Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

31.12.08

Morre o Juiz Kleber Guimarães. Lacuna de dificil preenchimento no Judiciário brasileiro




KLEBER GUIMARÃES UMA HISTÓRIA VIVA DO JUDICIÁRIO FLUMINENSE...


Falar da vida de Kleber Guimarães para mim se torna muito fácil. Convivi com ele desde os anos 60, quando vinha à Região de Petróleo em visita a sua tia Zenita, espôsa de meu primo Pierre Tavares da Silva Ribeiro. Antes, seus pais frequentavam a Igreja Batista onde Agnes Guimarães ministrava ensinamentos bíblicos.
Kleber era um ser diferenciado dos demais de sua época. Elegantemente vestido nos uniformes militares de sua infância tinha o dom da cordialidade.
De seu irmão Celso herdou o carinho pelos empreendimentos e se tornou um dos mais efusivos defensores da dimensionalidade geográfica desta região. Antes mesmo que o petróleo assumisse a febril vontade de enriquecimento de muitos moradores, Kleber já antecipava o que viria a ser nos anos desde século que se inicia. Criou vários Bairros, loteando e espalhando familias por toda a extensão da cidade de Macaé, cidadezinha situada ao norte do Estado do Rio de Janeiro.
O Bairro da Riviera era a "menina de seus olhos atentos ao crescimento da cidade". Ali ele vislumbrou a Riviera Francesa em muitas de suas viagens ao exterior. Para mim contava suas façanhas, muitas delas fantasiadas por quem, como ele e eu, sabiamos que a vida é, na verdade uma "grande mentira". Fantasiava alguns trechos que dominava com a fala e se transformava, as vezes, num grande criador de deslumbramentos comuns aos grandes novelistas do cenário nacional.
Kleber foi um dos poucos brasileiros que podia escolher a cidade para viver, trabalhar e morrer. Tinha acesso a grandes metrópoles e escolheu esta região para fazer história.
advogado brilhante, empresário, politico, jornalista, cronista, homem do povo, Kleber sabia brincar com as mentes humanas. sabedor, como poucos, de que, no judiciário e nos tribunais, vence sempre a "maior mentira pregada e defendida", usou dos tribunais para absolver velhos transgressores da lei e fazer fluir sempre a eloquencia como forma de levar a cabo seus objetivos.
Gostava de se fazer presente em todos os acontecimentos sociais. Elegante, do alto de seus 80 anos, fazia questão de usar a palavra e desfilar nas ruas de Macaé sempre dentro de seus ternos escolhidos nos melhores alfaiates do Rio de Janeiro. Escreveu vários textos no "O REBATE" nos anos 60 e 80. Amigo pessoal de Almir da Silva Lima e, ultimanente tendo ao seu lado o fiel escudeiro Renato Rasma. Dois jovens saídos das nossas ruas empoeiradas o que veio demonstrar a simplicidade de Kleber no trato com pessoas do POVO.
Tive a honra de, quando ainda eu era amigo do Sylvio Lopes, ter apresentado Kleber a ele. Convidado aceitou trabalhar na Procuradoria do Municipio onde fez do local um ambiente popular onde as pessoas simples eram sempre atendidas e levadas ao atendimento jurídico.
Quando o Poder Judiciário de Macaé estava abarrotado de milhares de processos que precisavam de andamento, a maioria de pobres, Kleber foi convidado e funcionou, durante anos, como Advogado dativo, onde milhares de pessoas, filhos, esposas, amigos e gente simples, tiveram seus processos em andamento e solucionados. Era, nas madrugadas de sua velha casa no Alto dos Cajueiros, que ele fincava os olhos, debruçava noites no estudo dos aparados legais que iriam ajudar as pendengas.
Um dia escrevi sobre ele e disse: Kleber, como advogado criminalista, era "o monstro sagrado do Direito". E fui mais lobge ai afirmar que: "dentro das vestes do elegante advogado Kleber Guimarães, estava escondido "Um bravo Operário da Lei", num belo macação que honrava a Toga de Juiz que ele sempre gostou de dizer que era...
E por que nao o Juiz Kleber Guimarães? por que não o Magistrado Kleber Guimarães?...
O mundo, a vida, a existência é uma grande Meganomania. Nascemos sem saber de onde viemos e saimos da existencia sem saber para onde vamos. Kleber era um sabedor nato das nossas vontades de ouvir histórias. Fazia com que todos se sentissem participante da ciranda da vida com suas alegres histórias, muitas delas, fantasiadas para que os ouvintes se sentissem dentro delas. Foi um grande homem, um bom advogado, um sábio juiz e um fiel "Amigos dos Amigos".
Hoje,ao saber que se encontra entre a vida e a morte, numa semi-consciencia, num leito de CTI na Casa de Caridade de Macaé", faço público um de seus desejos e pedidos quando a gente andava juntos pelas ruas de Macaé, Rio de Janeiro e Foruns. Ele me pediu:
"Se algum dia eu estiver vivo, ainda que inconsiente, escreva algo sobre mim. Não faça depois de morto não. Gostaria que as energias que saem de seus dedos de cronista saiam de uma maneira suave como se eu ainda pudesse ler. Você, Jose Milbs, é um gênio e como tal queria ter de você algo ainda em vida.
Pois ai está, meu velho amigo Kleber a minha homenagem a você ainda em vida. Macaé, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2008, 14,43 minutos. A frese que disseste ao seu amigo Renato Rasma: "Não me deixe morrer ainda quero viver". está ressoando no Bairro Miramar, em suas Ruas empóeiradas e lindas que você trocou pelo luxuoso Bairro de São Conrrado no Rio.
Talvés tenha sido o seu maior desejo o de deixar este mundo cruel na presença de gente simples como você.
Dia 31 de Dezembro de 2008, sem ver o nascer do Sol de 2009, chega a noticia da morte do Juiz do Povo Kleber Guimarães. Almir da Silva Lima me deu a notícia ainda com a tristeza de quem, como o Renato Rasma e os familiares do Kleber, estavam esperando sua recuperação. Lembrando ainda do escritor macaense Luiz Lawrie
Reid, em seu "Ultimo Conto" faço dele minhas palavras:
" Queria saber por que, se os destinos, as inteligências, os corações são tão desiguais nos homens, êles se asemelham tanto nos dpis polos primordiais: Viva e morte?
Por que, na balança da justiça, podem ficar em iquilibrio tanto o réu como o autor?
Por que a metamorfose dos valores morais? moralidade e religão nasceram para o homem e não êle pra elas?
Por que a fria razão traz alegria e a tortura e a paixão nos faz feliz?
Por que todos têm razao e quem menos tem berra?
Por que em todos um desejo imperativo de acumular, conseguir glória, poderio, riqueza? Por que vingar-se e não tolerar? Por que tanta ansiedade do Eu?
Um cego é feliz em pensar que ouve e fala, um surdo em ver o mundo, um paralítico em pensar e meditar. E um que tudo tem, que tudo goza, rói-se e corrói-se por dentro?
Por que?

Por que a razão anda sempre com os velhos, os loucos e as crianças?
Por que nascemos filhos de nossos pais e morremos filhos de nossas ações?
Por que o que as crianças aprendem de Bem a vida ensina-les de mal?
Por que precisa-se, às vêzes, de mais esfôrço a não odiar os amigos que amar os inimigos?
Por que o homem se preocupa com tanta inutilidades e nunca com o seu "fim"?
Por que há sempre quem nega e a firma Verdades e Mentiras, indiferentemente?
Por que existe quem em tudo acredita e nada duvida?
Por que se precisa mais de amor que de pão?
Por que só a dor nasce grande?
Por que........"
A mesma tristeza, com odor de saudade que vi estampado no olhar de Luis Cláudio, meu filho, quando comuniquei a morte de Kleber, tenho certeza estará nos rostos de milhares de pessoas simples da região de petróleo. Presos abandonados em cárceres, pequenos policiais civis e militares, jovens juizes, alegres defensores e promotores de justiça, todos que tiveram a felicidade de "receber dele, de kleber, seus sagrados presentinhos de Final de Ano e Natais que não voltam. Kleber tinha o dom de presentear amigos. Presentes simples porque eram para muita gente. Um reloginho aqui, uma gravatinha, ali, uma camisa acolá ele ia cimentando sua presença em todos que podia acariciar. Era sua maneira gentil de saber-se presente.

Abre-se, hoje, 31 de Dezembro de 2009, uma lacuna impreenchival no Judiciário Brasileiro com a morte do Juiz Kleber Guimarães. Morre com ele o Romantismo do Direito, Entristece de lágrimas o Sagrado Manto que sempre soube honrar.
Fecha-se uma página no sagramento da lei. Fica a lembrança deste grande Advogado, porque não dizer do POVO?
A sua esposa Ivone, seus 2 filhos, em especial ao kleber Roberto seu fiel companheiros nos últimos momentos, os sentimemtos de toda rquipe de O REBATE onde Kleber sempre escreveu e foi um dos mais antigos assinantes nos anos de 1970.
Abraços de seu amigo, Jose Milbs de Lacerda Gama, editor de www.jornalorebate.com

29.12.08

O Faroleiro de Santana, Dona Nenen da Rua J. Koop e uma cidade alegre e bucólica...




FAROL DA ILHA DE SANTANA

Reginaldo tem uns 40 anos e quinze ele passou com seu pai nas ilhas nativas de Macaé. É um dos jovens que conheci no tempo em que tinha oficina de jornal e sempre estava a cata de bons profissionais para trabalhos. Ele entendia de parte elétrica e como tal mexia nas impressoras, nas linotipos e nas instalações em geral. Autodidata, esperto e alegre. Tinha um carinho especial para com ele devido ao seu jeito meio criança de olhar e de seu modo malandro de viver.
Era uma mistura de peixe e gente. Às vezes se parecia com um peixe quando olhava horizonte longe do real e se tornava humano quando pensava que iria receber o fruto de seu trabalho "a vista" e eu dizia que pagaria no "fim da semana". Seu sorriso de meio trejeito pude rever em seu filho de 7 anos e em sua filha de 11.
Reginaldo se tornou amigo de meu filho Luís Cláudio ao ponto de nos últimos dias estar aqui no Sitio - Hoje Rancho O Rebate - mostrando seus lindos filhos e sua meiga espôsa. Quando lhe disse que tinha vontade de contar alguns dados sobre a vida das ilhas macaenses me convidou e fui até sua casa, no Bairro aeroporto para detalhar fatos memoriais de seu pai Roberto.
Tentarei falar das pedras do “Moleque” e “Da Mula” onde centenas de batidas e barcos a deriva conheceram e temiam em suas noites de luar escondido. A “Ilha de Santana” era onde se localizava o “Farol e que na Ilha do "Papagaio” existia um pequeno farolito.

DONA NENEN DA RUA JOTA KOOP

A rua J. Koop fica no centro da cidade e nesta rua nasceu dona Leonília Bastas Moreira que foi casada com Manoel Hocho Coutrin Moreira um dos primeiros ferroviários de Macaé. 14 filhos, todos criados e educados na Região de Petróleo. Seu Manoel é oriundo de Trapiche, das velhas e extintas fazendas de café, e dona Nenen era mesmo do Imburo. Do velho casarão ficou apenas as recordações de seus filhos e netos, como Alessandro que sempre está no sítio por conta de seu trabalho.
Dos filhos deste pilar da J. Kopp a cidade se habituou com Juracy, o nosso “Jura”, Romilda, Carlinhos, Paulo que morreu tragicamente e que tinha o dom do encantamento e da alegria, Ilza, Rosa Maria, Regina, mãe de Alessandro, Fátima e Augusto.
Durante os anos toda a comunidade se espalhou e neste espalhamento e cujos familiares o sangue deste casal se espalhou e espalha por toda a nossa cidade. Estelita, que era filha de dona Maria do Doutor Faustino Marciano de Castro casou-se nesta família e é mãe de “Mamute” grande e alegre jovem da comunidade do Bairro da J. Koop.

As histórias e memórias não param por ai.
Havia uma construtora na rua Francisco Portela. As pessoas ainda moram lá ou se não moram lá estão seus filhos e netos... É uma Rua tradicional. Dona “Duia,” seu Otto Pacheco, “Gabarito”, “Milica” Dudu Trindade, Zé Carlos Freitas e dona Arlete, dona Maria maemãe de “zZé Uca”, Ib, Ddodora, Fernando e Lenine, Benedito de dona “SLula”, Rosalvo e Concy de Renatinho, Rosalvo e do “Anjo Claudinho”, Norma e Nelio, “Nona” Mathias Netto, Paulo Silva, Atilla, Leandro, Seu Celiê, Vasco e Vânia, Pimenta e Rozanea, Os pais de Vanilde, Ricardo, Frasão e os Afonso Paulas...Esta Rua que, com o tempo tende a se transformar um Rua CComercial, tem as suas verdadeiras personalidades espalhadas nos descendentes que eternizam sua essência vital...
As essências macaenses não podem se deixar levar por memórias oportunistas...Tem que ser revigoradas sob pena de perder o valor de sua historicidade.
Como dizia o Poeta Cazuza: “Se você pensa que estou derrotado, ainda estou rolando os dados”
Enquanto a memória estiver viva estarei ai junto com ela tentando repor fatos e havidos.
“Socar erva passarinho com sayao e tomar. É E`bom para tosse, bronquite e pulmão” Ouvi isto numa de minhas andanças por esta Rua quando ainda existiam árvores e passarinhos pulando de galhos em galhos...
A Internacional era por aqui Se esbarravam em Grego da Geledeira, Espanhol do Mercado, Tadeu de Vicente e Casimiro, Serafim o inteligente portugues, Takaoca, Manolo e Waldemar da Costa.
O mês de Janeiro começa a chegar no fim e as chuvas teimam em dizer aos humanos que ela vem por chamamento natural e que com a destruição das essências naturais podem um dia faltar.As plantas rasteiras brotam e os galhos se encontram em reverencia ao vento que sopra frio.As àrvores, os pés de cocos e de araçás continuam firmes apesar da das Aguas torrencias. Jabuticabas e Amoras estão sendo comidas por Sanhaços e Bentevis que encantam as manhãs com pios e loucos cânticos. Avisam a gente que podemos comer os frutos e que os do alto são de propriedades deles.
As vezes fico a pensar como que a transfiguração de fatos obedecem a um ritual sublime e cativo.
No alto do Pé de Jabuticaba, pássaros deliciam-se com o fruto exposto ao seu prazer e, no tronco, os novos frutos chegam as nossas mãos.
Tristeza sómente com o achar de um ninho de lindas Rolinhas que, ao cair, deixou mortos dois filhotes. Não resistiram ao Vento Frio de Final de Dezembro e cairam. Servirão de estrumo na terra para que novos vitais venham. ( Jose Milbs de Lacerda GFama editor de www.jornalorebate.com )

27.12.08

TRILHOS: De Chile até Macaé.



TRILHOS: De Chile até Macaé.
Em Março começo um novo livro com este titulo. Farei ele em parceria com a minha colunista chilena Alejandra
d Fenelon. Iremos fazer uma longa viagem do Chile até Macaé onde retrataremos as vertentes das histórias, das vielas, das difrenciações e do mundo belo que nasce no ramger do sagrado barulho do trem que é igual aqui como no Chile. Comndará nossas mãos a magia das histórias que nos foram passados. Para mim de minha mãe e para ela do seu pai.
Aguardem...Jose Milbs e Alejandra

"TRILHOS: De Chile até Macaé."
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Blogger dfenelon disse...

Iremos de la mano de nuestros Padres viendo los peñascos y trillas de la Cordillera mostrando el desierto , los campos , la gente de los pueblos y seguiremos hasta los montes y costas de Rio de Janeiro para atravesar Macae con la Metáfora de dos manos, y las Almas de Poetas en nostálgicos recuerdos.
Asi sera..............y no pueden perderlo.

Alejandra d Fenelon.
d Fenelon

23.12.08

Acidente mata filho de ex vereador de macaé e ex lider ferroviário Jodyr souto Correa...



Aguenta Coração do bravo Jodyr souto Corrêa. Se não bastasse a morte de sua linda filha Tamires, aos 16 anos, teve a triste noticia do grave acidente que vitimou seu filho Jodymar Gomes Corrêa. Aos 32 anos, com uma bela carreira na Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro onde sempre se destacava pelo afeto a todos que o procuravam para alguma atenção. Este lindo baiano de Alagoinhas perdeu a existência terrena na batida de seu carro com um motorista alcoolizado que também morreu.
Jodyr Souto Corrêa, pai de Jodymar, tem ainda Kátia, Jodyr, Marcelo e Iza Carolina como filhos que estão passando pela triste fase.
Nos anos 60/70 Jodyr foi vereador, precisamente em 1967, quando eu tive a honra de te-lo como colega de Câmara Municipal em Macaé. Criamos um grupo político com mais 6 vereadores e fomos lançados a Prefeitura da cidade. Eu como candidato a Prefeito e ele como vice. Era uma ousadia, dois jovens almejarem dirigir a cidade, ainda sob forte presença de uma elite atrelada ao poder econômico e restejante de poder frágil e de raízes coloniais.
Dividindo ao meio o grupo oportunista e revisionista de PCB acocorado e em busca de espaços eleitoreiro, Judyr se manteve fiel aos que aceitaram sua presença na legenda do MDB que tinha a gente como liderança.
Lutamos e obtivemos 18% da votação e o MDB perdeu para Arena por 200 votos. Hoje, depois de 40 anos, a luta continua.
Jodyr, foi para Bahia, lecionou em Alagoinha, abriu horizontes evangélicos e está ai se conformando como os desígnos da vida eterna. Eu continuo aqui na minha missão de escrever fatos históricos.
Nas poucas vezes que vejo o velho amigo de lides antigas ainda nos recordamos de muitas coisas que aprendemos juntos.
Dizia o velho Fernando Frota: " O Homem é o que é por último" e assim as vertentes da vida vão nos ensinando a caminhar e saber que estamos num mundo frágil e de tempos curtos.
A tristeza, que sei estar no Caração de Jodyr e Arlinda, brava baiana mãe de Jodymar, é a certeza de que eles não estão sosinhos nesta dor. Todos passamos e pasaremos por estas perdas da vida humana.
Perde a Policia Militar um jovem que honrava a farda e sempre esteve ao lado do POVO nas horas em que esteve em missão. Em nome de O REBATE quero deixar o sentimento de solidariedade a familia e em especial ao meu velho companheiro Jodyr pela perda de seu querido filho e companheiro. ( José Milbs de Lacerda Gama - editor de O Rebate )

19.12.08

A noite estava assim enluarada, quando a vóz...




A noite estava assim enluarada, quando a vóz já bem cansada, eu ouvi de um trovador. Seus versos que vibravam harmonia e em lágrimas dizia da saudade de um amor...
Falava de um beijo apaixonado, de uma amor desesperado, que tão cedo teve fim. E nestes gritos de tormenta, eu guardei no pensamento uma estrofe que era assim:
" Lua, vinha perto a madrugada, quando em ânsias minha amada, nos braços desmaiou. E num beijo de pecado no teu véu estrelejado, a sorrir glorificou...
Lua, hoje eu vivo tão sósinho, ao relento sem carinho na esperança mais atróz. De que cantando em noites linda, esta ingrata volte ainda, escutando a minha vóz"...

16.12.08

RITA DA MACTRAN FILHA DE CENI E BRAULIO MORRE AINDA JOVEM




Um telefone meu para Odisséia e a dra. Lais e tomo conhecimento, pela fala triste de sua colega Carina, da morte de Rita Andrade, atenciosa funcionária da Mactran e uma das mais ricas figuras de nossa cidade.
Rita era a docura e a meiguice refletida em sua história na região de petróleo. Filha de Bráulio Andrade e de Ceni ela tinha por principios básicos o carinho com todos que sabiam de suas origens nas nossas ruas alegres dos anos 60. Rita nunca deixou de ser a menina que nasceu e cresceu na Rua do Meio - Rua dr. Bueno. Teve a felicidade de ter sido acariciada ao colo pelos seus avós Zé Bonito, Aluisio e Vovó Durvalina.
Gostava das peripécias do velho tio Zequinha e sempre que era vista trazia a harmonia do encanto de uma jovem/mulher que atenta as preocupações maternas. Muitas vezes pude ve-la. Uns tempos na antiga CERJ aqui perto do O REBATE onde funciona nossa redação. Outras tantas nos colégios onde nos viamos, conversávamos e faziamos reviver a saudade da nossas infâncias na Macaé bucólica. Eu com meu filho Zé Paulo e ela com o seu.
Rita sofreu uma grande perda em sua vida isto ela sempre deixava transparecer no seu meigo olhar. Sentia falta de Braulinho. Se confortava com a ausência de seu irmão se didicando ao crescimnto de seu filho.
O Rebate se une as manifestações de tristeza que tomou conta de todos os seus colegas de trabalho. Que sua familia saiba que o sofrimento que hoje habita em suas existências estará sendo dividido por todos que tiveram o privilégio de conhecê-la.
A Ceni, Bráulio, Juca, a seu filho e a todos os familiares os sentimentos de O rebate. (Jose Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornalorebate.com )

15.12.08

KLEBER GUIMARÃES UMA HISTÓRIA VIVA DO JUDICIÁRIO FLUMINENSE...


Falar da vida de Kleber Guimarães para mim se torna muito fácil. Convivi com ele desde os anos 60, quando vinha à Região de Petróleo em visita a sua tia Zenita, espôsa de meu primo Pierre Tavares da Silva Ribeiro. Antes, seus pais frequentavam a Igreja Batista onde Agnes Guimarães ministrava ensinamentos bíblicos.
Kleber era um ser diferenciado dos demais de sua época. Elegantemente vestido nos uniformes militares de sua infância tinha o dom da cordialidade.
De seu irmão Celso herdou o carinho pelos empreendimentos e se tornou um dos mais efusivos defensores da dimensionalidade geográfica desta região. Antes mesmo que o petróleo assumisse a febril vontade de enriquecimento de muitos moradores, Kleber já antecipava o que viria a ser nos anos desde século que se inicia. Criou vários Bairros, loteando e espalhando familias por toda a extensão da cidade de Macaé, cidadezinha situada ao norte do Estado do Rio de Janeiro.
O Bairro da Riviera era a "menina de seus olhos atentos ao crescimento da cidade". Ali ele vislumbrou a Riviera Francesa em muitas de suas viagens ao exterior. Para mim contava suas façanhas, muitas delas fantasiadas por quem, como ele e eu, sabiamos que a vida é, na verdade uma "grande mentira". Fantasiava alguns trechos que dominava com a fala e se transformava, as vezes, num grande criador de deslumbramentos comuns aos grandes novelistas do cenário nacional.
Kleber foi um dos poucos brasileiros que podia escolher a cidade para viver, trabalhar e morrer. Tinha acesso a grandes metrópoles e escolheu esta região para fazer história.
advogado brilhante, empresário, politico, jornalista, cronista, homem do povo, Kleber sabia brincar com as mentes humanas. sabedor, como poucos, de que, no judiciário e nos tribunais, vence sempre a "maior mentira pregada e defendida", usou dos tribunais para absolver velhos transgressores da lei e fazer fluir sempre a eloquencia como forma de levar a cabo seus objetivos.
Gostava de se fazer presente em todos os acontecimentos sociais. Elegante, do alto de seus 80 anos, fazia questão de usar a palavra e desfilar nas ruas de Macaé sempre dentro de seus ternos escolhidos nos melhores alfaiates do Rio de Janeiro. Escreveu vários textos no "O REBATE" nos anos 60 e 80. Amigo pessoal de Almir da Silva Lima e, ultimanente tendo ao seu lado o fiel escudeiro Renato Rasmos. Dois jovens saídos das nossas ruas empoeiradas o que veio demonstrar a simplicidade de Kleber no trato com as pessoas do POVO.
Rive a honra de, quando ainda eu era amigo do Sylvio Lopes, ter apresentado Kleber a ele. Convidado aceitou trabalhar na Procuradoria do Municipio onde fez do local um ambiente popular onde as pessoas simples eram sempre atendidas e levadas ao atendimento jurídico.
Quando o Poder Judiciário de Macaé estava abarrotado de milhares de processos que precisavam de andamento, a maioria de pobres, Kleber foi convidado e funcionou, durante anos, como Advogado dativo, onde milhares de pessoas, filhos, esposas, amigos e gente simples, tiveram seus processos em andamento e solucionados. Era, nas madrugadas de sua velha casa no Alto dos Cajueiros, que ele fincava os olhos, debruçava noites no estudo dos aparados legais que iriam ajudar as pendengas.
Um dia escrevi sobre ele e disse: Kleber, como advogado criminalista, era "o monstro sagrado do Direito". E fui mais lobge ai afirmar que: "dentro das vestes do elegante advogado Kleber Guimarães, estava escondido "Um bravo Operário da Lei", num belo macação que honrava a Toga de Juiz que ele sempre gostou de dizer que era...
E por que nao o Juiz Kleber Guimarães? por que não o Magistrado Kleber Guimarães?...
O mundo, a vida, a existência é uma grande Meganomania. Nascemos sem saber de onde viemos e saimos da existencia sem saber para onde vamos. Kleber era um sabedor nato das nossas vontades de ouvir histórias. Fazia com que todos se sentissem participante da ciranda da vida com suas alegres histórias, muitas delas, fantasiadas para que os ouvintes sentissem-se dentro delas. Foi um grande homem, um bom advogado, um sábio juiz e um fiel "amigos dos amigos".
Hoje,ao saber que se encontra entre a vida e a morte, numa semi-consciencia, num leito de CTI na Casa de Caridade de Macaé", faço público um de seus desejos e pedidos quando a gente andava juntos pelas ruas de Macaé, Rio de Janeiro e Foruns. Ele me pediu:
"Se algum dia eu estiver vivo, ainda que inconsiente, escreva algo sobre mim. Não faça depois de morto não. Gostaria que as energias que saem de seus dedos de cronista saiam de uma maneira suave como se eu ainda pudesse ler. Você, Jose Milbs, é um gênio e como tal queria ter de você algo ainda em vida.
Pois ai está, meu velho amigo Kleber a minha homenagem a você ainda em vida. Macaé, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2008, 14,43 minutos. A frese que disseste ao seu amigo Renato Rasma: "Não me deixe morrer ainda quero viver". está ressoando no Bairro Miramar, em suas Ruas empóeiradas e lindas que você trocou pelo luxuoso Bairro de São Conrrado no Rio.
Talvés tenha sido o seu maior desejo o de deixar este mundo cruel na presença de gente simples como você.
Dia 31 de Dezembro de 2008, sem ver o nascer do Sol de 2009, chega a noticia da morte do Juiz do Povo Kleber Guimarães. Almir da Silva Lima me deu a notícia ainda com a tristeza de quem, como o Renato Rasma e os familiares do Kleber, estavam esperando sua recuperação. Lembrando ainda do escritor macaense Luiz Lawrie
Reid, em seu "Ultimo Conto" faço dele minhas palavras:
" Queria saber por que, se os destinos, as inteligências, os corações são tão desiguais nos homens, êles se asemelham tanto nos dpis polos primordiais: Viva e morte?
Por que, na balança da justiça, podem ficar em iquilibrio tanto o réu como o autor?
Por que a metamorfose dos valores morais? moralidade e religão nasceram para o homem e não êle pra elas?
Por que a fria razão traz alegria e a tortura e a paixão nos faz feliz?
Por que todos têm razao e quem menos tem berra?
Por que em todos um desejo imperativo de acumular, conseguir glória, poderio, riqueza? Por que vingar-se e não tolerar? Por que tanta ansiedade do Eu?
Um cego é feliz em pensar que ouve e fala, um surdo em ver o mundo, um paralítico em pensar e meditar. E um que tudo tem, que tudo goza, rói-se e corrói-se por dentro?
Por que?

Por que a razão anda sempre com os velhos, os loucos e asa crianças?
Por que nascemos filhos de nossos pais e morremos filhos de nossas ações?
Por que o que as crianças aprendem de Bem a vida ensina-les de mal?
Por que precisa-se, às vêzes, de mais esfôrço a não odiar os amigos que amar os inimigos?
Por que o homem se preocupa com tanta inutilidades e nunca com o seu "fim"?
Por que há sempre quem nega e a firma Verdades e Mentiras, indiferentemente?
Por que existe quem em tudo acredita e nada duvida?
Por que se precisa mais de amor que de pão?
Por que só a dor nasce grande?
Por que........"
A mesma tristeza, com odor de saudade que vi estampado no olhar de Luis Cláudio, meu filho, quando comuniquei a morte de Kleber, tenho certeza estará nos rostos de milhares de pessoas simples da região de petróleo. Presos abandonados em cárceres, pequenos policiais civis e militares, jovens juizes, alegres defensores e promotores de justiça, todos que tiveram a felicidade de "receber dele, de kleber, seus sagrados presentinhos de Final de Ano e Natais que não voltam. Kleber tinha o dom de presentear amigos. Presentes simples porque eram para muita gente. Um reloginho aqui, uma gravatinha, ali, uma camisa acolá ele ia cimentando sua presença em todos que podia acariciar. Era sua maneira gentil de saber-se presente.

Abre-se, hoje, 31 de Dezembro de 2009, uma lacuna impreenchival no Judiciário Brasileiro com a morte do Juiz Kleber Guimarães. Morre com ele o Romantismo do Direito, Entristece de lágrimas o Sagrado Manto que sempre soube honrar.
Fecha-se uma página no sagramento da lei. Fica a lembrança deste grande Advogado, porque não dizer do POVO?
Abraços de seu amigo, Jose Milbs de Lacerda Gama, editor de www.jornalorebate.com

14.12.08

Vou-me embora vou-me embora Sá Dona...


"Voume embora, vou-me embora Sá Dona.
Amanhã de manhazinha...
Deixo saudade prá quem fca chorando...
Vou rever minha maêzinhaaa...
Andei dando cabeçada, por este mundo afóra.
Já ariei meu cavalo, Sá Dona...
Amanhã eu vou-me embora".

10.12.08

Meus netos Manuella, João Pedro e Ana Clara, como toda criança gostam de cachorros...

Foto: Luis Claudio meu filho e Manuella minha neta)
A PAIXAO DE BOB POR MANNA E A MORTE, POR ATROPELAMENTO DE FLOQUINHO

José Milbs

Um tal de " seu João " que tem um bar na Lagoa, estava prestes a sacrificar quem viria a ser Manna. Luís Cláudio estava lá na hora e a trouxe para o sítio. Era uma cachorra bonita, de uma raça que chamam de Belga Alemão, e logo foi se adaptando a existência daqui. Magra, esquálida e com cara de ter sido muito escorraçada Mana estranhou o amor que lhe dedicava Zé Paulo, Manuella e Ana Cláudia que tudo faziam para que ela se sentisse em casa.

A velha " Mana " devia já ter muitos anos e foi uma surpresa geral sua gravidez havida com estes cachorros vagabundeiam as ruas do Molambo.

Perguntado Zé Paulo me disse que quem faturou Manna foi um cachorro Branco que eu até achava ser bichona, t T amanha sua arrogância e andar meio escantilhado para direita. Enfim o menino deve ter visto Mana rebocada em suas andanças pelo quintal a cata de frutas.

O fato é que Manna deixou no mundo um filha que foi logo sendo chamada, ao crescer, de Maluca devido seu modo louco de viver.

Manna sempre carinhosa coçava sua cabeça até quando já era mocinha e já cruzava com outro vagabundo e andarilho das noites da Granja dos Cavaleiros. Maluca deu a luz a 5 filhotes.

O velho Bob, também cansado, pelo tempo devia t T er uma idade também avançada e, sem dono, foi encostando no sitio. Que como bom aparato foi lhe fazendo sentir - se também habitante ilustre. Bob, Manna e Maluca faziam a trilogia animal da bondade nata.

Sempre atentos aos primeiros passos nas noites, eles olhavam a porteira que sempre fica aberta e espantavam as que olhavam. Morder, acho que nunca teriam coragem. Primeiro, porque eram extremamente mansos e , segundo, que sempre que alguém chegava ia ao encontro para ver se tinha algo para dar de comer.

Manna , Bob e Maluca tinham um viver que se podia dizer normal. Noites de latidos, dias de idas e vindas nas firmas multinacionais em busca de comida, vez ou outra um " espôrro esporro " humano por estarem deitadas na varanda exalando cheiro.

Enfim , uma vida comum de cachorro. Manna nem devia se lembrar de seu titulo burguês de Pastora Alemã.

Ela já havia se inserido no contexto das coisas boas das ruas do Molambo e já era mesmo uma normal. Era acariciada pelo Americano Kun da Brasbril com o mesmo afago de Peroba " e Jacaré, de Conceição de Macabú : o Edmar de Macabú, pedreiro que deu inicio ao prédio que Luis Cláudio construiu.

A frase criada por humanos que determina que o homem é produto do meio, serve também para cachorro. Manna não tinha mais as manias burguesas e não se preocupava em esperar ração, ia a luta com os nativos da região e até seu cio era igual aos cios das demais cachorras do Molambo. Aceitava as intermináveis filas de machos em seu redor e até jogava alguns " charmes " para alguns mais dotados da manta .

Era aquela fila de não acabar mais de cães de todos os tipos querendo, como dizia Zé Paulo, nos seus 10 anos de pura inocência, faturar....

Estava se sentindo como pinto no lixo. Alegre e bem faceira era uma espécie de R r ainha do Bairro. Tinha dia que até um pequinês, com cara de malandro tentava "umazinha" faturar . " Mana " , pacientemente se agachava. Ou o gancho do pequinês era pequeno ou ele não era bom de transa. faturamento . Fato é que quem ficava com ela era o velho Bob.

Bob, um destes dias de inicio de século, estava triste. Escanteado, olhar de peixe morto e nem latia muito quando eu saía com o carro.

Ele sempre ia até a porteiro latindo contra o Chevette que me levavaaté a cidade. .Um cheiro forte de coisa podre invadia o ambiente.

Mana foi achada morta. Foi expirar no fundo do Sítio, solitária e doente. Devia não querer entristecer Maluca nem Bob com seu sofrimento. Deste dia em diante Bob não foi mais o mesmo. Triste cabisbaixo procurava os cantos. Olhar de soslaio, às vezes, e muita tristeza no andar.

Não tinha mais aquele vigor aquele caminhar de atleta em musculação. Acho até que perdeu o prazer da sexualidade. Cachorras jovens no cio que passavam na rua nem era com ele. Elas olhavam, deviam saber de seus dotes. Cachorras devem falar uma com as outras.

Ele nem ligava. Era o amor que os humanos dizem ter. Acho que os homens também amam. Bob foi se esvaindo , esvaindo e fez companhia a sua amada Manna. Deixou este mundo por amor e apaixonado.

Maluca ainda vive. Ela, coitada, não tem muito a lamentar.È meia esbaforida. Avoada e totalmente desequilibrada , biruta e meio transloucada . dai seu nome. vive dando saltos para qualquer um que chega.

Diria uma espécie despersonalizada. Igual certos humanos, políticos principalmente, que em época eleitoral ficam lamendo um dando a mão a outros e se abanando em tapinhas nas costas.

A cabeça de maluca não atina. Vai levando a vida de cachorra sem saber, creio, .das existência que lhe deram existência.

Às tardes, não se vê mais as presenças de Manna e Bob. Às noites, silenciaram os latidos. Mana morreu no dia 6 de dezembro justamente um ano depois que perdi minha mãe.

Em janeiro de 2002, Manuella, minha neta de 5 anos, perguntou de Mana. Ela brincou com o neto dela que teima em morar no sitio.O mês de setembro começa a chegar no fim e as chuvas teimam em dizer aos humanos que ela vem por chamamento natural e que com a destruição das essências naturais podem um dia faltar.

As plantas rasteiras brotam e os galhos se encontram em reverencia ao vento que sopra frio.As arvores, os pés de cocos e de araçás continuam firmes apesar das ausências das águas.

Jabuticabas e amoras estão sendo comidas por sanhaços e Bentevis que encantam as manhas com pios e loucos cânticos.

O Tempo passa. Outro cachorro habita o Sitio. A Estancia Vista Alegre agora escuta outros latidos e o corre corre de outras crianças. Se antes era Manuella, minha neta filha de Luis Claudio agora sao tres netos. Mariana, Ana clara e João Pedro filhos de Aninha. Floquinho é um figitivo nato. Antes de completar 1 ano já vai para a rua e se arrisca entre carros e motos. Estamos no ano de 1006 e a vida aqui na regiao não é mesma nos bons tempos de Manna, Bob, Maluca . Floquinho, numa de suas fugidas morre sob as rodas de um dos milhares que passam aqui em frente. Se antes os velhos cachorros tinham que sair da rua devido as carroças e cavalos hoje é carretas e outros loucuras motorizadas.

Floquinho tebe morte instantanea e seu matador nem parou para ver. Uma tristeza para todos e um alerta que Mariana faz a todos que tem seu caozinho:

FLOQUINHO MORRE ATROPELADO E MARIANA ALERTA SOBRE PERIGO

Mariana esteve aqui na Redação do O REBATE para dizer do perigo de animais soltos e fazer um apelo às pessoas para que não deixem os seus cães soltos. No primeiro descuido eles podem morrer.

O Floquinho ainda nem tinha completado um ano e teve uma morte violenta na última segunda feira. Era um cachorro igual a todos. Crianças que gostavam dele e muita alegria e latidos. Mariana, Ana Clara e João Pedro faziam dele "gato e sapato", e as estripulias faziam bem a cabeça de Floquinho que vivia a espera deles.

O transito brabo da Rua do Sitio o pegou de surpresa e teve morte instantânea com uma pancada na cabeça.

Não sofreu muito, eu disse a Mariana e Aninha que esboçavam um contido choro ao saber da morte.

Mariana esteve aqui na Redação do O REBATE para dizer do perigo de animais soltos e fazer um apelo às pessoas para que não deixem os seus cães soltos. No primeiro descuido eles podem morrer. '

4.12.08

Marcia Buckley com dignidade, é honra para a região de petróleo


MORADORA DE MACAÉ VENCE PRÊMIO DE VOLUNTARIADO INTERNACIONAL


Nesta sexta-feira, dia 5 de dezembro, Marcia Buckley, voluntária do Comitê AFS de Macaé, Rio de Janeiro, será laureada com o Prêmio Galatti de Voluntariado. Este prêmio é concedido aos voluntários da rede AFS Intercultural Programs que mais se destacaram a cada ano.
O AFS Intercultural Programs é uma ONG de intercâmbio cultural que está presente em todo o mundo e existe desde 1914. A organização, que se chamava American Field Service, começou com motoristas de ambulância norte-americanos que resgatavam feridos na França, durante a Primeira Guerra.
Stephen Galatti se uniu como voluntário ao American Field Service em 1915. Foi um idealista, visionário, pioneiro e pragmático, e transformou o AFS de uma organização que transportava feridos de guerra na primeira organização a realizar programas de intercâmbio estudantil. Hoje, o AFS é especializado na promoção de experiências de aprendizagem intercultural com o intuito maior de desenvolver uma cultura de paz mundial.
Mesmo nos primórdios da organização, Galatti sabia que o sucesso do AFS dependeria substancialmente do suporte de seus voluntários, da sua capacidade de se comprometer, se dedicar aos ideais da organização e inspirar pessoas em todo o mundo.
É por isso que, na rede AFS, todos os anos são indicados voluntários que tiveram destaque em seu trabalho. Dentre eles, os três que forem considerados pela organização como os que mais representam os valores da organização — dignidade, respeito pelas diferenças, harmonia, sensibilidade e tolerância —, são eleitos os vencedores do Prêmio Galatti.


AFS INTERCULTURA BRASIL: POR UM MUNDO MAIS SOLIDÁRIO


O AFS Intercultura Brasil (antigo American Field Service) é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1956. Seu compromisso é a construção de um mundo mais solidário por meio do intercâmbio cultural entre os povos. A organização realiza no Brasil mais de 400 intercâmbios anuais com cerca de 30 países distribuídos em cinco programas – Escolar (High School), Estágio Não Remunerado, Trabalho Voluntário, Professores e Recebimento de Estrangeiros. Como não possui fins lucrativos, pode oferecer bolsas de estudo e fortalecer a preparação dos voluntários como política de qualidade.
Aliás, seu diferencial é o fato de voluntários serem os responsáveis por grande parte dos programas - são 30 mil em todo o mundo. No Brasil, este número chega a 1.000 pessoas organizadas em cerca de 96 comitês e representações locais do AFS, distribuídos pelas principais regiões do país. Por meio deles, os intercambistas passam por um processo de orientações e ao longo de toda a experiência, de suporte e apoio, que visa facilitar o processo de aprendizagem intercultural.

A HISTÓRIA DE MÁRCIA BUCKLEY NO AFS BRASIL


Márcia Bucley viajou pelo AFS para os Estados Unidos em 1977. Em 1991, quando se mudou para Macaé, ajudou a fundar o comitê do AFS na cidade e sua família foi a primeira a hospedar um estrangeiro na cidade.
Sua experiência de intercâmbio influenciou a vida de muitas pessoas, mas principalmente a dela própria. Desde que voltou para o Brasil estuda línguas com tanto afinco que se tornou tradutora juramentada.
Nos últimos 17 anos, Márcia tem sido uma voluntária exemplar. Sob sua atenta orientação, a cidade de Macaé já recebeu 44 estrangeiros e enviou para outros países 389 brasileiros pelo AFS. Atualmente, Márcia, seu marido, Willian David, e seu filho, Mário David, são voluntários do AFS.


Informações para imprensa:

ANA CLARA WERNECK

AFS Intercultura Brasil
Assessoria de Imprensa
E-mail: anaclara.werneck@afs.org
MSN: anaclarawerneck@hotmail.com
Tel.: (21) 3724-4464
(21) 9697-8873
(21) 7821-3697

25.11.08

quando se chega os 70 e lembra dos 11 anos.



Era a cidadezinha de Macaé um lugarejo dorminhoco. Manhãs e tardes noites com repetivo soar do tempo que andava lento. Pescadores, que nas madrugas cunhavam seu sustento, vinham, pelas 7 horas ate as 9, anunciando seu produto. Minha mãe Ecila, que vinha do Rio de janeiro para nos visitar, gostava de um peixinho de nome Gordinho e dos Siris acizentados que eram capturados na Lagoa de Imboacica. Os vendedores traziam em suas cabeças grandes cestas que continham os bichos encapados por folhas de matos. Não havia a abundância dos gelos que, nestes anos de 1949, eram privilégios de gente abastada. Geladeira? apenas alguns ferroviários tinham. Assim mesmo de 2a. mão...
Na foto meus netos. Manuella 11 e João Pedro 7. Filhos de Luis Cláudio e Ana Cristina no banco em frente a Instância Vista Alegre onde resido e escrevo estes textos.
Novos Tempos

A rua do Meio tinha e tem uma forma de entendimento diferenciado Nos Fiapos de minha memória. Ali teve cimentada e forjada toda a essência que fixou a infancia e o início dos caracteres da minha existencia.

Por isso ela tem um significado nunca igual as outras ruas, conquistado no dia a dia do crescimento de uma criança. A conquista de novas ruas, de periferias para qualquer menino de 4 ou 5 anos é algo que transcende ao entendimento adulto.

É como o primeiro assobio treinado com luta, tentativas e conquistas. É algo que marca a vida no segumento da vida que brita em cada um nos dias do que se denominou chamar velhice. O belo infantil, que é lembrando no primeiro tombo da bicicleta emprestada por amigos mais ricos, ou do ganho feliz de uma boleba num papão ou num triângulo “ a vera.’’. Coisas que todos temos guardados nas esquinas tortuosas da memória e que vão sendo cotejadas, como pongos de uma chuva criadeira, quando se quer passar isso para os amigos e pessoas...

A vida de uma criança tem sementes que não morrem. Por isso é que, a cada passo que se conquista no mundo geográfico em que habitamos, abrimos trincheiras que se cognominar-se a “ guerra linda da existência humana”.

Fiz-me nas poeiras dessa rua esburacada e santaficada pelo que aprendi, na década de 40, numa Macaé ainda virgem de maldades humanas e progressos loucos e destrutivos.

Ainda se balbuciavam, carinhosos e afetivos, os bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite.

Vocês perguntarão. E as outras ruas, as outras cidades, as outras vilas por este mundo afora? Não seriam e teriam o mesmo formato divino? Confirmo que sim. Creio que estas minhas recordaçoesrecordações servem ao meu mundo o que não o diferencia dos demais mundos existentes em todas as infâncias do universo humano.

Acho que toda a criança, por mais longe do real que esteja, vivenciou mundos maravilhosos e divinos. Quem negará o sonho, o belo pesadelo infantil? Só que eu vivenciei esta realidade e me é outorgado o direito de revelar seus encantamentos com o desejo que outros também os faça para que sirvam de recordações e motivos para longas conversas com filhos e netos.

Como esquecer as estripulias de seu Aluisio do Hospital que tão sabiamente seu filho Zéquinha lhe representa em alegrias e brincadeiras? Do afeto de Dona Durvalina por seus “milhares de filhos”, que vieram ao mundos poe suas mãos? Quando falo em dona Durvalina e repito sua existência neste Fiapo de memória, é porque ela faz parte de milhares de universos infantis de uma Macaé que teima em esquecer suas entranhas para fazer uma historia de bijuterias e falsas existências. Onde se encontra a pura essência do olhar de Iromar uma existência viva e recordativa de uma cidade pura?

Iromar foi me colega de Senai e habitou, em seus últimos dias de vida, o Bairro do Porto do Limão. Sem a visão do mundo exterior ele me conhecia pela vóz e demos lindas gargalhadas de infinito prazer e felicidade quando nos viamos.

Como esquecer as noites de encantamento nas mesas do PINGÂO, REIZINHO, DONA DADÁ E SILVIC? Bares que pipocavam as belezas das nossa ruas nos anos 50 e 60 onde podiamos rever velhos notivacos das noites e das serestas?

II

Não se faz história de uma cidade com 30 anos ou 40 de vivencia nela. Se não se pode fazer parte dela que não se assanhe em faze-la. Se não a fizer , seus filhos farão. Por isso é que me revolta ver as pessoas tentarem dar um branco na vida de Macaé como se a história se pudesse comprar como qualquer titulo de clube ou com nomeações de presidências de clube de serviço. Uma vida genética tem suas raízes na verdadeira essência. Que eles façam as suas histórias nas suas cidades de origens e deixem para seus filhos fazer a nossa.

È muito triste a gente abrir determinados jornais, escritos por debéis historiadores, escreverem mentiras sobra o passado. Locuras que póderia enganar a centenas de crianças indefesas que possam ter acesso a seus textos. Soube que um desses “historiadores de plantão em algum orgão público municipal, disse que ‘Mota Coqueiro tinha sido Prefeito de Macaé. Ainda bem que o Armando Barreto, que está na militancia da imprensa local, desmentiu o ocorrido.

Quem pode esquecer Zacarias Ferreira de Moraes, “Zeca” e sua bela mãe? Como ficar no esquecimento as noites de plantão do PU com Floro, Célio Ferraz, Paulinho Borges. que era na verdade Ivair Borges?

A poucos dias fui numa festa num colégio do Bairro do Aeroporto e quem estava lá como diretora era a filha de Zequinha de seu Zacarias. Maria Inês retratava sua história que era a própria história de nossa comunidade. Falamos do O REBATE do tempo de seus pais e avós e ela ficou feliz em saber que estamos on-line mundialmente acessados.

Sua presença era a presença de parte viva da história e sua fala se confundia com tudo que diz respeito a existência da cidade. Inês falava de sua formação, de sua luta para chegar ao Magistério.

Vi em seus olhos o passamento de toda uma vida que, no bairro simples que ela ministrava aulas, era a representação da própria história de MACAÉ que se espalhou por toda a extensão territorial. Era como que estivesse esticado a Rua da Poça, onde ela nasceu e fincasse esquinas no Bairro Aeroporto...

São coisas que ficam cimentadas nas mentes e que são transferidas para o consciente de uma Macaé que capenga no esquecimento de sua verdadeira história.

III

O Fiapo da Memória caminha para a região onde é hoje o Banco do Brasil. Ali perto morava Celso Terra um dos primeiros práticos em Odontologia. Sempre preocupado com o mundo social e Walter Belmont pai de Regis e Rosana. Eles davam um toque diferenciado dos macaenses nativos já que vinham de outras cidades. Eles incorporaram a vida social em nossa comunidade nos anos 50.

Barrica, meu colega de primário e Gin dos Cajueiros ainda lembram da Escola de Dona Dolores. Era escola Isolada 1.Tinha Indaiá. Sylvio, Elmo, Marlécio e Moacyr Prata. Barrica sempre está nas peladas na Pedra dos Cavaleiros e bate bola com outros senhores. Caminha alegre para os 70 anos de histórias vividas e havidas em nosso região. Parodi que o diga...

IV

Arquimedes França, o pioneiro em tudo que dizia respeito a modernidade, fazia com que a cidade tivesse um tom mais moderno e atual. Zilminhaa, Iolanda, Orlando e. Edgar .........não imaginam como o seu pai, Arquimedes, tinha a visão a frente dos moradores da época. Falar com ele era falar com uma alma alegre e que viajava em redor das falas para a busca do futuro. Hoje quando existe alguma referencia a Arquimedes França as pessoas olham e reverenciam sua memória como um homem que pensou a cidade 100 nos na frente. Uma espécie de Mota Coqueiro ao inverso.A primeira TV veio de suas mãos e muitos outros meios de uso e tecnologia que a cidade viu e tomou conhecimento.

V

As pipas, os campinhos de peladas, as bolas de gude, os namoricos furtivos, as esperas das tardes no jogo de Bola de Meia podem significar e significam a capa protetora das infâncias macaenses, que, as noites de historias contadas à luz de velas, forjam a passagem de existências de vidas com que os avós nos presenteavam em saudosas falas carinhosas e puras.

Histórias dos sertões de Carapebus e seus índios nativos, vivências em Quissamã e suas fazendas gigantescas, caminhadas a Rocha Leão, Macabú e Rio Dourado.

A verdadeira história de Mota Coqueiro, passada por bisavós que o conheceram em Macabú e não tem nada haver com as informações passadas ao meu amigo e escritor March de tão pura intenção envolvido por historiadores mal intencionados. Mota matou mesmo a familia sim, afirmavam eles em suas certezas por que eram visinhos dele em Macabuzinho...

VI

Era sempre uma Macaé verdadeiramente macaense em essência e vidas. Creio que existe uma ideologia nos dias atuais de gente que deseja, por força ou por não terem a paciência histórica de esperar que a historia os reverenciem ,esconderem as verdades verdadeiras. Pensam e querem que a história comece com eles. Eu noto que nestes últimos 20 anos, não sei se com a chegada da Petrobrás ou se de fato, essas pessoas pensam que podem “passar um apagador” na historicidade real. Muitos estão ai afoitos em se perpetuarem numa mentira histórica, textos que não passarão despercebidos por que tem muita gente ainda viva e atenta a esses engodos.

Não se colhe frutos sem que as raízes estejam fincadas na terra. Assim deve ser a vida de uma cidade. Governar a cidade voltada para sua verdadeira essência cultural e genética deveria ser o que eles deveriam fazer. Até por que não existe meias verdades na historicidade de um povo. Ou é ou não é.

VII

A Rua do Meio tinha frondosas árvores e as areias grossas das ressacas de Imbetiba ladeavam as entranhas das ruas e faziam se fazima de picadas nas casas. Um emaranhado de conchas e restos de mares antigos. O velho Benoni conversava nas esquinas com “Geraldinho” de Zelita Rocha. Sobre algumas jogadas do Time do Americano e falavam dos dibles de Venicio de Oliveira que tinha sido convidado por Gintil Cardoso para ser reversa de Garrincha no Botafogo. A gente ficava ouvido estas conversas dos “mais velhos” e ficavamos sabendo disse fato inédito na vida do esporte de Macaé. Venicio, um menino saido das poeiras de nossas favelas iria ser reserva do fabuloso Garrrincha. Venicio, na timides de um menino dos anos 40, não foi. Sua timides impediu que passasse para a história do Futebol Mundial. Perdeu a cidade...

Pedrinhas brancas, cacos de Mariscos e ostras eram comuns nas cercanias. Elas se misturavam nas terras pretas dos jardins da rua Dr. Bueno com belas Dálias, Roseiras e pés de Laranjas, comuns nas frentes das residências nesse início da década de 50.

Na rua Júlio Olivier além de Custódio, Tinoco, Seu Manoel, tinha seu Sebastião Crespo com seu caminhão que nos dias de carnaval desfilava cheio de crianças pelas ruas do centro. Lucas e Zilda ainda embalavam os meninos Guto e Toninho.

Era comum as puras aparições de carros, alegremente carnavalescos, passando pelas ruas. No Carnaval, seu Sebastião era visto seus filhos Edevan, Edson, Celinha, Cacilda e Edy que se jundavam a turma da Rua do Meio, Igualdade e Praça para as comemorações. Os caminhões se enchiam de crianças e mini adultos e desfilavam na Rua Principal, antecedendo os desfiles dos Cajueiros e Independente.

Ainda não havia as Bandas Marciais do Luiz Reid nem a do Polivalente que viriam a ser osquestradas por Jamil e José Geraldo no CELR e pela abnegação de Angela, esposa do meu amigo Mozart e mãe do nosso reporter esportivo Léo Lima, no Colégio Polivalente.

VII

Havia uma Vala ( que nos anos 60, quando Cláudio Moacyr manilhou), que era onde a gente brincava muito. Eu, Cláudio, Levy, Telmo, Rubinho, Nelsinho de dona Pequena e outros meninos.

Do lado de lá da Vala, hoje uma rua que dá acesso a casa de Míriam de Dona Pequena, morava alguns mitos das hitórias macaenses. “Titinha” DO INDEPENDENTE, Seu Roberto do Bar e o Seu Xará de Dona Pequena, Thiers, Dona Olga Patrocínio, Aloísio do Hospital, Mãe Durvalina de Braulio, Zequinha e Hilário de Hilarinho, Custódio, Gilda, Seu Manuel de Anterinho, Celinha irmã de Devan e seus belos e bondosos pais, Lalate, Dona Cotinha, Nelson, Clyce, Theresinha, Eliete, Darcílio, Irene, Doca e Zezinho, Mathias, Catuta, seu Oswaldo, Benicio, Marinildo Amado e suas meigas irmãs, Benildo, Dona Zinha de Syldai e Neinha, Elias e sua irmã, de doces lembranças de Seu Rubens Patrocínio, Sucena, Pimpão, Lenice, Clea, Mazinha.

Tinha um velho Pé de Mija-Mija instalado em frente a Chácara onde morava Alencar e dona Bentinha. pai de Elcinho. Esta árvore tinha um pequeno fruto que, ao ser cortado, expedia um liquido. Dai este nome. Confirmei, com Naná Ferroviário, este fato e ele se lembrou desta árvores. Ela, como o Pé de Tamarindo que existia na Praça Veríssimo de Melo, suniram do real mais repousam suave e docemente nas nossas memórias.

VIII

Nessa Chácara, onde Alencar morava, ao lado de minha casa, na Rua Doutor Bueno, 180, tinha dezenas de jabuticabeiras e uma pedra de umas duas toneladas, que as crianças diziam ter um tesouro enterrado debaixo.

Elsinho e seu outro filho Alencar eram nossos colegas de bolebas e a gente discutia sobre o tesouro debaixo desta pedra. Dona Bentinha tinha uma filha linda que revi neste início de século quando de uma ida a Cerj para ligar uma luz. Estava na sala de Guto filho de Lucas e pai de Luquinha. Sorria com o mesmo sorriso franco e puro que tinha os 6 anos. Rever histórias e passar para este Fiapo é salutar.

‘Não sei nem contar as vezes que ficava torcendo para crescer e remover aquela pedra pedra dos tesouros. O pior é que todas as crianças tinham o mesmo desejo. Interessante, está coisa de mente humana. Quando descrevo estes fatos vejo perfeitamento a Pedra que ficavs uns 15 metros da trave de nossas peladas com bola de meia ou de borracha...

IX

No final da rua morava “Nelsinho de Dona Pequena” e “Manuelito”. Do lado da casa de Dona Maria de Seu Bráulio pai de “Icinho, Lelei, Delvan. Décio e Dalci. Vizinhos de “Seu João Gordo”, pai de “Zé Pretinho”, isso tudo perto do campinho de peladas (campinho da Cocheira) em terreno da Prefeitura.

Nas noites os batuques do ensaio de carnaval do “Independente” de “Titinha” , João Pinto, pai de João Batista Pinto e de Monclar de “Dodge” , Luiz Geraldo e Ana Pinto. As crianças se misturavam com os mais velhos em busca de repiques de tamborins e pandeiros. Sempre escrevi e repito que os tamborins eram de couro de Gato...

Ainda não havia luzes nos postes de madeira os pirilampos davam a dimensão do belo e nos proporcionavam momentos de ligamentos no real existente.

Sentados em torno do fogão de lenha da casa de Titinha esquentávamos os Tamborins para os ensaios na busca de vencer os Cajueiros, nosso tradicional concorrente no carnaval dos anos 40. A música que o independente cantou em sua Escola, eu e Cláudio Moacyr relembramos quando ele era Prefeito e eu Vereador na década de 60. Era assim:

Sai, fui buscar lá na vila uma baiana pra dançar...Na minha escola, este samba eu fiz pra ela cantar. Agora, quero ver cajueiros dançar...(já naquela época usávamos o termo dançar como forma de fazer dançar... etc.

Acho que neste ano o Cajueiros dançou de fato. O meu independente venceu o carnaval de l949.Qualquer dúvida pergunte a Meca, Simário, “Badu”. Miguel, Wilson Pires, Nagib e outros remanescentes. João Pinto, Wilson e Monclar sempre estavam com suas presenças simpáticas nos ensaios da Escola de samba do Independente da Rua do Meio.

Quem tem mais de 60 anos e morou nas imediações desta monumental Rua de Macaé, deve lembrar, por certo, de mais detalhes. Esta ai que termino são as que veio no meu Fiapo aos quase 70 anos...

Eu era um menino de 11 anos.(José Milbs de Lacerda Gama)
www.jornalorebate.com
Coment

19.11.08

TOGA: O MANTO SAGRADO DA LEI ESTÁ AINDA EM VOGA NUM BRASIL ONDE ALGUNS JUIZES AINDA SE CORROMPEM




Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância
de sete agentes federais fortemente armados. Oliveira é juiz federal em Ponta Porã , cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário, sob forte escolta. Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. 'A única diferença é que tenho a chave da minha prisão.'




Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar US$ 300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu a vara
de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas.
Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País.
Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares , 3 mansões - uma, em Ponta Porã , avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte. 'Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$100 mil.' No dia 26 de junho, o jornal paraguaio Lá Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. 'Estou valorizado', brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado. Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa. 'No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a PF.' É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarr otado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande . O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. 'Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada.'
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Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta. 'Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade.' Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir. Hora extra. Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso. Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu 'bunker', auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos , condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas.. O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.

Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o 'rei da soja' no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. 'As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados.' O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha 'dever de ofício' enfrentar o narcotráfico. 'Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante.. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança.'
Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol. (Pablo Picasso)

13.11.08

TROFEU RAÇA NEGRA. UM RESGATE DA HISTÓRIA,,,

Troféu Raça Negra 2008 comemora 120 anos da Abolição



Personalidades e autoridades se reúnem em São Paulo para a maior festa da comunidade afrodescendente do País



A 6ª edição do Troféu Raça Negra, que acontecerá na Sala São Paulo, região central da capital paulista, no próximo dia 16 de novembro para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, reveste-se de um momento especial: a celebração pelos 120 Anos da Abolição da Escravatura. O evento é uma iniciativa da ONG Afrobras – Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultura e da Faculdade da Cidadania Zumbi dos Palmares.



Neste ano, a escolha dos premiados será diferente do costume. Através da Comissão Afrobras e da Academia Afro Brasileira de Artes, foram eleitas as autoridades e personalidades que mais se destacaram no ano pela luta em favor da diversidade e do negro brasileiro e pelo conjunto da obra de seus trabalhos.



Mais uma vez, grandes empresas e instituições financeiras patrocinam o Troféu Raça Negra, como Coca-Cola Brasil, Bradesco, Itaú, Unibanco, HSBC, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Nestlé e Sesc SP.



O evento fará uma homenagem a um dos maiores cantores e apresentadores negros da década de 60, Wilson Simonal, que terá suas músicas cantadas por grandes nomes como Alcione, Paula Lima, Pedro Mariano, Rappin' Hood, e seus filhos Simoninha e Max de Castro. Os arranjos ficarão por conta do Maestro Josoé Polia, acompanhado da Orquestra Filarmônica Afro-Brasileira. Paulo Betti e Sheron Menezes serão os mestres de cerimônia do Troféu Raça Negra 2008.



Também será prestada homenagem póstuma a Jamelão. A cantora Leci Brandão cantará o Hino da Mangueira, escola de samba do coração de Jamelão.



Confira a lista de homenageados:



- Miguel Jorge - Ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento

- Maria Helena Guimarães - Secretária de Educação do Estado de São Paulo.

- Fernando Haddad - Ministro da Educação

- José Sarney - Senador

- Erickson Gavazza - Desembargador

- Cristovam Buarque - Senador

- Carlos Ayres Britto - Ministro do STF

- Ruth Guimarães - Escritora

- Joaquim Barbosa - Ministro do STF

- Benedito Gonçalves - Ministro do STJ

- Edson Santos - Ministro da Seppir

- Netinho de Paula – Vereador de SP

- Clifford Sobel - Embaixador dos Eua

- Fabio Barbosa - Presidente do Banco Santander no Brasil

- Edgar Martolio - editor da Revista Caras

- Milton Gonçalves - ator

- Zezé Motta - atriz

- Fabrício Boliveira - ator

- Daiane dos Santos - atleta

- Maurren Higa Maggi - atleta

- Nélio Alfano Moura - preparador físico da Maurren

- Jamelão Neto - neto de Jamelão



Primeira lista dos artistas confirmados:



- Altair Veloso

- Antônio Pitanga

- Bukassa

- Chica Xavier

- Cristina Souza

- Da Gama

- Diogo Silva

- Edson Montenegro

- Isabel Fillardis

- Jairzinho

- Lena Roque

- Luciano Quirino

- Maria Ceiça

- Mário Nelson

- Neguinho da Beija-Flor

- Neilda Fabiano

- Nilcemar Cartola

- Paulo Betti

- Profº. Márcio Tadeu

- Rocco Pitanga

- Sérgio Loroza

- Sheron Menezes

- Sônia Fillardis

- Vera Menezes

- Vicky Luz "Soul Rapaziada"

- Zezé Motta



Evento: Troféu Raça Negra 2008

Dia: 16 de novembro (domingo)

Horário: 19h30

Local: Sala São Paulo (Estação Júlio Prestes)



Assessoria de Imprensa – Troféu Raça Negra 2008



Júlia Ramos – (11) 3392-6005 – ramal 241 / 8307-9082

julia@afrobras.org.br



Website: www.trofeuracanegra.com.br / www.afrobras.org.br

5.11.08

Um dos mais ilustres e competentes servidores do velho INAMPS morre em Macaé: Wilson Valença foi exemplo de dignidade...


A notícia da morte de Wilson valança poe fim a uma vida de lutas e de grandes gestos para com o semelhante. Trabalhei ao seu lado no antigo INAMPS que virou SUS. Tinha uma maneira diferente da minha. Enquanto eu, me indignava com os desmandos de desvio de condutas de Médicos e de Chefias, indo às vias de fato e denunciava no "O REBATE" estes safados, ele, Wilson se conformava. Achava que tudo isso não iria mudar com minhas lutas e que "fazia parte do ser humano estes desvios". Cumpria a sua parte em seus plantões. Atendia a todos, dentro de um impecável e belo uniforme branco que punha a mostra sua beleza de homem bom e puro.
Wilson nunca chegou atrasado no INAMPS eu eu nunca cheguei no horário. Fazia de seu plantão de 24 horas uma missão de Funcionário Público Federal exemplar. Também não tinha dom de bajular chefias. Era esse, agora posso ver claramente com sua morte, sua marca registrada de homem sério e humano. Personalidade forte diante dos poderosos mais uma criança dócil no trato com os pobres e sofridos que a gente atendia no INAMPS. Wilson era sempre convocado para os mais graves atendimentos.
Enfermeiro, telefonista, grande amigo e um dos mais alegres papos nas madrugados no SAMDUjamais fez inimigos. Irmão mais novo de meu amigo Elias Valença e tio de Filipe que casou-se com minha linda filha Lais, Wilson era um dos mais antigos moradores do Porto do Limão.
Muitos como eu irão sentir, mais guardar nas paredes da memória, sua elegante e linda caminhava da casa onde viveu e morreu na rua José Ribeiro, até o Samdu e Inamps,cumprimentando a todos, dirante 30 anos.
Sempre estive sabendo da dor corpórea, vítima de uma grava doença. Antes, ele mesmo Wilson, me mostrava orgulhoso e viril, uma grande cirurgia que tinha sofrido no valente coração.
Hoje recebi um email de Lais que me comunicava sua morte. A natureza se uniu as tristezas de todos os moradores da Rua da Boa Vista e de uma grande parcela de pessoas da Região de Petróleo que tiveram o privilégio de conhece-lo e admirar sua retidez na vida terrena: choveu em toda a cidade...
O REBATE envia a todos os familiares, em especial ao meu amigo Baeca que me deu noticias de sua saude num encontro no BB, os sentimentos pela perda deste bondoso amigo e fiel companheiro.
Em nome de toda comunidade de funcionários do Ministério da Saude meus sinceros pesames. José Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornalorebate.com

4.11.08

O DEVER DE CASA DO QUINTANA...

A VERDADE NA SIMPLICIDADE: GAÚCHO BOM É ISSO!


Mário Quintana

"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.

2.11.08

O NOME DE O REBATE ESTÁ NA IMPRENSA MUNDIAL DESDE 1800. Uma verdade que rompe gerações..

I. SEMPRE LIGADO AS GRANDES TRANSFORMAÇÕES DE NOSSA SOCIEDADE, O REBATE ESTEVE PRESENTE EM PORTUGAL E SUA HISTÓRIA SE MISTURA A HISTÓRIA DOS GRANDES ESCRITORES DA PATRIA MÃE. O ANO DE 1875 SURGE “O Rebate” onde Teófilo Braga. Teixeira Bastos, Alves Correia e outros cimentaram, com suas penas e idéias,o nosso jornal.

Em 1888 O Rebate chega ao Brasil e cria a Bandeira de São Paulo. Em 1917, época da transformação social na Rússia o O Rebate ese instala no Rio Grande do Sul. No ano de 1932 ele, finalmente chega a cidadezinha de Macaé, norte do Estado do Rio de Janeiro. Passando por várias transformações, no ano de 1967 ele passa a ser editado pela Empresa JML Gama Jornais e Revistas e sob a direção do jornalista e escritor José Milbs de Lacerda Gama que, pensando sempre à frente de seu tempo, o transforma num dos mais lidos e livres jornais virtuais. Com 2 milhões de acessos em seu web site www.jornalorebate.com e com colunistas e blogs em quase todos os Estados do Brasil e alguns no exterior, o cronista Jose Milbs fez de O Rebate o porto seguro das aspirações dos textos livres e abertos.

"A história da Maçonaria enquanto Fraternidade Iniciática e Simbólica está ligada à expansão das ideias matrizes do Iluminismo, da procura da Razão e do aperfeiçoamento humano e da sociedade, que adquirem relevância na Europa do Século XVIII, em reacção às ideias que preponderaram, em séculos anteriores, da unidade natural dos dois poderes, o espiritual, próprio da Igreja e o temporal, encarnado na pessoa do suserano e da natural subordinação de todos os homens, enquanto povo cristão, ao domínio dual formado por aqueles dois, por divina predestinação.

Ideias que se difundiram através das letras e da vulgarização da experiência da leitura mas também da criação em toda a Europa de novas instituições e organizações onde poderiam ser aprofundadas e discutidas novas ideias. Algumas dessas instituições como as lojas maçónicas, as academias e as sociedades eruditas representavam interesses formais, sendo a admissão cuidadosamente controlada. Outras tais como as conferências públicas, cafés, bibliotecas por empréstimo, exposições de arte, representações operárias e teatrais eram operações mais ou menos comerciais, a que tinham acesso quem pudesse pagar, possibilitando assim o acesso de todos os extractos sociais às mesmas ideias.

Marco primeiro da instituição da Fraternidade dos Franco-maçons ou dos Pedreiros Livres foi a constituição, no início do Século XVIII, em Londres, de quatro Lojas maçónicas formadas por maçons aceites, qualificativo que os distinguiam das confrarias ou associações de construtores – masons - que retinham os segredos da construção e talhe das grandiosas catedrais que, com o decurso do tempo, passaram a ser conhecidos como a maçonaria operativa. As lutas fratricidas que marcaram a história da Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII conduziram os espíritos mais abertos e inquietos, descrentes nos partidos que se digladiavam no palco político, a procurar nos círculos maçónicos e no exercício especulativo da ritualística a procura «simbólica» de um objectivo de perfectibilidade que anda, desde sempre associada à dimensão do Homem e que marca, como se sabe, um dos traços prevalecentes do enlightenment. Em Fevereiro de 1717, as quatro Lojas inglesas sentiram a necessidade de se reunirem, decidindo associar-se numa Grande Loja, presidida pelo Mestre mais antigo, na sequência do que, a 24 de Julho – Solstício de Verão e Festa de S. João – foi eleito Grão-mestre, Anthony Sayer. Ficou então estabelecido que os privilégios e obrigações da maçonaria seriam não exclusivos dos mestres construtores – como nas tradições da maçonaria operativa - mas comuns a todos os homens que fossem regularmente admitidos na maçonaria. Homens livres e de bons costumes que viessem a exercer, nas suas lojas, os antigos mesteres e tradições dos construtores dos templos, reconhecendo-se por sinais, toques e palavras e cultivando a interpretação do simbólico e através dela, porfiando na procura da verdade oculta. Em 1723, a Grande Loja publicou os Estatutos de Anderson, que representam, desde então, a constituição mater da Franco-Maçonaria universal.

De Londres, a Maçonaria espalhou-se por toda a Inglaterra e daí para a França, Países Baixos, Rússia, Suécia, Dinamarca, Espanha, Itália, Suiça, Turquia e França. A Portugal terá chegado entre 1735 e 1743, não havendo documentos concretos que comprovem o ano exacto da sua instalação. Oliveira Marques, conhecido historiador português, dá conta que talvez em 1727 tenha sido fundado, por comerciantes britânicos que viviam em Lisboa, uma loja que foi registada nos arquivos da Inquisição como a «Loja dos Hereges Mercantes», sugerindo a condição dos seus membros como protestantes. Esta loja viria a regularizar-se em 1735, pedindo a sua admissão à Grande Loja de Londres, onde obteria o número 135 e, posteriormente, o 120. Uma segunda loja terá sido fundada, em 1733, por iniciativa de George Gordon, enviado pela maçonaria inglesa para a multiplicação de lojas no estrangeiro, que funcionassem como elementos de propaganda maçónica e de influência do seu país. A loja adoptaria o nome de «Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia» sendo constituída, predominantemente, por irlandeses, entre mercadores e mercenários do exército português, mas também por marítimos, médicos, um frade dominicano e um estalajadeiro. Em 1738, ao ser promulgada a bula condenatória de Clemente XII (In Eminenti Apostolatur Speculate), a loja viria a dissolver-se, mas alguns dos maçons transitariam para a primeira loja. Uma terceira loja haveria de ser fundada em Lisboa, em 1741, pelo lapidário de diamantes John Coustos, nascido na Suiça, mas depois naturalizado inglês. Durante os dois anos em que a loja funcionou, veria o seu quadro constituído por uma trintena de estrangeiros residentes em Portugal, alguns dos quais franceses, mas também, ingleses, um belga, um holandês e um italiano, sendo de crer que terá iniciado também portugueses letrados e gente da alta sociedade lisboeta, simpatizantes das ideias aufklȁrung professadas pelos gentis-homens, um pouco por toda a Europa.

John CoustosJohn Coustos viria, assim, a desempenhar um papel central na constituição dos primórdios da maçonaria portuguesa, sendo alvo desde cedo do interesse do Santo Ofício. O interesse terá resultado de indicações da Imperatriz austríaca e católica Maria Teresa, obstinada na perseguição e ilegalização das associações de franco-maçons austríacas e das suas ramificações, consideradas como centros de influência protestante inglesa. Influência que era contrária aos interesses das famílias dinásticas europeias, de orientação católica. Coustos seria preso em 14 de Março de 1743 conjuntamente com outros maçons da sua loja e o seu processo no Santo Ofício, como dos Irmãos Mouton, Bruslé, Richard e Boulanger revela-se de grande interesse documental.

Coustos não era um Maçom qualquer. Nascido em Berna em 1703 de uma família protestante vivera como emigrante em França e depois na Inglaterra, onde casou com uma inglesa. Tendo sido iniciado em 1730, numa loja londrina, viveria os cinco anos seguintes em Paris, tornando-se Venerável Mestre de uma das lojas e presidindo à iniciação do Duque de Villeroy. Decidido a emigrar para o Brasil demandou Portugal a fim de partir para ali, via Lisboa. Tendo gostado de Lisboa, instalou-se aqui como lapidário de diamantes, tendo contactado uma das lojas localizadas em Lisboa.

Segundo relatos contraditórios, a actividade florescente do lapidário terá despertado a inveja de Madame Leruitte, mulher de um ourives do mesmo distrito, a qual o denunciou, em Outubro de 1742, ao Santo Ofício, como franco-maçon e organizador de reuniões maçónicas. A Inquisição avançaria sobre ele e outros membros da loja em Março de 1743, depois do governo real promulgar um decreto ilegalizando a maçonaria e punindo a adesão à organização com a pena de morte. Interrogado, durante um longo período, acerca dos ritos e procedimentos da loja, Coustos seria posteriormente submetido a torturas várias. São contraditórios os relatos se terá revelado ou não segredos rituais e nomes de outros maçons, já que Coustos terá invocado nunca ter quebrado o juramento maçónico como Hiram Abif o não fizera. Submetido a julgamento, em 21 de Junho de 1744, na igreja do Convento de S. Domingos, seria acusado de protestante e herético, de ter ofendido os católicos portugueses ao constituir uma loja maçónica em que era proclamada a heresia de que professavam a melhor religião, porquanto fundada na tolerância religiosa. Interpelado a fazer uma abjuração pública, não seria sentenciado à morte, mas condenado a cinco anos de trabalhos forçados nas galés. Ao mesmo tempo, assinaria uma declaração comprometendo-se a não revelar nada do que lhe havia acontecido, enquanto sob prisão da Inquisição.

Conjuntamente com Coustos, seriam julgados em auto de fé 22 homens e 11 mulheres, tendo a ele assistido, segundo relata Borges Grainha, el-rei D. João V, os seus filhos e toda a corte, o Núncio Apostólico e vários embaixadores sedeados junto à Corte.

Dado o previsível leque de conhecimentos e laços de Coustos com a elite da aristocracia europeia, o embaixador britânico, Lord Charles Compton, seria chamado a interferir em seu benefício, por ordem directa do Rei inglês Jorge II, tendo transmitido ao Rei de Portugal o desejo de Sua Majestade, o rei de Inglaterra, de ver libertado Coustos, cidadão inglês. Lord Compton avistar-se-ia com o Cardeal da Mota, valido do Rei e com o Inquisidor-Mor Cardeal Nuno da Cunha. Coustos seria efectivamente libertado em Outubro de 1744, embarcando de imediato no navio O Diamante em direcção a Inglaterra. Ali quebraria o compromisso de silêncio que havia feito ao Santo Ofício, publicando, em 1746, um livro – The unparalleled sufferings of John Coustos – em que denunciaria, com ilustrações várias, as sevícias que havia sido alvo aquando da prisão. O livro teria um grande impacto em Inglaterra, fazendo aumentar a aversão dos britânicos à Inquisição e aos métodos usados pelos monarcas católicos e paralelamente a simpatia dos ingleses para com a maçonaria.

A perseguição iniciada em 1743 com a prisão e tortura de vários outros membros da sua loja conduziria ao desmantelamento desta primeira tentativa de instalação maçónica em Portugal. A própria loja dos «Hereges Mercadores» entraria em fraca actividade, abatendo colunas em 1755.

Em 1751, o Papa Benedito XIV lançaria uma nova bula contra os maçons, Providas Romanorum, reiterando a bula de 1738 do seu predecessor Clemente XII, a pedido, segundo vários relatos, dos reis de Espanha e de Nápoles. A bula seria seguida de decretos reais dos dois monarcas suprimindo a maçonaria nos respectivos países, o que favorecia as condições para incitar o Santo Ofício à vigilância e à perseguição.

A maçonaria portuguesa só se libertaria desta pressão na década de 1760-70, no governo do Marquês de Pombal. Refere Borges Grainha que durante o seu governo os maçons não voltaram a ser perseguidos, nada se encontrando sobre eles nas listas condenatórias da Inquisição nem em relatórios da intendência da polícia. Segundo relatos da época transcritos por Oliveira Marques o novo Ministro nunca permitiu que4 a Inquisição perseguisse os franco-maçons, defendendo assim os direitos do seu Amo contra a usurpação dos eclesiásticos. A maçonaria terá, assim, retomado força e vigor, desenvolvendo-se sobretudo no exército, na aristocracia e nas classes instruídas. É provável que Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês, antes de ser ministro de D. José, tenha tido ocasião enquanto embaixador em Londres de frequentar meios e círculos aristocráticos favoráveis à maçonaria, mas não existe prova documental que tenha ali sido iniciado em Inglaterra na arte real. O recrutamento pelo Marquês de vários cidadãos estrangeiros, designadamente de países protestantes, para o exército, a indústria e outras actividades económicas terá, na verdade, propiciado condições para a expansão das lojas. É possível, também, que membros das classes abastadas aproveitassem a permanência durante algum tempo no estrangeiro para serem iniciados. Tal é o caso dos diplomatas António de Araújo de Azevedo (Conde da Barca), João Paulo Bezerro de Seixas, Alexandre de Gusmão, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Martinho de Melo e Castro e Alexandre de Sousa Holstein. Em 1762, chega a Lisboa o Conde Schaumburg de Lippe, Friedrich Wilhelm Ernst, alemão, convidado para comandar e reorganizar o exército português, dada a sua experiência no exército britânico. O Conde de Lippe era príncipe de um pequeno Estado alemão, referindo expressamente a sua biografia (escrita anos mais tarde por Keller) que se trataria de um maçom iniciado na Alemanha. Em 1763, haveria em Lisboa pelo menos uma loja de raiz inglesa, trabalhando sem autorização de qualquer Grande Loja, existindo duas oficinas, uma de obediência francesa e uma outra constituída por militares e civis. Haveria uma Loja em Elvas, chefiada pelo Barão Von Rieppe e outra em Valença. Em 1768, seria fundada no Funchal por iniciativa de Barthélemy Andrieu du Boulay uma loja constituída por franceses, ingleses e por portugueses pertencentes à nobreza e alta burguesia local como Ornelas Frazão, Luís Herédia, Joaquim António Pedrosa.

A pujança do desenvolvimento da maçonaria durante o governo do Marquês de Pombal coincide com a expulsão da Ordem de Jesus de Portugal, a quem estava entregue o aparelho educativo resultando na confiscação de vários bens do riquíssimo património da Ordem. Tal facto seria mais tarde usado pelas autoridades eclesiásticas portuguesas contra a maçonaria, pretextando a sua influência na perseguição dos jesuítas.

Morto El-Rei D. José, em 24 de Fevereiro de 1777, sucede-lhe no trono D. Maria I e com ela regressa a intolerância religiosa e política contra os franco-maçons. O Marquês de Pombal é deposto e exilado e vultos maiores do pensamento intelectual português, como Filinto Elísio, Ribeiro Sanches, Avelar Brotero, são forçados a fugir do país. Outras figuras importantes, como José Anastácio da Cunha, João Manuel d’Abreu e Manuel do Espírito Santo Limpo, segundo refere Latino Coelho são presos pelo Santo Ofício, que recebera um alento com a expulsão do Marquês de Pombal para novas perseguições e actos de repressão, e condenados em auto de fé. A acção persecutória contra a maçonaria tem no Intendente Pina Manique um instrumento privilegiado. Pina Marque era profundamente anti-iluminista e opositor às ideias da Revolução Francesa que considerava uma ameaça para a Coroa e para as monarquias católicas e defendia o ponto de vista que se podia impedir que estas ideias grassassem em Portugal, se fossem presos ou expulsos os franco-maçons e se fosse proibida a circulação de livros e jornais estrangeiros. Nos 25 anos que esteve à frente da Intendência da Polícia, Pina Manique desenvolveu uma perseguição sistemática contra as lojas maçónicas existentes em Lisboa, Coimbra, Valença, Funchal, Porto, de que faziam parte, segundo os próprios relatos da polícia, comerciantes, militares, padres, e outras profissões, levando à prisão de inúmeros figuras de prestígio como o lente José Anastácio da Cunha ou Manuel do Espírito Santo Limpo. O período mais grave terá sido entre 1791-2, em que tiveram lugar várias prisões entre as quais as do secretário de estado da Marinha e do Ultramar Martinho de Melo e Castro, o segundo marquês de Pombal e o Juiz da Índia e Mina, D. José de Noronha. e o abatimento de colunas de várias lojas.

Com o desembarque de um corpo expedicionário inglês, em Junho de 1797, para apoio na guerra contra a França, a actividade maçónica renasce através da constituição de quatro lojas inglesas em Lisboa, três das quais estavam ligadas a regimentos e uma quarta reunia elementos civis e militares, tanto portugueses como ingleses. As lojas, refere Oliveira Marques, encontravam-se filiadas na Grande Loja inglesa, com os números 94, 112, 179 e 315. Esta última teria um interesse histórico pois aquando da autonomização da maçonaria portuguesa seria a loja nº1, como o nome «União». É provável que funcionassem já nesta altura lojas irregulares, em vários pontos do país devido a esforços conjugados de maçons alemães, ingleses e outros. Depois da chegada de exilados franceses terá aumentado seguramente a influencia das ideias francesas junto da maçonaria portuguesa, predispondo a reorientação da maçonaria unificada para a orientação agnóstica, moderna e anti-tradicionalista do Grande Oriente de França.

O segundo período de perseguição à maçonaria industriaria os maçons portugueses a serem argutos no desenvolvimento das suas actividades, mudando frequentemente o local das sessões, disfarçando a sua natureza secreta e aproveitando, mesmo os barcos colocados no estuário do Tejo para reuniões dessa natureza. Borges Grainha faz referência a uma reunião em 1797 a bordo da fragata Fénix reunindo maçons ingleses, franceses e portugueses, que levaria à constituição da loja Regeneração, de que foram Veneráveis Mestres o literato francês Pope, o major André Inácio Reixa da Costa e José Maria d’Aguilar Córdova. Desta loja adviriam mais tarde cinco lojas, entre as quais a Fortaleza, a que pertenceria José Liberato Freire de Carvalho.

Gen.De AndradeAté 1804, foram criadas outras lojas que conseguiram agregar para além de mercenários do exército, comerciantes, industriais e figuras do próprio clero e notáveis da intelectualidade portuguesa como Ribeiro Sanches, Avelar Brotero, o abade Correia da Serra, Filinto Elísio, Domingos Vandelli e vários outros. O crescimento da maçonaria em Portugal no início do Século XIX justificou que se evoluísse da Comissão de Expediente, que geria a fraternidade para uma organização do tipo britânica ou francesa. Em 1801, realiza-se no Calvário, no palácio de Gomes Freire de Andrade, então ausente no estrangeiro, uma reunião maçónica que terá juntado cerca de 200 maçons. Tomou a presidência o Padre José Joaquim Monteiro de Carvalho Oliveira, Cavaleiro Escocês, do 10º grau na ordem dos doze em que se compunha então a maçonaria, e Venerável da Loja Concórdia, tendo-se gerado consenso sobre a necessidade de ser criada uma Grande Loja ou um Grande Oriente. Uma comissão constituída por Hipólito Furtado de Mendonça, José Monteiro de Carvalho e Oliveira e José Ferrão de Mendonça e Soares avistar-se-ia com o secretário da Fazenda, Rodrigo Sousa Coutinho obtendo a promessa que a maçonaria não seria perseguida. Para o efeito deslocou-se a Londres, em 1802, Hipólito José da Costa, que negociou e obteve o reconhecimento da maçonaria portuguesa a fim de se constituir em Grande Oriente Lusitano.

Os textos britânicos que mencionam este episódio referem a existência em Maio de 1802 de quatro lojas já estruturadas em Grande Loja. A Grande Loja de Inglaterra (Antiants) aprovaria a petição portuguesa assinando-se um tratado segundo o qual as lojas portuguesas se conformavam às antigas Constituições da Ordem estando autorizados a terem um representante na Loja-Mãe de Inglaterra e esta um representante na Loja Mãe de Portugal, tendo os Irmãos de cada uma iguais privilégios na outra. O tratado terá sido assinado em 9 ou 12 de Maio de 1802. Idêntica iniciativa terá sido desenvolvida junto do Grande Oriente de França.

Tendo sido preso e confiscados os documentos que trazia, no regresso a Portugal, teve lugar no Verão de 1804, uma dieta ou assembleia formal, que decretou a constituição do Grande Oriente Lusitano e elegeu como seu primeiro Grão-Mestre, o desembargador Sebastião José de São Paio de Melo e Castro Lusignan, neto do Marquês de Pombal, com o nome simbólico de Egas Moniz. Incorporavam o Grande Oriente, o Frade Liberato Freire de Carvalho, como Grande Orador, o General Gomes Freire de Andrade, e Rodrigo Pinto Guedes, ajudante d’Ordens do Marquês de Niza.

constituz1822portugalDois anos mais tarde, em Julho de 1806, seria votada a primeira Constituição maçónica portuguesa, constituída por 199 artigos, agrupados em catorze capítulos. A Constituição de 1806 estruturando um sistema legislativo com duas câmaras, uma Câmara dos Veneráveis e outra dos Representantes que na prática absorvia tanto o poder executivo quanto o jurisdicional seria votada por representantes de oito lojas portuguesas: União nº 1, Regeneração nº 2, Virtude nº 3, Amizade nº 5, Concórdia nº 6, Fidelidade, Amor da República e Beneficência. O sistema bicamarário introduzido pela 1ª Constituição Maçónica viria a ser aceite por quase todos os textos constitucionais portugueses – a Carta Constitucional de 1826, as Constituições de 1838, 1911 e 1933. A Constituição Portuguesa de 1976 regressaria ao sistema unicamarário de 1822. A Constituição Maçónica de 1806 adopta o Rito Francês como rito oficial e exclusivo do Grande Oriente Lusitano. O Rito Simbólico Regular parece também ter sido utilizado numa loja de exilados existente em Inglaterra, durante o reinado de D. Miguel. O Rito escocês Antigo e Aceite terá sido introduzido em Portugal em 1837 no sistema de três graus. Terá se devido à Grande Loja de Dublin (Irlanda) a instituição deste Rito que funcionava na Loja de Regeneração nº 1. Na sua formulação em 33 graus o Rito Escocês seria introduzido três anos mais tarde por iniciativa de Silva carvalho e da Loja Fortaleza .

Em resumo, os primeiros setenta anos da maçonaria portuguesa são marcados, em primeiro lugar, por uma dependência particular à Grande Loja de Inglaterra, responsável pelo funcionamento das lojas situadas em Portugal como um distrito dependente da Grande Loja, facto que se pode explicar quer pelo reduzido número de Mestres portugueses, quer por razões de legitimidade na transmissão da regularidade maçónica. Grande parte destes anos foi marcada pela perseguição mais ou menos aberta das actividades maçónicas, consideradas contrárias aos interesses da Igreja e do Papado e das dinastias por direito divino europeias, não obstante a participação, desde sempre, de prelados católicos nas actividades rituais. O patrocínio que a maçonaria encontraria no governo do Marquês de Pombal seria mais tarde usado contra a maçonaria, acusada de participar em actividades anti-católicas, fundando ainda a alegação do envolvimento da organização maçónica na constituição da Carbonária e na conspiração que conduziu ao derrube da monarquia e à instituição da Republica em 5 de Outubro de 1910.

II.

A luta entre a Igreja Católica, os Monarcas Católicos e a Revolução Francesa e os seus partidários culminou no levantamento dos camponeses católicos em Vendée, no oeste da França, entre 1791 e 1793 e numa selvagem luta de extermínio entre os habitantes de Vendée e os Jacobinos. Em 1794, a Igreja Católica e os Franco-maçons, foram proscritos em França mas a sua situação melhorou quando Napoleão Bonaparte se instituiu Primeiro Cônsul do Directório, pelo golpe de estado do 18 de Brumário, em Novembro de 1799.

Napoleão queria restabelecer as relações de normalidade com o Papa e a Igreja Católica depois dos desmandos de Robespierre, atendendo ao papel que elas desempenhavam junto do povo francês, como ficou claro no levantamento de Vendée. A religião católica tinha uma função ordenadora na sociedade francesa que era preciso recuperar, mas Napoleão não queria que a Igreja se tornasse (outra vez) demasiado poderosa e constituísse uma ameaça à sua posição. Para isso, tolerou os Franco-maçons, encorajando a sua expansão na sociedade francesa e a adesão à Ordem de familiares, seus comandantes militares ou conselheiros políticos. Será menos verosímil que ele próprio fosse franco-maçom tendo sido iniciado, segundo a lenda, numa loja militar em Malta em 1798, quando o território se encontrava sob ocupação francesa. Napoleão nomeou o advogado Jean Jacques Régis de Cambacérès, como 2º Cônsul, um fervoroso maçom. Jasper Ripley refere aliás que Cambacérès terá aconselhado Napoleão a transformar a maçonaria numa organização de apoiantes leais, contrariando indicações da polícia que considerava esta organização secreta um ninho de velhos jacobinos ou lealistas, adversários do governo de Napoleão. Certo é que quatro dos irmãos de Napoleão foram maçons: José que seria rei de Nápoles, Luís, rei da Holanda, Lucien, príncipe do Canino e Jerome, rei de Vestefália. Também Joaquim Murat, cunhado de Napoleão e depois rei de Nápoles e Eugène de Beauharnais, filho de Josefina, eram maçons.

Portugal ficou no caminho de Napoleão em razão da rivalidade e do conflito com a Inglaterra. Napoleão pretendia diminuir ou conter o poder britânico nos países vizinhos, fechando os principais portos europeus aos barcos ingleses. Como velho aliado de Inglaterra, Portugal recusou-se, primeiramente, a aceder à vontade de Bonaparte, mas sob pressão entrou em negociações diplomáticas com o Directório. Napoleão mandou avançar sobre Portugal alguns destacamentos do exército francês, comandados pelo General Junot, que viria a entrar em Lisboa, em 30 de Novembro de 1807. A Coroa portuguesa, constituída pela regente, D. Maria I, seu filho e demais Corte havia embarcado na véspera para o Brasil, deixando o poder entregue a uma Comissão de Regência constituído por sete membros.

Junot foi tratado pelas autoridades portuguesas com deferência. Uma delegação maçónica composta por Luís de Sampaio Melo e Castro, irmão do Grão-Mestre, Diogo José Victor de Abreu, almoxarife da Azambuja, e Francisco Velloso, desembargador do Paço, foram cumprimentá-lo no seu Quartel-General, tendo Junot recebido o grupo com agrado e estima, pensando usar os maçons em seu benefício. Conseguindo que fosse proposto numa Loja a colocação do retrato do Imperador Napoleão, em vez do Príncipe Regente que estava no Brasil, Junot concitou a indignação de muitos maçons. A situação agravar-se-ia quando através de um maçom português viria a sugerir, dada a «sua elevada posição», a sua nomeação para Grão-Mestre. Tal proposta foi derrotada, por unanimidade, em Conselho do Grande Oriente, indispondo contra ele os maçons portugueses, vinculados em juramento solene, à lealdade ao governo legítimo, exilado no Brasil. No conhecimento deste incidente manifestou-se em várias lojas aceso fervor patriótico contra os invasores, o que levou Junot a dar ordens severas ao Intendente da polícia, para perseguir os maçons.

Junot foi empurrado para a fronteira pelo exército luso-britânico, que se havia reorganizado contra a ocupação francesa, mas em 1809 um novo corpo de tropas, sob comando do General Soult, entrou em Portugal. Em 1809 um desfile público dos maçons das forças armadas inglesas com bandeiras e emblemas despertou de novo a atenção da inquisição. Entre 1809-1810 desencadeia-se a terceira vaga de perseguições, sendo a mais significativa a que tem lugar em Setembro de 1810, conduzindo à prisão de 30 maçons, por ordem dos Regentes do trono. Maçons, primeiro metidos na Torre de Belém e depois, sem qualquer processo ou julgamento, deportados para os Açores. A acusação falsa que conduzira às prisões, era que os franco-maçons eram simpatizantes das ideias francesas e como tal haviam favorecido a entrada do exército de Massena, em Portugal. O Duque de Sussex, filho de Jorge III, que havia sido mandado a Lisboa em 1802, para ajudar na rebelião contra a ocupação francesa, intercederia na libertação de muitos deles, tendo envolvido nessa diligência a própria Grande Loja de Inglaterra.

A Inglaterra não só não aceitara a arbitrariedade das detenções assentes em alegações não provadas, como pressionara por todos os meios o Governo português. Em fins de Dezembro os maçons ingleses organizaram um desfile maçónico em apoio aos irmãos portugueses.

Expulsos os ocupantes franceses de Portugal, ficou a dirigir o exército português o Marechal Beresford, que tolerou a actividade maçónica, tendo as lojas se multiplicado e, com elas, a adesão de novos irmãos. Em 1812, haveria em Lisboa 13 lojas, sendo as lojas mais activas as lojas Regeneração e Virtude. Nesta última, segundo relata Borges Grainha foi iniciado José de Andrade Corvo de Camões, capitão de infantaria, que seria responsável pelo recrutamento de grande número de obreiros. Em Santarém surgiu a Loja Filantropia constituída por militares de Infantaria e Cavalaria aquartelados na cidade e em Torres Novas. Também duas lojas seriam instaladas em Coimbra e no Porto e Mouzinho da Silveira, então Juiz de Fora, em Setúbal, terá isntalado uma ou duas oficinas entre 1813 e 1816.

No Brasil tinha lugar ao tempo grande actividade maçónica. Em 1813 fora instalado um Grande Oriente Brasileiro restrito a quatro lojas, três na Baía (Virtude e Razão, União e Razão Restaurada) e uma no Rio (Beneficência). Como primeiro Grão-Mestre foi eleito José Bonifácio de Andrade e Silva, o grande patriarca da independência brasileira. A criação da Grande Loja brasileira configura a independência do Grande Oriente Lusitano exigido durante muito tempo pelos maçons brasileiros. Segundo Oliveira Marques o GOL não terá desistido de manter, sob tutela, lojas no Brasil, conservando duas lojas no Rio de Janeiro (Lojas Emancipação e Comércio e Artes). O príncipe D. Pedro, filho de D. João VI, fez-se iniciar na Loja Comércio e Artes em 2 de Agosto de 1822, adoptando nome simbólico de Guatimozin, nome do último imperador azteca do México, torturado e morto pelos conquistadores espanhóis. Com esse gesto, D. Pedro assumia, simbolicamente, a qualidade e sofrimento dos brasileiros, oprimidos pelos portugueses. Três dias depois seria elevado a Mestre.

Regressado a Portugal com grande número de companheiros participantes na Setembriada, o General Gomes de Andrade encontraria o terreno preparado a uma grande hostilidade contra o partido anglófono no poder. Em 1816 é eleito Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa e torna-se a «alma» de uma conspiração liberal contra o Marechal Beresford para a tomada de Lisboa, oficial que administrava Portugal sob mão de ferro, como se tratasse uma colónia inglesa, despertando grande descontentamento junto dos oficiais e intelectuais portugueses. A 25 de Maio de 1817, em estado avançado dos preparativos da insurreição contra Beresford, Gomes Freire é preso por denúncia de três maçons, José Andrade Corvo de Camões, Morais de Sarmento e João de Sequeira Ferreira Soares conjuntamente com outros 11 conspiradores. Gomes Freire de Andrade é enforcado por ordem do Marechal Beresford no cadafalso na Torre de S. Julião da Barra e os demais no Campo de Santana.

Narra Borges Grainha que um dia antes da execução um coronel inglês, Robert Haddock, visitou o Grão-Mestre na cadeia e ofereceu-lhe como irmão a oportunidade para a fuga. Gomes recusou a oportunidade. Em 1853 foi erguido um monumento no sítio onde morreu sendo desde então homenageado como um dos heróis da luta pela instituição da monarquia constitucional em Portugal e um dos mártires mais eminentes da Maçonaria portuguesa. Tem o seu nome uma das Ordens mais importantes da Maçonaria Regular Portuguesa.

A repressão de 1817 foi seguida em 1818 de um alvará de D. João VI, do Brasil, com força de lei que em complemento da bula de Clemente XII, declarava «criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas, incorrendo os seus membros no crime de lesa-majestade, com as severas penalidades consequentes» que podiam ir até à pena de morte e ao confisco de bens. A maçonaria portuguesa entrou nesse período na mais absoluta clandestinidade, tendo a maior parte das lojas suspenso a sua ctividade, sendo criada, uma única loja Segurança Regeneradora «com o intuito de se fazer dela centro comum de toda a maçonaria lusitana». Não obstante a apertada repressão surgem neste período a loja Sapiência em Coimbra, a Loja Liberdade em Elvas constituída por militares do aquartelamento, Levantou colunas em Março de 1820 a loja Regeneração.

A maçonaria esteve, através dos seus mais insignes dignitários e oficiais, envolvida nas lutas liberais do século XIX. O entusiasmo pela ideia da liberdade que maçons e liberais propugnavam, contribuiu para a instalação de um espírito de conspiração contra a orientação absolutista da monarquia portuguesa e à criação, em fins de 1817, no Porto, de um grupo de conspiradores de que faziam parte Manuel Fernandes Tomás, Desembargador da Relação do Porto, José Ferreira Borges, advogado, José da Silva Carvalho, advogado, João Ferreira Viana, Duarte Lessa, José Maria Lopes Carneiro, José Gonçalves dos Santos, João da Cunha Souto Maior, e vários outros. Este grupo liberal ficaria conhecido como o Sinédrio e embora não fosse uma organização maçónica vários dos seus membros eram maçons. Cunha Sotto Maior e Silva Carvalho seriam mais tarde Grão Mestres da Maçonaria (1821 e 1823). A revolução liberal rebentou triunfante no Porto, em 24 de Agosto de 1820, formando-se a Junta Provisória do Governo Supremo do Reino com o mandato de governar o país na ausência do Rei no Brasil, convocar as Cortes para aprovar uma nova Constituição liberal. O movimento de rebelião alastrou ao país e em 15 de Setembro triunfou em Lisboa, levando à tomada do poder pelos liberais e com ela alargou-se a influência maçónica.

D. João VI foi obrigado a voltar do Brasil, chegando a Lisboa a 24 de Junho de 1821 e tendo jurado a nova Constituição, foi esta assinada e decretada a 23 de Setembro de 1822. Em 1821 havia sido eleito Grão-mestre João da Cunha Souto Maior, um dos membros do Sinédrio, e o Grande Loja composta por Agostinho José Freire, revoltoso de 1820, Abade José Correia da Serra, Francisco António da Silva, Cónego João Maria Soares Castelo Branco e vários outros. Relata Borges Grainha que os principais membros do Sinédrio eram então Veneráveis das Lojas Patriotismo, 24 de Agosto e 1 de Outubro. A Dieta maçónica que procedera à eleição do Grão-mestre e dos oficiais da Grande Loja aproveitaria para modificar e ampliar a Constituição de 1806.

Minado pela quezília parlamentar e pela luta de fracções o regime constitucional instalado pela Revolução de 1820 não resistiria por muito tempo ao embate dos partidários do absolutismo, dirigidos pelo Infante D. Miguel e pela Rainha Carlota Joaquina. Em menos de três anos o regime constitucional derrocaria, regressando ao absolutismo monárquico retomando D. João VI em 5 de Junho de 1823, depois de vários levantamentos miguelistas, os seus «direitos indisponíveis».

Depois da contra-revolução de 1823 apareceu logo a seguir um édito do D. João VI, em 20 de Junho, que condenava a actividade maçónica - de Pedreiros Livres, Carbonários e Comuneros - com o degredo de cinco anos em Africa e numa multa pecuniária de mais de cem mil reis para os cofres das obras pias. Em 30 de Abril o Infante Dom Miguel de Bragança cercara El-Rei D. João VI no Paço da Bemposta, declarando que o fazia porque os pedreiros livres queriam matar o rei. Muitos maçons e outros liberais foram presos e conduzidos para a Praça de Peniche. A 5 de Junho, o usurpador do trono emitia uma portaria perdoando a todos os que tivessem pertencido a sociedades secretas desde que renunciassem a elas até 20 de Junho de 1823. Para os que não o fizessem proscrevia penas rigorosas.

Uma pastoral do cardeal Sousa, arcebispo de Lisboa, foi motivo para o assassínio, pela plebe, de 17 maçons estando entre eles o Marques de Loulé, antigo maçom que havia feito sair o Rei D. João VI de Lisboa para Vila Franca. " Deve ser derramado em massa o sangue dos portugueses como antigamente o sangue dos judeus porque o infante jurou não embainhar a espada antes de resolver a situação com os maçons. Estou sequioso de banhar as minhas mãos de sangue", pregava o padre João Moriano em Campo Maior. Foram várias as invectivas contra a maçonaria da parte de vários prelados da Igreja católica partidários da causa miguelista, o que serviu para excitar o ódio da populaça analfabeta (e instrumentalizada) contra os maçons, em particular e os liberais, em geral.

Seguindo a ordem do Grão-Mestre as lojas foram fechadas. Nesse período, a actividade ficou limitada à Ilha Terceira. Ilha que permaneceu fiel à Constituição outorgada por D. Pedro. Acentuou-se a emigração de liberais e maçons para Inglaterra e França, só ficando aqueles, diz Borges Grainha, que não podiam subtrair-se às garras da polícia e das alçadas miguelistas.

D. Pedro IV havia sido nomeado Grão-mestre da Maçonaria brasileira em 4 de Outubro de 1822, quando já era Defensor Perpétuo do novo Estado Independente, vendo nessa nomeação as figuras mais prestigiadas da sociedade brasileira a fórmula de legitimar o novo poder independente. A concentração das forças liberais na ilha Terceira (Açores) possibilitaria a organização de um exército cujo objectivo era a libertação de Portugal do usurpador da coroa, D. Miguel e a instalação de uma monarquia constitucional fiel à linha de D. Pedro. Esse exército partiu da Terceira e desembarcaria no Mindelo, apoderando-se do Porto. Embora cercado pelos miguelistas parte do exército conseguiria libertar-se e embracadno nos barcos que o haviam, trazido dos Açores desembarcaria no Algarve, seguindo posteriormente para Lisboa com o Duque de Saldanha à cabeça. Lisboa seria tomada pelo exército liberal em 24 de Agosto de 1833. Dias depois entraria na capital D. Pedro IV, aclamado como legítimo sucessor da coroa portuguesa. Uma das primeira medidas de D. Pedro foi a expulsão dos Jesuítas e o castigo dos padres e frades que haviam defendido a usurpação miguelista. Na Convenção de Évora Monte, em 1844, decretaria a suspensão da actividade de todas as Ordens Religiosas existentes em Portugal, repondo-se a vigência da Carta Constitucional suspensa por D. Miguel. A maçonaria portuguesa suspirava de alívio vendo um dos seus mais insignes membros e grande figura do liberalismo constitucional como legítimo titular da Coroa.

O triunfo das ideias liberais e da monarquia constitucional coincide com um período de dissenção relativamente ao governo legítimo da Fraternidade. No estrangeiro, os emigrados portugueses que ali tinham vivido no período de mais acesa perseguição à Ordem tinham eleito dois Grãos-mestres, José da Silva Carvalho e o Duque de Saldanha, este último apoiado pelos emigrados em França. Regressados a Portugal, estes maçons mantiveram os dois Orientes separados, com os respectivos Grão-mestres, sendo ainda criado um terceiro Oriente no Porto, sendo Grão-mestre Passos Manuel. Esta divisão da Maçonaria, a confusão entre os planos profano (e político} e simbólico, conduziu ao envolvimento da organização maçónica nas revoltas políticas e sobretudo nas tristes e deploráveis lutas civis desse período, bem como na refrega parlamentar. Diz Borges Grainha e cito «nos ministérios consecutivos que D. Maria II chamou ao poder, em curtos intervalos, entrava, geralmente, algum Grão-Mestre desses Orientes, encontrando-se na Oposição Grão-Mestres dos outros. O resultado era assim que havia Orientes e lojas ministriais e em frente de Orientes e lojas oposicionistas».

É difícil ter uma noção exacta da actividade dos vários Orientes que existiram no país até 1869, porque faltam fontes históricas e também porque as dissidências dentro de cada Oriente eram frequentes e várias lojas passaram facilmente de uns para outros.

O mais significativo será o Grande Oriente Lusitano, que professava nesta altura maioritariamente o rito francês, bem documentado no Manifesto do Dr. José J.A. de Moura Coutinho, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa e Grão-mestre do Grande Oriente de Portugal, impresso em 1849. Recorda Borges Grainha que o Dr. Moura Coutinho fizera aprovar em 1840, na Dieta maçónica, uma nova Constituição. Seria eleito na sua vigência Costa Cabral, então Ministro da Justiça, o qual através das lojas militares que controlava aproveitou para restaurar a Carta de D. Pedro IV que Cabral fora proclamar ao Porto em 27 de Janeiro. Costa Cabral seria substituído pelo Visconde de Oliveira, o qual seria solenemente instalado e, 28 de Julho do mesmo ano como Grão-mestre do novo Grande Oriente de Portugal.

Os partidários de Cabral criariam a Grande Loja Portuguesa, escolhendo para seu Grão-mestre o cónego Eleutério Francisco Castelo Branco.

Depois da morte do Visconde de Oliveira, o Grande Oriente de Portugal teve por Grão-mestre José Alves de Moura Coutinho, sucedendo-lhe o Conde de Peniche. Por seu lado, a Grande Loja Portuguesa viria em 1867 a entroncar no Grande Oriente Lusitano que se formou então sob o malhete de Mendes Leal, indo-se fundir nele a Condeferação Maçónica que resultara em 1834 da fusão dos dois Orientes de Saldanha e de Passos Manuel e a Federação Maçónica de José Elias Garcia. A partir de 1869 passou-se a denominar Grande Oriente Lusitano Unido.

A profusão de Orientes revela a multiplicação e expansão da actividade maçónica um pouco por todo o país. Em 1843 havia em toda a maçonaria portuguesa 80 lojas em funcionamento: o Grande Oriente Lusitano teria 34, o Oriente Passos Manuel com 17 lojas, o Grande Oriente de Silva Carvalho com 15 lojas, o Oriente Saldanha com 11 lojas e a Loja Provincial do Oriente Irlandês, dependente do Grão Mestrado de Dublin e criada pelo espanhol D. João Coelho com 3 a 4 lojas o qual praticava o Rito Escocês Antigo e Aceite.

A unidade dos Orientes veio, como referimos, a concretizar-se em 30 de Outubro de 1869, tendo sido eleito Grão-mestre o Conde de Parati, por sugestão do escritor e então Ministro da Marinha, Mendes Leal. Três anos depois a Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês integrou-se igualmente no Grande Oriente Lusitano Unido. Durante meio século foi possível manter a unidade entre os maçons portugueses, representando um período de grande robustecimento da maçonaria portuguesa e de afirmação intelectual pelo nível dos Grão-mestres escolhidos: o Conde de Parati (1869-1881), Miguel Batista Maciel (1881-5), Elias Garcia (1885-6 e 1888-9), Visconde de Ouguela (1889-1895), Bernardino Machado (1895-1899), Ferreira de Castro (1900-1907), Sebastião de Magalhães Lima (1907-1928). Os maçons aumentaram, substancialmente, no mesmo período de meio milhar em 1869-70 para 1900 obreiros em 1904, distribuídos por 85 oficinas.

A actividade da maçonaria portuguesa pautou-se neste período pela luta pela concretização de objectivos gerais de progresso e desenvolvimento humano que estão desde sempre aliadas ao iluminismo, doutrina filosófica a que a maçonaria deve, em última instância a sua afirmação e divulgação junto de meios intelectuais e classes sociais favorecidas: a abolição da pena da morte e da escravatura, a criação de escolas dos níveis primário e secundário, a difusão de instrução nas colónias portuguesas, a difusão de uma postura de laicização do ensino, o registo civil obrigatório, a publicação dos principais códigos de direito. Sendo credível que parte destas medidas tenham resultado da acção colectiva, designadamente de lojas maçónicas, o contributo fundamental terá sido dos homens que em razão das suas funções públicas e da sólida formação maçónica transportaram para ali objectivos de progresso e desenvolvimento humano e social que se tecem nos laços de solidariedade e fraternidade maçónica. Por outro lado, a maçonaria nem sempre resistiu à tentação de liderar e intervir nos principais movimentos liberais que marcam a transição do século XVIII para o século XIX e que acompanham a derrota das monarquias de direito divino e as ideias do absolutismo monárquico, um pouco por toda a Europa. Também, lamentavelmente, os oficiais superiores da Ordem Maçónica não se eximiram de se envolver nas lutas de fracções e nas quedas de ministérios.

Difícil é responder em termos de balanço à pergunta se a Maçonaria foi o motor do processo revolucionário em Portugal, na medida em que terá sido também o berço do jacobinismo?

Em termos globais estaria de acordo com a posição de Maria da Graça Silva Dias de que a maçonaria não teve, por forma alguma, um percurso linear. Nascida sob o signo da maçonaria inglesa de orientação andersoniana primeiro, de teor tradicionalista depois (antiens), mas em ambos os casos de cariz apolítico, a maçonaria portuguesa só se afrancesaria ou jacobinizaria já o século XIX ia bem adiantado. Não se poderá minimizar a influência «ideológica» de muitos maçons regulares numa profanização da actividade maçónica, dada a abertura da cultura portuguesa às influências parisienses e das Luzes e a importância dos fenómenos revolucionários no curso do século XIX e na formação de ideologias transformadoras e humanistas como o anarquismo e o socialismo romântico ou utópico. Se o socialismo é o herdeiro do espírito do jacobinismo da revolução francesa o cientificismo, o romantismo filosófico e cultural são prolongamentos do espírito iluminista que sempre norteou o que havia de mais progressista, aberto e inovador na sociedade europeia da época, em cujos valores muitos maçons se reviam.

Nos anos que antecederam a República, tiveram lugar vários Congressos maçónicos (Coimbra-1903, Lisboa-1905, Figueira da Foz-1906).

III.

Na transição do Século XIX para o Século XX, tem lugar a aproximação entre a maçonaria e o ideário republicano, por razões que têm a ver com a formulação progressista do programa e das ideias republicanas, um pouco por toda a Europa. Mas infelizmente ocorreu a mesma confusão de planos que tivera lugar no pleno das lutas liberais: a maçonaria tendeu a constituir um grupo, uma elite, enquadrante de um partido político, tornando as lojas prolongamentos do aparelho partidário e envolvendo-as na luta fraccional, perdendo o sentido libertário e emancipador que protagonizara a sua afirmação nas lutas liberais e no recuo do absolutismo.

Em 17 de Maio de 1848 é constituído em Lisboa, entre António de Oliveira Marreca, António Rodrigues Sampaio e José Estêvão de Magalhães um núcleo de propaganda da doutrina republicana que toma o título de Comissão Revolucionária de Lisboa que será o primeiro embrião do Partido Republicano Português. Os dois últimos foram não só maçons mas Grão-mestres de Grandes Lojas maçónicas. A este partido aderiram mais tarde Casal Ribeiro, Henrique Nogueira, Anselmo Braamcamp, Luís Palmarim, Lobo d’Ávila e vários outros que eram maçons. Em 1867 funda-se no Porto a União Patriótica de inspiração republicana e em 1871 é fundado em Lisboa o Centro Democrático. Vários jornais de orientação democrática e republicana surgem: o Futuro em 1858, a Política Liberal em 1860, a República em 1870 (fundado pelos escritores Antero de Quental e Eça de Queiroz). Alguns anos mais tarde surgiriam os jornais republicanos O Rebate, Vanguarda e Bandeira onde escreveram Teófilo Braga, Teixeira Bastos, Alves Correia e outros reputados maçons. Em 1876, é eleito o directório do Partido Republicano Português composto por 33 membros. Em 1886, havia só em Lisboa mais de trinta clubes republicanos.

A maçonaria ou melhor os maçons desse tempo levariam mais longe o envolvimento da Ordem na actividade política e revolucionária. Parte deles patrocina e apoia a constituição da Carbonária, organização que será decisiva para a Revolução republicana de 5 de Outubro de 1910. A Carbonária, sociedade secreta essencialmente politica, teve um papel relevante na luta anti-clerical em Itália e na unificação de Itália, tendo em Espanha adoptado a designação de Comuneros. De acordo com o espírito conspirativo abertamente anti-monárquico desta sociedade, as vendas (lojas), choças e barracas carbonárias encontram-se envolvidas nas actividades sedicionárias e humanitárias. Os seus membros andavam normalmente armados. Foi tendo em conta essa actividade que o Papa Pio XII emitiu em 1821 a bula Ecclesiam que estabelecendo um elo de ligação entre carbonários e franco-maçons, condenava explicitamente ambas as actividades.

Segundo relata Borges Grainha, a sociedade secreta terá sido estabelecida em Portugal em 1822, tendo vindo a Portugal com esse fim o General italiano Pepe e um tal coronel Pizza. Em 1848, a Carbonária teria uma actividade conspirativa significativa em Coimbra, Figueira, Soure, Anadia, Cantanhede, Pombal, Ílhavo e Braga mas em 1864 adormece. Em 1896, reaparece através de uma associação secreta - a Maçonaria Académica - composta por estudantes das escolas superiores de Lisboa, de que seria chefe Luz Almeida. Esta associação anticlerical e revolucionária serve para a difusão de propaganda republicana nos cafés, escolas, oficinas, nos semanários e em folhas populares e académicas. Paulatinamente, a Carbonária estabelece ligações com a maçonaria, através da loja Montanha fundada pelo mesmo Luz Almeida e contribui para a doutrinação republicana dos maçons, contribuindo segundo Borges Grainha para a eleição do republicano Sebastião Magalhães de Lima, como Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano.

Esta proximidade é responsável pela grande expansão da Carbonária portuguesa. Em Outubro de 1910, data da revolução republicana, a Carbonária teria 40 000 homens espalhados pelo país. A revolução de 1910 foi o culminar de várias tentativas goradas que remontam pelo menos a 31 de Janeiro de 1891, e cujo episódio mais lamentável é o assassinato do rei D. Carlos I e do príncipe regente D. Luís Filipe em Fevereiro de 1908. O assassinato foi perpetrado pelo Partido Republicano com o apoio da maçonaria e o uso do seu braço armado a Carbonária. Segundo relata Machado Santos, um dos chefes da Carbonária e chefe revoltoso dos jovens oficiais da Escola do Exército que desencadearão o 5 de Outubro, a obra da revolução portuguesa também à maçonaria se deve, única e exclusivamente. A revolução contaria com a pronta adesão espontânea de amplas camadas da população e com fraca resistência das forças monárquicas. O seu sucesso vai de encontro a razões várias: o cansaço do país em relação ao rotativismo monárquico no Parlamento; a vergonha nacional sentida com os episódios do Mapa Cor de Rosa e o Ultimatum inglês atribuídos pela vox populi à incompetência da Monarquia; a desastrosa gestão económica do governo (já em bancarrota); as convulsões sociais provocadas pela carestia de vida e pelo grau de miséria em que vivia a maior parte da população.

A politização da maçonaria continuaria ao longo de todo o século XX e conduziria, no início dos anos 80, à divisão da maçonaria portuguesa entre uma obediência histórica, anticlerical e modernista – o Grande Oriente Lusitano – e uma obediência tradicional, deista, ritualista – a Grande Loja Regular de Portugal – tinha objectivos que só aparentemente tinham a ver com a actividade maçónica. Com a proclamação da República e a constituição do 1º Governo provisório chefiado por Teófilo Braga com António José de Almeida como Ministro do Interior Afonso Costa como Ministro da Justiça (todos eles maçons), a maçonaria passa a ser olhada como uma instituição útil, pragmaticamente necessária para quem pretenderia fazer carreira política ou administrativa, na função pública. Durante a 1ª República, os seus efectivos duplicam de 2000 para 4000 membros, com o correspondente aumento de lojas e triãngulos. No Parlamento mais de metade dos parlamentares são maçons. No Governo Provisório (1910-1) cinquenta por centro dos ministros são maçons, percentagem que se mantém nos subsequentes governos provisórios até 1926. Três Presidentes da República foram maçons: Bernardino Machado, Sidónio Pais, António José de Almeida.

Mas a proximidade entre maçonaria e Partido Republicano seria acentuada durante a 1ª República, fazendo reflectir dentro da Ordem as dissensões no espectro político. Magalhães Lima, Grão-mestre, era amigo e admirador de Afonso Costa que chefiava a ala esquerda do P. Republicano, e que se colocou sob sua tutela. Quando da cisão do Partido Republicano em Outubro de 1911, entre Afonso Costa, por um lado e António José de Almeida e Brito Camacho, por outro, o Grande Oriente Lusitano transfere o seu apoio em bloco para o primeiro. E se as divisões entre grupos republicanos eram de tal monta que punham em perigo a existência da própria República, não pareceria difícil diagnosticar que, mais cedo ou mais tarde, a maçonaria sentiria a sua própria divisão, até porque a maioria das lojas tendia a seguir a política radical do Partido Democrático.

A divisão dentro da maçonaria tem lugar em 1914, não invocando razões de natureza política, mas refugiando-se em questões de rito e de jurisdição. Entre o executivo e o legislativo do Grande Oriente (Grão-mestre, Grão-mestre adjunto, Conselho da Ordem e Grande Dieta) por um lado e o Supremo Conselho do ∴Grau 33, por outro, surgem desinteligências quanto à conformidade da Constituição Maçónica de 1914 com os acordos de 1869, que haviam permitido a unificação dos vários Orientes espalhados pelo país e a representação dos vários ritos. O Supremo Conselho separa-se do Grande Oriente e constitui, com o apoio de várias potências maçónicas estrangeiras, o Grémio Luso-Escocês que veio a ter a sua sede na Rua de S. Pedro de Alcântara. Para dirigente supremo, Soberano Grande Comendador, é eleito o General Augusto Ferreira de Castro, na sequência do que adirem a esta nova obediência várias dezenas de lojas e triângulos, representando com os obreiros envolvidos um terço do povo maçónico. Explicitando as suas verdadeiras razões este grupo apoia Sidónio Pais que havia derrubado por meios violentos o governo do Partido Democrático e a aliança entre Afonso Costa (chefe do governo) e Bernardino machado (chefe de Estado), na sua ditadura de 1917-8. A revolução de 14 de Maio de 1915 dirigida contra a ditadura militar de Pimenta de Castro teria à sua frente vários maçons que integram o Grande Oriente: Norton de Matos, Sá Cardoso, Freitas Ribeiro, António Maria da Silva. No governo que lhe seguiria a maçonaria estava bem representada através do Grão-mestre Magalhães de Lima, e o Grão-mestre adjunto José de Castro. Na década de vinte o novo Grão-mestre e chefe do Partido Democrático, António Maria da Silva batem o recorde de permanência no poder como Primeiro-ministros, constituindo seis vezes ministério.

Segundo relata Oliveira Marques, esta promiscuidade entre maçonaria e luta política leva muitos obreiros a afastarem-se da Ordem. O número de filiados do Grande Oriente Lusitano decresce, cifrando-se em 1919 em 1807, integrando 88 lojas. Por seu lado, o Grémio Luso-Escocês sentia igualmente esta situação, sendo 30 as lojas sob sua jurisdição. Nas vésperas do golpe que irá instaurar a ditadura militar que levará ao Estado Novo entreabrem-se as portas para a reconciliação, com a fusão com o Grande Oriente do Grémio, ficando, no entanto de fora, Ferreira de Castro e alguns outros. Em fins de 1926 consagrada a união dos dois Orientes existiriam em Portugal 3000 maçons, agrupados em 115 lojas e triângulos, constituindo numa população nacional de 6 500 000 pessoas uma proporção de 1 maçon por 2000 habitantes. Em termos comparativos, a situação portuguesa era significativa: acima daquela proporção encontravam-se países como a Suiça, a Alemanha, a França, a Holanda, a Bélgica, os Países Escandinavos. Abaixo estavam no entanto vários outros países europeus como a Espanha.


IV

Em 28 de Maio de 1926 tem lugar um golpe de Estado promovido por militares que conduz à instauração da Ditadura Militar e ao derrube da democracia parlamentar instituída em Outubro de 1910, golpe chefiado pelo General Gomes da Costa, o qual avança sobre Lisboa sem encontrar resistência. O consenso que gera na sociedade portuguesa deve-se a razões de natureza interna, decorrentes da instabilidade política com 45 ministérios em 16 anos, a vários actos violentos conduzido pela oposição monárquica e grupos radicais de republicanos, sem esquecer os confrontos laborais. Por outro no seu afã anticlerical a República esquecera o país maioritariamente agrário, conservador e católico e viu esfumar-se o apoio da sua base social, a classe média urbana, com a redução dos seus rendimentos proveniente da inflação do pós-guerra, da instabilidade social e política e do avanço das ideias bolchevistas, inclinando-se para um governo que restaurasse a ordem e a tranquilidade. Para muitos republicanos a Revolução de 28 de Maio representara um primeiro passo para a restauração da República. O movimento não se repercute logo, directamente, na actividade maçónica, até porque a liderança do regime passa para o General Óscar Carmona (maçon) que é eleito Presidente da República em Abril de 1928. Sendo alguns dos seus chefes maçons a maçonaria teve até 1929 plena liberdade de acção, embora se começasse a sentir, gradualmente, o emergir de um aceso e virulento conservadorismo, apoiado pelas forças próximas da Igreja Católica, de há muito adversárias da maçonaria e dos princípios defendidos pelos franco-maçons.

Elemento fundamental nesta conjuntura foi a nomeação do Professor António Oliveira Salazar como Ministro das Finanças do novo ministério chefiado pelo Coronel Valente de Freitas, que aceitaria a nomeação com a condição de superintender sobre as despesas de todos os ministérios. O sucesso de Oliveira Salazar nas Finanças numa gestão de apertado rigor deu-lhe as condições políticas para a sua ascensão a chefe do governo em Julho de 1932, com o apoio do capital financeiro, da Igreja, da maioria do exército, dos intelectuais conservadores e dos monárquicos.

Já na revolta de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura tomaram parte numerosos maçons e em 31 de Outubro do mesmo ano, o Conselho Geral do Grande Oriente Lusitano, pelo médico Ramón de la Féria, dirigia uma comunicação a todos os obreiros e lojas, propondo um programa detalhado de resistência e luta contra o avanço do movimento e ideologia reaccionária que favorecera a entrada de Oliveira Salazar no governo e sequencialmente a consolidação do seu poder pessoal. Passo que propiciaria a instalação em Portugal de um Estado antiliberal, conservador, nacionalista e corporativo, autoritário e colonialista, simpatizante das ideologias fascista e nazi que se haviam instalado na Itália e na Alemanha. Falecia, entretanto, em 7 de Dezembro o Grão-mestre Magalhães Lima e a Dieta elegeria António José de Almeida como Grão-mestre o qual se encontrando já debilitado, vindo a falecer em 31 de Outubro de 1929.

Este período corresponde também ao ataque das forças do novo regime contra as instituições maçónicas. Em 16 de Abril, o Grémio Lusitano, sede do Grande Oriente é assaltado por forças da Guarda Nacional Republicana e da polícia, sendo ao mesmo tempo presos todos os maçons que ali se encontravam e apreendido e destruído diverso material que ali se encontrava. A partir de Maio de 1929 e até ao ano seguinte o Palácio maçónico encerra as suas portas para evitar a repetição de desacatos.

Reconhecendo o clima persecutório instituído pelo regime, o Conselho do Grande Oriente sob presidência de José da Costa Pina decreta a triangulação de todas as lojas com vista a redução de grandes ajuntamentos facilmente detectáveis pelas novas autoridades e seus espiões. Em seu lugar ocorrem reuniões formais em pequenos conciliábulos realizados, discretamente, em casas particulares. No último dia do ano de 1929, a maçonaria portuguesa elege como seu chefe e Grão-mestre o General Norton de Matos que na sua mensagem ao povo maçónico concita a maçonaria «a marchar na grande obra da reorganização nacional e sublinha que perante a grande desastre que representará para a Nação a vitória reaccionária que se está preparando, é dever nosso empregar todos os meios pacíficos e dignos de que dispomos para desviar a Pátria às calamidades que a ameaçam».

Um ano depois perante a Grande Dieta, o General Norton de Matos dando eco ao agravamento da situação política no país, apela «à luta incansável contra a ditadura e a necessidade de travar o último combate contra a definitiva e completa vitória reaccionária» A concluir, profeticamente, prediz que «se a reacção vencesse uma longa época de marasmo, de inércia forçada, de desanimo e de tristeza cairia sobre Portugal». A supressão das ideias liberais e dos princípios da tolerância e do dissenso é acompanhada da deportação, demissão da função pública, e colocação na miséria de muitos maçons e outros opositores ao regime. Por falta de obreiros ou por impossibilidade de trabalhar simplesmente, dezenas de lojas e triângulos são obrigados a cessar a sua actividade e abatem colunas. Os anos de 1931 a 1935 são de gradual enfraquecimento da maçonaria e de uma perseguição constante. Em 1930 havia sido criada a União Nacional, pretensamente uma organização não-partidária, assumindo-se como a base de apoio político ao governo. A União Nacional rapidamente se revelou um partido único que Salazar, o seu chefe incontestado, manobrava a seu belo prazer. Em fins de 1934 realizam-se as primeiras eleições depois do golpe de 1926, concorrendo unicamente a União Nacional, a qual fica a controlar os 90 deputados da Assembleia Nacional. Entretanto havia sido iniciada a extinção dos partidos políticos, das ‘’sociedades secretas’’ e dos sindicatos livres.

Com o reforço do poder pessoal de Salazar começa a ser modelado a partir de 1930 o sistema político autoritário do Estado Novo o qual recusa a soberania popular e a liberdade como conceitos de legitimação do regime, opondo-se Salazar ao multipartidarismo da República. Segundo a doutrina de Salazar a soberania não se fundava nos indivíduos que constituíam a Nação mas nesta, por representar um todo orgânico onde apesar de existirem diferenças os interesses de todos se deveriam sobrepor às convenções individuais, sendo o Estado e o governo os exclusivos intérpretes desse interesse nacional. De um ponto de vista moral, Salazar recupera valores e conceitos morais decorrentes da tradição elegendo Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade como valores fundamentais, sendo o princípio da autoridade o fulcro do seu sistema axiológico.

Em 19 de Janeiro de 1935, na recém-inaugurada Assembleia Nacional, o deputado José Cabral apresenta um projecto de lei proibindo todos os cidadãos portugueses de fazerem pare de associações secretas, sob pena de aplicação de penas várias que vão da pena de prisão ao desterro. Os candidatos à função pública e os funcionários públicos em funções são obrigados a jurar que não pertencem, nem jamais pertencerão a qualquer sociedade secreta. O projecto embora não o especifique dirige-se contra a Maçonaria. O Grão-mestre General Norton de Matos decide escrever ao presidente da Assembleia Nacional Dr. José Alberto dos Reis, ele próprio maçom uma carta de protesto convidando a Assembleia da República a não aprovar o projecto. Nem a carta, nem o contundente comentário que o poeta Fernando Pessoa publica no jornal Diário de Lisboa, em 4 de Fevereiro logram inverter a senha persecutória das novas autoridades. O projecto de lei que terá o número 2, recebe parecer favorável da Câmara Corporativa em 27 de Março é votado favoravelmente e por unanimidade em 6 de Abril e a Ordem é banida (Lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935). Em inícios de 1935, o decreto nº 28 do Conselho Geral da Maçonaria reforça a orientação de triangulação das Lojas. O Grão-mestre demite-se em 4 de Abril de 1935 e transfere por sua vez os seus poderes para o Conselho da Ordem e para o seu presidente o Dr. Maurício Costa. Falecido em 19 de Maio de 1937, o Grande Oriente é entregue ao Dr. Luís Gonçalves Rebordão a quem cabe dirigir o Grande Oriente até ao término da ditadura. Seria entretando nomeados o Dr. José de Oliveira Dinis como Vice-Presidente e Ramon de la Féria, secretário, José da Costa Pina, também secretário e Alfredo Mourão, tesoureiro. Como consequência da Lei nº 1901, são emitidas a portaria de 21 de Janeiro de 1937 que dissolve formalmente o Grémio Lusitano ( associação profana que suporta do Grande Oriente) e a Lei nº 1950 que entrega os bens do Grémio Lusitano à Legião Portuguesa. Muitas insígnias, objectos da colecção e documentos do Grémio são depositados na Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (futura PIDE). Segundo relata Oliveira Marques parte significativa dos arquivos maçónicos seriam colocados a salvo sendo reinstalados após a Revolução de 1974 nas instalações do Grémio Lusitano, devolvidos á maçonaria portuguesa com a devolução da liberdade ao povo português.

Está por se fazer, em grande parte, a história da actividade maçónica sob regime salazarista e marcelista, mas parece seguro afirmar-se que número significativo de maçons escolheram o exílio e aí continuaram a desenvolver a sua actividade maçónica em lojas dos países de acolhimento. Em 1974, nas vésperas da Revolução dos Cravos haveria somente três ou quatro lojas em funcionamento a Simpatia e União, Liberdade e José Estêvão. Por iniciativa de Adão e Silva e Dias Amado haviam sido criados pentágonos por forma difundir, na clandestinidade, as ideias da Maçonaria. Também por se fazer está a história da actividade de maçons estrangeiros ligados às embaixadas e às empresas sedeadas em Portugal durante esses difíceis anos de ditadura, sendo credível que uma ou várias lojas estivessem em funcionamento da dependência pelo menos da Grande Loja de Inglaterra.

Conjuntamente com outras instituições da ordem democrática portuguesa, a Maçonaria portuguesa derrubaria colunas até ao 25 de Abril de 1974, em que uma revolução, a Revolução dos Cravos, dirigida por capitães e outros oficiais derrubaria o regime ditadorial de Salazar e Caetano e restabeleceria a ordem democrática e as liberdades. Como sublinha Arthur Edwar Waite, a história da maçonaria no século XX, é em grande parte a história da supressão da Ordem Maçónica nas modernas ditaduras sob Mussolini, Adolf Hitler, sob jugo comunista, e sob Franco em Espanha e Salazar em Portugal. Nesse período, de uma forma discreta como sempre nos períodos a que mais provas foram sujeitos, os maçons portugueses estariam na primeira fila da resistência à ditadura, pela afirmação da cultura e do renascimento de um Portugal livre e democrático.

V

A reinstalação da ordem democrática em 25 de Abril de 1974, através do golpe de estado conduzido pelo Movimento das Forças Armadas, com o unânime apoio da comunidade internacional e dos tradicionais aliados de Portugal, e a pronta aclamação do povo português conduziu à eliminação dos condicionalismos legais que condicionavam a actividade maçónica. Condicionamentos decretados pelo regime ditatorial e cuja eliminação levou à devolução dos bens e instalações apreendidos e entregues à Legião Portuguesa, durante os primeiros anos do Estado Novo e à legalização das actividades maçónicas entregues a uma direcção provisória que dificilmente conseguira a preservação da diminuta actividade maçónica em clandestinidade .

O Programa do MFA assegurava, desde logo, o exercício efectivo da liberdade política e das liberdades de expressão, pensamento, reunião e associação bem como a independência do poder judicial.

Inicialmente centrada no Grande Oriente Lusitano, com sede na Rua do Grémio Lusitano, a actividade maçónica contará em Portugal, a partir de Novembro de 1984, com uma outra obediência, a Grande Loja de Portugal, com sede na Avenida de Sabóia, no Monte Estoril, constituída inicialmente por obreiros das lojas Aljubarrota, Bocage, Estrela d’Alva, Fernando Pessoa, Futuro e Tolerância. Esta nova obediência reclama-se da regularidade maçónica e do prosseguimento dos landmarks aprovados pela Grande Loja Unida de Inglaterra considerada obediência-mãe de todas as Grandes Lojas espalhadas pelo mundo. Procura inverter a situação de divórcio da maçonaria portuguesa da maioria da maçonaria universal, quando a maçonaria portuguesa havia sido criada por Carta de patente da Grande Loja de Londres, divórcio decorrente do realinhamento durante o século XIX face à orientação ateia, areligiosa e anti-tradicional prosseguida pela Grande Oriente de França e por outros Grandes Orientes de Espanha, Itália e de vários países da América latina na senda de um jacobinismo absolutamente estéril. Integram esta segunda obediência, maçons como Antero da Palma Carlos, Fernando Teixeira, José Manuel Moreira, José Carlos Nogueira, Pisani Burnay, Álvaro de Athayde, Nandin de Carvalho, José Manuel Anes, Nuno Nazareth Fernandes, os quais retomam a ideia de uma maçonaria de via sagrada e iniciática, sobre a maçonaria de via substituída, prosseguida pela Grande Loja Unida de Inglaterra, pelas Grandes Lojas dos Estados Unidos e do Canadá, considerados a referência ritual e litúrgica legítima da maçonaria regular universal.

Seguindo-se a contactos estabelecidos pelo Grão-mestre, Dr. Fernando Teixeira, com a Grande Loja Nacional de França, ao tempo uma das grandes potências simbólicas da Europa continental, é constituído o Distrito de Portugal desta Grande Loja. Em Junho de 1991, é fundada a Grande Loja Regular de Portugal, perante uma assembleia constitutiva que permite que ao Grande Distrito de Portugal da GLNF seja outorgada a regularidade e a autonomia como Grande Loja Regular de Portugal independente. No âmbito da nova Grande Loja, presidida pelo Grão-mestre Dr. Fernando Teixeira, passam a funcionar significativo número de lojas constituídas por Irmãos insatisfeitos com a orientação anti-deista e politizada do GOL e ainda por profanos que entretanto aderem à Maçonaria regular. As lojas praticam ritos diversos, como o Rito de York, o Rito Escocês Antigo e Aceito, e o Rito Escocês Rectificado.

A constituição da nova obediência seria desvalorizada pelo Grande Oriente Lusitano que nas palavras do Grão-mestre Adjunto, Oliveira Marques, considerou «o afastamento de algumas dezenas de pessoas que sonhavam constituir uma nova obediência virada para um maçonismo religioso e conformista do tipo anglófono, completamente desligado da tradição portuguesa. Todas as maçonarias têm registado ao longo dos anos casos semelhantes. Portugal também conhece muitos como este, quase todos efémeros. Esperemos que o mesmo aconteça a esta».

A Grande Loja Regular de Portugal, entretanto reconhecida por inúmeras organizações maçónicas internacionais, constituir-se-ia garante da regularidade maçónica no nosso país, ganhando prestígio e alargando exponencialmente a sua influência na sociedade portuguesa, entre profissionais liberais, intelectuais, funcionários públicos, empresários, académicos atingindo durante a segunda metade da década de 90 cerca de 900 obreiros. No mundo profano, a nova obediência é tida como próxima dos meios católicos, liberais e conservadores, geralmente identificados com o Partido Popular Democrático (posteriormente Partido Social-Democrata) e o Centro Democrático Social (enquanto o GOL é tido por próximo do Partido Socialista). À sua frente, ficaria o Prof. Luís Nandin de Carvalho, que viria substituir o fundador, o Dr. Fernando Teixeira, aquando do seu falecimento em 1997.

O processo da sua eleição seria, no entanto, contestado por uma minoria de maçons encabeçada por João Braga Gonçalves, Venerável Mestre da Loja General Gomes Freire de Andrade e que promoveria uma cisão desta Grande Loja entre 1997 e 1998 sob a alegação de violação pelo novo Grão-mestre Nandin de Carvalho de obrigações e compromissos maçónicos. A cisão que tinha como propósito objectivo a tomada do poder interno e planos de associação da maçonaria regular a actividades internais de natureza ilegal, levaria à apropriação do nome de Grande Loja Regular de Portugal (também conhecida pela Casa do Sino) pelos cisionistas. As lojas que não acompanharam a cisão reintegrar-se-iam na Grande Loja Legal de Portugal-Grande Loja Regular de Portugal, nome pelo qual continua a ser conhecida, desde então, a obediência regular portuguesa. O Prof. Luís Nandin de Carvalho viria a ser rendido no fim do seu mandato como Grão-mestre pelo Engº José Manuel Anes, eleito a 11 de Dezembro de 2000 e instalado em 24 de Março de 2001. O Engº José Manuel Anes era até aí Grão-Prior do Grande Prioriado Independente da Lusitânia (sistema de altos graus do Rito Escocês Rectificado de observância gnóstica e cristã). Segundo é possível retirar do site da Grande Loja (www.gllp.pt) serão 45 as lojas em actividade, localizadas em diversos pontos do país, com excepção da Madeira e dos Açores.

Paralelamente à autonomização da Grande Loja legal de Portugal-Grande Loja Regular de Portugal como obediência representativa da maçonaria regular viriam a alargar-se os ritos praticados pela obediência. Assim, para além do Rito Escocês Antigo Aceite no seu sistema de 33 graus, praticam-se o Rito Escocês Rectificado, sistema maçónico cavalheiresco e cristão criado em França e na Alemanha na tradição de Martinez de Pasqually, e o Rito de York. A nível dos Altos Graus encontra-se associada à GLLP como seus corpos independentes o Supremo Conselho para Portugal do Grau 33, presidido por José Carlos Moreira, o Grande Capítulo do Arco Real de Portugal dirigido por José Moreno. Recentemente, foi constituída a Sociedade Rosacruciana de Franco-maçons de Portugal, organização gnóstica inserida no rosacrucianismo internacional.

O grupo minoritário de maçons participantes na cisão de 1997 constituiria, entretanto, uma Grande Loja do Norte, com um número de lojas e de maçons que são, no entanto, desconhecidos.

O Grande Oriente Lusitano, a principal obediência irregular portuguesa, reconhecida pelo Grande Oriente de França e por vários outros Grandes Orientes mas recusando a imperatividade desse reconhecimento, agrega um número significativo de lojas espalhadas pelo país, havendo registos na imprensa portuguesa, que associará, neste momento, cerca de um milhar e meio de maçons. Nas últimas eleições de 2002, para o Grão-mestrado do Grande Oriente Lusitano, seria eleito o advogado e conhecido resistente anti-fascista, Dr. António Arnault, personalidade prestigiada das letras e da democracia portuguesa, tendo sido Ministro da Saúde num dos governos dirigidos pelo Dr. Mário Soares, antigo Primeiro-ministro e Presidente da República.

A divisão da maçonaria entre as suas obediências regular e irregulares mantém-se, de forma idêntica ao que se passa na maçonaria latina em países como a França, a Espanha, a Itália ou o Brasil. Não obstante tal divisão, há quem admita que a unificação da maçonaria portuguesa é uma questão de tempo, dado a perda de preponderância da orientação ateia, areligiosa e antitradicional, professada pelos maçons mais antigos do Grande Oriente Lusitano, junto das novas gerações de maçons associadas na obediência, ponto fundamental de separação em relação à GLLP-GLRP." Pesquisa em jornais de Portugal por www.jornalorebate.com
Fonte:

Breve historial da Maçonaria em Portugal
pelo Irmão A.M.Gonçalves Mestre Maçom [1]
R.L. Anderson nº 16
Grande Loja Regular de Portugal/GLLP
14º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite.