Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

31.12.06

"Tangos, Bandolins...." Morre Pedro Paulo Sá Viana

Uma das mais belas e harmoniosas vozes do Seresteiro Macaense, dos anos 70, se cala.

Filho único de Palmira e Jota Viana, pilares da história de Macaé nos anos de 1800, Pedro Paulo fez uma grande trajetória da historicidade de nossa região. No tempo em que ser filho de um dos mais ilustres e respeitados homens de nossa comunidade punha certas barreiras na integração com a massa e o povo se fazia difícil, para Pedro Paulo isto não tinha nada a ver. Se integrava com os mais simples e,dono de um das mais harmoniosas vozes, descia as escadarias da Alta Sociedade e se via cercado dos grandes noctívagos das Noites Macaenses.
Iberê Madureira Costa, filho do ex-diretor de O REBATE Jorge Costa, José Domingues de Araújo Filho, Alan Guerra Birosca de Miranda, Gurgel, Flamarion Ibrahim, Jardel Franco Trindade, Lucas Vieira, Manoel "Nego" Nunes, e muitos outros amigos, eram alguns dos que tiveram a felicidade de poder estar com mais tempo em sua companhia, já que ele e eles fazem parte de uma geração acima da minha de uns quase 10 anos.
Mesmo assim participei de seu convívio de amigo. Assim como Marcelão sei filho se esbarrou com minha geração eu esbarrei com a de Pedro Paulo. No Yate Club, Tenys, Praia e, ultimamente nas Pedras dos Cavaleiros sua ausência vai deixar saudades...
Locutor de Rádio que preenchia as noites macaenses com tangos e belas canções latinas,era o “ancora” da radiofonia da região.
Era a "Radio Club de Macaé" de propriedade do Sr. Dantas que residia em Niteroi. Os locutores conversavam no dia a dia da cidade ainda ingatinhando num processo de evolução. Eram eles Jayro Bacellar Vasconcellos,Manoel Antonio Assumpção, Manoel Tavares, Rubens Rodrigues Barreto, Ignácio Heleno Mathias Netto e o Pedro Paulo. Sempre convidado a ser o apresentador dos Famosos bailes das Debutantes de Macaé ele era de uma elegância incrìvelmente suave. Ficava “torcendo” para que o Baile tivesse seu fim para ir ao encontro dos velhos Boêmios das Noites Macaenses. Nesta dualidade de desejos, entre o social e popular, uma coisa era uma constante: O seu sorriso de menino alegre e feliz...
Eu era ainda um garoto mais já freqüentava as madrugadas. Os mais famosos Bares das noitadas eram: Imperatriz,do Senhor Torquatro, ponto dos Onibus que iam e vinham de Vitória para o Rio de Janeiro; Império,de Ivan Schaloub e Walter Veira; São Cristovão de Sylvio Lopes e Ivo e, Dona Dadá, dirigida pela própria. O resto da cidade dormiu os sonos profundos de um acordar espreguiçador e inocente.
Saudosos e "antigos Boemios"para nós crianças, despertavam nosso olhar orgulhoso em poder estar ai neste encantado momento de música e seresta.
Violão afinado de Nelinho Santos e uma mesa composta pelos ainda jovens Zézinho do Violão,Charutinho e Dulcilano Pereira. Era sempre neste deslumbramento de figuras de nossa histórica existência que, os tangos que Pedro Paulo sabia cantar, o transformava por algumas horas,num astro feliz de nossas noites.
Era este Pedro Paulo de Sá Viana que eu queria homenagear. Deixo para outros historiadores o falar do bom filho, do belo pai e esposo, do correto e incorruptível Funcionário Público Estadual, etc.,etc...
O REBATE, 75 anos de existências em Macaé, jornal que noticiou o seu nascimento, de seus filhos e amigos, no curso desta longa vivencia nesta região,solidariza-se com a dor de seus familiares e também sofre com esta lacuna na nossa história que a ausência de Pedro Paulo irá deixar. (José Milbs de Lacerda Gama, editor) www.jornalorebate.com

30.12.06

UMA PENITENCIÁRIA..................................................

A vergonhosa atuação dos políticos corruptos e ladrões do dinheiro público e uma penitenciaria-cidade para alojá-los

José Milbs de Lacerda Gama

Uma grande cidade, com estrutura bem reforçada em muros altos e eletrificados (iguais às casas deles), com um forte esquema de segurança externa. É uma idéia que tive ontem à noite para abrigar os milhares de políticos, assessores, delegados, policiais, enfim, enfim, todos estes senhores que estão comprometidos com desvios de dinheiro publico, envolvidos em comissões de empreiteiras, etc.

Pode também colocar nesta cidade, juizes, advogados, empreiteiros, milhares de vereadores que levam propinas de empresas de ônibus, de firmas multinacionais e centenas de secretários de Estado, Ministros e ex Ministros.

Para não ir muito longe, pode começar desde o governo Collor, com aquele ex Ministro do trabalho que disse que "cachorro é um ser humano".

Aproveitando para por nesta cidade-presídio, centenas de Sindicalistas safados, presidentes de ongs corruptas e alguns ex Governadores. Minha preocupação é não deixar esta camarilha de Homens Públicos, que envergonham seus filhos e amigos, não ficarem misturados com presos comuns. A presença destes corruptos poderia contaminar os presos comuns.

Como esta gentalha está totalmente viciada na corrupção, só consegue o desejo sexual com uma nota de cem nas mãos e não sabe viver sem levar uma comissãozinha de 20 ou 30 por cento, esta cidade teria em circulação notas de dólares falsos e de reais. Para eles não ficarem em depressão por falta do "ópio deles" que é roubar dinheiro do contribuinte.

Os bens destes canalhas, homens ate velhos de cabelos brancos, que nem respeitaram seus filhos e netos, seriam todos confiscados para manter a cidade. Eles mesmos podem eleger seus dirigentes nesta cidade. Como este presídio vai ter muitos portadores de títulos de faculdades não haveria necessidade de celas especiais. Semanalmente as crianças seriam convidadas para aulas onde esses canalhas seriam mostrados em fotos como "exemplo a não serem seguidos"...

Nesta cidade/presídio, haveria eleições entre eles de Vereadores a Presidente...

29.12.06

O sapateiro e o alfaiate da Nova Democracia

José Milbs

Batendo o martelo nas coxas, já calejadas pelos anos, o velho Djecyr Nunes da Gama, sorri de lado.

— Sapateiro é porque bate sapato?— pergunto querendo puxar conversa só para ouvir a sua voz gaga, mais que sonorizante de amor fraterno.

— É sim — responde fechando o sorriso, ciente que eu já sabia a resposta.

Aí eu insisto:

— Pai, aquele pião que o senhor me deu, com a fieira de barbante branco, quando eu rodo ele na calçada as crianças dizem que é um “pião sapateiro”, que fica pulando, igual ao Pica-Pau dos desenhos animados. Acho que agora estou entendendo o que o senhor quer dizer. Esse toc, toc, toc, toc do martelo, no ferro igual a um pé, virado para cima, que o senhor bate na sua coxa, na roupa toda remendada pela vovó, é o motivo do nome sapateiro, não é?

A tarde sempre era assim: na volta do colégio e a sentar-me junto à sua bancada. Batidas de solas, mãos firmes no manejo de um negócio igual uma navalha que, uniforme e lindamente tocada pelos dedos do mestre, ia torneando o couro, dando formas de sapatos. Latas de colas, olhar fixo na arte e a certeza de que o suor que escorria de seu lindo rosto, torneado de um morenar meio aloirado, lhe garantiria o sustendo da família.

Meu pai se orgulhava da sua profissão, como o Paulo Rodrigues Barreto, da de alfaiate. Dois mestres, duas certezas assegurando o belo do artesanato.

Nasceram ambos nos sertões dos Campos dos Goitacázes. Paulo, com seus dedos endurecidos pelos anos da profissão herdada de seu pai, era a excelência no trato. Orgulhava-se ao me contar que havia feito os mais lindos ternos de linho, à mão, em quantidade superior a uma centena de pessoas no norte do Rio de Janeiro.

Djecyr falava de seus trabalhos em cromo alemão que duravam anos para que voltassem às mãos dele ou de outros sapateiros. Era calçado para nunca se acabar — orgulhava-se, também para mim, o velho pai guerreiro e herói.

Estes dois, entre tantos e grandes personagens de minha vida tinham, além de uma linda e harmoniosa arte no manejo das mãos, uma coisa em comum: eram extremamente políticos, por isso humanos em nossa época. Da Gama, meu pai, e Paulo, meu amigo, entendiam o mundo em sua formatação, com uma clarividência surpreendente e que enriquecia minhas concepções do mundo.

Claro, forçoso dizer, talvez, eles tivessem muitos amigos no poder. Porque sapato de “couro alemão” e “linho 120” não eram obras para as massas, para o povo trabalhador. Mas eles também faziam saltinhos, meia-solas, pregavam chapinhas em sapatos que acabavam de um lado, remendavam calças, diminuíam bainhas e faziam toda sorte de “biscates” que os punham frente à frente com a massa sofredora do povo da região onde habitavam. Jamais deixavam de socorrer o povo pobre e nunca negligenciaram na sua arte por isso.

Djecyr Nunes da Gama e Paulo Rodrigues Barreto sabiam que a degeneração capitalista haveria de destruir suas profissões. Anteviam que máquinas possantes prosseguiriam, sempre mais velozmente, fazendo ternos e sapatos em série, mas deformados e que encolheriam na primeira lavagem ou chuva, que se acabariam na primeira tropeçada na calçada e se encheriam de lama até os calcanhares...

E a produção fabril foi mesmo se transformando em coisa de baixa qualidade, a princípio baratas, depois caras e quase descartáveis. Sapatos e ternos saídos das grandes fábricas onde a força de trabalho não paga — ofertada pelos trabalhadores desempregados — animam ainda mais a fome dos genocidas. Tudo isso me faz, agora, entender melhor suas falas de uma beleza feita de coragem e convicção, até mesmo frente à certeza do fim de suas profissões.

Da Gama e Paulo Barreto acreditavam na via parlamentar para a chegada do povo ao Poder. Gama, com sua experiência no Sindicato de Curtumes e Derivados de Couros, em Buenos Ayres, onde morou e dirigiu o sindicato no governo Perón, e Paulo como velho petebista/brizolista. Claro que ambos desejavam ardentemente um governo do povo.

Estas duas mãos não mais irão cozer solas e panos. Seus corpos estão enterrados, estrumando com suas essências as terras que os cobrem. Eu lhes empenharia minha palavra, se pudessem ouvir, no entanto, que o menino/filho cresceu e o amigo/filho amadureceu. Não foi em vão a fé de ambos no socialismo, aquela que, incansável, transmitiam para quem merecesse ouvi-los.

Absorvi, desenvolvi e preciso honrar suas memórias, convicções e seus ídolos, que mesmo padecendo de precisão algumas vezes, eram passos honrados para a compreensão da Nova Democracia que vingará as lutas de tantos quanto aqueles dois, que tombaram à terra mas nos legaram o ensinamento dos primeiros passos...

O NATAL DOS EXPLORADOS E DOS EXPLORADORES...

O NATAL DOS EXPLORADOS E DOS EXPLORADORES

Da maldade e da magnanimidade humanas

José Milbs Lacerda Gama

Habitam luxuosas residências. Caras de paspalho, uns com barbas, outros com as caras raspadinhas e cabelos feitos em salões. São animais que a ciência insiste em dizer que fazem parte da espécie humana: comem, dormem, fazem suas necessidades e até aprenderam a procriação. Mas não trabalham. Antes, vivem da exploração do trabalho e cumprem as ordens da desordem crescente.

Costumam se cercar de seguranças com seus ternos negros que mais parecem capitães do mato lançando olhares que imitam valentia. Usam veículos importados. Trazem mulheres que cheiram a perfumes caros e acompanham infelizes filhos que os admiram como a um cofre abarrotado de dinheiro. Parecem animais criados em cativeiros, frangos e frangas americanos que não podem se expor ao vento ou colocar os pés em outro chão que não seja o das granjas. Nesse caso, o chão dos palácios e gabinetes.

Ventos açoitam as folhas das palmeiras e coqueiros que ornam a Praia dos Cavaleiros, em Macaé, cidadezinha do norte do Rio de Janeiro. Meninos e meninas normais expõem seus cabelos ao morno ventar que vem das Ilhas Nativas. Pés descalços, sorrisos nos lindos olhos e no repuxo dos sobrolhos queimados pelo sol macaense. Assim é a bela e boa gente trabalhadora dali.

Espigões é a diferenciação no mundo natural de casas simples mas plenas de aconchego e de amor. A ganância contraída no processo de acumulação fez de cada engravatado com seu sorriso de lagarto esquecer que existe o humano dentro de si. Transmitem aos pobres e infelizes filhos uma imagem fedente a perfumes e gestos efeminados dos opressores em decadência. Os jornais que socorrem os exploradores anunciam leis contra o povo, trapalhadas financeiras e os eventos ociosos das mansões, a maioria construída mediante desvios de cofres públicos, superfaturamento de obras e “serviços” junto aos tais poderes constituídos.

O meigo sol de primavera se aproxima com o novo ano. A cidade está inflada. As empreiteiras se vão e, em seu lugar, ficam as sub-empreiteiras dirigidas pelos jagunços pinçados a dedo nas fazendas. Eles convocam rapidamente os trabalhadores que estão nas obras, aqueles que, com suor, lágrimas e saudades, foram os responsáveis pelas construções.

II

A frieza dos jagunços se assemelha ao do seu chefe investido de empresário, o mesmo que se posta ao lado dos que exercem a função de autoridades municipais. Burocratas mais graduados supervisionam os detalhes das inaugurações.

A temporada de festividades consagradas ao esplendor do crime lícito chega rápido. Tim-tins barulham copos do mais puro escocês, tão puro quanto a fina casta de ladrões e assassinos que o consome. Espalhados pelos salões e jardins que os acolhem, esses grupos de expropriadores do patrimônio público destilam idéias monstruosas enquanto expõem suas presas de pervertida alegria. Esforçam-se o quanto podem em cada detalhe da imitação de cordialidade humana, revelando pleno domínio sobre as regras de conduta dos desocupados sociais. Tapinhas nas costas de outros empregados de luxo denotam formas cínicas de distribuir chantagens e ameaças, como que fizessem recordar que as benesses recebidas dos faturamentos devem ter sempre continuidade.

Nas areias da praia, centenas de jovens se banham e olham descontraídos para o vai e vem das ondas esverdeadas e puras. Algumas crianças correm e brincam com pequenos caranguejos que assanham as areias e voltam para seu habitat.

Os trabalhadores — antes convocados pelos “agenciadores de emprego”, na realidade agenciadores do desemprego — foram avisados: estão dispensados do longo e penoso trabalho de quase um ano de obra. Moraram em palafitas, se alimentaram de comida fria, beberam muita pinga para abafar o soluço trazido pela humillhação e pela nostalgia.

Chamados nominalmente e, contendo o ódio que brota em seus olhos, recebem a última parcela do salário miserável. Aceitam como lhes chegam os registros adulterados nas carteiras de trabalho. Até porque onde iriam reclamar “seus direitos” se, por entre as frestas envidraçadas dos escritórios, avistam os dirigentes do sindicalismo burocrático recebendo as tradicionais cortesias dos prepostos? Agora estão sem serviço remunerado. O que fazer para sustentar a si e à família?

III

Crianças, filhos desta pobre burguesia cujos dias estão contados com a aproximação da nova democracia, admiram as lindas meninas e meninos que vivem livres sob o sol nascente de Macaé. Querem também ir ao encontro de seus pares infantis, porque criança nasce tudo igual. São socialistas natas. Os canalhas, produtos do modo de produção imperialista e em agonia final, é que os desviam o quanto podem do amor fraterno.

Do luxuoso hotel, elas buscam pelas gretas algum gesto que as identifiquem na essência com as crianças livres. Afastam-se sorrateiramente do do ambiente podre de seus pais e dos demais cúmplices. Querem a liberdade de brincar, correr, ver os tatuís abrirem suas casas. Descem as escadas, quando já começam a ouvir os alegres ruídos da Praia do Pecado, do sussurro do mar...

Os braços dos homens de ternos pretos obstruem a passagem e mandam as crianças de volta ao odioso regime de divisão de classes. Os seguranças não fazem mais que adiar a tendência natural da coisas...

Vendedores ambulantes gritam sacolés, biscoitos, guloseimas e da mesma forma são afastados da frente do hotel. Tiras verde-amarelas cercam as ruas evitando a aproximação do povo.

Por alguns momentos, os operários esquecem o sofrimento, a repressão dos exploradores e o desprezo dos acomodados. Cantam, assobiam cantigas de suas terras. Alguns ainda olham para os luxuosos prédios que construíram, como que imaginando para que tipo de gente trabalharam, que espécie tão pouco humana irá ocupá-los. Mulheres que conheceram, amigos que fizeram, crianças que acalentaram; tudo fica para trás. Pensam nas histórias que poderão contar aos seus filhos enquanto caminham pelas ruas macaenses rumo à rodoviária. Companheiros de mais confiança se encarregaram de trazer, de uma forma ou de outra, a alvissareira notícia que de que algo está para acontecer em toda a região do Rio.

Com efeito, a quase uma hora dali, uma casa abriga vinte e oito operários que traçam planos de filiação a uma central de novo tipo. Prossegue animada a pequena assembléia que, na sua primeira pauta, já decidiu pela fundação do sindicato classista e combativo, verdadeira e digna organização da classe operária na construção civil.

Em Recife, uma grande família, pais filhos, esposa e amigos recebe o corpo do operário Severino que despencou e morreu na Construção de Quiosque na Lagoa de Imboacica em Macaé.

A ganância, a certeza da impunidade permanece. Que os ventos do nordeste, que costumam atingir nossa região desvastada por desmatamentos e asfaltos, não levantem as estruturas desta obra farjuta, abençoada pelo Crea, Serla e Ibama e não mate nossos filhos num desabamento que se anuncia.

Toda a obra, se fiscalizada sem que corra grana anexada aos laudos, está eivada de desmandos técnicos e, em qualquer país sério, daria prisão e perda das funções Publicas para todos os envolvidos.

Segundo apurei, o Severino já tinha alertado aos jagunços da Prefeitura de Macaé e os da Empreiteira que os “parafusos eram pequenos e de fragilidade. Que ele mesmo havia pensado em comprar, de seu próprio bolso”, um parafuso mais forte. Assim que morre o POVO brasileiro em pleno governo de colisão no Brasil...

(José Milbs de Lacerda gama, cronista, escritor e editor de O REBATE, www.jornalorebate.com 75 anos de Histórias).

SUOR, LAGRIMAS E SAUDADES...

Suor, lágrimas e saudades .................................... JOSE MILBS DE LACERDA GAMA...............................................................................

O sol permanece escondido entre os raios de Lua que teimam em reinar no amanhecer da cidade. O dia ainda nem começou, quando centenas de homens deixam os alojamentos e caminham com destino à obras que lhe fornecerão “o pão de cada dia”. A barriga ronca, o hálito diz da precariedade da dentição o e os braços se erguem num espreguiçar que deixa à mostra a musculatura rígida feita de pancadas de estacas e levantamento de sacos e mais sacos de cimento.

Sorrisos trocados com companheiros, olhar escantilhado para os lados em busca de capacete e roupagens coloridas com os logotipos de empresas tercerizadas fazem a rotina destes homens cujas rugas na face dão conta dos anos em que servem de “mão-de-obra”, deixando transparecer o belo olhar infantil que brota na universal identidade com seus companheiros de labuta.

O ranger da porta, feita de restos de taipas de outras obras e a tramela fixada ali com carinho e arte, deixa entrar os primeiros raios de sol que, como que pedindo licença, começa a esquentar as entranhas do alojamento. Os beliches, com esteiras abertas pelos anos de uso, deixam à mostra o madeirame duro que se faz de estrado.

Rostos lavados em vasilhames, bochechos e abrir de bocas são as primeiras identidades desta universalidade humana. As xícaras de alumínio, algumas já amassadas pelo uso antigo, recebem os lábios sedentos de sede e fome destes homens que partem para as obras da construção civil nos luxuosos bairros da cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro, arrotada pelo monopóio dos meios de comunicação como a “capital do petróleo” e a “melhor cidade para se viver, morar e trabalhar”.

Ainda com o estômago embrulhado pelo alimento do dia anterior, eles sorriem entre si, falam, em seu linguajar alegre e partem para a luta. Assobios, cantigas, versos ao vento e, sei lá onde tanta pureza brotando da brutal vida que a sonorização dos versos e cânticos, penso, os elevam ao patamar dos pássaros.

Uns fumam, outros biritam. Uns falam de mulheres, outros de religião. Todos, no entanto, arquejam no andar e deixam à mostra a incerteza do dia seguinte. Se a fome aumenta, engolem o último pedaço de pão comprado no mercadinho perto do alojamento. Se sentem sede, bebem da água encanada. “Barrigas vazias são tambores da revolução”, dizia Adão Nunes que, nos anos de sua militância ainda acreditava no parlamento. Os tempos passam, outras barrigas batem tambores em outras fomes.

A construção civil não pode parar. Hotéis de luxo para abrigarem os patrões do patrão. Suas carteiras de trabalho não pesam mais em seus bolsos. Elas foram requisitadas pelo jagunço das empreiteiras e viajaram para outros estados para serem “assinadas”.

A fachada da obra tem nomes suntuosos de conhecidas empresas no ramo nacional. Publicidades são feitas em seu nome, jantares e reuniões idem, retratos e visitas caritativas em clubes sociais também. Colorida e iluminada, a fachada das obras ostenta o nome de socialites famosos, com suas caretas famigeradas e seus cabelos pintados que deixam transparecer o olhar cruel de quem enriqueceu à custa do sacrifíio de homens e mulheres indefesos e puros.

A mais-valia astronômica que esses cafajestes da construção civil embolsam é tão monstruosa que eles abrem hotel em cima de hotel, como se estivessem construindo barquinhos de papel. Fazem edifícios com andares em local antes proibidos e em praias que terão seus dias finitos pelas sombras que, por certo, virão em pouco tempo.

O bolso vazio do traseiro que não tem mais a carteira de trabalho é preenchido com papéis e anotações. Uma espécie de diário onde se pode ler, em alguns “garranchos” gramaticais, anotações de dias, horas, sábados, domingos e tardes noites de extras.

O jagunço que pegou as carteiras fala grosso. Gesticula em gestos brutos sem saber que põe para fora sua homoxessualidade reprimida. Fala com os trabalhadores como se estivesse em campo de batalha e dando voz unida. Diz-se assessor do dono do hotel e que as carteiras irão chegar de São Paulo em menos de 3 meses. Os operários se olham em silêncio. O último que ousou desafiar este monstrengo em forma de humano foi despedido e está passando fome nas ruas empoeiradas dos bairros periféricos de Macaé. Quer voltar para o Maranhão e está esperando ser atendido pela assistência social.

— Ele mesmo disse — falam quase balbuciando — que o maranhense já viu várias vezes o jagunço tomando chope com o pessoal da prefeitura.

Todos os operários foram pinçados fora de Macaé. Uns vieram do interior da Bahia, convidados por outro jagunços, que se diz dono de empreiteira e que assinou mais de cem carteiras de trabalho. Outros foram trazidos do Maranhão, cidades bem do interior. A maioria trouxeram de São Paulo e Minas.

O jagunço que se diz empresário e recolheu as carteiras sumiu das obras. Dizem que foi para São Paulo. Lá uma outra obra, precisamente em Bauru, deixou centenas de operários sem receber. Como eles eram, a exemplo dos daqui, de outros estados, não ficam para “por no pau estes canalhas”. Precisam viver e partem para outra.

Num canto da cidade os donos das construções e seus jagunços festejam mais uma grandiosa obra, inaugurada com a presença de todas as autoridades civis, militares e eclesiáticas do município.

AS DUAS COVAS DOS SORRISO DE MARIA DE JESUS...

As duas covas no sorriso de Maria de Jesus

José Milbs

Arte: Alex Soares

Seu vestido tinha a cor de um azul parecido com o de uma manhã de verão. Um pequeno suéter fazia contraste com os últimos raios do sol que caiam sobre o Morro do Carvão, hoje batizado de Alto dos Cajueiros.

Maria de Jesus não teve outra opção que não a derradeira.

Gostava do mundo. Seus 16 anos eram todos de festa e alegria. Os cursos de datilografia no Leão XIII e do primeiro grau do colégio estadual, ela cursava com uma imensa vontade de vencer. Tinha muita pena de seu pai que, durante quase 30 anos trabalhou como lavrador na Usina de Quissamã. Ficou entrevado e o governo o aposentou por um "fundo rural". Não tinha carteira assinada nem INPS. Margarida, sua mãe, vivia para baixo e para cima com a Bíblia embaixo do braço falando coisas de deus.

Ela andou frequentando, fazia tempo, uma igreja. Seu irmão era peão de uma empresa transnacional e faturava 35 por semana, o que não dava nem para sustentar a mulher e o filho doente de meningite.

Maria de Jesus tinha vontade de estudar para dar algum conforto à família. Na escola sempre se dedicou muito. Livros ela não tinha, mas copiava tudo que a professora dizia. Em sua mente só havia flores, sol e e bem-querer.

Não entendeu o porquê de, um dia, o pastor haver lhe excluído da igreja, tampouco o fato de seu pai ter lhe expulsado de casa. Afinal fora levada à força por dois homens que lhe "fizeram mal". Se estava grávida era coisa do mundo. Quem podia evitar esse acontecimento?

2

A tarde tinha uma imensa mancha vermelha no céu e as crianças ainda brincavam de pipa no entardecer do viaduto quando um clarão rolou pela ribanceira.

O arder de um corpo jovem era como uma bola de fogo que a todos "curiorizou". Maria tinha ateado fogo ao seu vestidinho de ir à igreja e às festinhas das colegas. Jazia morta, já na estrada, num lado do asfalto, onde seu corpo parou de rolar. Preferiu este gesto a ter que ser "mãe solteira".

Seu enterro teve um ritual simples. Caixão doado pelo município, cova de indigente e um vestido branco sobre seu corpo agora negro pelo queimar.

Algumas amiguinhas, uma palavra do encarquilhado pastor citando parábolas de um santo livro que dizia: "Quem não tem pecado atire a primeira pedra", uma maneira de justificar seu esquecimento ao expulsar Maria de Jesus. Seu pai, numa cadeira de rodas, dizia que a "perdoava".

Era uma santa sendo perdoada por demônios.

A noite veio novamente cair sobre o Morro do Carvão. A vida continuou sua marcha inexorável. Novas meninas brincam sobre lama e detritos. A sequência é uma normalidade.

Maria de Jesus não anda mais com sua boneca abraçada nos arredores da Praia Campista, nem terminou seu primeiro grau no polivalente...

3

Conheci Maria de Jesus.

Foi numa de minhas andanças quando era candidato e acreditiva no parlamento como solução para as desigualdades da sociedade. Era candidato a deputado pelo PT. Íamos eu, Lisâneas e a Iza falar ao povo do morro. Andávamos de casa em casa. Numa dessas, fomos convidados a entrar. Num canto, um velho doente. No outro, três criancinhas esquálidas. Em uma TV preto e branco passava o "Jornal da Tarde" . Um vulto loiro atentava minhas falas e a do Lisâneas. Irradiava um olhar verde sob uma testa angular e serena. Parecia ter, e tinha, 16 anos. Seus lábios eram da cor rósea que revelou para nós, quando sorriu pela primeira vez, uma carreira de dentes alvos e perfeitos.

O corpo jovem tinha a leveza de uma nuvem ao vento. Era a própria beleza natural que contamina. Suas mãos eram de tamanho combinativo com os antebraços que, aureolados com fios aloirados, davam vida às musas européias. Ela me olhou de soslaio depois de ouvir falar sobre política com seu cansado pai.

Falou-me docemente:

- Posso fazer uma pergunta ao senhor?

Respondi que sim, já imaginando alguns dos muitos equívocos que a idade lhe orna.

E ela:

- Por que as pessoas pobres, que não têm este tal de convênio, quando vão aos médicos vêem dois consultórios? Um, todo de poltrona, ar condicionado, servindo coisas para as pessoas e, outro, ao lado, sem cadeiras, com as pessoas sentadas em cimento, todos tossindo um ar de doença? A gente não é todo mundo igual?

Prosseguiu senera:

- Eu conheço o senhor e se pudesse votar, votaria em seu partido.

- Você me conhece de onde? Não me lembro de tê-la visto antes.

E ela, com uma voz que me deu mais força para continuar na luta política, replicou:

- Todo dia eu vejo o senhor na televisão. O senhor sempre aparece e, como fala em Macaé, eu fiquei esperando o senhor aparecer um dia para pedir a papai para votar.

Saiu correndo, corada, quando ao me despedir, juntamente com Lisâneas e Iza, comentamos as covas de seu sorriso...

Maria de Jesus não chegou a votar. Hoje, quando o meu editor Moreira me cobrava uma crônica, me lembrei dela. Também me lembrei de que o PT chegou ao poder... dos exploradores. A medicina está cada dia mais voltada para a ganância capitalista, a assistência médica aprofunda o desprezo pelos pobres.

E a direção do PT, definitivamente, longe das massas. Nunca vai entender isso.

O SAPATEIRO, O ALFAIATE E A NOVA DEMOCRACIA

O sapateiro e o alfaiate da Nova Democracia

José Milbs

Batendo o martelo nas coxas, já calejados pelos anos, o velho Djecyr Nunes da Gama, sorri de lado.

Sapateiro é porque bate sapato? – pergunto querendo puxar conversa só para ouvir a sua voz gaga, mais que sonorizante de amor fraterno.

É sim, responde fechando o sorriso –, ciente que eu já sabia a resposta.

Aí eu insisto:

Pai, aquele pião que o senhor me deu, com a fieira de barbante branco, quando eu rodo ele na calçada as crianças dizem que é um “pião sapateiro”, que fica pulando, igual ao Pica-Pau dos desenhos animados. Acho que agora estou entendendo o que o senhor quer dizer. Esse toc, toc, toc, toc do martelo, no ferro igual a um pé, virado para cima, que o senhor bate na sua coxa, na roupa toda remendada pela vovó, é o motivo do nome sapateiro, não é?

A tarde sempre era assim: na volta do colégio e a sentar-me junto à sua bancada. Batidas de solas, mãos firmes no manejo de um negócio igual uma navalha que, uniforme e lindamente tocada pelos dedos do mestre, ia torneando o couro, dando formas de sapatos. Latas de colas, olhar fixo na arte e a certeza de que o suor que escorria de seu lindo rosto, torneado de um morenar meio aloirado, lhe garantiria o sustendo da família.

Meu pai se orgulhava da sua profissão, como o Paulo Rodrigues Barreto, da de alfaiate. Dois mestres, duas certezas assegurando o belo do artesanato.

Nasceram ambos nos sertões dos Campos dos Goitacáses. Paulo, com seus dedos endurecidos pelos anos da profissão herdada de seu pai, era a excelência no trato. Orgulhava-se ao me contar que havia feito os mais lindos ternos de linho, à mão, em quantidade superior a uma centena de pessoas no norte do Rio de Janeiro.

Djecyr falava de seus trabalhos em cromo alemão que duravam anos para que voltassem às mãos dele ou de outros sapateiros. Era calçado para nunca se acabar orgulhava-se, também para mim, o velho pai guerreiro e herói.

Estes dois, entre tantos e grandes personagens de minha vida tinham, além de uma linda e harmoniosa arte no manejo das mãos, uma coisa em comum: eram extremamente políticos, por isso humanos em nossa época. Da Gama, meu pai, e Paulo, meu amigo, entendiam o mundo, em sua formatação, com uma clarividência supreendente e que enriquecia minhas concepções do mundo.

Claro, forçoso dizer, talvez, eles tivessem muitos amigos no poder. Porque sapato de “couro alemão” e “linho 120” não eram obras para as massas, para o povo trabalhador. Mas eles também faziam saltinhos, meia-solas, pregavam chapinhas em sapatos que acabavam de um lado, remendavam calças, diminuíam bainhas e faziam toda sorte de “biscates” que os punham frente à frente com a massa sofredora do povo de região onde habitavam. Jamais deixavam de socorrer o povo pobre e nunca negligenciaram na sua arte por isso.

Djecyr Nunes da Gama e Paulo Rodrigues Barreto sabiam que a degeneração capitalista haveria de destruir suas profissões. Anteviam que máquinas possantes prosseguiriam, sempre mais velozmente, fazendo ternos e sapatos em série, mas deformados e que encolheriam na primeira lavagem ou chuva, que se acabariam na primeira tropeçada na calçada e se encheriam de lama até os calcanhares...

E a produção foi se transformando em coisa de baixa qualidade, a princípio baratas, depois caras e quase descartáveis. Sapatos e ternos saídos das grandes fábricas onde a força de trabalho não paga ofertada pelos trabalhadores desempregados animam, ainda mais, a fome destes genocidas. Tudo isso me faz, agora, entender melhor suas falas de uma beleza feita de coragem e convicção, até mesmo frente à certeza do fim de suas profissões.

Da Gama e Paulo Barreto acreditavam na via parlamentar para a chegada do povo ao Poder. Gama, com sua experiência no Sindicato de Curtumes e Derivados de Couros, em Buenos Ayres, onde morou e dirigiu o sindicato no governo Perón, e Paulo como velho petebista/brizolista. Claro que ambos desejavam ardentemente um governo do povo.

Estas duas mãos não mais irão cozer solas e panos. Seus corpos estão enterrados, estrumando com suas essências as terras que os cobrem. Eu lhes empenharia minha palavra, se pudessem ouvir, no entanto, que o menino/filho cresceu e o amigo/filho amadureceu. Não foi em vão a fé de ambos no socialismo, aquela que, incansáveis, transmitiam para quem merecesse ouví-los. Absorvi, desenvolvi e preciso honrar suas memórias, convicções e seus ídolos, que mesmo padecendo de precisão algumas vezes, eram passos honrados para a compreensão da Nova Democracia que vingará as lutas de tantos quanto aqueles dois, que tombaram terra mas nos legaram o ensinamento dos primeiros passos...

JOGA A REDE NO MAR... DEIXA A ONDA BATER

Crônica

Joga a rede no mar... deixe a onda bater

José Milbs

Eles habitavam toda região do litoral do Rio de Janeiro. Corpos morenados pelo sol sem os protetores e nenhum deles com doenças de pele. Suas redes, tecidas a mão por suas companheiras e filhas, tinham o sabor da arte e do bom gosto. Sempre alegres e de olhos acessos e avermelhados, estes senhores dos mares eram figuras presente em toda história nas cidades que habitavam.

Cabo Frio, Búzios, São Pedro de Aldeia, Rio das Ostras, Barra do Rio São João, Macaé, Farol de São Tomé, Ata fona e São João da Barra eram locais em que seus barcos, com pequenos motores e bastante experiência de mar, os levavam nas noites enluaradas e de manhãs amenas. Enchovas, Gordinhos, Galos, Marimbas, Serras, Espadas, Pescadas, Pescadinhas e siris do mar, eram sempre o produto de suas noites onde as gaitas, o velho rádio de pilha e um violão com 4 cordas, deixavam em aberto o coração de volta e mais volta aos lares...

As beiradas das praias estavam sempre cheias de muita gente. As chegadas dos barcos, passando pelas ondas bravias, eram saudadas por centenas de acenos. Mulheres e filhos se juntavam a outros na expectativa de ver o produto de mais uma noite de pesca.

Os pescadores tinham saído de suas simples e aconchegantes residências em plena madrugada. Antes tinham olhado o céu, reparado de onde vinha o vento e, antes mesmo de apagar as luzes dos candelabros de seus quintais, já estavam assoviando cânticos e cordiais acenos aos vizinhos que se juntarão a outros e partirão para o alto mar...

A pesca tinha a essência do belo artesanal. As vendas eram feitas ali mesmo nas praias e o que não era vendido, era colocado numa cesta, coberto com galhos de matos, tirados ali mesmo na restinga e levados nas bicicletas pelas ruas da cidade.

Os anos arquejaram os senhores do mar. Suas redes apodreceram estendidas nos quintais em enferrujados arames. Os barcos, virados de bunda para cima estão totalmente danificados pelo tempo. Esses bravos trabalhadores do mar, hoje de olhos caídos e "encostados no INSS", nem de longe lembram aqueles corpos sarados e olhares brilhantes dos anos de sua juventude...

A herança dos segredos duramente colhidos na vasta extensão de água salgada do mar, de suas artimanhas e ventos, outras vezes herdados de seus pais e avós não podem ser passadas para seus filhos e netos. Apenas a história de casos ocorridos em suas longas noites pode chegar aos ouvidos dos pequenos netos e filhos.

Os braços, estendidos deixando à mostra a pele enrugada e a tez flácida, apontam para ilhas e pedras. Lá, eles comentam dos grandes barcos que habitam os mares. São barcos de bandeira estrangeiras ou de falsa bandeira nacional. Dentro deles, contam a seus filhos que os olham admirados:

- Tem um vidro que vê onde está o cardume. Eles apertam um botão e sai uma rede de fios finos que pegam todos os peixes. Filhotes, fêmeas com ova na barriga, tudo eles levam para longe. Acabaram com tudo - diz, e seus olhos deixam cair uma lágrima que se junta às dos meninos...