Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

28.8.11

Mataram meu amigo Zé Goiaba, Me ensinou o manejo das armas e a sobrevivencia nas selvas de pedras...



De sobrevivência em sobrovivencia finalmente, na covardia tão comum aos cornos da vida, tombou para sempre o corpo de meu amigo, visinho, companheiro de longas conversas e mestre no manejo das espingardas 32 que viravam 12 em suas maestrias mãos de velho caçador das selvas do Rio Bonito...
Zé foi um grande sonhador. Noites enluaradas no Bairro Novo Cavaleiro, antigo Bairro Mulambo, onde moramos, conheci este homem rude, nascidos nos sertões do Rio Bonito e que veio para a Região de Petróleo, como milhares de brasileiros, cansados dos "chicotar silecioso" dos senhores de terras que ainda infestam e mandam nos parlamentos do Brasil e nas Prefeituras. Veio, creio, com pouco menos de 30 anos. Mulher, 4 filhos, Luiz Carlos, Weliton e "Bicas" que se fizeram amigos de meus filhos, em especial o Zé Paulo. Tenho até um lindo texto que falo destas infâncias lindas destes nossos descendentes. Em a "cobra que espantam os adultos e fazem rir as crianças escrevi sobre eles que brincavam puxando uma linha e espantavam velhos peoes que caminhavam de volta dos "trampos" e sorriam ao "sustar-se" com a "Cobra" e se arremetiam as suas belas infâncias de antanho em longincos recantos deste Brasil tão sofrido e esplorado. Eram Zé Paulo, Luiz Carlos,Wwlliton e Bicas os autores desta momento mágico na vida de centenas de nordestinos e sulistas que pulavam de medo de uma cordinha fragil que trazia no seu final uma tira que, ao sublime encanto de um poste mal iluminado, dava penser-se ser uma cobra...
Pois é, mataram, no ultimo final de semana, o Zé goiaba. Dizem que foi um destes cornudos que não se resolve com as esposas e teimam e matar quel delas recebem um olhar de ternura como era o de meu amigo...
Zé acumulava sobrevivência desde que morava no interior do Rio Bonito. Lá, me confidenciava, havia também quem não gostasse de seu gingado e de seu olhar penetrante e de fácil entendimento para as mulheres...
Na região de petréleo, deixou um pouco as enxadas, o martelo, o arame farpado e a foice e se dedicou ao conhecimento e o trato com os tratores e os carros possantes. Vivia, ultimamente destas funções. Tinha casa comprada ao longo dos ultimos 20 anos, carro novo e gostava de trabalhar de maneira que passou para os filhos esta vertente de homem de luta...
Zé era eximiu conhecedor também da arte de manejar armas e, durante um tempo convivemos juntos. Me passava seus conhecimentos no carregamento de armas "pela boca", misturar polvoras, fazer cartuchos e tudo o mais que o homem precisa numa vida na busca da não vida. Só que eu não conseguia aprender a atirar o que ele era um mestre. Poucas vezes pude ver alguém com tanta sabedoria na busca de um alvo longe. Ria e lhe dizia:
- Zé Goiaba, meu negócio é escrever. E ele: É, mais pelo que vejo dizer que você escreve, seus dedos são também uma arma no manejo das teclas (Zé, com muita sabedoria não quis aprender a ler, e os filhos sempre liam para ele)...
Passamos bons momentos alegres e felizes. A distância nos últimos 10 anos não afastou o afeto que mantemos e nossas familias sempre se encontram nos cumprimentos alegres...
As mãos que sabiam mexer com as armas tinha também a suavidade angelical para manejar o plantio de flores. Foi de suas mãos que cresceu o belo Flamboyant que espalha melancólico suas pétalas avermelhadas no asfalto frio para serem pisadas e esmagadas por terríveis carretas que cruzam as Ruas desde antigo e bocólico Bairro do Mulambo.
A última vez que estive com o Zé, lhe deu uma rápida carona no meu Fusquinha 72 e lembramos desta linda e feliz árvore que está no RANCHO O REBATE onde moro e edito estas tristes linhas...
Na busca por mais uma sobrevência Zé tombou com 4 tiros, dentro do seu carro, no Morro do Carvão, numa noite de inverno. Dizem que pela mãos tremulas e covardes de mais um dos milhares de cornudos que crescem a cada dia no mundo do petróleo. Sua morte abre um espaço na região de minha saudade. Não aprendi a atirar com ele. Aprendi a gostar de sua santa ingenuidade cultural e de conservar seus filhos como meus amigos. Dizem que, se a Policia souber e quiser trabalhar, vai achar "mole mole" com dizem alguns.
Corre a boca pequeno na região que o Zé Goiaba, horas antes de seu covarde fusilamento, esteve num Bar em companhia de dois amigos de trabalho, tendo uma mulher no banco de tràs do carro. Seguiu para a morte e, sussuram os moradores:
- levando uma amiga de trabalho que lá no morre residia.
Seria bom dizer Descanse em Paz ou que a Guerra continua. Prefiro a 2a opção... A guerra continua nos dedos de quem não aprendeu atirar...
Jose Milbs de Lacerda Gama editor de www.jornalorebate.com

Texto estraido do futuro livro O PINGUIN DA RUA DO MEIO de minha autoria onde falo na Cobra...

A cobra de corda que espantam os adultos e abrem sorrisos de vitórias infantis me fez, ontem, lembrar dos belos inexistentes nas pessoas que se adultam e perdem o sentimento puro das recordações infantis...

Meu filho de 13 anos estava puxando esta cobra com seus amigos em frente ao Sítio onde moramos... É um local cheio de homens aparentemente rudes e felizes que trabalham nas multinacionais do petróleo. Escondidos os meninos faziam a corda dançar em harmoniosos gestos de parecimento e vida que só as crianças conseguem numa corda negra, de formato angular, que acharam num lixo qualquer de uma esquina no bairro dos cavaleiros...

Fiquei a uns 100 metros depois dos passamentos dos peões que vinham para o jantar depois de um dia de trabalho e saudades de suas terras distantes....

São homens de todas as cidades e capitais do mundo que habitam este bairro, outrora uma grande fazenda da família de Luiz Lawrie Reid, escritor macaense que foi para São Paulo e de lá nos legou um dos maiores educandário que leva o seu nome...

Os homens são vistos pelas crianças a uma distancia razoável e, como numa guerra, preparam suas armas... Sorrisos em formação de gargalhadas que viriam na trilogia de seus gestos de meninos....

Os homens se aproximam... Roupas coloridas em macacões sujos em cores diferenciadas por empresas a quem se pertencem...

O raio de lua que se despede do outono/primavera dá um sentimento de frio que nos leva a gostar desta mutaçao natural que só homens de afloramento sensitivo e crianças como eles podem determinar neste momento de pura êxtase do ser...

Puxam, levemente e com a suavidade de dedinhos harmonicamente compassados a grande arma de brinquedo representada na cordinha negra e que brilha ao escuro de um poste mal iluminado... Homens pulam de medo e de pavor quando sentem o rastejar da bicha que roçam em suas botas e pernas... Três sorrisos altos de santas crianças se juntam as dos homens que voltam as suas infâncias e saem rindo de seus medos e recordações... Nenhum se volta bravo... Se amalgam a volta de um mundo lindo que, catucados pelo meu filho Zé Paulo e seus amigos William e Lorran, Luiz Carlos, Welinton e "Bicas" os colocam de frente com as próprias infâncias guardadas nas distâncias de suas cidades ...
Aí lembrei-me do amigo Antonio Ferreira da Silva, o "Bom Parodi" que consegue voltar as suas infâncias cearenses quando de meu diálogo com o Arthur da Távola na citação da saudosa e cândida tramela e o "Umbigo da Laranja Bahia"...

Quem não teve tramela nas portas cheias de frechas de madeira nobre, não brincou de cobra e não correu atrás de pipa voada, não pulou muro e roubou goiaba e jogou botão em varandas, perdoe-me, não teve infância nem foi menino na rua...
Quem valoriza estes momentos de infinitas belezas que só a gente percebe nas de raridades escondidas de nosso interior ? ... Voce já brincou como eles? Eu já...
Jose Milbs editor de O REBATE.

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