Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

10.12.07

POR QUE O IBAMA NÃO PRENDE QUEM MATA MILHARES DE PASSARINHOS NO BRASIL?

FAZENDEIROS ASSASSINOS DA REGIÃO DE PETRÓLEO MATAM MILHARES DE PÁSSAROS COM O INSETICIDA ‘’ RANDAPP’...


Amblyramphus holosericeus
Cardeal-do-Banhado

Pseudoleistes virescens
Dragãozinho

Embernagra platensis
Sabiá-do-Banhado

Sicalis flaveola
Canários

Speotyto cunicularia
Coruja-Buraqueira

Guira guira
Anu-Branco

Crotophaga ani
Anu-Preto

Mimus saturninus
Sabiá-do-Campo

Passer domesticus
Pardal

Tachycineta leucorrhoa
Andorinha

Columbina picui
Rolinha

Milvago chimango
Chimango

Passer domesticus
Pardal fêmea

Larus dominicanus
Gaivotas

Chauna Torquata
Tachã

Rhea Americana
Ema

Gallinula Chloropus
Frango-D'agua

Aramides Saracura
Saracura-do-Mato

Vanellus chilensis
Quero-Quero

Gnorimopsar chopi
Melro ou Chopim

Satrapa icterophrys
Suiriri-Pequeno

Furnarius rufus
João-de-Barro

Troglodytes aedon
Cambaxirra

Pitangus sulphuratus
Bem-te-Vi

Machetornis rixosus
Suiriri-Cavaleiro

Colaptes campestris
Picapau-do-Campo

Syrigma sibilatrix
Maria-Faceira

Egretta thula
Garça-branca-peq

Gnorimopsar chopi
Melro fêmea

Thraupis cyanoptera
Sanhaçu-Enc.-Azul

Tyrannus Savana
Tesourinha

Haematopus palliatus
Piru-Piru

Sterna hirundinacea
Trinta-Réis-de-B-Ve

Sterna eurygnatha
Trinta-Réis-de-B-Am

Sturnella superciliaris
Policia-Inglesa

Tyrannus melancholicus
Suiriri

Estrilda astrild
Bico-de-Lacre

Rallus sanguinolentus
Saracura-do-Banh.

Rupornis magnirostris
Gavião-Carijó

Amazilia fimbriata
Beija-Flor-Gr-V.-Br

Casmerodius albus
Garça-branca-grand

Charadrius collaris
Batuíra-de-Coleira

Tringa melanoleuca
Maçarico-Gr-P-Am

Turdus rufiventris
Sabiá-Laranjeira

Calidris fuscicollis
Maçarico-de-sob.-br

Actitis macularia
Maçarico-Pintado

Himantopus himantopus
Pernilongo

Eupetonema macroura
Beija-Fl-de-Tesoura

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Capivaras

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Cuíca ou Guaiquica

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Anta

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Jacarés


O meu domingo parecia igual aos outros destes últimos anos. TVs desligadas fugindo dos horrores que elas nos impõem com enlatados e filhotes dos “faustões, gugús, silvios santos”. Embalado na minha rede nem notei a presença de um jovem negro que já se acostumou a entrar na minha morada e cumprimentar com sua alegre simpatia.

_ Diga lá, Toninho. Como andam as coisas lá pelas ribas de Conceição de Macabú. – To triste “Seu Zé Milbs”. Meu Canário e meu Coleiro foram soltos pelo “meio ambiente regional”. –Liga não, Toninho. Eles agora irão ninhar. Ambos darão lindos filhotes e, quem sabe irão cantar nas árvores que circundam sua casinha nas beiradas do Rio Macabú. Os olhos negros deste jovem de 39 anos, 30 deles em roçados de cana de usinas, em plantio de longas fileiras de canavial que, anos a fio enriqueceu uma minoria de latifundiários, ficaram com um brilho diferente. Parecia que o Sol, que entrava pelas falhas dos galhos dos pés de Acerolas, desse lugar a uma gota de orvalho brilhante que parecia pérolas brancas em sua rosada face de um belo negro...

_ Antes fosse isso. Até que seria melhor. Falei com o fiscal do IBAMA que o Canário da Terra era a alegria do meu filho. Bicho cantador. Nasceu num pé de Coco que, numa ventania de outono, matou seus pais. Pequei-o ainda filhote. Bico sempre aberto quando eu ia lhe alimentar. Disse tudo isso para o “doutor de camisa preta e letras brilhantes nas costas”. Ele nem quis ouvir. Deu-me um “empurra” que quase me joga em cima de meu filho, pegou a gaiola que fiz, flecha com flecha, quebrou tudo e soltou os passarinhos. O Coleiro ainda ficou me olhando no pé de goiaba e o canário sumiu no ar e acompanhou o vento frio que vinha das serras de Santa Maria Madalena e Visconde de Imbé.

Ainda assim, Toninho, em minha opinião, foi bom para eles. Você sabe que hoje em dia é crime a gente ter bicho da fauna cativa. Dizem que se a pessoa for apanhada com algum destes animais, é cana dura. Tem juiz que pode até condenar a três anos de cadeia. E olhe que pelo que você diz, “afora o empurra” do fiscal na frente se seu filho acho que ele podia ir mais longe e até autuar você e te recolher. Ai você ficaria preso sem fiança, isto é, não adiante nada por que é um crime inafiançável matar, prender ou ter cativo os bichos.

- Que isso seu Zé. Existe esta lei mesmo? Então por que os Fazendeiros de toda a região do rico petróleo que, se estende de Macaé e circula por mais de 15 cidades, estão soltos? Toninho arria uma sacola de compras, passa as mãos calejadas pela face na busca da gota de lagrima e puxa a cadeira que está ao redor de minha rede e começa sua fala:

_ Tudo bem, vou dizer uma coisa para o senhor que é jornalista, escritor e já foi político. Seus escritos no O REBATE e na NOVA DEMOCRACIA são lindos e fala o que a gente queria falar e não pode. Não que eu saiba ler. Minha filha lê pra mim e deles eu consigo ter uma idéia das idéias do senhor. Toninho se ajeita na cadeira que continua com um pé quebrado e fala como se estivesse recebendo do mundo encantado de África, a manifestada divina de seus antepassados. Sua cor negra que, ao vento de dezembro e ao sol das 9 horas do segundo domingo se harmonizava com o vôo das borboletas e se afinava com o cantar de uma Cigarra na linda Palmeira que frutifica minha morada há 35 anos dava-lhe, no cruzar de suas longas pernas magras e ossudas, a elegância de um jovem mestre-sala. Ajeito-me na rede e fixo meus olhos em seu sobrolho que, repuxado pelos anos de lutas e sofrimentos, lhe curva as faces.

Toninho começa a falar como se estivesse retratando um acontecimento. Meu longo ano de jornal me ensinou técnicas de “fazer falar” e saber ouvir. Nem foi preciso. Toninho tinha a certeza da veracidade de seu depoimento e foi assim que ele falou:

Seu Zé, o senhor conhece um remédio chamado RANDAPP? – não respondi. Pois eu vou falar com o senhor sobre isso. È um inseticida que os fazendeiros compram nas cooperativas de toda região de petróleo. Eles misturam com uma pequena quantidade de água. Fica igual a um leite. Paga cinco reais “para alguns pobres coitados” saírem pela mata espalhando. Sabem o que eles querem? – continuem negando: Eles querem, seu Zé é matar os pés de “Dorme, dorme dormideira, de João Ruço, de Arnica do Campo, de Guiné" e outras plantas que eles dizem ser praga. Este remédio é tão forte que as pessoas ficam com a garganta seca. Se não correr para tomar leite é capaz de morrer. Fica sem cuspe até. E continuou sua aula de Ecologia que deveria ser gravada e passada para os Fiscais de Ibama.

- Esses fazendeiros economizam dinheiro, não contratam mais as pessoas para tirar estas pragas. Dizem até que o “enxadão de a foice” nem se compram mais. É só este veneno.

O relógio já marca 10 horas e o Sol de dezembro desde domingo se torna para mim um dos mais belos dos últimos anos. Já começo a entender mais de coisas que nunca vi em livros etc.

-Toninho, que tem a ver isto do veneno com o Canário da Terra e o Coleiro que o fiscal do IBAMA soltou?

- Ai é que está seu Zé o fio da meada. "Como se dizia" minha avó Adelaide nos anos alegres de minha infância.

Só o cheiro deste veneno que para o “João Ruço” na raiz e fica molhado nas espigas dos capins, dá pra matar a distanciam os passarinhos. Os fazendeiros são tão ruins que eles colocam o veneno ao cair da tarde quando os pobres bichos voltam alegres para seus ninhos para dormirem com seus filhotes.

“Caem mais de cem por cada injetado do veneno nas plantas”. E o senhor quer saber da maior? Durante uns cinco dias todas as Rolinhas, Tizis, Anuns, Sabiás, Canários, Cambaxirras, Papa-capins, Sanhaços, todos eles morrem por que eles vão bicar as espigas de capins e elas estão envenenadas. Mais de dois mil passarinhos morrem por dia nesta região que o senhor sempre diz ser a Região de Petróleo em seus escritos?

- Por que, interroga Toninho, já com a fala de um líder, eles não os prendem? Meu Canário eu vi ele morto logo depois de ser solto. Saiu para a mata e morrer numa moita de “Dormideira”. Ainda estava com a placa na patinha com o nome que meu filho tinha dado a ele e que a madrinha dele fez numa relojoaria em Macaé. “Canarinho” era seu nome...

Soltou para morrer junto com mais de cem outros. Estão acabando com os passarinhos de nossa região e de nossa serra. Vou dar uma idéia ao senhor. Pede ao IBAMA para enquadrar os fazendeiros no crime de Meio Ambiente e as Cooperativas que vendem o veneno em “trafico de drogas”. Fechar a indústria seria demais. Por que ai pode acontecer que vai mexer com Senadores, Deputados etc. Eles devem “levar alguma merreca”, igual o governo federal leva dos cigarros e das cervejas que eles sabem que matam mais deixam rolar solto nas TVs.

Os olhos de Toninhos assumem um brilho diferenciado do que até então tinha visto. Parece que ele, adivinhando meus pensamentos, sabia que eu ia denunciar esta matança e seus assassinos...

O meio dia já começa por a pino o Sol da pós chuva. Toninho pega o ônibus e vai de volta a Conceição de Macabú, cidade de meus antepassados. Vou ao computador e faço público meu protesto contra esta matança... (José Milbs de Lacerda Gama, cronista e escritor. O REBATE www.jornalorebate.com 09.12.2007).

5 comentários:

. disse...

Caro Milbs
Li, reli e tresli e reproduzi parte da sua pergunta/artigo no "Li" :: http://airton.soares.zip.net

Gostei do discurso direto. Dá mais vida ao texto. Parece que estou vendo a cara de espanto do jovem negro Toninho. Parabéns!

Grande abraço
AS

O Ilustrador disse...

gmail.comOi amigo Milbs!

Li seu artígo e estou chocado por mais este relato. Realmente fica dificil saber até onde ira o descaso de nossas autoridades perante a estes fatos tão tristes. Acredito que somente denunciando desta forma como você fez o que acontece de verdade no país ira ser conhecido por todos os Brasileiros.
Parabens novamente por denunciar tais fatos.

Um forte abraço.

Mauri Wexel

Cristiane Aguiar disse...

BOA NOITE MILBS, PENA NÃO SER APENAS UMA CRÔNICA, É UM FATO, O Q NÓS PODEMOS FAZER? UM ABAIXO ASSINADO, SERÁ QUE SERIAMOS OUVIDOS, O QUE NÃO PODEMOS É DEIXAR A GANÂNCIA DEVASTAR NOSSAS TERRAS, FAUNA E FLORA, NÃO É.PARABÉNS PELA INICIATIVA E CONTE COMIGO.

Claudia disse...

Fiquei triste com este relato, me da uma sensacao de fraqueza perante tanta impunidade e digamos la, burrice, ganancia e outras coisas mais dessas pessoas sem consciencia perante a "Mae Terra". Me pergunto o que esses fazendeiros e os condescendentes deixam para sua geracao para seus filhos e netos e...so mesmo destruicao e ruina ecologica.
Parabens por sua denuncia e esperemos frutifique. Bjus

Anônimo disse...

Milbs, só para imaginares o que senti quando li o teu texto, dá uma olhada no meu post desta semana do Natal, que pouco tem a ver com passarinhos, mas tem tudo a ver com a crueldade humana, que é enorme, mas pode ser suplantada.
O abandono e a violência contra os animais só pode ser freada pelos humanos. Nós. Parabéns pela cronica que de tão bela mais parece um conto.