amildes e Amilton sabiam da existência da maquina e riam juntos com o velho Frota...
.A pura criação desta máquina invisível, nascido do humor interior de Fernando Frota, deu seguimento a milhares de formação de histórias e momentos de raras belezas em cada interior dos que a entendiam. Sendo um ser imaginário a "Apurrilhola" tinha o sentido do mais fino humor.

Marquinho Brochado ainda lembra, com sorriso escancarado de um canto ao outro de seus imaginados.

Até pouco tento antes de projetar seu frágil carro de frente com um possante van e despedir-se do mundo, Marquinho sempre se recordava alegre e feliz das Apurrinholas criadas em cima da Apurrinhola verdadeira que Frota tinha inventado. A de Frota, dava beliscão na bunda das pessoas, jogava lama no terno do almofadinha, espalhava um vento que fazia voar a grana da gaveta do comerciante sovino e etc.

A nossa Apurrinhola era diferente. E esta diferença, mais à esquerda, que motivava as divergências com Frota. A nossa assaltava banco, jogava dinheiro nas favelas, espalhava alimentos na periferia, roubava comida das festas sociais, punha pobre dentro dos clubes etc...
Num vai e vem que não foi.

Numa certeza de um não que não vem,
De um sim quase negado “...

Era uma época em que Kleber Santos deixava, definitivamente o Rio e vinha para o Lagomar onde o visitei com Phydias Barbosa e Ricardo Meireles. Depois conheceu a simpatia de Mary , o carrancurismo simpático de Fred , o sorriso matreiro de Fernando e Maria e fixou-se geral em Macaé.

Nasce no Rio, no Movimento Estudantil a Convergência Socialista que chega em Macaé. Eu, Phydias e Dilma Lóes damos os primeiros acordes na formação de um Partido dosTrabalhadores. Convido Euzébio e Omir e o PT tem seu primeiro núcleo do Estado do Rio em l978.
A música PT, PT, PT, PT., trabalhadores no poder enche de esperança minha geração e a gente cai de cabeça na busca desta construção tijolo com tijolo de uma forma tão linda que até esquecemos que o poder transforma os que o assume.

Niltinho Costa tenta engenharia no Rio e, não se adaptando a barulheira de Ipanema, volta para "Bicuda." .Niltinho preferia olhar a meiguice malandra de "Berebéu", sentir o palavreado "Capiau” e puro dos Bicudenses. Uma opção alternativamente linda para uma mente pura como a dele.
Eliane, Ângela Lopes, "Marilu", Kátia, Luísa Reis, Sandra “John Lennon", "Eliane da Boa Vista", com sua linda voz vinda de dentro do pulmão e, estourando em nossas entranhas, são as gatinhas da época. "Livinho", Rômulo já põem a mostra a herança do velho Lívio e fotografam "Aninha" em anos de infância.

Luisa Reis é a mais linda de todas as criações humana só comparável ao meigo olhar distante de Roseana Reis que sumiu das vistas nativas.

Thomé, Fernandel, Costinha, enfim, Macaé fervilhava na década de ouro para as transformações.
E John Lennon? A nossa Sandra? Poeta, feminista e mulher? Ela ensaia os primeiros passos largos no grande chute que a sociedade merecia levar no bumbum.

Estoura seu trabalho no Rio e tem sua peça encenada nas ruas da capital em especial em Ipanema..

Mais uma vez Frota surpreende e lança o "Homem é o que é por ultimo". Upiano ouve e se cala. Não se vê concordância nem negativa do mestre filosofo das noites macaenses. Seu irmão Ivairzinho acha somente uma frase inteligente.

O tempo no entanto cimentará nova teoria que o "Homem Está e não é.Ricardo Madeira nega a tese de Frota. Tudo dentro da mais pura e afetiva discordância filosófica que eram discutidas nas mesas dos cafés.

Anos de chumbo grosso. Policia de Macaé, representado por um conhecido delegado fareja "fumo" em tudo e todos. Prendem e arrebentam hippies e favelados e internam classe média em "Casa Transitória" para fugir dos flagrantes.

Esta mesma policia transforma em "Capim", depois de ir para exame no Rio, meio quilo de maconha apreendidas com gente da alta sociedade nativa. É o início do fim. A pequena burguesia começa a entender melhor as distancias que a mais valia fazia e onde se situava a repressão policial em sua verdadeira essência de reprimir e perseguir lideranças nativas e prender filhos de pobres, negros e favelados.

Ficava em clarividência para jovens ricos e pobres que o sistema policial/militar era a representação social da cruel diferença que o sistema teima em fazer com seus terríveis braços repressores.

"Negro correndo é ladrão. Branco é atleta. Rico fuma maconha, pobre é traficante. Maconha apreendida com menino rico, vira capim e capim no bolso de pobre é resto de maconha". Todo esforço "cultural" que o Movimento Hippiee e a Contracultura fazia para mudar a sociedade sem que fosse preciso um banho de sangue, esbarrava nas mentes atrasadas dos donos da lei e dos poderes constituídos.

DAS ARTES

Marco Aurélio Corrêa começa a criar lindas paisagens que ornam as belezas da Praia do Pecado que Euzébio nominou no O REBATE. Cria-se o "BURZIGUIN", nascido na mente fértil de Euzébio que escreve crônica uma de Macaé no ano 2000 prevendo o que viria acontecer.(crônica que se perdeu no tempo mais que, se achada hoje nos anos 2006 saberíamos da verdade futurista que ele falava nos anos de 1970).

Lívia é a nossa deusa maior, lança e nomina Hollywood a praia onde morava Moisés do Vasco. As duas criativas mentes macaenses, Euzébio criando a "Praia do Pecado" e Lívia a "Praia de Hollywood", Poe em evidencia duas mentes acima das mentes normais de uma cidade que ainda engatinhava.

Era comum se esbarrar em José Carlos de Oliveira, Paulo Mendes Campos, "Jaguar", Olga Savani.Era festival de musica do O REBATE em 68. Jornal sempre na frente e sempre junto com as aspirações do povo.

Egberto descobre Piry e o festival o consagra apesar de José Carlos Oliveira preferir "Cascudinho Azarento", um forró cantado e criado por Manoel enfermeiro do PU. Roberto Salles, Rose Noronha e Joel Passos cantam no festival e são aplaudidos de pé. Luiz Jose de Souza Lima, o nosso Piry, reconhece, em entrevista ao MACAE JORNAL nos anos 2006, o grande avanço que O REBATE prestava nos anos de 1970 a música brasileira.

O ano e a década eram do O REBATE, de nossa gente, de uma Macaé corajosa e fascinantemente arrojada e revolucionária.

Sempre era um constante esbarramento com Ary Duboc, o velho Athos e seus filhos recebendo amigos nas rodas do Café e Restaurante Belas Artes. Macaé era uma espécie de Ipanema dos anos 70..Waldemar da Costa, Nilton Carlos Costa, Takaoca,.Moacyr Santos. Artes eram uma constante e se misturavam a Cafés e Filosofias.

Tudo isso emaranhando -se as constantes presenças de Euzébio, Juarito, Marquinho Brochado, Hudson Siqueira, Marco Aurélio Corrêa, Renault e outros que iam e vinham trazendo os informes de novas coisas que pintavam fora dos bastidores do "PASQUIN" e que não podiam ser editados. Criamos no "O REBATE" o "Daniel Menos" onde Euzébio representava o papel irônico do "Daniel Mas" e os nativos iam se aperfeiçoando aos fatos até então distantes.

'Era a década de mil transformações
Sob forte censura O REBATE é impedido de circular por ordens do comando militar. Exigem censura prévia no jornal. No Rio de Janeiro a Tribuna de Imprensa de Hélio Fernandes sofre o mesmo. Hélio seria confinado em Pirassununga ou Macaé. Abro em manchete um oferecimento para eles escrever no O REBATE. Era mais um catucamento. Voltamos a ser chamados nas guarnições militares. A imprensa parecia que era o principal alvo das preocupações da ditadura.
Da contracultura e do movimento Hippie muitos enlouqueceram, morreram ou entraram numa e não voltaram . A minoria que soube segurar as barras e está ai como eu de netos e bisnetos a tira colo. O sonho sonhado vinha numa mistura louca de LSD e Cogumelo de Boi. O de galinha matava. Os grilos das misturas de sonhos tidos e havidos levaram muitos a loucura e a morte. Os sobreviventes ainda deixam rolar lágrimas quentes quando se encontram.

Platão, Sócrates e Aristóteles eram discutidos em todas as rodas de cafés e bares nas noites. Na redação do O REBATE tinha início às discussões que varavam madrugadas. O Ser e o não ser não é .Demócrito, e sua conciliação. A decadência dos costumes após Péricles eram dessecadas por acompanhantes atentos. Atenas era transportada para o bar Imperatriz e belas Artes onde fluía a inteligência nativa . O "conhece-te a ti mesmo socrateano" e seu humanismo refletiam no brilho de olhares atentos.

"A Sétima Carta de Platão" parece escrito hoje e dela fluía .Reconheço que todos os Estados atuais são mal governados e que pela filosofia se pode discernir todas as formas de justiça política e individual.

Visitas ao sitio

Sempre que podia trazia amigos no sítio onde moro. Tardes virgens de idas e vindas no conhecimento de frutas silvestres e pássaros raros. Goiabeiras, coqueiros, Mangueiras, Araçás, Jabuticabas, Ameixas, Laranjeiras, Coqueiros, abacates, graviolas, pitangas, acerolas, amoras, abricós. Cajus, jacas, cajás eram algumas das fruteiras que encantava e nos proporcionavam alegrias infantis.

Uma mistura de "Tupamaros", vindos da Argentina, alguns revolucionários fugidios do Reino Unido se misturavam aos nativos "Borito", "Tuca", Elton Português, Samuel, Victor, "Anselmo Colombina", "Didi". "Guto", Carlinhos Português, "Carlinhos Bomba", João Carlos, Helder, "Toninho Mello o Delegado", André, Tomé, Kátia, Miller e Cristina, "Ginja", Fernando, "Compadre", eram alguns das macaenses que eram sempre bem chegados quando mal chegadas eram as incompreensões da uma Macaé bitolada e feia.

Muitos destes tiveram a coragem de fundar o Partido dos Trabalhadores acreditavam no futuro. Futuro que chegou e o PT traiu.

Minha casa é uma riqueza, pelas
'Jóias que ela tem.
Tem varanda, tem jardins. E uma rede pra embalar de quando em quando...

16.12.09

Morre em Macaé, Waldemir Santos, um dos personagens de meu livro "DA FERROVIA AO PETRÓLEO"





Falar na História da Ferrovia sem lembrar de seu Mario Santos, pai de Wilson Waldyr, Luiz e Waldemir seria negar os pilares desta Região de Petróleo. Fui educado nos dogmas da Igreja católica pelas doces mãos de Minha Avó Alice( Nhasinha) de Laceda. Foi nestes anos, de infância alegre e e vigiada, que tomei conhecimento da existência desta bela família Santos. O Patriarca "Seu Mário" , foi um dos mais antigos ferroviários. Respeitado pelo seu caracter de homem sério e bondoso, gostava de atravessar a Praça Verissimo de Mello, já com seus cabelos brancos para ir na Lyra dos Conspiradores onde era presença sempre ativa.
Seus filhos seguiram os passos e o trilho correto deste grande homem e entraram na Ferrovia. Wilson Santos foi meu instrutor no SENAI, assim como Waldyr. Luiz Santos, que atende pelo afetivo apelido de Lulu, foi meu contemporaneo. Casou-se com minha linda colega da Escola Isolada 2, na Imbetiba/Cajueiros Izabel que daria aos céus, anos depois, a presença jovem de minha fã e amiguinha Fabianne.
Ainda guardo, na parede descascada de minha retina, sua vóz alegre quando vinha ao encontro de minha filha Aninha e sua irmã Gisele.
"-Bom dia, seu Zel mildo". Não é Zé Mildo não Fabienne, é Zé milbs."Ta bom", respondia e sempre repetia o nome errado. São passagens que marcam, na história de nossas vidas, as pessoas queridas...
Maria de Jesus era, se não me falha os respingos de memória, a única irmã. Seus olhos ficaram iluminando, creio eu, os Anjos e ela vive, com Os olhos de sua Alma, encantando a todos com a harmonia de uma vóz que sempre vem de dentro da alma. Encanta a todos pela beleza fisica e pelo sorriso de criança.
Soube hoje, por Sonia Assumpção, esposa de meu amigo Humberto e por Waldyr Tavares da morte de Waldemir. Perdemos uma página cheia de feitos na História da Região. Desde a Fundação do Fluminense F.C. ombreado por José Calil Filho, sua irmandade e uma gama de grandes ferroviários, Waldemir continuou e se destacou na sociedade de Macaé. Soube dignificar a criação de lindos filhos que estão em todos os pontos de nossa cidade a continuar seu trabalho com o brilho deixado para ser seguido.
Quando eu tinha 11 anos, ia na Estação da Leopoldina para olhar os trens. Encantado com uma máquina que era tocada nos dedos e manipulada por um jovem senhor moreno, com uma linda e elegante roupa AZUL. Era a Rádio Telegrafia. Depois de muito olhar belo balção, de onde ficava também uns homens vendendo passagens, perguntei como era aquilo que batia igual um sininho de relógio. Levantando-se de uma mesa negra, cheia de papéis e escritos este simpático homem disse:
"-Menino, que você olha tanto? quer aprender este meu trabalho? Era o que eu mais queria. Sai correndo e falei com minha avó.
"Dinda, sabe o que eu quero ser quando crescer?. Quero ser aquilo que fica batendo numa máquina lá na Estação. O homem, irmão daquela moça que toca na Igreja e anda com Maria Inez Patrocinio e Marlene sobrinha do Monsenhor Jason Barbosa, falou que eu posso aprender".
Era assim este Waldemir dos anos 40 que morre nos anos 2009 com o mesmo feitio moral e humano.
Sempre atendo a atender os desejos de todos que o cercavam. Ultimamente sofria calado a ausencia de seu lindo filho Tatá , morto tragicamente e de sua companheira Zuléia. Mesmo assim mantinha o dom de distribuir alegrias...
Em nome de O REBATE e de minha familia que mantem os laços fraternos com todos os seus descendentes, perpetuo, no www.jornalorebate.com a vida deste grande homem que nos deixou no limiar de seus 80 anos.
Doravante, quando algum históriador desejar falar sobre a Familia Santos, é só digitar no busca mundial do Google. (José Milbs de Lacerda Gama, editor de www.jornalorebate.com

15.12.09

O Engraxate Tisiu e suas histórias e a filosofia dos engraxates


O Engraxate tinha uma vida bem movimentada na Região de petróleo. As cidades eram banhadas pela Ferrovia que, viriam a ser sucedidas pelo Petróleo. Os trens vinham de Barão de Mauá no Rio de Janeiro com destino à Vitória do Espirito Santo. As Estações eram o "point" onde defilavam as mais belas mulheres e os mais elegantes homens. As casas ficavam cheias de gente nas janelas. O Expresso, o Rápido e o Noturno eram saudados com acenos alegres de milhares de crianças e velhos que ficavam a espreita dos apitos da saudosa Maria fumaça que, com Nobreza de Rainha dos Trilhos,vinha guiadas por orgulhosos Feroviários dos anos 40, 50 e início de 1960...
Rio Bonito, Casimiro de Abreu, Rocha Leão, Rio Dourado, California e Macaé eram a predominância destes afetos humanos que tinham vivências nestes tempos de reinado dos trilhos.
Os Engraxates estavam na moda por que ainda não havia Tenys nem Sandalhas. Os Sapatos, alguns de cromo Alemão, muitas Botas e algumas Semi-Botas, eram olhadas por orgulho por quem as tinham reluzentes e bem cuidadas.
Os homens não saiam de casa sem antes olharem para os sapatos e os colocarem nos pés bem limpos. Ai que apareciam os Engraxates em toda região da Ferrovia.
Muitos ficaram famosos. Em Macaé Tisiu, um alegre negro de sorriso aberto e coração puro se sobressaia, Morava na Barra do Rio Macaé e fazia a beleza nos pés de centenas de macaenses nos anos que reinava a Ferrovia. As pessoas chegavam na Estação, olhava para a Rua da Estação e iam logo perguntando: - onde posso engraxar meus sapatos?. todos iam a procura de Negro Tisiu que, de longo e alegre papo, ia se familiarizando com tudo que diza respeito a vida da cidade.
As pessoas se conheciam pelos apelidos. Todos, rigorosamente, gravados ma memória do Tisiu que, perguntado, ia desfilando os locais e nomes com tranquilidade e respeito. Foi assim, quando da chegada de um forasteiro que queria morar na cidade.
Tisiu foi lhe dando os informes:
- Para pegar um taxi, o senhor vai na Praça e pode chamar o "Papa-Capim". Ele é de inteira confiança. Se for na Prefeitura fale com O "Thiers Bacuraú", na Estação o Elso Pudin, Roupas de fino trato o seu "Bebé Marques", e assim por diante...
Além deste dom alegre de indicar locais e nomes para atendimentos, consta, nos anais das memórias captadas nas esquinas e vielas da cidade, que haviam grandes confidências que Tisiu escutava de seus fiéis fregueses. É o caso de um Espanhol de nome Taboada que aqui chegou no inicio do Século 19. Sócio de Franciscone & Taboada no ramo de Sal, fez fortuna na Região. Homem de grande visão futurista,o patriarca Taboada comprou vários imóveis na cidade. Criou o Cine Taboada e o Hotel que lhe tinha o nome. Pai de Godofredo, conhecido como "Godõ", ele era um homem extramente recatado e precavido no trato com o dinheiro.
Tisiu o tinha com cliente e também atendia o seu jovem filho "Godô", que mais tarde se casaria com Isaura, uma mulher simples de origem ferroviária. Um dia, depois de uma longa conversa com o velho Taboada,Tisiu foi direto ao assunto:
- Seu Taboada, uma coisa me intriga. O senhor é meu clente de muito tempo. Godõ, seu filho, idem. Por que que o senhor, um homem tão rico, nunca dá uma gorgeta e o Godõ sempre dá e com grande sobra? O velho Taboada, olha bem dentro dos olhos alegres de Tisiu e sentencia.E que Godofredo tem pai rico. Eu não tenho...
Muitos textos filosóficos, "do saboramento da linguagem popular", nasceram das mãos sujas de vários engraxates. "Aminta" (que tinha a fala mais rápida do quem o pensamento, dizia: "sapato branco jogou poeira no vento", quando queria dizer que O vento tinha jogado poeira no sapato branco.
"Florizinha", que ficou famoso nos anos 40, 50 e 60 por dizer que iria acabar com a subida do Morro de Santana se ele fosse prefeito. Quando alguem perguntava: "Florzinha, e a volta? ele respondia: "isto é "ribilidade" minha. Que queria dizer que era Responsabilidade dele...
Tisiu, sempre falava, quando algúem esnobana o que não tinha: "você tem que peidar de acordo com o tamanho de sua rosca. Senão se borra"...

Estas e outras histórias nasciam sempre nas Cadeiras dos Engraxates nos anos 40, 50 e 60 e iam terminar nas Cadeira dos Saudosos Barbeiros de nossas histórias havidas..
( Jose milbs de Lacerda Gama, editor de O Rebate )

10.12.09

Eu daria tudo que tivesse...Rua d Estação, Praça da Luz, Rua da Boa Vista....



RUA DA ESTAÇÃO PRAÇA DA LUZ RUA DA BOA VISTA AS PELADAS

AS PESSOAS QUE BATEM NAS PAREDES DA MEMÓRIA.

Voltei, os 7 anos do Rio de Janeiro, Del Castilho para Macaé e fui morei na Rua da Estação, na casa de uma prima de minha avó que eu chamava de Tia Domingas. Esperávamos desocupar a casa da rua do Meio pois estava alugada.

Lá pude ter novos amigos. Ia muito na casa de Conceição Prata e Isolino Almeida, outros primos, e fazia meu ponto de criança curiosa numa relojoaria do Manoel Relojoeiro, que trabalhava ao lado de Seu Farias, pai de Rosane e Renê, meus amigos dessa Rua.

Sempre que podia ficava na varanda do Dr. Rodolfo, um advogado alegre, pai de Roberto, outro Rodolfo e, também pai de umas meninas simpáticas que sempre estavam alegres e felizes.

Uma delas veio a se casar com um ex colega de terceiro ano do SENAI Luiz Jorge que era irmão de Binhoa Ramalho meu colega de turma. Ruth ainda mantém a simpatia que tinhas nos anos de sua infância na rua da Estação.

O velho Advogado sempre mexia comigo pelo meu modo de sentar e cruzar duplamente as pernas. Do alto de uma varanda alta que dava para se ver a Rua, sentia-me grande ao olhar as centenas de pessoas que passavam vindos da Estação. Passei algum tempo de minha vida nesta casa Brincava com os filhos de um caçador que morreu numa caçada de nome Arquimedes, com alguns amigos, “Maçã”a que me colocou o apelido de “Ppinguin” e que nunca mais tive noticias, tinha ainda Virley e os filhos de Dona Arlete Pinto que sempre estava pronta para uma simpática atenção a todos com seus deliciosos doces e salgados.

Mais ao longe Sady e outros. Havia os maiores “Manoel Boca Larga”, “Tochinha”, “Vanir Vaca Brava”, Mardone. Flankilin Vieira, “Mirrolo”, Leone, “Paulinho Cabeção”, “Carlinhos Butuca” irmão de Décio, Cosme e Damiao, “Paulo Cabeção” da Boa Vista. que já dominavam as esquinas da Praça da Luz, onde hoje é o “Colégio Estadual Luiz Reid” d e que foi palco do enforcamento de Mota Coqueiro nos tempos de meus avós.

Essa turma da Praça da Luz vivia em constantes brigas e provocações com a turma da Rua do Meio , dos Cajueiros e da Boa Vista.

Como eu era nascido na Rua do Meio, tinha estudado com Virley e Carlinhos Butuca na escola isolada, tinha transito livre nas duas galeras e me dava bem nas paradas.

As peladas da praça da Luz eram famosas. Mardonio, Tochina, Buruca, “Alan Birosca”, Fernando Valença, “Itinho Cabeludo”, Victor Hugo que mais tarde foi para o Rio e é pai de uma artista de nome Maiteé Proença que tem os olhos iguais a dona Hebe e dona Lia irmãesirmãs dele.

Abelardo, “Birosca”, Mirian Almeida misturavam as essências da Boa Vista, Praça da Luz e Rua do Meio em constantes e harmoniosas brigas que rolavam nos dias de caçadas, jogos de bolinhas de gudes e Papão nas empoeiradas e salutares ruas de Macaé.

Enquanto os maiores jogavam os menores ficavam nas bolebas, triângulos e pique por entre árvores frondosas que iam até a Chácara de dona Yaya Vieira do outro lado onde hoje tem a “Fafima”.

Meninos da Praça Washington Luiz vinham apadrinhados por Ivair Borges que traziam Iney e Paulinho com suas vontades de voos mais longos que os que tinham as suas ruas periféricas. Chegar a outras Praças, jogar bolebas com outros meninos eram conquista que se revessavam nas amizades que teriam seguimento nas Matinés dos Cines Taboada e Santa Izabel. Muitos destas amizades, forjadas nas livres peladas das nossos Praças se imortalizaram e hoje são recordadas com alegria com filhos e netos. Quem não torçeu para os mocinhos ou para alguns bandidos nos faorestes das sessões das 3as e 5as. nos anos 50,60 e 70?

A casa do seu Rubens, pai de “Samuel, do Chaplin”, ficava onde ainda é. Samuel era amigo de meu filho Luís Cláudio e seus filhos Bruno e Andrei, de Zé Paulo. “Cassinho” filho de “Aryzinho” e Lucas de “Guto” completam a infância de Zé Paulo na Vila onde morei nos anos 80.

Sempre que Samuel vinha no meu sitio com Geraldo “Asa Branca”, filho de Jayme Franco, eueu gostava de brincar com os desejos de “Samuca”ele. Eu Ssabia provocar seu sorriso de menino ao mexer em sua malandragem escondida. O Sitio tinha um galo de pescoço pelado que sempre que Samuel vinha ele o rodeava cantando e cocoricando. Ele gostava do galo e eu disse que o galo era dele. Ao querer levar o galo, com intuito que eu já sabia ser uma panela cortei o seu barato dizendo: disse.

Este galo, “Samuca”, é seu mais fica aqui no sitio. Sempre que você vier ele esta ai sendo cuidado . “Se puder traga sempre alguns milhos que ele gosta”. Ele ria de soslaio Oo seu sorriso puro de menino, saído das poeiras da praça da Luz. Sabia estar sendo enganado no meu l71 maior que o dele mais gostava disso.Olhava para Asa Branca, catucava Tuca e Marcioney e sentenciava, ainda com a gargalhada por terminar.”Milbs é muito forte. Bem que Marcioney dizia”.

As crianças da praça da Luz esticavam visgo e caçavam os papa- capins de ponto que vinham da mata onde hoje tem os bairros Miramar e Visconde. O cheiro de mato ainda vem nas narinas da gente como uma recordação de um existente havido e que nos fazia viver.

A manta chegava e com ela os tizius e cambaxirras avisando que era chegada a hora das armações de alssapãoalçapão e redes. José Carlos “Preá”, “Pão Mineiro” da Bicuda já estavam com suas gaiolas vindos da direção do Mathias Netto. Passavam pela esquina do futuro “Caixote”, onde Eraldo abriria sua venda, e caminhavam a passos largos para a Praça da Luz.

Ricardo Madeira ia mesmo para expor seu Avinhado nas cercanias do forte e roubar alguns frutos na Chácara de Chico Lobo. Enquanto isso Geraldo Asa Branca ia mostrando o novo Papa Capim que Jayme Franco seu pai, tinha trazido de Rio Dourado e que cantava de mão.

Era mais ou menos assim as convergências desta infantil vida nos tempos das ruas empoeiradas.

Acho que todo Socialismo tem que ser cimentado no afetivo puro que brota da alma humana.

As crianças, criadas na era televisão, perderam o sentido da realidade natural. Uma cultura voltada a adaptação dos novos tempos não recriam o belo. Adapta-se ao feio, ao terrível mundo da massificaçãao. Não sei onde isso vai levar a humanidade. Ainda mais tendo como dono da comunicação do quilate dos que editam as Tvs. Brasileiras nestes anos de 2007. São demonios que falam em deuses, que negam o vicio o os promovem em orgias sexuais de novelas e textos de apelo anti moral. Destruidores de infâncias.

Ainda aos 7 para 8 anos, cortava os meus cabelos loiros com seu Senízio Vieira que, além de barbeiro era médico espiritual com suas consultas e aconselhamentos. Dona Sula e Simonides completavam a alegria do conhecimento familiar. As vezes cortava o cabelo com Fábio na praça do Século onde seu vulto esguio e alegre sempre tinha algo novo para contar sobre Macaé e sua Gente. Outras vezes com Fanor, Cheiroso, Luiz ou Philadelpho na rua perto do O REBATE de Milton Madureira e Jorge Costa.

Na rua da Estação morei um pequeno e proveitoso tempo dos 7 até os 9 anos, se não me engano.

Seu Isolino que era casado com minha prima Conceição Prata me levava em seu sítio, onde andei pela 1a vez a cavalo. Com ele eu aprendi muita coisa bonita de interior. Falava de suas andanças a cavalo até Rio Dourado, Professor Souza e Casimiro.

Era um homem calado, mas comigo sempre estava rindo. Eu gostava muito era de conversar com Eny e Zilca suas filhas mais novas já que a mais velha quase não tinha tempo. Zézo era com quem eu mais gostava de brincar. Falava engraçado e quando não se fazia entender sorria com a gente...

No quintal de Tia Conceição tinha todo o tipo de fruta. Ela era uma doce mulher. Sempre alegre, por detrás de seus óculos brancos e de uma cor alva e divina.

Nunca vi essa mulher triste. Vinha sempre me receber, até mesmo depois de bem velhinha, com o mesmo olhar de santa que notabilizava sua existência de mãe e mulher. Engraçado que toda vez que eu chupo manga rosa, abio e caranbola me vem a mente seu quintal, sua escada da cozinha e seu belo cachorro. Será que todos são assim como eu nas recordações infantis? É uma dúvida do” autor que vus fala”...

Na varanda, após entrar pelas escadas e chamar numa porta sempre aberta, tia Conceição Prata vinha me receber e já me levava para a cozinha, sempre cheia de doces, frutas e comidas maravilhosas.C riou uma filharada e deixou marcado em Macaé a cimentação de sua vida.

Tia Conceição Prata era sobrinha de Tia Chiquinha Prata e Nizinha oriundas nossas raízes de Carapebus, do lado de minha avó materna.

Chiquinha Prata tinha ido morar no Rio onde criou os filhos Ary Prata Sodré, Pratinha, Ayres, Arina, Alvina e Loica. Sempre vinham passar ferias em Macaé onde se dividiam alguns na casa de Alvina outros na casa de minha avó Nhasinha na rua do Meio. Alvina morava na praça onde hoje tem o hotel de Marlécio e Lourdinha.

A pouco menos de um ano para terminar o século, recebi no sitio, a visita de Ary que veio ver minha mãe Ecila. Hoje afirmo que eles estavam se despedindo deste mundo. Ele era, nesta época tesoureiro da Congregação Baptista do Brasil e foi deliciosamente belo ver as recordações que ele e minha mãe iam revendo de suas infâncias em Macaé e Carapebus. Como observador pude quardar os seus belos olhares de alegres e festivas recordações e fui quardando estes momentos para pode hoje terminar esta ACONTECENCIA na certeza de que presto uma grande homenagens a minha velha Macaé e seus vultos históricos...









Meus Tempos de Criança
Ataulfo Alves
Composição: Ataulfo Alves

Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança

Aos domingos, missa na matriz
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí

Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?

Eu igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia


(José Milbs de Lacerda Gama, editor de O Rebate, www.jornalorebate.com 75 anos de Histórias na Região de Petróleo do RJ e vivenciador dos fatos narrados)...

8.12.09

O DIA EM QUE ZÉ MACHADO BATEU ÁS BOTAS EM FRENTE AO VEM-CÁ DE CASIMIRO ABREU....

Foto da Palmeira Imperial que está postada na Estância Vista Alegre onde é editado O REBATE



Sempre que as tardes caiam na cidadezinha de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, muitas pessoas vinham, montadas em bicicletas, em cavalos ou mesmo "nas canelas".
Muitos para esperar a sessão do cinema. Outros para namoricos nas saidinhas dos colégios. Outros, vindos das Ruas periféricas e dos bairros para longas conversas nas esquinas da vida de uma cidade calma e bucólica.
Sorvetes na Sorveteria Vem Cá do simpático Casimiro Abreu e cafés no Bar de dona >Dadá eram alugns dos locais dos inícios de bate papos...
Zé Alves Machado sempre vinha em seu cavalo bem cuidado e com suas esporas reluzentes. Estudamos juntos. Com sua alegria, escondida por entre olhares sérios, Zé Machado, filho do velho Francisco Alves Machado, tinha uma roda de bons amigos e e não escondia sua preferência para os Faroestes do Cine Izabel. Como a cidade era muito pequena e as pessoas se conheciam e eram sabedoras dos mínimos detalhes de roupa, sapatos, tamancos, cigarros e filmes, qualquer diferenciação neste belo universo de encantamentos e alegrias, era motivo de comentários. Muitos criavam boatos que eram espalhados por toda a cidade.
18 hs de uma destas tardes, onde o sol teima em continuar reinando, e nada de a gente ver o Zé machado impinando seu negro cavalo na Ruas principal de Macaé.
Perguntas foram feitas ao Zé Puleiro, ao Gilson da Aroeira, ao Cata Quiabo dos Cajueiros ou mesmo ao Fernando Valença da Boa Vista, se alguem sabia por que o Zé Machado ainda não havia aparecido. Era dia da Sessão Colosso e ele não perdia. A Aoreira em peso torcia para os Bandidos e a favor dos indios nos filmes enlatados do USA...
O pessoal da Aoreira, sempre ligada ao Zé já estava sem saber o que fazer. Alguns comerciantes, que sempre ficavam nas esquinas nas conversas já estamos pensando em procurar saber algo sobre esta ausencia. Os irmãos Vieira, Alicides e Alcebiades foram consultados e nada sabia sobre se o Zé tinha batido as botas.
Chega então, vindo não se sabe donde nem como, a noticia. ZÉ MACHADO BATEU AS BOTAS tinha se fato batido as botas em frente ao Vem-Cá. Um longo corre-corre com destino a sua Fazenda nas imediações de Aroeira, procuram os contatos e a noticia corrria por toda a cidade. Até gente que morava em Carapebus, Quisaama, Trajano, Rio dourado, Sana e Córrego do Ouro, levava esta noticia e todos ficaram tensos...
Neste tempo, qualquer noticia, corria como vendaval. Um simples comentário, na Rua principal, chamada de Rua Direita, chegava em toda a cidade.
Os barbeiros, os garçons, os alunos das Escolas, todos conheciam bem a presença alegre, risonha e afetiva que se irradiava com a presença deste grande amigo de nossas ruas empoeiradas...
Finda a 1a sessão do Cine, quando todos já comentavam este acontecimento, quem está na porta da Casa Tavares, em alegre conversa com Antenor, Ruy Borges e Toninho do Belas Artes. O prédio em pessoa. Zé não entendia nada dos olhares de espanto de todos que se aproximavam dele. Ele, de fato tinha "batido as botas" mais para espantar alguns entulhos de bois e caminhar a pé para o cinema se ser visto. Durante muito tempo, assim como a frase DEU COMÉDIA e o termos CABRUNCO a brincadeira rolou. Com o tempo Zé assimilou a brincadeira e, sempre que a gente se encontrava ele, rindo, batia a sua bota". José milbs editor de O REBATE...

José Alves Machado foi um grande macaense. Filho do sempre lembrado, Francisco Alves Machado, amigo pessoal do ex Presidente Getulio Vargas que ficou famoso, quando da chegada do Vargas em nossa cidade e disse: É Presidente. O caçador é bom. A cachorrada é que não presta. Logo em seguida vieram as denúncias conta o Governo Vargas que culminou com sua morte.

6.12.09

Dedico este lindo texto aos meus amigos que buscam erros em meus textos. Continuo achando que fico com a criatividade que brota em mim ...

( A foto que ilustra este texto é do Waldyr Tavares, grande companheiro e um de suas visitas ao Sitio. Sombreado pela Palmeira Imperial que me foi doada a 30 anos pelo primo Ruy Pinto da Silva e plantada pelo meu filho Luís Cláudio e Serginho Correa da Silva nos anos 80 )
Acontecências de uma inspiração num dia final de tempestada no "Sitio Estância Vista Alegre", atual RANCHO O REBATE, onde moro. Hoje, 10 anos da morte de minha mãe Ecila vejo quanta falta este jovem mulher de 80 anos está fazendo...
Meus irmãos, Ivan Sérgio, Djecila Maria e Antero Gallo que o digam, em São Paulo, onde residem e viveram com ela os seus últimos momentos...

José Milbs de Lacerda Gama

O Cotonete Azul e a Nova Democracia o Mundo Virtual e suas nuancias...

Uma viagem ao redor da mente.
Saber de sua abertura e existência...
Olhar o velho mundo se distanciar.
Saber do belo ...
Ouvir a voz do vento...
O murmúrio do passarinho...
Viver.
Saber da vida...
(José Milbs)


1

Estava com o computador ligado. Correndo atrás de leitores virtuais para o teimoso O REBATE on-line que edito no www.jornalorebate.com Às vezes tentando entender a alienação que, a maioria das pessoas que usam o orkut, deixa a mostra. Imaginando poder entrar e lançar alguma semente, sei lá, fazer a geração que fica trocando figurinhas sem carimbo ou sem sentido nenhum de vida, sem pensar numa mudança social,momento em que recebo o telefonema de meu editor no Jornal AND. O mestre Moreira Chumbinho, sempre atendo aos padrões gráficos, me avisa, com sua voz que sonoriza carinho, afeto e companheirismo:

- Milbs, no máximo 12 mil toques. Lá vou eu, teclando e contando, já que esqueci de fazê-lo como a Ana Lucia me ensinou.

Tentarei atender o desejo de meu companheiro e editor de A Nova Democracia, dando uma visão dos últimos momentos de minha vida ocorridos no computador com a presença de pessoas que não via o rosto mais tentava ver a alma. Pessoas de todo lugar do universo e planeta e que ficam nas manhãs, tardes e noites em busca de uma companhia. Gente simples, gente diferente em idéias; Algumas até arrogantes. Muitas verdades, muitas mentiras e muitas frustrações no decorrer de um tempo que vivi e gostei de conhecer.

Parece que o distanciamento do mundo real, com suas violências e maldades, fazem com que a busca do desconhecido se torne uma maneira de se sentir liberado na proteção que a tela do micro fornece.

A alegria de um encontro marcado por “oi” e “oiee” se faz presentes na forma mais sutil que se pode ter quando se inicia uma conversa longa e curiosa. De um lado um e do outro outro. Ambos se pesquisando em busca de verdades, às vezes escamoteadas e escondidas.

Fotos que chegam, fotos que vão. Algumas são do próprio que tecla e outras não. A formatação da verdade fica por conta do desejo de cada um na escolha de sua própria verdade. As idades são ditas na medida em que não seja preciso escamotear e, ‘a cidade de onde teclas' fica a critério de cada um. Você pode morar em Brasília e dizer que esta em Santarém no Pará ou em Conceição do Coité na Bahia.

Faz parte desde jogo de sedução virtual a descoberta da verdade das teclas. Elas, as teclas, são emissoras de energias que os dedos levam de maneira que, com o tempo as pessoas vão se tornando amigos de forma a se transformarem, em objeto de saudades, quando nas ausências em salas e nos programas do tipo irc, msn e icq e hoje o orkut...

Acostumado que fui às artimanhas e a sutileza do mundo real, jamais podia imaginar que as belezas ocultas nas teclas e nas figuras virtuais pudessem vir se tornar um maravilhoso mundo de experiências novas. As salas de bate-papo, as idas e vindas ao icq foram cimentando uma experiência de valores que se tornaram mais intensas na medida em que o forjamento de amizades vão se alastrando no formato que o mundo virtual nos proporciona.

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Vagando nas noites nos canais do Mirc, indo, quase como um navegante errante por portos desconhecidos, aportei em cidades que nunca imaginaria ir e onde conheci centenas de pessoas que, no anônimo de suas teclas, foram se tornando amigos e, muitos até confidentes. A vida virtual, quando você se torna conhecido e esperado estar on-line, se transforma em locais de encontro como se houvesse uma forte maneira de trazer a baila às saudades de dias anteriores que ficaram gravados no éter das memórias dos computadores e dos micros espalhados por este mundo afora.

Rio de Janeiro, Limeira, Manaus, Itaituba, Belém, Rondônia, Garanhues ficam sendo viagens que a gente faz como se tivesse ido a esquina ou ao quintal. As amizades de multiplicam na formatação de pessoas e idéias onde não existe a deletação e, as fixações das teclas, voltam e se cristalizam na fortificação de amizades eternizadas pelo afeto.

Embora exista a rapidez da comunicação, as amizades demoram. Elas fazem parte de um trabalho minucioso de fatores que começam nas verdades existentes de ambos os lados até que, formado o elo da confiança deixar-se levar até ao ponto de fornecimento de e-mails, números de telefones e acionamento em listas de amigos no msn e orkut.

Este período de experimentação de valores verdadeiros, em frases havidas, é que irá possibilitar que a confiança seja mútua e daí se possa aquilatar a afetividade que começa a ter sentido no maravilhoso mundo da virtualidade. Por se tratar de um mundo novo, onde a perspectiva de assimilação pela sociedade de consumo obriga a uma forte presença nas teclas, dificilmente a absorção terá acontecência e por isso mais oculto ficará para seus braços e asseclas.

A virtualidade derruba as barreiras e a censura existente nas mentes humanas por seguidos anos de repressão e civilização diferenciada do real. Enquanto na psicanálise, psiquiatria, sociologia e religiosidade a busca dos entendimentos de amarguras e aflições humanas, tem como objetivo maior a busca do lucro financeiro ou mesmo social, a virtualidade, que coloca frente a frente duas mentes diferentes rebate este fim e daí já se consolida na busca da confiança mútua existente.

Assim como os olhos no mundo real e as reações faciais e a fala levam o ser analisado e o analista a obtenção de normas para um diagnóstico ou busca de reações, no virtual os olhos são refletidos nas pontas dos dedos e nas mentes que os move de maneira que as falas e deduções passam por uma energia nova e que só quem esta teclando pode sentir.

As energias e as verdades ocultas e que nunca são ditas nas analises, são digitadas de forma suave e delicada expondo, as partes envolvidas, numa névoa de confiança e prazer.

O ego se vê tomado pelo superego e o id atua de forma tão suave que não dá lugar as idiossincrasias que tanto dinheiro dá aos que se dedicam a esta busca psicanalítica.

Os sentidos, que habitam a região da mente, navegam e são navegados sem que haja a tapa da censura ou o empurrão do carinho negado. As teclas fazem das duas mentes um canal de harmoniosas fontes que saem da escuridão para a leveza da confiança despertada.

Não precisa ter idades. Dos 13 aos 70 anos todos são portadores das belezas desta abertura, que faz do virtual, um mundo mesmo novo e de estradas iluminadas e abertas.

Enquanto na psiquiatria, psicologia e sociologia a busca do entender tem como meta o capital e a sobrevivência do que analisa, na virtualidade este objetivo esbarra na gratuidade. Sexualidade reprimida, amargura da relação real a dois, falta de atenção de pais e filhos são expostos sem que seja preciso a busca em troca da matéria e do lucro. Uma feliz gratitude que envolve partes humanas.

Aprendi a sacar, nas teclas, as energias dos dedos de quem está teclando. Sinto quando estou diante de uma pessoa bruta, desconfiada, repressora, maldosa, bondosa e, se está com a sexualidade aflorada ou reprimida.

Daí o grande grau de sensibilidade que se desperta ao usar o micro para entender as mentes humanas sofridas, maltratadas e olhadas com desdém pelo famigerado e ultrapassado mundo real.

A sociedade de consumo tenta, de todas as formas absorver esta nova visão do futuro . Assim como seus asseclas, braços do sistema, fizeram com o Movimento Hippies e a Contra-Cultura dos anos 70 que até virou grife de butique e enredo para tele novelas, eles tentam o mesmo se fazendo de entendidos na linguagem usada no virtual. Fazem isso, descaradmente e na forma mais vil possível. Repetem a linguagem de meninas e meninos que descobriram forma mais rápida do entendimento das coisas e já estão fazendo seu humor barato em seus braços e seguidores, via televisão, radio e jornais comprometidos. Esquecem, no entanto, que não é só a linguagem resumida que existe neste lindo mundo novo. Existe uma forte integração de almas.

Para entender esta integração de Almas tem que teclar, teclar, teclar...

‘Por detrás de uma menina de 13 anos tem uma futura mulher que não quer ser massificada pelo sexo vulgar das novelas das 8. Existem meninos que não querem apenas ser mais um ronaldinho débil de nossos campos de esportes. Valorização dos conhecimentos e não a cultura do belo/branco ou do belo/negro imbutidos no sistema cruel que nega o direito e promove a sexualidade e a busca do dinheiro fácil como meta a ser a alcançada.

Adolescentes de 15 anos não buscam a perfeição no belo das modelos que trocam de parceiros como se troca de calcinha. Existe algo muito lindo nas mentes destas meninas e meninos que a globalização massificada tenta impor “goela a dentro” fazendo crer a uma geração inteira que o bonito e fazer tudo que “o mestre mandar” num cenário de triste futuro para quem esta nascendo hoje. A menina/mulher de 17 anos , 18 , 19 e 20 ainda não entendeu o porquê de tantos olhares masculinos para seu corpo. Muitas separadas sem nunca ter sentido o verdadeiro orgasmo e quando busca a resposta nas profissões que mexem com a sexualidade e a mente humana, voltam decepcionadas por mais uma cantada vulgar e sem amor. O Dono do Mundo adora estas crueldades e "tome, via TV Globo, auncios de Cervejas e cigarros"...

Mulheres abandonadas na cama por falsos companheiros e que, no misterioso mundo virtual conseguem ouvir uma tênua explicação de suas carências e amarguras e que, conseqüentemente vai de encontro com a tristeza a amargura de seus filhos .

Esta cadeia de mágoas e decepções humanas chega no virtual. Quando encontram a beleza de uma amizade e a sutileza de um teclar, puramente voltado para o amor, tudo de abre como um Rio que, caudaloso e lindo, estava represado e triste.

Assim, o mundo virtual, oferece a gratuidade que o real não dá, com profissionais, fruto de um sistema cruel, apenas visando o lucro e o imediatismo da relação. Quantos homens de sexualidade enrustida, voyers, gay, e mulheres na mesma e que no real jamais revelariam suas opções, o fazem no belo momento em que é tocado pela confiança mútua nascida nas teclas que varam noites e noites?

Jamais o sistema cruel que, Capitalizou o Cristianismo, que avacalhou com a pureza da Paz e Amor do Movimento Hippies, que fez da Contra Cultura teses de doutorando, que bagunçou com a sexualidade de minha geração, de meus filhos e de meus netos com exposição explicita de suas psicopatias, repito, jamais entenderá e exporá ao ridículo as descobertas sensitivas do mundo virtual.

As descobertas do sensitivo do Maravilhoso Mundo Virtual estão nos dedos que teclam e não nos livros vendidos nas livrarias. Daí o grande segredo do cientista que descobriu esta vertente na alma humana. È o “pulo do gato” que nem o Bill Bates conseguirá deter. È a marcha inexorável para a socialização do mundo que o virtual nos propõe. É um não aos livros reptitivos e sem nada para delinear um rumo, dos Transfuga Paulo Coelho com sua cultura alienigena que expoe bobozeiras que a grande borguesia absorve e adora ler...

Até porque, sendo gratuito as transmutações que as teclas levam e trazem, não terá seu desejo aflorado. E, se não bastasse esta gratuidade, teria que passar anos e anos teclando e teclando ate que seja formado conhecimento devido para merecer a confiança e o amor que a virtualidade favorece e formata. A ferramenta do virtual, seu arquivo e exibição de seus segredos esta debilitado definitivamente na vontade deste real cruel.

Como diria uma menina, ao saber destas memórias: Meus Documentos eles jamais lerão, e os deles, eu já li e reli. Esta e outras belezas retratando nesta crônica me fazem sentir mais leve na leveza que os dedos formatam meus textos e parágrafos. Se erros os leitores encontrarem ficam por conta de minha pouca escolaridade. Deixei as faculdades todas pela metade e me considero doutor na Universidade da Vida, das ruas empoeiradas que pisei e vivi...

Viajar por mundos e estradas, onde as esquinas e as encruzilhadas nos levam a lugares inimagináveis faz parte de pensamentos e sonhos que todos nós temos. Quer conhecendo por meio de ida e vindas ou até mesmo através dos olhares atentos aos linkes que nos são expostos toda hora me que nos defrontamos com as coisas que a tecnologia nos impõe. Viajar por entre os mistérios das mentes humanas, suas loucuras e suas falas que o falo nunca consegue vencer também é uma viagem.

Nesta os meios são os mais diversificados e esquisitos. Vemos e revemos espelhos, olhamos e vemos espelhos com outras sombras nos fazendo ver além dela e temos a sensação que a vida não se resume apenas nas coisas palpáveis e que nos ensinaram ser o real.

Antes mesmo de sentir o balançar das imagens turvas de nosso inconsciente elas não eram turvas ao chegar a este misterioso patamar da mente. Como uma água de uma nascente, como a que tenho no final do sitio, esta água se turva não só pelos dejetos colocados pelas multinacionais que me cercam a casa, a mente que viajo e danço no seu compasso, também se turvou ao primeiro impedimento de deliciar-se no seio materno após o mamar. Morder o seio materno, com o primeiro dentinho que brota e receber a tapinha de um “não” já domesticaliza a interioridade de forma a iniciar daí toda a “turbulência” da vida que se começa a ter.

Fazer uma pausa dentro das misteriosas ruas deste canal escuro já objetivou centenas de escritores e mestres em filosofia. Olhar neste espelho até com as sombras remetidas em outras sombras no formato de uma espiral seria mais objetiva que olhar nele apenas no real que se vê.

Centenas de sombras, como sendo milhares de ruas, vielas, cidades, gente e logradouros. Passando por entre sonhos havidos e sonhos perdidos no tempo e no espaço entre uma sombra e outra faz com que, as correrias do passado vivido, se tornem lenta na medida em que se avança na compreensão final deste misterioso mundo das imagens mentais.

Assim como os Poetas conseguem trazer a beleza de seu imaginário nas profundezas azuis das ondas do mar, fazendo colorir de belas cores milhares de pontos obscuros no universo, assim também, a viagem dentro do mistério de uma mente nos faz ver a beleza, embora às vezes na escuridão, de milhares de ruas e vielas na perdida objetividade que se propõe.

O mesmo encantamento que o Escritor consegue ver nas borboletas que, dançam ao som do vento que a chuva fina faz harmonizar-se, se faz presente ao abrir o escuro mundo da mente outrora nunca tocado. É como o espanto da virgem aos desejos pedidos e aos toques sentidos.

São duas diferenças num só desejo mais que se torna uno na essência do prazer querido.

ABRE-SE O ESCANINHO ESCURO DA MENTE

Às escuras e misteriosas ruas estão sendo abertas . Onde nunca tinha havido o que denominou se chamar de luz nunca tinha sido penetrado. Olhos que não enxergavam. Não que não tivessem olhos. O desuso fez com eles não fosse acionado. Braços, pernas, boca, pênis, estomago, muitos outros órgãos estamos no escuro misterioso do uso diferenciado.

Onde havia uso este apenas estava, como que num sono, esperando ser despertado. Dizer que este sono era eternidade seria negar a dualidade de sua vida. Dormia apenas. Como um gêmeo preguiçoso que não queria ter o trabalho que o outro fazia sem se incomodar em fazê-lo. O despertamento era algo novo neste mistério que habita a escuridão.Os olhares, por de cima, dava nitidez a esta escuridão como se ela estivesse sendo apenas um ponto apagado num universo de luzes e encantamentos.

3

Praias, lagoas, rios de águas claras, montanhas com verdes alegres e muitos pássaros voando por toda a parte. Apenas este misterioso mundo sombrio permanecia com seus desusos e preguiça. Nas esquinas pessoas humanas falam. Gritam. Impõem ordens. Falam e gesticulam. Hora com vozes com palavras feias, ininteligíveis, outras parecendo carinho mais sempre impondo normas e deveres. Ao longo da misteriosa escuridão, homens falam em leis, condenam, prendem, roubam e andam de um lado para o outro sem ir nem vir para lugar nenhum. Pregadores berram. Crianças e flores se olham com espanto como se não entendesse nada daqueles seres grandes e faladores. Alguns até com gravatas e talões de cheques.

‘A planta e o passarinho que voava entre seus galhos param para olhar o espanto da criança e da flor. A cor esverdeada dos olhos da criança faz harmonia com a flor avermelhada que, com o cair dos raios de sol, se torna da cor do vinho. O passarinho e a árvore esquecem por instantes o espanto que via para olharem estarrecidas as falas brutas dos engravatados e seus amigos.

Mulheres também gritam uma com as outras fazendo com que outros passarinhos e outras flores fiquem boquiabertos e espantados. A escura visão da mente continua sendo bombardeada por luzes e mais luzes. Algumas verdes, outras cinzas e a maioria delas de cor azul. Esta combinação faz com que o desuso dos olhos comece a ver turbilhões.

A misteriosa vida nas escuras muralhas sombrias e tortuosas da mente escondida, por anos e anos de solidão, tende a resistir a qualquer tentativa de furar este bloqueio que faz bem a ela.

Como os peixes que vivem na escuridão das cavernas marinhas, como os Cambotás que turvam as águas límpidas ao tentarem brincar na superfície, estas sombras evitam a claridade. As misteriosas e barulhentas censuras ainda forçam a continuidade na vida triste de um mundo opressor. Ainda este bem claro para esta mente sombria e misteriosa, os ensinamentos religiosos, a certeza de uma eternidade corpórea. Esqueceram de dizer a ela que a vida é eterna mais a sua morre. Ela ainda escuta os milhares de olhares maldosos da vida que lhe obrigou a retrair-se. As noites e os dias se confundem numa nevoa existente. Pensamentos ainda podem ser conectados a desejos mais estes estão limitados a sua volta e não abrem horizontes. Apenas pensa existir e a certeza do sim esbarra nos milhares de naos que a sociedade, a civilização lhe outorgou conhecer. Mistérios que se pode desvendar, dizia as sombras repetidas no espelho da vida. Além de algumas que já começam a desaparecer ainda muita, estão em desafio e não querem abrir as portas. O inconsciente o espírito e a alma se confundem na incerteza da abertura das sombras existentes.

O lado obscuro da sua cabeça começa a lhe fazer ver alguns reflexos. Alguns brilhos vagueiam na escuridão e um ponto luminoso se pode ver, ao fechar os olhos, no lado sempre fechado do misterioso mundo da escuridão. A luz se faz presente de forma longe, como se estivesse olhando para o céu aberto em noites de lua e estrelas. Se parece com algum ponto estrelar, ou quem sabe, alguma coisa que pode ter ficado em aberto ao fechar os olhos. A cor começa a se mover e formar alguns tênues seres. Muda de cor. Agora é uma cor de vinho. Uma linda cor vinho que faz o ponto central de sua cabeça.

Como se fosse um olho longe, muito longe mais lindo de saber possuir. Seria o terceiro olho dos antigos livros orientais?

Este ponto azul, ao abrir os olhos forma-se como um pontinho negro que acompanha sua visão aberta. Vai e volta em torno de seu contorno facial e some. Nas praias , quando a misteriosa mente se deita e se distrai, esta pequena partícula negra se torna cinza e vagueia também em torno de seu rosto moreno, queimado pelos anos de verões que sua existência tem.

As noites , quando o sono vem, à escura mente brinca com a mente que vê pintas negras. Sonhos lindamente claros, lugares que, a mente deixa-se vê, pontos nunca habitados são jogadas como bola de ping-pong. Se de um lado a mente escura joga seus conhecimentos, a mente que vê pontinhos, lhe informa de suas visões. Lugares proibidos de ir ou medo de não voltar?

Estas partículas de bolinhas de cores maravilhosas e misturadas formam colares de mil cores, entrelaçados uns aos outros. Como as tiras que as bailarinas usam em suas apresentações. Só que estes colares são de vários formatos e cores deslumbrantes. Cores que nunca existiram na mente que existia antes.

As noites de sonhos são como belezas novas. Cores, idas e vindas em lugares bem distantes da terra, vôos lindamente feitos e se sentindo pássaros. Em alguns momentos não consegue ver onde esta. Não vê onde está mais confia que estará de volta sempre que assim seja permitido.

Camadas de sonhos, profundezas da mente escura ou algo que ainda não é permitido ver, turvam as manhãs que fazem a mente escura recordar alguns meandros das noites.

Pensa: como seria o sonho de um ser humano cego de nascimento? Ele sonharia as cores ao deitar-se na profundeza de sonhos? Ou seria a mente escura que lhe forneceria as belezas deste lado desconhecido na vida que leva na escuridão da cegueira? Perguntas sem respostas e as duas mentes começam a emitir informações entre si.

A misteriosa mente pede que volte ao espelho e olhe onde estão as sombras que ficavam em círculos ou em paralelos . Olha o espelho. Muitas sombras sumiram.

Algumas que estavam em círculos estão desfiladas, paralelas ao fim do seu corpo. Ainda existem muitas sombras a serem extirpadas. A misteriosa mente escura começa a ver pontos abertos de luzes. Azuis, verde, brancas, avermelhadas. Quase um arco-íris de formato reto. Como se as luzes fizessem seguimento com a dimensão geográfica dos paralelos das sombras. Algumas piscam como piscam as Árvores de Natal e as que as pessoas colocam nas árvores para enfeitar os fins de ano. São centenas de luzes que, quase no paralelo, formam uma longa fila.

A mente escura sente que existem olhos e este pode ser usado. A turvulência que via começa a se clarear. Braços e dedos são levados à região do rosto e, uma pequena esfrega na região dos olhos lhe faz ver em redor. Já sente que existem olhos e estes podem ver. Estaria cego e voltava a ver ou esteve sempre numa escuridão e nunca tinha visto a luz? As duas mentes agora estão mais livres.

A que nasceu aberta, agradece a que voltava a ver. Era como lhe dizendo que toda a repressão, todos os “naos” da sua vida, toda mentira que foi obrigado a dizer ser verdade, todo o amor negado, pedido, dado, rejeitado, tudo era absorvido pela misteriosa mente que ia se fechando, se fechando e ficado sem nada ver. “Uma forte luz cai sobre as duas mentes e, uma voz longe, suave lhe diz:” Vocês duas nasceram livres. Uma dentro da outra. Viveriam sempre juntas vendo tudo que uma vê e outra via. Só a misteriosa mente teve que optar por receber da outra mente toda carga que viesse de forma agressiva e ma. Daí que ela foi ficando assim, como um grande fardo pesado puxado sem poder lhe dar os conhecimentos que agora vocês duas vão ter”.

A luz se torna mais forte. Como um clarão, fixa-se nos olhos das duas mentes. Seria este clarão que os epiléticos recebem e não conseguem absorver e caem em retorcidas e loucas atitudes?Seria este clarão que as pessoas falam nas manifestações dos Centros Espíritas?

Seria este clarão que fez o Mestre Jesus, refugiar-se no mato. e chorar vendo coisas lindas? Seriam este clarão as visões de João Batista? Ou seria este clarão que fazia mexer com a mente de Francisco Candido Xavier na privilegiada e sofrida cabeça deste homem simples de Uberaba?

4

Uma música longe faz com que as Duas Mentes desviem o olhar do clareado eterna e se olhem de frente. As sombras se foram. Só existe uma mente. Olham-se e pensam já uniforme. Onde estaria aquele ponto azul? Onde estariam todas aquelas sombras, algumas em círculos outras em paralelos?

Porque a misteriosa mente sumiu e se sente mais leve e solta? A música que ouve começa a ir embora lentamente e suave como veio. Não existe mais o lado negro da Mente. As coisas estão mais claras, mais nítidas. O olhar se torna mais leve e a cor tem mais brilho. Borboleta, água de nascente, flor, passarinhos, árvores, cheiro, tudo se integra numa visão apenas. Como se tudo fosse irmão. Bicho, humanos, flores, peixes.

O vital?

Sim o vital você é vital como todos nós somos. Brigue por nós e você estará brigando por você. Olha em torno e não vê de onde veio a voz fina e bonita. Parecia a voz do vento. Somente depois que sentindo um piscar ao seu lado, pode ver um pequeno filhote de rolinhas. Caído de um ninho num galho de árvore. Olha para cima e ainda pode ver, se fechando, o bico da rola que falava. “Sim eu to ficando loco” mais ouvi a rolinha falar ou alguém a fez me fazer ouvir aquela frase: “sim você é vital é vital como todos nós somos”. Ai percebe que não esta só. A mente escura agora lhe faz presença clara. Não mais absorverá as negatividades dos homens maus, da civilização ou da sociedade repressora.

Agora ela vai amalgamando as coisas novas que, antes parecia loucura aos olhos dos homens normais, passam a ser informes do vital. Informes da vida. Informe da longa busca que os homens jamais poderão encontrar enquanto o lado escuro e misterioso da Mente permanecer sem luz.

Agora a ex duas Mente sem sentem inseguras por alguns instantes. Pensa, já com os lados abertos e iluminados: “Se antes uma de nós”, agora juntas, segurava as maldades, às vezes brutas, os olhares maldosos, a vontade ficar cheio de bens materiais, de roubar as pessoas, mentir e ouvir mentiras, como será agora tendo que ir na cidade, ver gente bruta, ter que ver televisão e ouvir vozes brutas e gritos das mulheres das teles novelas?

O TERCEIRO OLHO

Como será agora que não tenho quem vá se escurecendo, me livrando destas coisas terríveis que o mundo capitalista nos impõe goela a dentro? Será “como agora, que estamos uma só”? Segundos se passam. Ainda estava absorvido pelas preocupações desta nova vida quando um vento frio, quase gelado passou por sua face. Não ouviu vozes. Nem ouviu música. Apenas entendia e, disto passou a ter certeza. Agora saberia ter como passar por estas coisas naturalmente sem que precisassem de uma mente auxiliar que lhe amortecesse estas loucuras humanas. Agora a Mente única, clara, brilhante, iluminada e límpida tinha como passar pelas mazelas humanas sem se contaminar nem sofrer com as brutalidades das vozes. O ponto de luz do meio de sua testa, que às vezes se torna azul e outras vezes branquinho vai absorver tudo isso.

Sem que seja preciso abrir a testa e fechar o lugar como fazia os antigos que tinham estas mentes abertas. Agora tudo mudou. Você irá ter uma vida livre das articulações materiais e viverá assim até que, um dia as mentes escuras de outros humanos se abram e conheçam a verdadeira função do vital que você é. As cores as imagens e os sonhos acordados junto com inspirações diferentes das que sentiam antes, fazem parte deste terceiro olhar. Sublime, limpo, que vagueia na antiga escuridão da misteriosa mente escura e busca as bases para sua perfeição.

Ao longo uns patos cantam

Galinholas. Saquês, galinhas e pintos. Passarinhos voam em bandos. Aquele casal de rolinhas passa alegre e olha a caminhada. Penso: seriam os pais daquele filhote? Acho que sim porque algo me fez sentir isso, como um sopro diferente do vento ameno de inicio de junho na “EstânciaVista Alegre” onde moro. Sopro parecido com o que senti quando ouvi a frase do vital.

A caracterização psiquiátrica denominada “sensações auditivas” agora se parece com piadas e invencionice de quem nunca se tornou vital. Alguns passos e vejo com alegria alguns galhos de Ipês Amarelo brotando. Milhares de pequeninhas gotas da chuva que vai e volta, animam as centenas de nascimentos na terra que habito a mais de 35 anos. Estou no Início da Primavera. Seria este local, se assim eu não tivesse querido, algum outro das centenas de galpões que o bairro tem espalhados na busca do petróleo e na destruição do vital?

Acho que valeu a pena lutar, silenciosamente, numa guerra que só eu sinto contra a destruição deste pedaço de terra que seria transformada em cimentações e pisada por carretas e “caretas”.

Meus passos ainda são lentos. Não pelos 67 anos de existência. Mais porque a mente agora esta mais leve e com esta leveza contornasse meu corpo pedindo que caminhe mais lento. Que olhe mais para os outros vitais; para o ar que respiro; para o vento suave que o mês setembro e início de outubro trás com a estação da Primavera.

Que vontade de voltar a ouvir a frase: “Você é vital como todos nós somos”. Esta frase esta martelando as duas ex-Mentes e, agora uma só.

O passado alegre da vida, os momentos felizes da existência tudo parece belamente exposto nas claridades que entram na “Unamente”. Os bilhões de escaninhos de dentro da cabeça, parecidos com as casinhas que as abelhas fazem em formação do mel, estão sendo limpos. Como que se tivesse uma mão suave com Cotonete Brilhante fazendo esta limpeza. Alguns escaninhos estão cheios demais. Este deve ser o escaninho da sexualidade reprimida.

Muito cheios de “naos”, de mentiras criadas e ouvidas. O Cotonete, de Luz azul, volta com negras peles se parecendo argarças ou mesmo algas verdes/amareladas. Várias vezes este escaninho é limpo. Ali deve residir o Amor. Ali deve ser sempre o local sagrado de seus desejos. Usar este escaninho como ser vital, revestido de humano.

Olhe o Escaninho do Desejo dos seres em sua volta. Veja o Escaninho do Passarinho, do Pato ou do Peixe. Veja como os seres humanos que não tem esta “Unamente”, fazem uso deste Escaninho e como eles deturparam o amor. Veja a sexualidade que estas mentes expõem nos explícitos das tevês. Dos jornais etc. Eles são vitais iguais você mais ainda está com o lado escuro, misterioso e sombrio da Mente.

Agora olhe mais e seu redor e veja o Vital, seu irmão, nas Folhas das Flores, dos Galhinhos Verdes do Pé de Manga, da sutileza do frescor da Zínia. Eles estão com este Escaninho aberto, limpo, alegre e suavemente natural. Daí que todos são felizes e vivem em harmonia com o que denominou chamar de Natureza. O Amor esta agora com o Canal de Escaninho Aberto.

A PAZ E O AMOR

Os demais serão, na medida em que o Amor vai entrando, devagar, livre, leve e solto. A “Unamente” passa a ver, nas claras luzes que brilham e transmite ao vital, os momentos em que o Amor esteve presente. Faz ver , e neste instante, uma gotinha de lagrimas, cai na minha face e se fixa por entre as covas do sorriso que se prende, o significado da Paz de Amor. Quantos morreram, enlouqueceram, levaram porrada do sistema e tiveram que deixar famílias?

Quantos perambularam por estradas, cabelos ao vento, sem documento presos, espancados e até mortos nos anos 70 onde tudo parecia ser lindamente um Maravilhoso Mundo Novo? O amor, no silêncio que o escaninho aberto emite, faz mal a quem tem as duas mentes.

A escuridão quer a luz não por saber de sua claridade. Tão somente com intuito de posse. O silencio de quem leva o amor, com escaninho aberto, incomoda. Quantos que, desprendido das coisas vãs da matéria e com escaninho aberto, foram perseguidos e mortos por quem tem duas mentes. A mente misteriosa de formato quadrangular sempre estará atenta, atuando em Mentes de duas Mentes, para descobrir e tentar eliminar quem recebe este vital puro que é a “ Umamente”. Esta busca não é de hoje na humanidade.

Milhares de homens buscam este conhecimento que a Mente única dá, no formato redondo na unidade de seu corpo. As sombras estarão sempre em círculos e muitas paralelas ao quase infinito quando o espelho da vida é acionado. Mestres em filosofias, mestres em medicina, mestre em estudo das condições sociológicas do mundo tentam de todas as formas este entendimento.

Ininteligível para eles. Vivenciar os fatos da vida, sofrer na carne o desprezo da sociedade de consumo, saber a dor da magoa, a dor do não reconhecimento e até a tristeza pelo amigo que rejeita, faz parte da cimentação destes seres possuídos de “Unamente”.

O Amor que vai sendo colocado no Escaninho Limpo com o Cotonete de Luz Azul leva estas experiências humanas. Homens que sofreram as ingratidões do mundo, que buscava o amor jamais terão seu escaninho maculado e turvo. Por mais que se queira conhecer o significado do Vital, que abre as portas para uma só Mente, só terá acesso a este beneficio aquele Vital que for tocado pela Amplitude do Saber Maior. A residência do Amor, no Escaninho que habita e vive na Eternidade do Vital, sempre esteve presente na humanidade.

Bastam olhar os livros, os Poetas, os Escritores Iluminados, os grandes homens das descobertas, crianças que sorriem, velhos que olham, homens que meditam. Uma vasta legião de seres humanos, ou pregaram o Amor ou viveram este lindo sentimento. O Escaninho do Amor, quando tocado e limpo com o Cotonete Azul que brilha como a Luz do Sol, este coloca o humano no patamar dos outros vitais. Forma daí, quando este sopro bate ao rosto como brisa de verão, a experimentação de algo sublime.

Algo que vem no formato da beleza que toca, que faz brilhar e fornece ao Vital Possuído, a verdadeira essência do Viver. A harmonia com que a vida se torna, ao ser tocado pelo Cotonete Azul, e saber que ele esta atuando na limpeza do Escaninho do Desejo faz soar ao ouvido a sonora música dos deuses. Harpas, violinos inimagináveis dão a sinfonia do prazer de moldar uma sensibilidade impar. Ao ser tocado pelo Cotonete Azul, no escaninho do Amor, o Desejo de unifica.

Passa a ser a grande semente que, cultivada pelo amor, vai brotando e fazendo com que toda a extensão da “Unamente” trabalhe sob seu comando. A partir desta sementeira imaginária e fértil, toda a vitalidade do ser humano passa a ter o comando maior do amor, residência que passa a ter no escaninho limpo e perfumado. A partir daí, todos os sentimentos até então separados, sem formatação e desleixados, espalhados pelos bilhões de escaninhos da atual “Unamente”, passam a vigiar o Escaninho do Amor. Assim como fazem as Abelhas com sua “Abelha Rainha”.

Os bilhões de Escaninhos, já com a Mente Una, Indivisível e Aberta, passam a ficar de guarda no Escaninho do Amor. Vigiando os Desejos para que eles nunca mais turvem este Escaninho.

Sendo membro do vital e, por conseguinte, fazer parte do todo, o ser humano após a “Unamente”, estará em conformidade com os demais seres irmãos, começará a entender mais o significado da Existência. Começa a saber da Imortalidade do Vital.

Não a imortalidade egoísta de seres humanos e crenças terrestres que, pregam uma imortalidade diferenciada da real em busca de uma conotação essencialmente capitalista e mentirosa.

O Saber, que faz parte do Universo dos seres vitais o humanos, com a “Unamente” aberta, iluminada, com seu escaninho vigiado pelos bilhões de sentimento e o Amor sendo a Abelha rainha da Unidade da Mente, o homem vital passa a saber da sua necessidade de lutar, bravamente, pelos seus irmãos vitais na formatação de uma vivencia dedicada a este fortalecimento.

5

O mesmo frescor do vento morno que passa a fazer parte do existencial do humano com a uma Mente, cede lugar a voz que veio através do ninho da rolinha. As sensações auditivas, sensitivas, e visuais que levam muitos humanos a gastar milhes em remédios caros e psiquiatria e psicanálise não voltam mais. Com a “Unamente”, estes informes, que a antiga mente dupla sentia, se espantava, se dopava em medicinas e iam em busca de pais de santos, igrejas e outras eternidades prometidas, não vem mais assim.

As informações agora, com a “Unamente” passam a vir numa brisa leve ao Sol de uma Manhã; ao olhar puro de uma Criança; ao Velho que suplica, com olhar de menino, um pão; ao balbuciar de Ondas nas Tardes Amenas; ao roncar de Trovoes anunciando a Chuva, enfim todos os antigos meios de se comunicar com a mente antiga e dava medo e temor, pensando ser “coisa de outro mundo” ou loucura, passa a entrar delicadamente na Mente Una e , depois de filtrada pelas “abelhas” vigiativas do Escaninho do Amor, dando o refrescamento necessário para o vital que tem, nestes informes naturais, o combustível do seu vital/maior.

A história esta repleta de contos, lendas, vidas e vivências de homens e mulheres que serviram de exemplos para o relacionamento de suas existências ao amor. Virtualidades, sonhos, mortes violentas, sofrimentos, martírios e outras tantas impurezas impostas com homens que não possuíam a “Unamente”. A destruição de quem está possuído da “Unamente” é importante para estes seres despossuídos. Até porque este confronto entre o Sim e o Não, o In e o Yang, o Bem e Mal, existe desde os primórdios da humanidade.

O humano nasce “Unamente” e a sociedade, a família estruturada na civilização, na busca de dias melhores apenas para os seus, sem pensar nos outros, a busca pelo enriquecimento, pisando nos pobres e oprimindo os humildes, vai criando a misteriosa mente escura. Esta mente escura quer derrotar a “Unamente” e esta guerra persiste de forma silenciosa mais dentro das pessoas. As perseguições a vitais como os que enumerei acima, e temos milhares de exemplos que podiam ser descritos, faz parte da tentativa de “matar” o ser vital com o Escaninho Aberto e limpo. Os de mente dupla não querem que os homens preguem o verdadeiro amor porque o verdadeiro amor tem luminosidade e ele pode abrir os caminhos para a “Unamente”.

Quer na vida do dia a dia quer se apresentando em sonhos e viagens noturnas. O ser de duas mentes sabe, no mais absoluto das suas entranhas misteriosas e sinistras, que sua existência depende da não existência da Luz.

Antes da limpeza do Escaninho do Amor, feita pelo Cotonete Azul, curiosas perguntas habitavam a mente sombria em sua dualidade. Não havia ainda o conhecimento do vital e portanto a existência era meio vegetativa. Daí as perguntas e respostas nos livros e pessoas que se diziam portadores dos conhecimentos.

Após a total abertura a tonalidade das cores ficaram mais livres para passearem, deitarem nas relvas esverdeadas de todo contorno da Nova Mente. As purificações de todos os escaninhos onde outrora residiam sentimentos passaram a ser também vigiados pelas “Abelhas” Imaginárias.

Vaidade, Tristeza, Alegria, Avareza eram alguns dos muitos que iam sendo, vagarosamente e delicadamente lapidados dando lugar aos desejos tendo como meta principal o verdadeiro sentido que era exercido pelo Amor. Sexualidade, paixão, volúpia, taras dos desvios de conduta iam sendo minuciosamente escovados com essências de flores colhidas, já nos canteiros da vasta “Unamente” onde vários florais e centenas de novas espécies de flores, ornavam todo o redor de onde residia a misteriosa mente escura e a ex-solitária mente. A maioria dos sentimentos estava turva. Muitos tinham apenas o nome mais seu verdadeiro objetivo nunca tinha sido exercitado em sua plena essência. É o caso da alegria. Seu escaninho existia desde que as mentes nasceram. Quando elas ainda não tinham se separado a alegria exercia sua total existência a que foi criada.

A comunhão com o muito exterior trazia para seu escaninho todos os olhares e vozes para seu interior. Porta aberta, ou melhor, nem existia a porta no escaninho da Alegria. Vozes de Mãe, Pai, pessoas que vinham fazer visitas, silencio, alimentos e músicas suaves davam alegria a Alegria.

O tempo, Senhor de todos os Escaninhos, fez com que a porta se postasse e, daí por diante a censura, os”naos”, e os “sins” destorcidos de verdades criadas e inventadas, começaram a dar uma forma de alegria diferenciada da verdadeira Alegria Nativa, quando o ser vital ainda tinha duas mentes.

Ser alegre por ganhar dinheiro, ser alegre quando um trator destrói centenas de árvores, ser alegre quando compra ou vende uma flor ou um pássaro, passou a ser a alegria mentirosa, dentre tantas outras que o vital fazia-se sentir e levava para dentro do Escaninho como sendo a verdadeira alegria.

Escaninho cheio de Alegrias falsas, não havia lugar para outras verdades por mais que estas quisessem entrar na dupla mente. Assim a alegria de ver um pássaro ninhar; de sentir o cheiro de uma flor sem tocá-la, ou tocando-a fazê-lo de modo diferenciado do vendedor de flores, enfim todas as verdades verdadeiras, na formatação da alegria real, não existiam.

Com o Escaninho limpo, feito, repito, com o Cotonete Azul que limpou o escaninho do Amor, a Alegria voltou ao nascimento e a “Unamente” reinando no Escaninho formando mais um elo de encantamento e solicitude a tudo que vem do exterior.

“Abelhas” vigitativas, alguns brilhando como lindos Pirilampos ficam postados na frente do Escaninho de modo que as alegrias “não alegres” os sorrisos frios, igual de vendedores de loja, de candidatos etc., nunca mais penetrem na Mente Una do Escaninho da Alegria.

MINHA DOCE CAMINHADA

A lentidão de minha caminhada até o “Casarão” que meu irmão Ivan Sergio, construiu e que habito, na Estância Vista Alegre, me faz sentir uma leve sensação de um flutuamento que não tem nada a ver com o corpo. É como, se a refrigeração dos sentidos estivesse boiando numa balsa imaginária em manhãs de Sol Azulado na ex-praia de Imbetiba, destruída nos anos 70.

Uma leveza suave e que parecia ter cor. Ou melhor cores.Todas dançando ao som de uma imaginária mais ouvida música. Os acordes faziam nascer algumas ondas de um mar lindo em forma de cachoeira onde via escritas páginas de jornais lindos, coloridos e que me acenava para ir para o computador e escrever. Caminho ainda lenta a e vagarosamente. Já estou quase na metade da Estância. Perto de uma linda mangueira. Olho para os lados de soslaio. Ainda vejo a correnteza da Cachoeira caindo em colorido lindo, no formato de jornais. Seria o jornal do Passado, onde os vitais liam as noticias/ordens da criação? Ou seria o jornal do futuro que seriam lidos nos respingos das águas cristalinas em formato inteligível para quem está com a Unamente?

Estou cercado de vitais que ainda resistem as “forças do não” em forma de progresso. Plantas pedem chuva e elas molham rostos lindos de borboletas que rodeiam os Pés de Mara caxeta ou Aipim de Mandioca e rumam com destino aos Pés de Ipês com suas flores amarelas e seus cachos caídos, quase ao ponto na espera do vento que, vindo após a chuva, espalharão suas sementes para nascimentos de novos Ipês.

PODEM BARULHAR

Os Escaninhos da “Unamente” agora estão protegidos. Podem buzinar, dar marcha-rés barulhenta, podem ligar as turbinas de seus compressores ou fazer presente as correntes de seus possantes tratores. Não mais enlouquecerão porque as “Abelhas” estão atentas ao primeiro sinal de vocês e seus asseclas multinacionais. As cores das folhas da Jabuticabeira se parecem com as da Pitanga que vejo após alguns passos lerdos. Estão floridos. Engraçado que quando as plantei, há 20 anos, um velho sábio que capinava comigo o sítio me disse: “Seu Zé, quem planta não chega a chupar as Jabuticabas. Morre antes”. Felizmente esta profecia de meu amigo Firmino falhou e eu ainda espero outras vezes ver florir estes lindos pés de jabuticabas.

Passo em frente onde outrora tinha uma linda Casinha de Sapê, de pau a pique, onde muita gente boa se abrigou nos anos 70. Algum, vitima da repressão política, outros apenas por precisarem de um canto onde pudesse deitar o corpo e respirar profundamente sem ter medo das cutucadas das frias baionetas da ditadura. Jovens, cansados pelas longas caminhadas repousaram ali, onde hoje ficaram apenas alguns destroços da arquitetura de bambu e barro que tanto encantava pelo artesanato da obra. Centenas de amigos, alguns mortos, outros sumidos no tempo me voltam à Mente Uma, como se eu estivesse apresentando-os eles à mente antiga.

Antes a misteriosa mente escura, sinistra e fria. Hoje uma “Unamente” alegre, feliz e orgulhosa de ver passear nela as lindas figuras sofredoras, às vezes magoadas pela incompreensão familiar e reprimidas nos saudosos anos 70.

Quantos sobreviveram ao Sistema? Quantos conseguiram voltar e, com certeza estão abertas às manifestações do vital?

As plantas ainda respiram aliviadas. Chego ao “Casarão”, abro meu computador, presente de minha mãe Ecila para meu filho de 16 anos, Jose Paulo e presente dele para mim. Abro o Word, escuto o cantar de galos, os berros alegres dos gansos, a liderença nativa de um casal de Marrecos e o cruzamento de Patos que encantam o local onde moro...

Revejo toda a existência vivida. A leva doçura da caminhada até o final do sítio e homenageio os 10 anos da morte de minha mãe ecila um grande mulher que soube viver e romper com as barreiras de seu tempo...
( José Milbs de Lacerda Gama)


Agora volto e tentarei escrever a VIAGEM QUE NÃO FIZ.