Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

5.4.10

ARAÇA PÊRA: Da Fazenda do Airys do Capitão Mathias Lacerda até a Fazenda do Escritor Luiz Reid - em Macaé - RJ





Uma história que se confunde com a história da Região de Petróleo do Rio de Janeiro que teve início nos anos de de 1889. A Região era totalmente composta de grandes e extensas fazendas. Adquiridas por homens que habitavam as periféricas cidades que rodeavam Macaé, Cabo Frio e Campos dos Goitacázes. Cavalgadas por pequenos valarejos que mais tarde viriam formar os Distritos e, muitos deles, chegaram a ser cidades.
Quissamã, Carapebús, Conceição de Macabú, Rio Dourado, Dores de Macabú, Casimiro de Abreu, Barra do São João, Cacheiras do Macaé, Trajano de Moraes, Santa Maria Madalena, São Pedro D'Aldeia eram alguns dos logradouros donde vinham, em longas e alegres cavalgadas os homens e mulheres que formariam a genética natural, e nativamente pura, do conteudo sanguíneo de nossa gente.
Ontem, ao caminhar pelo "Sitio e Estância vista Alegre, onde edito a edição on-line de O REBATE, me vi surpreendido pelo fruto do Araçá-Pera, caido e triste no chão. Ainda molhado pelo frescor da chuvinha fina que cai em Macaé, neste início de Outono de 2010, abaixei-me e o coloquei em minha mão. O cheiro do Araçá-Pêra, em fracção de centéssimos de milhares de segundos, levou minha mante a uma saudade imensa de meus anos infantís. Como que dominado pela magia do fruto fiquei a comtemplar sua leveza amarelada e com restos de um molhar que não sei se era da madrugada chuvosa; se era do serenar ou se vinha de seu interior em forma de lagrimas.
Será que Araçá chora como chora o tronco das Jaqueiras quando cortados?
Olho em redor e estou no ano de 1971 quando minha mãe Ecila, preocupada com minha decisão de "jogar tudo para o alto, chutar o balde cheio de impurezas de uma sociedade excludente e má e partir para a estrada em busca da Paz e do Amor. Viver num lugar onde poderia ouvir o cantar madrugativo dos grilos e o piscar solitário dos Pirilampos ao cair da tarde...
- Não, meu filho, se o seu problema é sair em busca de paz eu troco o terreno que herdei de sua avó Nhasinha, na Rua Doutor Bueno -Rua do Meio - por alguma coisa que seja local de paz, sem o borburinho, etc. etc... Feita a troca com Everaldo Esteves e "lá me fui eu", de malas de cuias para este local que ainda, apesar das carretas e containes, mantenho intocado uma nascente de aguas cristalinas, iguais as águas do Atalaia dos anos 60 que abasteceu a cidade e todo o Bairro da Aroeira...
O Pé de Araça-Pera, estava aqui no Sitio, imponente alegre e esverdeado com seu tronco parecido com as Goiabeiras. Devia já ter uns 30 anos que, somados aos 40 e poucos que vivo com ele, deveria ser um Pé de Araça Centenário. As visitas que meu velho amigo e jornalista euzébio Luiz da Costa Mello, fazia ao Sitio, costumava ir direto ao Araça. Catava uns, mexiam em outros ainda não amadurecidos e falava de suas saudades da "Bicuda Grande e Bucuda Pequena" que tinham idênticos Pés de Araças...
Numa das muitas tardes-noites que este velho ícone da nossa imprensa esteve no Sitio, uma longa conversa entre ele e minha mãe Ecila marcou a existência do Fruto do Araça que me refiro no texto. Nossas familias eram ligada pelo carinho e afeto. Noêmia tia do Euzébio que era irmã do "Seu Cloves" e filhos do jornalista Cezar Mello, editor so jornal " O SECULO", forma colegas de colégio. Além disso, a progenitora do Euzébio, era o pilar da Familia Costa de tradição e vida na comunidade dos anos de 1900.
Noêmia herdou da família o Casarão dos Mellos, Ali ela resistiu como pode os assédios para vender a casa. Luz cortada, água idem e a valente solteirona, filha de Cezar Mello, não se acocorava. Era neste nível, com orgulho familiar que o Poeta e Escritor Euzébio falava sobre sua Tia Noêmia que, "tombada pelo anos", vivendo a solidão do Asilo da velhice Desamparada de Macaé, teve sua casa "tombada" pelo Poder Público e que depois virou Solar dos Mellos".
Ecila e Euzébio falavam do fruto do Araça. Diziam que é uma fruta nativa de nossa região. Muitas de suas mudinhas tenras foram trazidas da FAZENDA DOS AIRYS para a FAZENDA DO LUIZ REID e do ARMANDO REID. Centenas delas foram levadas para Cachoeiras do Macaé, plantada pelos Costas, os Lins e o pais de Francisco Lobo...
Estes textos históricos ficariam esquecidos e espalhados pelas "nuvens passageiras do tempo" se não estivesse a ouvi-los este "locutar que vus fala e escreve". No meu canto deixei gravado nas esquinas alegres de minha memória este fato deve marcar a História do Fruto do Araça em nossa região de petróleo e Agua Cristalina do Atalaia...
Cheio de calombos em seus galhos, cansado pelos anos, o Araça-Pêra está demonstrando tristeza e deve ter mesmo chorado ao chegar às minhas mãos nesta manhã de Chuvisto de Outono.
Os Calombos, às centenas, que estão espalhados no robusto Pé de Araça, não impedem que brotem as brancas flores mais evitam que proliferem as delícias de seu fruto. Ao saborear e sentir o odor nesta manhã tentei entender o molhamento da casca. devia ser mesmo o lacrimejar. No interior do Araça estava um grande Calombo feio igual as Alergias Humanas que brotam com o chegamento da idade...
Uma coisa ficou, ainda mais claro e evidenciado: Não será pelas minhas mãos que este Pé de Araça será tombado. Que venham mais 30 anos; que venham milhões de Calombos e que venha apenas um fruto como este que chorou e que deu origem a este texto
A solidão do Fruto só está comparado a do Sanhaçú na busca da ausência de saborear...
José Milbs de Lacerda Gama (editor de O REBATE e
www.jornalorebate.com

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