QUANDO MEUS FILHOS TINHAM 11 OU 12 ANOS....
Com minhas idas e vindas, no início dos anos 2000, para levar meu filho José Paulo ao colégio Estadual Luíz Reid e visitar minha outra filha Laís no colégio Estadual Mathias Netto, tenho feito amizades com meninas e meninos de l1 e l2 anos que me passam informações preciosas de suas vivências e me fazem entender melhor o belo de suas falas nem sempre ouvidas por maiores que não entendem, ou se fazem de “não entendidos” nos seus conhecimentos e belezas que só esta idade pode ter e uma só vez na existência humana.
Quando Luís Cláudio, hoje com 40 anos, tinha seus l3 ou l4 anos, e caminhava para o que se chama adolescência, minha outra filha Aninha tinha 11 ou 12 anos. Assim como hoje, no início do século XXI, o José Paulo e Laís teem 11 para 12. Esta época floresce as amizades e muitas ficam passeando na existência nossa até o final da vida. Dizia meu amigo Otavianno Canela, do alto dos seus 100 anos, que “o filme é que acaba, como se na cabeça tivesse longas fitas que iam se renovando a cada dia vivido e a cada sonho sonhado. Era como se a gente, na saúde do dia a dia renovasse estes filmes, e que as doenças iam queimando, queimando, até que ele parava de andar”. Canela sacou isso e me disse, momentos antes de falecer nos anos 90: “Zé Milbs, acho que meu filme está acabando. Ri para alegrá-lo mais tinha certeza de sua descoberta.
As crianças, no meu caso, os filhos, passam para a gente as suas belezas em amizades e afetos. Não posso esquecer os amigos de Luís Cláudio, hoje grandes e pais de outras crianças. Ele brincava e andava com Rogério, Paulo Henrique , “Boi Lambeu”, Máximo, Zé Eduardo, “Tonico”, “Marquinho Pintado”, “Alexandre Menos Um”, “Maurício Sujeira”, André Peixoto, “Ary Jaburu”, Alex irmão de Nélio, Jurandi, “Beto”, Evandro, “Janinho Mancebo”, Filipe Guedes, “Dadate,” “Valzinho”, Zé Fernandes, “Cezinha”, “Faeca”, “Zé” eram pessoas que iam e vinham na vida de Luís Cláudio que junto com Aninha habitavam seus mundos e criaram raízes profundas na história de Macaé já no tempo próximo aos anos 80.
Esta geração representa o seguimento da minha geração e dos pais deles que foram meus contemporâneos nesta Macaé que tento retratar em meus escritos.
Minha filha “Aninha” vinha sempre com Gizele, Fabiene, Daniella, Dany Drumond, Larissa, Aparecida, Simone, Suzane, Vanessa, “Valerinha” que morava na casa de “Carlito Gonçalves” e outras e muitas que juntos com as amizades formavam o mundo que eu revia, nas minhas infâncias de antanho.
Muitas destas crianças tinham afinidades com o meu passado havidos com os pais como era o caso, para citar apenas um dos muitos, como Isabel de “Lulu” que era pai da meiga e pura Fabiene que ainda tenho na minha cabeça sua voz me abraçando e me chamando de “Seu Zelmildo”.”Seu Zelmildo” que ela levou para o céu num triste desastre quea vitimou com Izabel, sua mãe. uma linda loirinha que estudou comigo no Colégio dos Cajueiros e que, mais tarde, iria se casar com “Lulu” de dona Conceição, vizinha de Inês e Lúcia, outro patamar das histórias de nossas infâncias...
Esta fase triste fez com que esta geração de meus filhos sofresse um baque humano, igualado apenas com o que vitimou “Beto” e Evandro, do grupo de Luís Cláudio.
AS CRIANÇAS
Lais estudava no Mathias Netto conversei com uma linda e doce menina de sua idade que, no decorrer do tempo foi me encorajando em meus escondidos temores existências e me passou encoramento.. Ela relatava que era neta de um dos meus bons amigos, cujo nome evito publicar porque pode ferir sensibilidades. Erica falava de suas alegrias e frustrações. Alegrias por estar no colégio, na 4ª série, ter 11 aninhos e ser colega de Laís que se elegia neste dia Rainha do Colégio em eleição. Sua voz trazia a meiguice dos seus ll anos e uma linda ruga de preocupação tomava-lhe conta da face como que sentindo a ausência de um ser que para ela tinha e tem a importância dos deuses. Saudades de suas tias. Avós e tios...Erica tem um lindo olhar que sempre parece espreitar algo.Mais tarde revi Erica no Grupo de Escoteiro.
No colégio Luiz Reid, conheci Eduarda, muito precose nos seus 11 anos. Todos de sua sala tem mais de 11. Não tem história nas raízes de Macaé porque sua mãe veio do Paraná e ela tem apenas 2 anos morando em Macaé. Meu conhecimento da Eduarda , da turma 502, do colégio, foi um destes momentos que não se sabe nem como começa nem como existe. Era uma época pré natalina e eu estava encostado no muro defronte a porta que dá aceso ao saguão principal do educandário.
Zé Paulo demorava a chegar e algumas meninas saiam com árvores de natal feitas por suas mãos e com os métodos simples e rústicos. Algumas árvores eram ornadas com pipocas, outras com copinhos de plásticos etc.
Era o belo desta época representado pelo belo dos educandários Estaduais que fazem do artesanato o caminho mais curto contra a avalanche capitalista e burguesa que invade nossas raízes cristãos com ofertas e mais ofertas de presentes que nada mais é que a própria negação do verdadeiro sentido cristão. Ainda existe, pensava comigo, reações naturais que se põem em confronto com esta massificação comercial natalina que teima em transformar tudo em compra e faturamento que vão encher os piscas-piscas de comerciantes e empresários malandros.
Voltando a meu encostamento no mural de fronte ao colégio pude ver o vulto pequenino e sutilmente belo de Eduarda com sua obra natalina nos braços.
Às costas trazia uma mochila preta quase comum a todas da sua idade. Uma rápida parada no portal minha atenção foi chamada por que ela, com as mãos ia destruindo todo o trabalho que deveria ter sido de horas na confecção desta arvorezinha que pensei ser sua oferta em casa para pai e mãe. Deixou-me curioso, no entanto que ela. ao fazer a destruição tirava os ornamentos que brilhavam e ofereciam a uma outra menina que, sob seus braços, abraçava outra árvore de Natal. Esta feita e ornada de pipocas brancas.
Eduarda, ao tempo que me parecia destrutiva na obra, contrabalançava a personalidade com este gesto que mais parecia uma ação socialmente pura e divina.
Lembrei-me do sertanista Vilasboas falando da pureza da mãe índia na criação do menino que quebrava o brinquedo só quando feito etc. Vi que não tinha muita relação com o indiozinho a ação de Eduarda mais, me veio alguns pingos de profundo afeto e curiosidade sobre esta menina paranaense e com olhar de liderança latente. Como Estava chovendo todos se acotovelavam e ela se aproximou de mim depois de pisar com força o que restou de sua árvore de natal.
Ainda passava para sua amiguinha pobre os últimos ornamentos, que eram delicadamente postos na mochila da menina, quando eu lhe sussurrei aos seus olhos morenos e profundamente tristes. Sua árvore de Natal é muito bonita!. Como que se faz isso?
Neste momento eu fiz ressuscitar dos chãos cacos de sua obra e pude sentir que a árvore voltava a habitar seus braços brancos e de uma finura angelical. Na espiritualidade deste momento onde os centésimos de segundos só são vencidos pela força rápida do olhar, pude sentir em seu gesto a saudada da árvore destruída materialmente e recomposta na inexistência da matéria.
Eduarda deixou os olhos nitidamente angelicais caírem no absorto do momento e me disse com uma voz que saía de dentro de seu ser e invadia o local onde só eu pude ouvir Se você quiser eu vou fazer outra para te mostrar amanha. Farei de pipocas brancas, ficarão lindas.
Insisti que gostaria que fosse de copinhos brancos de plásticos que achei mais bonito. Eu forçava e com isso queria que ela deixasse que eu visse no invisível do momento o visível ato que lhe fez destruir a obra.
Conversamos amenidades e ela me falou de sua existência em Macaé/ do pai que ficou em Curitiba. Da mãe que tava viajando para São Paulo e tinha sido vitima de um assalto lá, do padrasto e da irmãzinha de 6 anos.
Eduardo, falava e abriu um lindo leque existencial pondo a mostra uma menina criativa e profundamente sensível e inteligente. As suas articulações mentais vinham com início e fim.
Não era uma menina igual. Ela era diferenciada das pessoas comuns que vejo e falo no dia a dia de minhas pesquisas sobre o comportamento humano
. Sua aparência física tinha, agora lembro, um parecimento com Erica. Ambas muito branquinhas, magras e belas. Seus olhares se pareciam no piscar curioso e as falas também eram falas penetrantemente puras, desconfiadas e firmes,
Destas falas que invadem nosso ser e ficam ecoando no nosso coração, se misturando ao vital e dando fortalecimento e revigorando a gente. Entre Eduarda e a outra menina, além dos belos, pude sentir a coerência da presença de seus pais. Seria a proximidade do Natal que fazia esta transferência para o meu entendimento ou era mesmo as ausência algo que eterniza a existência de toda criança.?
Ai me veio a memória meus l1 anos quando não tinha a presença de meu pai. Éramos então iguais. Eu, Erica e Eduarda estávamos sentindo as mesmas faltas.
Eu de meu pai que se separou de minha mãe e foi para São Paulo, Erica do dela e Eduarda idem.
Esta trilogia de ausências e amor me fazia matutar no fortalecimento que fazem na gente. Eduarda, eu e Érica temos que criar, e criamos, um momento de eterna ausência, que poderá e será o nosso cimento para a formação de nossa própria personalidade. Longe de criar o desejo da presença da ausência a gente criou o valor do conhecimento da ausência e cimentamos a formação de idéias que passamos a usar no fortalecimento de nossa relação com o mundo.
Érica aconselhando que deveria ir mesmo ver Laís ser eleita rainha, sentir sua alegria do pai na platéia e dedicar a mim sua vitória como seu ídolo. Érica me fez chutar o balde de uma sociedade hipócrita e fui ver a Coroação de lais Rainha do Colégio Mathias Netto...
Eduarda me dizendo do belo refazer uma obra que lhe foi pedida sem o rancor da agressividade e eu dizendo para elas “que a ausência da presença que sempre quis ter e não tive me deu outras forças, outras formas de ver o mundo, mesmo sabendo que faltava alguns copinhos na árvore de natal de minha existência”.
Minha infância longe de meu pai fez-me entender as ausências destes anjos em seus sentimentos escondidos.
O CONTO DA JOANINHA DE EDUARDA
No outro dia voltei a ter com Eduarda. Agora já amigos, falava de sua religiosidade, dos seus medos em matemática e de sua existência de menininha. Dizia de sua cidadezinha Guarapuava que fica no Paraná, e que para ir para ela pegava o ônibus de Foz do Iguaçu e que sua avó mora com uma tia avó dela num sitio onde tem cachorros, gatos, árvores e um belo balanço. A cidade ela me diz que tem muitas casas bonitas e de madeiras. Seus olhos brilham de carinho quando se refere a sua existência em Guarapuava...
Eduarda tinha escrito uma historinha que, sabedor que eu estava escrevendo um livro, queria me mostrar. E aí vai um dos momentos mais lindos deste livro. Público na integra sem mudar nada.
JOANA, A JOANINHA MENTIROSA
Era uma vez, numa cidadezinha uma joaninha chamada Joana. Em um belo dia, ela gritou correndo pela cidade.
-Socorro! Socorro! entrem em suas casas. Tem um pássaro vindo para cá!
Bem na hora que as joaninhas entravam ela caía na gargalhada dizendo.
-Seus bobos, vocês acreditaram! E todo mundo saiu de casa dizendo.
-Que menina mais mentirosa!
No outro dia ela aproveitou o que todos tinham esquecido e saiu gritando novamente.
- SOCORRO! SOCORRO! um pássaro está vindo para a nossa cidade!
Aconteceu o mesmo. Todos se esconderam e ela riu dizendo.
-Vocês são tolos demais! E eles não gostaram nada disso.
Novamente no outro dia ela gritou.
-SOCORRO! SOCORRO! Agora é verdade , vão para suas casas o pássaro está vindo!
Como quase ninguém acreditou só os que entraram nas casas se salvaram, e o resto? Morreram comidos pelo pássaro.
Moral: Não minta
E se exagerar não diga nunca mais.Eduarda turma 502 C.E. Luiz Reid.
3 comentários:
É, amigo, esses momentos mágicos da vida são como aquelas bolinhas prateadas que enfeitam os bolos de aniversário. Prateadas, douradas, achocolatadas... delícia de crônica, Milbs!
Ana Lúcia Araújo
É, amigo, esses momentos mágicos da vida são como aquelas bolinhas prateadas que enfeitam os bolos de aniversário. Prateadas, douradas, achocolatadas... delícia de crônica, Milbs!
I BELIEVE THAT the IBAMA, DOES NOT MAKE NOTHING For The URBAN NATURE REASON? THEY ARE NOT WORRIED MORE For the NATURE, YES For the HISTORY Of the SÁLARIO Of the MONTH THAT RECEIVES, the MOUNT OF MONEY Of the HUMAN BEINGS, And The BIRDS ARE IMPRISONED. NECESSARY TO SAY MORE! IT ARE the IBAMA... ALIVE... GREEN PIECES.
ACREDITO QUE O IBAMA, NÃO FAZ NADA PELA NATUREZA URBANA PORQUÊ? ELES NÃO SE PREOCUPAM PELA NATUREZA MAIS, SIM PELA HISTÓRIA DO SÁLARIO DO MÊS QUE RECEBEM, O VERBA DOS HUMANOS, E OS PÁSSAROS FICAM PRESO.
PRECISO DIZER MAIS!
FORA O IBAMA...
VIVA O...
GREEN PIECES.
Mauro Bicudo.
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