O último dia do ano foi palco de uma morte trágica de uma jovem mulher. Gracinha, menina simples, desde pequena trabalhava para ajudar seus pais. Enquanto estudava à noite batalhava em lojas e padarias na busca de um lugar ao Sol nesta quente e fria cidade da região de Petróleo. Quente pelo nascer e por do Astro Rei que torram suas ruas mal asfaltadas que devem ter enriquecidos prefeitos e empreiteiros corruptos. Fria por que o calor humano, que sempre emana durante os encontros nas esquinas das ruas, estão perdendo o sentido nativo...
Gracinha conheceu Zenildo Silva. Ele também se origina de familia simples. Pais e tios mecânicos por natureza e criação, ela conheceu o amor que seria confirmado em noivado e casamento. Ele, estudando e se especializando nos livros, fez concurso e passou para o Banco do Brasil onde era um excelente funcionário que o levaria a Caixa da Estatal.
Vida comum a todo casal de uma cidade de interior que o cheiro do petróleo embebeda alguns fracos de mente e que se contaminam com o ganho fácil Não era o caso do casal Graça/Zenildo. Visitas diárias aos tios dela e irmãos dele. A vida parecia caminhar para uma tranquilidade que não abria espaços para brigas nem rugas que, as vezes, fustigam alguns casais jovens.
As roupas de Zenildo eram cuidadas com muito carinho por Gracinha que foi criada na simplicidade e aprendeu com sua mãe que "o marido tem que estar sempre bem vestido, roupa passada, sapatos limpos, meios e tudo o mais".
Bonito para ela e bonito para as pessoas que, por certo iriam dizer:" Puxa vida que casamento lindo este"...
Orgulhosa, embora sem filhos, ficava contando as horas que ele iria chegar do BB para comer alguma coisa, assistirem TV ou ir na casa do Velho Zeil pai do Zenildo. Zeil era o orgulho de todos. Mecânico, nacido nas poeiras das ruas de Macaé e poder ver seu filho como um funcionário graduado do BB era coisa de arrepiar todos os amigos. Até o alegre tio de Zenildo, meu particular amigo Carlinhos tinha que dividir seu orgulho com o irmão Zeil. Carlinhos tinha, também a formação mecânica do Zeil e, seu filho era um dos mais conceituados Sergento do Corpo de Bombeiro de Macaé. Haja tanta alegria na familia Silva do velho Manoel Silva que morreu com 102 anos no Bairro do Aeroporto em pleno vigor e lucidez...
As amigas de Graça falavam aos cantos e ventos: "coitada, não sabe de nada. Será que ela não nota que seu amor esta sendo dividido com uma mulher que mora em Rio das Ostras? - Falam até que é uma mulher casada, retrucava um das mais intimas de Graça.
- Acho que alguém tem que contar isso para ela. Não está ficando legal este enganamento. Se ele não gosta mais dela, dizia Dolores que sempre ia fazer unhas no mesmo local de Graça, por que não pede a separação. Sai, discute uma pensão e a pobre menina pode refazer sua vida. Hoje em dia, sentenciava, - as pessoas casam e, não suportando a convivência, separam. Agora isso que está acontecendo com Greaça não está legal. Acho que alguém tem que "abrir os olhos dela"...
Abriram os olhos de Graça. Ela não acreditou. Nunca. Ele não. Isto é coisa de TV. Destas novelas da Globo que criam estas maldades nas mentes menos avisadas de traições. Isto é coisa de novela. Meu marido, o primeiro homem de minha vida, o homem que me fez conhecer o convívio a dois e o amor, jamais. Isto é coisa de gente fofoqueira que não aceita nossa vida alegre, de eu poder levar ele todo o dia no carro para ir para o BB; dele me abraçar feliz e alegre. Não. Zenildo jamais irá fazer isso comigo...
Tempo passa. Cochichos e mais conhichos vão semeando a mente desta menina loira dos anos 90 que atendia a todos com um lindo sorriso no seu tempo de balconista. Semeando, semeando. De fato, Graça notava que o Zenildo demorava a chegar. E foi juntando os cacos da descofiança. Claro que estes cacos nunca fechavam sua mente. Apenas juntava os cacos da desconfiança.
-Ele está em Rio das Ostras com a outra, falou a vóz do telefone. Vai lá, sua boba... Graça titubeou. Mais a informante diza com tanta firmeza, local e tudo o mais que ela foi até Rio das Ostras. Algumas lagrimas corriam em seu lindo rosto de menina/mulher. Lagrigas por achar que estava "descofiando do amor de sua vida e se fazendo acreditar no que não queria ver nem acreditava existir"...
Minutos de eternidades. Fogos de fim do ano de 2007, gente passando para casa com embrulhos e mais embrulhos. Crianças saudando o ano de 2008. "Será que eu deveria ter dado um filho ao Zenildo? pensava e falava baixinho consigo mesmo. Não, não é verdade. Ele deve estar com amigos, alegre, colegas o Banco do Brasil de Macaé e, quando do me ver chegar vai correr, me abraçar, me beijar, me levantar ao colo e eu vou pedir perdão a Deus(ela acredita em Deus), e, ai vou lhe dizer que tinha tido um sonho com ele e por isso o estava procurando e achado. Iria dizer que sonhei que tinhamos feito um filho lindo e que iria nascer no mês de Agosto em homenagem a seu tio..
Graça não resisitiu ao que seus olhos viram. Zenildo estava com uma mulher que as pessoas chamam vulgarmente de amante. Gracinha caminha, ainda com os olhs molhados pelas lagrmas que não enxugou. Cambaleia, como se estive em transe e se aproxima dos dois. Cai fulminada por uma dor que levou para o túmulo. Zenildo chora uma deprê acalentado pelo carinho de sua mãe Derly. Dizem que Depressão, com o tempo acaba e a história volta ao normal. A vida continua e o ano de 2008 abre seu espaço para novos casos de amor na região de petróleo. Eu que conheço todos os personagens reais desta minha cronica, só tenho que dizer, em repetição ao titulo de meu texto:
Ainda se morre por amor... (José Milbs de Lacerda Gama, escritor, contista, cronista, jornalista e amigo dos personagens reais do fato) 01.01.2008)
Edito o jornal O REBATE desde 1968, buscando escrever as histórias e fatos que podem levar as pessoas ao caminho belo de suas lembranças. Faço isso como o objetivo de deixar para as gerações futuras textos que possam servir de encantamento e pesquisas de pessoas que viveram nos anos em que vivi.
Boas vindas
Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)
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4 comentários:
Milbs,
Muito lindo este conto!
Dizer que ainda se morre por amor é o mesmo que dizer que ainda se vive por amor! Nem toda a vulgaridade da midia conseguiu extinguir esse sentimento nos corações mais sensíveis!
Abraços e obrigada por nos presentear com mais um lindo post.
Marisa.
Gostei do conto, Milbs, e real que é, mais me impressiona. Acho injusto, entretanto, o final, com a história desta menina. De início até pensei que ela iria suicidar-se, mas, cair fulminada?! Isto ultrapassa qualquer romentismo. Se calhar ela já tinha o seu bom coração armadilhado para a próxima emoção forte, e não era acompanhada quanto a isso. Acho que o amor e o casamento é uma loteria e costumo felicitar quem ganha. É raro, mas existe. Viver por amor. Agora morrer por amor? Isso não. Que morra o amor do mesmo mal, raios! Feliz 2008, com muito amor pra vc... e pra mim tb.
Milbs, realmente fantástico esse seu conto real. A mídia está muito distânte da essência das emoções.
Fui surpreendi do com o final, assim como a Ana Lúcia, pensei que a moça iria se matar, mas , quase caí da cadeira ao ler que ela infartou.
Eh ,meu caro, esse conto nos motiva muito a refletitmos quanto as escolhas que fazemos em nossas vidas, sabendo que o factídico e o falível estão à espreita em cada esquina da existência.
Grande abraço do amigo e admirador
MArcus Antonio Britto de Fleury junior.
Zé Milbs
Muito bom seu conto.
Fiquei surpreso com a estória (acho que pode ser chamado de história).
Meu amigo, parabéns.
FELIZ 2008 e muito sucesso.
GILBERTO ALVES
Grupo Teatral ACTO
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