Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

23.3.08

DOS AIRYS, PASSANDO PELA RUA DO MEIO ATÉ O NOVO CAVALEIRO...

ponha-se daqui para fora, gringo, a casa aqui tem dono...


Eles chegaram, olharam, gostaram muito. Pensam que é deles. Refiro-me a esta turba de gringos, chefetes de transnacionais que infestam a cidade de Macaé, afrontam o povo, o verdadeiro dono das coisas e das terras macaenses.

De dentro de suas mansões que mais parecem palácios, cheios de seguranças, muros eletrificados, esses galos de granja fanhos e de língua enrolada (o "idioma dos gatos", como descrevia a saudosa Jurema Finamour) lançam olhares de nojo para quem passa em frente às suas casas. São figuras frágeis que para se manter em pé necessitam escorar-se nas bordas do capitalismo que vive sua agonia final. Assim sustentam suas poses treinadas nos espelhos de uma consciência milenarmente corrupta, colonial, alimentada na exploração do homem pelo homem e nas guerras de agressão aos povos.

Com suas drogas e seus automóveis luxuosos que cheiram a porão de navio viking, podem comprar pessoas e empresas nacionais. Podem e conseguem porque os destinos de nosso país, por enquanto, permanecem nas mãos dos gerentes coloniais, assalariados de luxo do império, infelizes e submissos que comem o que cai das mesas dos magnatas e se iludem com tronos imaginários edificados em areias movediças.

II

Macaé nunca incorporou essa gentalha à população nativa, esses paspalhos homiziados em seus condomínios luxuosos. A cidade assimilou os petroleiros de hoje, os operários da construção civil e a gente trabalhadora em geral, como no passado fez com os ferroviários. Nunca essa gente que põe em seus altos muros cercas eletriticas..

Gringos assim já estiveram por aqui. Vieram e se foram. Deixaram rastros de destruição, prostituição, drogas e desemprego. Os de hoje são muito piores. Conseguem ser mais degenerados e detestam - como lá onde eles se procriam, no USA - os latinos. Olham para os nativos como seres inferiores à sua "raça". A maioria destes senhores que dá ordem ao poder colonizado é ianque. Os invasores aportaram em Macaé com suas firmas presenteadas em troca dos serviços prestados em golpes de Estado, em guerras de agressão e genocídio nas quais, com muito agrado, desempenharam papéis protagônicos.

Costuma-se contar que, a serviço no Vietnã, esses mesmos ianques matavam crianças vietnamitas jogando-as para o alto e aparando-as nas suas frias baionetas... Assassinos desse tipo conseguem dormir porque desde abril de 1964 não há mais governo brasileiro, capaz de ir ao encalço desses criminosos.

Muitos, até agora, são chamados de "capitão tal" ou por outras patentes que ganharam nos massacres perpetrados contra o povo trabalhador em várias partes do mundo.

Seus chefes costumam compensar com bons pagamentos esses heróis da covardia, das invasões, da rapina e dos massacres em terras alheias. Entregam aos seus subalternos, como prêmio, algumas empresas em países cujos governos se dobram a eles. A família de Bush Maluco, quando ouviu falar de petróleo em Macaé, montou uma "empresa" aqui, que tem o nome de Halliburton. Seu vice atual, Dick Cheney, figurou como diretor geral da Halliburton que, na realidade, continua pertencendo à família de Bush. Agora, surge uma denúncia no USA de que desviaram 2,5 bilhões de dólares da guerra no Iraque para essa mesma empresa.

São genocidas e ladrões duas vezes. Afora quando roubam deles mesmos. De qualquer forma, a fabulosa quantia subtraída ao Tesouro dos piratas ianques, se não é aplicada criminosamente contra os iraquianos passa a ser criminosamente aplicada contra os brasileiros no Rio de Janeiro. E tem gente que pensa que nós não temos nada a ver com a guerra no Iraque ou que os assassinos imperialistas ainda não nos atacaram.

O Brasil vive na mira dessa gente e, por isso, Macaé - como a cidade que tem a maior reserva de petróleo do país - é o alvo de suas invasões.

O dinheiro fácil que aparenta vir da extração do petróleo, esconde fabulosos negócios, desde aqueles pertencentes aos grandes criminosos de guerra aos cruéis facínoras de segundo escalão, velhos traficantes de drogas e mulheres, a exemplo do que a própria Polícia Federal desvendou no interior de São Paulo com a prisão de um bandido de procedência libanesa, estourando de intoxicação, e que se intitulava "homem do Petróleo". Mas a essa mesma polícia, por acaso, mandaram investigar a vida pregressa dos ianques que vivem nas mansões macaenses, como reis e imperadores? Costuma fiscalizar, com ordens judiciais, o conteúdo dos milhares de containers de grande risco, portadores de "novas bactérias" e de ilícitos penais que chegam ao município?

III

Lá, no USA, eles prendem tudo que é latino, devassam a sua vida, jogam para cima colchão, bolsas, rasgam mochilas, para depois permitirem que o imigrado transite naquele território... na condição de escravo, naturalmente. E aqui, aonde os pescadores são os donos do mar, e aonde os velhos ferroviários, petroleiros e seus descendentes devem ser os verdadeiros senhores?

Não acredito, embora já tenha certeza que o poder central é gerente - nada mais que um preposto do gringo - que toda a gente brasileira esteja acocorada ao USA. Entre os privilegiados, grandes brasileiros e democratas precisam fazer valer seus sentimentos patrióticos e não apenas as massas trabalhadoras. Esperar por quem, por mais o quê? Macaé, sua "elite" e muitos de seus "governantes", são cúmplices desses invasores.

Macaé está muito maior do que a gente imaginava ficar. São milhares e milhares de brasileiros, da mesma forma, vilmente explorados. Definitivamente, não se pode permitir que nossas vidas permaneçam nas mãos dessa lumpem-burguesia, que de tão porca precisa banhar-se em perfume francês para ter o seu cheiro suportável.

O povo, os pescadores, os camponeses, os ferroviários, petroleiros e os estudantes, são os senhores. Não ao encastelamento e às cercas eletrificadas. Sim à liberdade (a inteligência edificada da necessidade, nas formas da ação das massas) e à igualdade dos que vivem pelas suas próprias mãos, que juntas constroem os instrumentos destinados a romper com o modo de produção mais decadente que a humanidade já conheceu. E este é o momento para dizer não e esses invasores, antes que um amanhã seja tarde...

O sol ainda reina no entardecer da cidade e alguns jovens petroleiros, transportados por vans, uns em suas bicicletas e outros a pé, se dirigem ao embarque para as plataformas no mar.

Enormes perigos, vagalhões que ameaçam varrer terraços gigantes de um lado ao outro, tudo faz lembrar o olhar de desprezo que o gringo lança sobre o dia a dia do nosso povo trabalhador macaense e aguça a contradição entre a mesa do explorado e a vida fácil do bandido rico cercada de recursos cuja origem não se explica.

Como dizia meu velho avô Mathias Coutinho de Lacerda, macaense, dono da Fazenda do Airys, nos anos de 1915, quando dele se aproximava algum "visitante"; um explorador do trabalho alheio ou rico assassino querendo fazer negócio:

O PINGUIN DA RUA D0 MEIO E OS FERROVIARIOS


OS FERROVIÁRIOS

Das longas conversas nas esquinas de uma cidadezinha, nos anos 40 50 e 60, chamada de Macaé, as coisas aconteciam devagar como o balançar das ondas alegres da velha Praia de Imbetiba...

Tinha todo o tipo de alegrias. Do sorriso largo e puro de seu Miranda pai de "Bill", "Pau -Puro" e Webe? alguém pode esquecer? Ele nos chamava de "meninos". Era assim que os velhos ferroviários como eles e Walter Quaresma tratavam os alunos do SENAI. Era uma espécie de "preparação no ritual para nos preparar, no afeto, para sermos futuros ferroviários. Passavam para nós o carinhoso olhar de paternidade que seria repassado por gerações. Até hoje o José Pacheco, um mais velho que nós, me chama de "menino" aos 68 anos.

Dentro do mundo de trabalho na ferrovia havia uma grande distância entre as pessoas em termo de idade e tempo de casa. Embora igualitariamente em todos os setores, como pagamento em chamada nominal no trem pagador, e outras tantas funções que exercitávamos, havia, na idade algo paternal no trato.

Era desta Macaé/Rua do Meio que eu sempre quis falar. Longe dos batuques de estacas e perto dos batuques das nossas Escolas de Samba dos Cajueiros, que não tem Caju. Aroeira que nunca vi um pé desta árvore e o Independente que teima em ressoar nos próprios batuques de nossos corações. Rua do Meio o onde habitou Wanderley Vianna, pai do belissimo amigo e fiel companheiro Alfredo Mello Vianna. O Bom New Alfred um dos mais conceituados cabelereiro da região de petróleo e um dos mais lidos colunistas sociais do O REBATE nos anos 70...

Esta cidade não cresceu. Ela inchou com algumas chagas que, poluindo a sua essência, ainda polui a própria essência nativa, transformando em novidades as vertentes naturais de um Rio que deveria correr para o Mar.

As tardes que banhavam o sentar descansativo de centenas de ferroviários, que se acomodavam na sombra da amendoeira do "Bar Mocambo", ainda são as mesmas. Tem o mesmo frescor dos anos 40. Apenas não recebem mais os vultos alegres, as fofocas e os fugidios momentos de encantamento onde as bicicletas eram as testemunhas e esperavam para serem tocadas até Imbetiba quando, o ultimo Buzo tocava anunciando a volta ou a ida dos Trabalhadores da Estrada de Ferro Leopoldina.

Era, destas figuras, que se misturaram a uma Macaé forte com produtos de filhos e netos que tiveram início nos anos 40, que me propus a escrever.

Pouca gente sabe e acho que nunca foi retratado em livros os inícios da vida dos ferroviários de Macaé no tempo dos Ingleses.Homens semi -analfabetos, pioneiros na formação de um trabalho se aperfeiçoavam na tarefa de mexer com as máquinas e ferramentas que chegavam ao ponto de dar aulas de conhecimentos a engenheiros estrangeiros que aqui vinham.

Eram das "Maria Fumaça", com seus vapores tocados a lenha, que se faziam a verdadeira história deste pais nos anos que antecederam ao Petróleo.

Desde Macaé, passando por Campos dos Goitacazes, indo a Cachoeira do Itapemirim, Vitória e Bicas, em Minas Gerais, homens e mulheres aqui aportaram e fizeram suas vidas nascerem. Filhos serem criados.Igual aos homens do Petróleo nos anos 80. Macaé é a única cidade do mundo que tem uma mistura tão acentuada e forte em sua genética. Desde a Ferrovia ao Petróleo esta mistura é a real motivação de aqui ter um povo extremamente cordial e universalmente feliz.

MOCAMBO

Nos anos 30 e 40, uma vala longa servia de banheiro coletivo onde, acocorados em tábuas e tijolos, os primeiros ferroviários viram nascer esta cidade no progresso da via férrea. Nos anos 80 os luxuosos banheiros, na descoberta do petróleo não diferenciam o objetivo comum da nova formula de progresso. Mudou-se o método mais o objetivo é o mesmo: cumprimento das necessidades fisiológicas.
Muitos que hoje, em luxuosos e cheirosos banheiros, são filhos daqueles desbravadores que tiveram, acocorados a uma vala fedida, a coragem de dar os primeiros passos para esta caminhada que se aproxima do fim.

'No Balcão do "Mocambo" não se vê mais seu Nicomedes com suas alegres risadas. Temos apenas que nos confortar com a ida de Gilberto para o balcão da "Taberna da Praia" onde ainda se pode recordar entre outros os velhos papos dos anos 50. Gilberto, "Dodô", Nilcemar "Mamá", "Nensinho Cauby" e Assis "Gozado", ainda são remanescente do autodidata que se esvaem nas escaídas de uma cidade que, some a cada tacada encaçapada, na história da existência e no ultimo gole de um chope gelado.

MANACÁS

A rua da Praia, cercada de Manacás, escondia os mal pagadores que, para não passarem na "Rua Direita" e serem cobrados, davam a volta por "detrás dos pés de Manacás" com destino ao cinema e a Boa Vista. Quando "neguinho" via algum se dirigindo para lá já gritava, em risos altos e terrivelmente mal aceitos: "Já vai, heim?

Ainda sinto o cheiro da maresia que vinha nas ondas de Imbetiba com peixes pulando sobre ondas e indo até a praia, pegos com as mãos. Não acreditam? Pois eu mesmo já apanhei muito peixe com as mãos nas pedras rodeadas de mar em Imbetiba e na pedra dos Cavaleiros onde hoje, as crianças do Projeto Botinho do corpo de Bombeiros, se reúnem.

Quando algum Ferroviário, mais elegante vinha pedalando uma Monark com aros cromados falavam aos cantos: De bicicleta "Novinha em Folha heim":? Até hoje não sei o porque desta frase "Novinha em Folha".

Quem gostava muito de desfilar com uma Monark colorida e,que acendia luzes ao toque mágico do freio na mão esquerda, era Lamanda e Maury "Loucura de Maio".

A ferrovia marca o início de uma transformação profunda na cidade nos anos 30, 40 50. Não só pela cultura que se misturava como pelo casamento com gente nativa. Miramar, Cajueiros, Aroeira, Imbetiba e Praia Campista foram as semeaduras destas misturas de sangues, vindo dos trilos das velhas locomotivas nas transferências de gente de toda a parte. O que acontece hoje com a Petrobrás, na mistura de gente e raças foi, iniciada com a ferrovia.

Num canto de mesa, do Bar Mocambo que tinha a amendoeira com sua vertente sombria natural e fesca, uma Velha Rumba sonoriza rastejante e assume o ambiente das recordações:

"Um dia.
Uma vez lá em Cuba,
dançando uma rumba,
disseram que eu era.

E o breque repetia em todos os ouvidos que viviam a época:

"Escandalosa
Escandalosa"

E todos iam ia assobiando e cantarolando com destina as Oficinas de Imbetiba a espera do Buzo do Meio Dia. No auditivo de todos os velhos ferroviários, o som da Radiola do BarMocambo de seu Nicomedes Aguiar.

MISTURA DE RAÇAS

Macaé ganhou com tudo isso a forte raça que desponta nos anos 2008 com belas e opulentas cabeças nascidas destas transformações. As misturas iniciadas no final do Século com a chegadas dos Petroleiros, fortaleceram ainda mais a vertente sanguínea de nossa formação nos próximos 20 anos. São homens de todas as cidades do Brasil outros do exterior que chegam a cidade e se amalgam as nossas culturas nativas.Trazem suas Histórias, suas Canticas, sotaques e Lendas. Seus filhos e filhas que com os nossos formam a cultura que não se encontra em lugar nenhum do Brasil.

Nos colégios, Públicos ou Particulares os meninos e meninas buscam fortalecer o vínculo de uma nova cidade que, saída do ciclo da Ferrovia, entra no ciclo do Petróleo com o fortalecimento de um novo afetivo entre seus descendentes.

Assim como nos anos 30 e 40, a nativa e pura Macaé recebeu os velhos ferroviários, ela hoje, nos anos 2000, recebe e se mistura com velhos Petroleiros que fazem revigorar o sentimento do amor universal que faz a cidade crescer. Novos bairros são formados com habitantes que chegam em busca de trabalho onde iniciam a troca de informes culturais e aprimoramento da nossa cultura nativa.

DAS NOSSAS FRIVOLIDADES

A gente fazia nossos "Barquinhos" de folhas de jornal ou de cadernos deixados, a correr, por entres pingos de chuvas em beiras de calçada. Era assim as Ruas que davam acesso a Praia de Imbetiba. Rua do Meio (Dr. Bueno), Rua da Poça (Luiz Belegard) e Rua da Igualdade (Cemitério). Ficavamos observando para ver onde iam nossos sonhos tão belamente vestido neste paraíso que só crianças e velhos podem ver e sentir. Barquinhos de Papel que viaja em muitas mentes infantis por este mundo afora. Barquinhos que o cimetar e o asfaltar das ruas deixou no esquecimento da poeira da vida... (José Milbs de Lacerda Gama, memorialista, cronista e jornalista. Editor de www.jornalorebate.com )



í

17.3.08

Minha ida ao nordeste do Brasil com passagem em Conceição do Coité BA

O REBATE VAI A BAHIA:

CONCEIÇÂO DO COITÉ, UMA LINDA CIDADEZINHA

À tarde ainda nem começou quando tomo a condução que me levaria a uma das mais lindas cidades do Brasil. A distancia de Salvador e a busca por estar sempre atualizada em suas obras e socialmente bonita, a cidade de Conceição do Coite encanta a todos que, como o autor, tem a felicidade de conhecer. Ruas bem traçadas e um ar de natureza pura fazem com que as infâncias sejam revistas no interior da mente e abre as portas da beleza que brota em cada passada nesta cidadezinha pura.

Conceição do Coité abriga as belezas que buscamos existir em lugares que estão se perdendo nas esquinas enfumaçadas do progresso das grandes cidades. As pessoas caminham suavemente leves em passadas que buscam, a cada pessoa que é avistada ao longe, os cumprimentos que sumiram nas ruas de todas as capitais do universo. O homem que olha de soslaio para o automóvel que para na Semáfora, perto do sobradinho onde trabalha Mariandre Maciel com seu simpático pai, é saudado pelo jovem que vende sorvetes e picolés num carrinho ambulante. Não existe diferença entre as pessoas. Elas se conhecem desde criançinhas. Muitos são nativos e base da formação da história da cidade.

A descida na pequena rodoviária e o atento observar de uma pequena charrete faz contraste com alguns automóveis de luxo. Aceno de mãos, entre o motorista do auto e o condutor da charrete azul dá a dimensão carinhosa desta população que pouco "se reta" quando recebe um sorriso de algum estranho, mais fica "virado na zorra" se alguém fala mal deste paraíso baiano.

As meninas são todas lindinhas e caminham em suas "fardas" delicadamente bonitas para os colégios públicos. Uma faculdade de letras se faz presente e muitas destas adolescentes buscam ali, sua formação cultural. Mariandre me recebe na chegada. Seus olhos brilham com o brilho do belo puro que revi em mais olhares em Coite. Ela se orgulha deste paraíso baiano e vai mostrando toda a cidade. Mary, no esplendor de seus 18 anos não se cansa de apontar o belo de seu paraíso natal.

Mary sabe que minha demora em Coite é muito rápida. Tenho que ia ainda ao Pará, Santarém, Rondônia, Roraima e Pernambuco. Em Garanhuns uma simpática amiga vai me falar das histórias deste paraíso pernambucano. Nelminha de Barros sabe tudo de Garanhuns e me espera. Assim como Maryandre ela me guiará nas historias dos sertões de Pernambuco.

Em matéria de Educação e Cultura Coite esta bem servida.Claro que deveria ter uma escola Técnica ou mesmo uma faculdade de Medicina. Mais isso fica para um futuro próximo.Os adolescentes sabem que tudo tem sua hora certa de vir.

Hospital Novo ainda está muito a desejar. Como em todo o Brasil a saúde está doente também em Coite. Pobres ficam horas para serem atendidos e ainda se pode sentir uma diferenciação no trato. O Hospital Almir Passos sofre as dificuldades comuns em outros no interior deste Estado. Doentes, principalmente pobres e idosos são as principais vítimas desta precária situação médica. O povo coitense clama por melhores condições de saúde para sua população pobre.

O sol ainda teima em se fazer presente nesta linda cidade e eu caminho ao lado de Mary por ruas e locais lindos. Ela vai me contando das coisas que sua cabeça escutou dos mais velhos e as histórias que são passadas de pai para filhos neste paraíso baiano. Como tenho pouco tempo de estadia vou olhando, despedidamente da "cidade pura" que nos faz sentir a existência do divino. Ao final da tarde tenho que voltar a Salvador. Marcar minha passagem no vôo que me levará ao Pará. Aproveito uma paradinha de Mery com alguns meninos e neninas com lindas fardas de um Colégio Público, para o Iguatemi onde falo com Kelly, outro encanto de menina que mora em Salvador para ver se o vôo para o Pará está no horário. Kelly Rocha Bittar, 21 anos, soteropolitana que prefere ser chamada de baiana mesmo, será minha próxima cicerone em Salvador quando eu voltar de Roraima e do Pará.

Horário para cumprir, peço a Maryandre que voltemos a Rodoviária. Pequena refeição e deixo este mundo lindo de Conceição Coité

Antes de partir ainda pude ouvri a doce vóz de Mariandre Maciel em alegria pela minha presença em sua encantada cidade. "Obrigado, meu Rei"

. Jose Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornaorebate.com

15.3.08

Antes de chegar em Macaé, no ano de 1932, O REBATE esteve em Miracema

"O REBATE" ATRAVÉS DE SUA HISTÓRIA...

em 1925 surgiu o LIBERTAS, de Melchíades Cardoso - órgão do Partido Separatista de Miracema, que acompanhou passo a passo a campanha separatista de 1925 a 1934.Surgem ainda O REBATE (1926), de Sinval Bernardino de Barros, que se propunha a defender os interesses do município de Pádua;http://www.grupos.com.br/blog/miracemarj/month/2-2007.html

11.3.08

UMA CIDADE PENITENCIARIA PARA OS POLITICOS CORRUPTOS DO BRASIL.

Sentado na minha velha rede. Olhando ao redor do meu universo. Sentindo o estrago do terceiro vendaval que bate no Novo Cavaleiro. Cheirando a mistura de "Dama da Noite" com Jasmin. Em Campos dos Goitacazes, terra de meus avós Gama, tomo conhecimento da prisão de Secretários do Prefeito (de lá) que fugiu a a mulher (dele lá) agride reporteres. Penso: "ainda bem que não foi em Macaé. Seria uma vergonha saber que esta cidade onde nasci, onde nasceu Washington Luiz, Luiz Lawrie Reid, Claudio Moacyr de Azevedo, Desembargador Ronald de Souza e tantos outros, tenha seus politicos dos anos 2000 envolvidos em corrupção. Não!... Macaé não tem corrupto. Isto é coisa de Campos. Ainda bem...Mais, por via das dúvidas, olhe que vem chegando uma de minhas netas...

II

Não conseguia mais ver TV. Vulgaridade, venda de bebidas que são oferecidas, sexo frio, exposição de corpos sem que respeita as crianças e velhos...

Seus pensamentos vagueiam. Seria sua idade, 70 anos, que o estava transformando num purista? Será que caduca e se transforma num sensor? Pensava e observava o vôo de 4 Bentevis que procuram pouso nos Coqueiros de sua morada. Coqueiros Imperiais que resistem há 60 anos à destruição do Bairro do Novo Cavaleiro em Macaé, cidadezinha que se acocorou ao progresso e está com suas nascentes e rios destruídos pela sanha avassaladora do ganho de grana fácil dos especuladores imobiliários.

Enquanto observa o pousar feliz das 4 aves, se volta para atender sua neta Mariana, Volta a pensar,num milésimo de segundo antes de se virar na velha rede branca que _as vezes é tambem cadeira:
-Lá vem esta menina com mais um de seus trabalhos de colégio buscando dissertação e idéias".
A menina se aproxima e tira de vez a sua observação nos passarinhos.
- Diga lá, minha grande neta.
Mariana estava mais séria do que das vezes anteriores. Vai direto ao assunto:
- Vô, Político é tudo ladrão mesmo? Eles têm filhos e netos? Antes das novelas, continua a menina sob o olhar pasmo de seu velho avô, eu escuto no Rádio e na TV que os senadores, os deputados, os vereadores e uma porção de juizes e desembargadores estão roubando todo o dinheiro do POVO brasileiro. Tem até a voz deles falando no telefone. Eu fiquei triste por que eles deveriam respeitar os seus filhos e netos. Já pensou, vô, se o senhor fosse político e eu visse o senhor algemado na TV? Pior, Vô é que o Prefeito de Campos, também está sendo preso por roubar o dinheiro do POVO de lá. Puxa, ainda bem que não foi em Macaé...
Enquanto acompanho a seriedade desta menina de 13 anos, volto a olhar para os passarinhos, que, agora cantam e pulam na alegria de uma fina chuva de final de verão. Mariana retruca:
- A professora do meu colégio quer um trabalho sobre o que a gente, criança, acha dos Políticos Brasileiros. Será que o senhor pode me ajudar?
Minhas mãos chegam até a cabeça. Meus cabelos estão totalmente embranquecidos. Metade, penso, pelo sereno da vida e a outra é mesmo pela genética. Meus pais e avós ficaram grisalhos aos 18 anos.
Não quero deixar que minha neta, 13 anos, veja uma lagrima de ódio que brota em meus olhos. Olha sua neta que, na sua inocência acha que pode obter justiça neste sistema que vivemos. Justiça num país de injustiças.
Volta-se e, como se já tivesse na mente tudo que seria dito e escrito pela menina em seu trabalho escolar e sentencia:
- Quem sabe, um dia, quando este sistema que si está agonizando e que fez muita crueldade, acabar a gente não pega toda esta gente que roubou, matou trabalhadores, explorou as pessoas, discriminou velhos e crianças, escreveu novelas para desviar a beleza e a pureza de milhares de jovens, políticos que se enriqueceram com dinheiro do POVO , juizes e desembargadores que venderam sentenças, enfim toda esta gentalha imunda e cruel e os confinemos numa CIDADE PRESIDIO?
- Como assim, vô? Cidade Presídio?
-Sim. Uma cidade presídio. Mariana, vamos imaginar uma cidade quando você tiver 20 anos. Uma grande cidade, com estrutura bem reforçada em muros altos e eletrificada (iguais às casas dos políticos e dos juizes e desembargadores que estão sendo descobertos, presos e soltos), Cidade com um forte esquema de segurança externa. É uma idéia que tive quando vc falava quando aqui chegou.
- Sim, agora já estou entendendo, reforça Mariana.
-Otimo. Bom que você entenda por que na sala de aula você terá que, quem sabe, ler o texto para seus colegas e para isso terá que saber esta minha idéia que, a partir de agora, será sua também.
-Só uma coisa, interrompe a menina que se aconchega ao lado do avô: Seria uma cidade presídio imaginária? Não dá para a gente colocar também as pessoas que roubam nas Prefeituras e ficam snobando e maltratando as crianças pobres que os pais trabalham de verdade?
Eu sempre me orgulhei de meus filhos e agora dos netos.. Todos estudando, como ele, em Colégios Públicos. Mais esta sua neta estava ali, a sua frente, sem nunca ter lidos os livros que ele absorve e lhe dá substância odeológica. Estava ali, dando subsídios para a transformação desta socidade... Antes mesmo que seus pensamentos pudessem se desviar para um galo vermelho que canta no jardim, fala:
- Sim minha doce menina, esta Cidade Presidio, além de abrigar os milhares de políticos, assessores, delegados, policiais, enfim, enfim, todos estes senhores que estão comprometidos com desvios de dinheiro publico, envolvidos em comissões de empreiteiras, vai abrigar os que, por omissão, sabiam e permitiram que estes fatos acontecessem. E foi falando, como se estivesse num confessionário:
- Pode também colocar nesta cidade, juizes, advogados, empreiteiros, milhares de vereadores que levam propinas de empresas de ônibus, de firmas multinacionais e centenas de secretários de Estado, Ministros e ex Ministros. Marina interrompe:
- Vô, crianças e velhos vão para esta cidade presídio?
- Criança não. Velhos safados, que deram mal exemplo para os netos e para os filhos vão sim.
- Criança vai sempre olhar esta cidade, pensei aqui. Terá um grande painel de televisão, onde irá passar a vida destes homens corruptos, ladrões de gravatas. Será um filme, tipo: "Olhe o que eles fizeram e por que eles estão lá"...Como se estivesse dizendo as crianças."Viu como eles foram cruéis? "Estes exemplos não podem ser seguidos"...
- Você está entendendo, Mariana?
-Estou sim...
-Quer dizer vô, que os velhos que deram maus exemplos, vão ficar na cidade presidio?
- Sim, minha lindinha, os canalhas também envelhecem...
- Vamos voltar a falar na nossa cidade, digo isso e volto a ouvir o cantar de um Bentevi no galho da Amendoeira.

- Seria uma cidade presídio. Aproveitando para por nesta cidade-presídio, centenas de Sindicalistas safados, presidentes de ONGs. corruptas e alguns ex Governadores. Minha preocupação, minha doce neta, é não deixar esta camarilha de Homens Públicos, que envergonham seus filhos e amigos, ficarem misturados com presos comuns. A presença destes corruptos poderia contaminar os presos comuns.

-Tava pensando nisso, alerta a menina: tem muita gente que rouba pão, manteija, comida e eu fiquei pensando em pedir ao senhor isso que o senhor falou. Não deixar estas pessoas juntar com esta gente ruim...

- Não se preocupe, minha neta. Para essas pessoas que você fala, existe leis que protegem quem comete estes pequenos atos. Só que alguns magistrados e delegados de polícia, preferem prende-los e deixam soltos quem lhes dão propinas. Você não está vendo nas Tvs o que eles fazem?

-Vendem sentenças para a jogatina, ganham carros do ano, vultosas quantias em dinheiros e ainda "prendem e arrebentam" quem pega, num super-mercado uma margarina. Lembra daquela jovem que ficou presa em SP por um delegado por ter expropiado uma manteiga para seu filho?

-Sim, continue que eu estou entendendo tudo que o senhor fala. Acho que vou fazer um lindo trabalho, diz Mariana, orgulhosa do avô que fala com euforia. Parecendo até que já estamos numa nova democracia...

- Me vejo aumentando o potencial de minha fala, quando alguma carreta ou buzinar de carros tentam cortar meu raciocínio. E, contunuamos a conversar eu e minha linda neta:
- Como esta gentalha está totalmente viciada na corrupção, só consegue o desejo sexual com uma nota de cem nas mãos e não sabe viver sem levar uma comissãozinha de 20 ou 30 por cento, esta cidade teria em circulação notas de dólares falsos e de reais. Para eles não ficarem em depressão por falta do "ópio deles" que é roubar dinheiro do contribuinte.
- Os bens destes canalhas, homens ate velhos de cabelos brancos, que nem respeitaram seus filhos e netos, seriam todos confiscados para manter a cidade. Eles mesmos podem eleger seus dirigentes nesta cidade. Como este presídio vai ter muitos portadores de títulos de faculdades não haveria necessidade de celas especiais. Semanalmente as crianças seriam convidadas para aulas onde esses canalhas seriam mostrados em fotos como "exemplo a não serem seguidos"...
- Legal, vô, maneiro mesmo. Já entendi tudo. As crianças iriam lá na cidade presídio igual no Zoológico. Olhar a vida destes homens e mulheres que, durante anos, décadas fizeram maldades com os pobres e roubaram o dinheiro dos impostos, né isso, vô:
- è isso mesmo. Como eles não conseguem mudar "o vicio" de roubar, etc. etc. arremato:
-Nesta cidade/presídio, haveria eleições entre eles de Vereadores a Presidente.Que você acha, minha neta, desta cidade do futuro?
Mariana, como que adivinhando o meu pensar complementa:
- Que o senhor acha de por nesta cidade as pessoas que fazem os programas de televisão? Os donos das fabricas de bebidas, cigarros e os escritores que se vendem para fazer as novelas horríveis dos horários nobres?
Momento em que eu, que tive meus pensamentos captados, penso, ao sorrir para ela que corre para o colégio levando as suas mãos o texto sobre os POLITICOS BRASILEIROS...
II
A cidade ainda dorme com suas ruas com poucos transeuntes. Colégio Público começa cedinho e as ruas estão enfeitadas com centenas de crianças que tomam ônibus, se aconchegam uns aos outros e rumam para os educandários. São coleguinhas de Mariana, meninas e meninos. Pelo vidro do ônibus ela nota que passam luxuosos carros importados com outras crianças indo para muitos dos colégios particulares que existem na cidade. Pensa em seu vò que, um dia, falou com ela: - "Mariana, criança que estuda em colégio daqueles que as crianças são levadas, são iguais estas galinhas criadas em granjas. Não pegam Sol, não brincam na chuva igual você e seus amigos. Eles são criados como se fossem feitos em cativeiros. E, lembra do arrematamento do avô, ao tempo que retorna o olhar pelo vidro do Ônibus e vê alguns meninos soltando pipas no redor de uma praia. - "A culpa não é das crianças não. São de seus pais e deste sistema cruel que vem a muito matando as coisas belas do mundo.
O colégio se aproxima do parar do veiculo. A porta do estabelecimento já está com centenas de seus colegas. Pensa: será que a professora irá entender seu trabalho e sua idéia de uma Penitencia/cidade? Sei, lá, matuta: apesar do colégio ser público e ser frequentado por crianças simples os valores são parecidos com tudo que passa na TV e nas ruas. Prefeitos. Vereadores, gente da sociedade, alguns deles até acusados de maldades com o POVO pobre, que se enriqueceram desviando coisas da comunidade são vistos nos dias de festas. Será que a professora não vai brigar com ela ou lhe dar nota baixa?
Dona Matilde tem sempre um olhar diferente das demais mestres do Colégio Estadual Luiz Reid. Não gosta de dar notas a quem tem erros de gramática ou de pontuação. Pior de tudo é que seu trabalho deve estar todo cheio de erros. Seu Vô não se formou em nada, ele mesmo diz que se orgulha e ser "apenas formado em dactilografia" e que, a muito custo só foi até o segundo semestre numa Faculdade de Direito. Seu trabalho não deverá atingir nota mais que 5.
Chamadas por nome e eis que ela chega ao mesa. Mariana, seu trabalho está muito bom. Você tirou 10, diz em voz alta Dona Matilde que, com 40 copias de seu trabalho começa a distribui los com os demais alunos pedindo que eles falem o que acham da cidade/presídio e que eles, as crianças, levassem a idéia para seus pais e que eles também participassem do trabalho...

José Milbs de Lacerda Gama, jornalista, cronista, historiador e editor de O REBATE www.jornalorebate.com

6.3.08

SUOR,LAGRIMAS E SAUDADES DO NORTE DO BRASIL...

Suor, lágrimas e saudades
José Milbs
O sol permanece escondido entre os raios de Lua que teimam em reinar no amanhecer da cidade. O dia ainda nem começou, quando centenas de homens deixam os alojamentos e caminham com destino à obras que lhe fornecerão “o pão de cada dia”. A barriga ronca, o hálito diz da precariedade da dentição o e os braços se erguem num espreguiçar que deixa à mostra a musculatura rígida feita de pancadas de estacas e levantamento de sacos e mais sacos de cimento.
Sorrisos trocados com companheiros, olhar escantilhado para os lados em busca de capacete e roupagens coloridas com os logotipos de empresas tercerizadas fazem a rotina destes homens cujas rugas na face dão conta dos anos em que servem de “mão-de-obra”, deixando transparecer o belo olhar infantil que brota na universal identidade com seus companheiros de labuta.
O ranger da porta, feita de restos de taipas de outras obras e a tramela fixada ali com carinho e arte, deixa entrar os primeiros raios de sol que, como que pedindo licença, começa a esquentar as entranhas do alojamento. Os beliches, com esteiras abertas pelos anos de uso, deixam à mostra o madeirame duro que se faz de estrado.
Rostos lavados em vasilhames, bochechos e abrir de bocas são as primeiras identidades desta universalidade humana. As xícaras de alumínio, algumas já amassadas pelo uso antigo, recebem os lábios sedentos de sede e fome destes homens que partem para as obras da construção civil nos luxuosos bairros da cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro, arrotada pelo monopóio dos meios de comunicação como a “capital do petróleo” e a “melhor cidade para se viver, morar e trabalhar”.
Ainda com o estômago embrulhado pelo alimento do dia anterior, eles sorriem entre si, falam, em seu linguajar alegre e partem para a luta. Assobios, cantigas, versos ao vento e, sei lá onde tanta pureza brotando da brutal vida que a sonorização dos versos e cânticos, penso, os elevam ao patamar dos pássaros.
Uns fumam, outros biritam. Uns falam de mulheres, outros de religião. Todos, no entanto, arquejam no andar e deixam à mostra a incerteza do dia seguinte. Se a fome aumenta, engolem o último pedaço de pão comprado no mercadinho perto do alojamento. Se sentem sede, bebem da água encanada. “Barrigas vazias são tambores da revolução”, dizia Adão Nunes que, nos anos de sua militância ainda acreditava no parlamento. Os tempos passam, outras barrigas batem tambores em outras fomes.
A construção civil não pode parar. Hotéis de luxo para abrigarem os patrões do patrão. Suas carteiras de trabalho não pesam mais em seus bolsos. Elas foram requisitadas pelo jagunço das empreiteiras e viajaram para outros estados para serem “assinadas”.
A fachada da obra tem nomes suntuosos de conhecidas empresas no ramo nacional. Publicidades são feitas em seu nome, jantares e reuniões idem, retratos e visitas caritativas em clubes sociais também. Colorida e iluminada, a fachada das obras ostenta o nome de socialites famosos, com suas caretas famigeradas e seus cabelos pintados que deixam transparecer o olhar cruel de quem enriqueceu à custa do sacrifíio de homens e mulheres indefesos e puros.
A mais-valia astronômica que esses cafajestes da construção civil embolsam é tão monstruosa que eles abrem hotel em cima de hotel, como se estivessem construindo barquinhos de papel. Fazem edifícios com andares em local antes proibidos e em praias que terão seus dias finitos pelas sombras que, por certo, virão em pouco tempo.
O bolso vazio do traseiro que não tem mais a carteira de trabalho é preenchido com papéis e anotações. Uma espécie de diário onde se pode ler, em alguns “garranchos” gramaticais, anotações de dias, horas, sábados, domingos e tardes noites de extras.
O jagunço que pegou as carteiras fala grosso. Gesticula em gestos brutos sem saber que põe para fora sua homoxessualidade reprimida. Fala com os trabalhadores como se estivesse em campo de batalha e dando voz unida. Diz-se assessor do dono do hotel e que as carteiras irão chegar de São Paulo em menos de 3 meses. Os operários se olham em silêncio. O último que ousou desafiar este monstrengo em forma de humano foi despedido e está passando fome nas ruas empoeiradas dos bairros periféricos de Macaé. Quer voltar para o Maranhão e está esperando ser atendido pela assistência social.
— Ele mesmo disse — falam quase balbuciando — que o maranhense já viu várias vezes o jagunço tomando chope com o pessoal da prefeitura.
Todos os operários foram pinçados fora de Macaé. Uns vieram do interior da Bahia, convidados por outro jagunços, que se diz dono de empreiteira e que assinou mais de cem carteiras de trabalho. Outros foram trazidos do Maranhão, cidades bem do interior. A maioria trouxeram de São Paulo e Minas.
O jagunço que se diz empresário e recolheu as carteiras sumiu das obras. Dizem que foi para São Paulo. Lá uma outra obra, precisamente em Bauru, deixou centenas de operários sem receber. Como eles eram, a exemplo dos daqui, de outros estados, não ficam para “por no pau estes canalhas”. Precisam viver e partem para outra.
Num canto da cidade os donos das construções e seus jagunços festejam mais uma grandiosa obra, inaugurada com a presença de todas as autoridades civis, militares e eclesiáticas do município. (José Milbs de Lacerda Gama, cronista, editor de www.jornalorebate.com )