Acabo de saber, por minha amiga Tânia, que o Sérgio Quinteiro Cordeiro acaba de falecer no Rio de janeiro, vitima de uma aneurisma. Fomos amigos em nossos infâncias, nas ruas empoeiradas e saudosas de uma cidade que está triste.
Sérgio, poeta, cantor, colunista social deste jornal nos anos de 1960, ex Sargento do Exército Brasileiro, solteirão assumido e um dos mais belos exemplos de simpatia e beleza. Sua presença, na Prefeitura Municipal, como funcionário era uma das mais alegres presenças que a todos cativava e fazia brotar o sentimento de solidariedade e amor.
Sérgio Quinteiro tinha dentro de si a sublimação das pessoas carimbadas pela criação. No camdomblé é muito comum estes seres se manifestarem em humanos. Em Sérgio, esta manifestação era no seu dia a dia. Sua fala era a fala do carinho que sonorizava afeto. Perdi um grande companheiro de recordações e de alegres saudades. Sobre ele, escrevi, a alguns meses, este texto que transcrevo:
ODE AO MEU AMIGO E COMPANHEIRO DE ESCOTISMO SERGIO CORDEIRO QUINTEIRO
José Milbs
“Cercada de zinco, cercada de telhas, esta cidade onde todos trabalham....”
Este foi o meu primeiro texto aos 11 anos. Foi no Escoteiro, atendendo o “pedido do chefe”. Não havia rima. Foi a minha primeira visão jornalística de Macaé no final dos anos de 1940. Casas que existiam nas ruas Dr. Bueno (Rua do Meio), Luiz Belegard (Rua da Poça), Sacramento, Agenor Caldas e Rua da Igualdade. Foi de fato à primeira vez que me senti importante. Alguma coisa que eu estava fazendo e que ia sendo repetida pelos meus colegas de Escotismo. A visão das casas dos habitantes de Macaé nesta época veio a minha memória e eu falei escrevendo as casas dos primeiros ferroviários, cercadas de zincos e outros de telas arredondadas. Claro que não agradei ao Chefe dos Escoteiros que, ligado por laços familiares a elite macaense queria algo ligado ao que seus olhos viam e sua mente retratava, Fiquei, daí para frente com uma grande vontade de escrever e por os fatos simples que via para as pessoas lerem. Ao ir para o SENAI, fiz parte do Grêmio Cultural Bruno Lobo e, novamente meu espírito contestador mexia com o poder da Escola. Tinha 13 e, no mural da Escola Ferroviária 8-l Senai, vi meus textos serem lidos pelos meus colegas de turma e ser criticado pela direção do educandário. Fazia=me bem ver isso. Pensava: Como é bom escrever as coisas que a gente sente e as pessoas “diferentes” da gente ficar contra. Devia ser destas experiências no modo de escrever que nascia em mim a vontade de escrever o que o POVO gostaria de escrever. Pensava: Alguém tem que retratar as coisas puras que nascem e vivem no imaginário das pessoas que falam, contam suas experiências e não são lidas. Aos anos foram passando e, a cada dia ficava mais feliz em escrever e me ver sendo lido. Era como se eu estivesse conversando com as pessoas através do que eu escrevia e elas iam lendo e falando. Nas aulas do colégio não entendia o porquê de escrever textos cheios de erros gramaticais, com falta de acentuação e sem pontuação. “Tirava sempre nota alta nas minhas redações e, um dia tomei a liberdade de perguntar as minhas pacientes professoras Thereza Pereira da Silva e Anita Parada: Elas responderam com a certeza de quem sabia tudo e muito mais sobre as nossas vidas:” Você de fato, José Milbs, precisa estudar mais as coisas da língua portuguesa. “
Mais não posso deixar de lhe dar as melhores notas por que você tem o dom da dissertação nata” Confesso que até hoje não consigo me adaptar as coisas do português correto e seus meandros gramaticais. Penso até, quem sabe, com o tempo procurar um copidesque que possa me fazer ficar mais inteligente nos textos e sem erros. Até lá vou fazendo assim mesmo e me desculpe os que vivem catando erros em meus velhos e novos textos.
A Fala do POVO é o que me seduz e a ele eu quero ser fiel. “Como se diz : Dexa está Jacaré, a lagoa um dia há de secar...”
A vida foi me levando e acabei tendo que assumir alguns textos em outros tempos. Hoje, com 56 anos de experiências no trato com a escrita, tive a alegria de ver meu trabalho ser colocado nos lares das pessoas através da INTER-TV. O reconhecimento de uma existência na busca das verdades e do não acocoramento ao Poder me foi útil. Centenas de amigos que comigo convivem no dia a dia da Internet fizeram e-mails felizes por me terem visto e mandaram incentivos. È a certeza desde dever que se cumpre o melhor dos prêmios. Vou continuar escrevendo. Hoje vendo outra Macaé: Cercada de prédios, cercada de galpões, esta cidade....
Pois é Sergio Quinteiro Cordeiro. A gente viveu uma época diferente numa cidade que cresceu muito. Uma cidade que sua avó Etelvina fez histórias, seu pai o simpático Cordeiro, sua alegre mãe Ilce que a gente sempre encontrava sentada na máquina fazendo suas roupas de menino, sua de Soninha e de Selminho.. Esta cidade, meu velho e querido ex colunista social do O REBATE, ainda existe em muitas mentes empoeiradas e felizes. Basta que a gente de uma balançada nas paredes que estas pétalas em forma de letras caiam e fiquem ai expostas a quem gosta de ler.
Ontem a TV me elegeu o mais antigo dos jornalistas e escritores da região de petróleo. Sabe como que venci este lindo concurso? Com o texto que você transformou em canção. Texto que a gente nem sabia que um dia iria fazer parte deste O REBATE e lido mundialmente no www.jornalorebate.com Está é a vida...
Que Sérgio Quinteiro esteja sendo recebido pelas vozes dos anjos que eles soube representar em sua vida. Breve todos nós estaremos ai, meu velho Escoteiro. SEMPRE ALERTA... José Milbs editor de O REBATE...
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