Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

21.5.09

Já não existe mais confiança nos peixes; Perigo de contaminação. Bons tempos os do vendidos em cestos com cobertura de folhas de galhos esverdeados...

Cestos nas cabeças com calos nos escantilhados das faces, olhar de brilho alegre ao descarregar os produtos para serem manuseados e comprados, era bom este relacionamento em anos de saudades na região de petróleo do Rio de Janeiro.
Homens de meia idade vinham anunciando os peixes pescados com a certeza que estamos vendendo saúde. Nos mercados de hoje é temeroso uma compra destes velhos habitantes do Mar...
A Pedido de um leitor publico minha cônica "JOGA A REDE NO MAR' que foi publicado no Jornal "A Nova Democacia" e no "O Rebate"


Eles habitavam toda região do litoral do Rio de Janeiro. Corpos morenados pelo sol sem os protetores e nenhum deles com doenças de pele. Suas redes, tecidas a mão por suas companheiras e filhas, tinham o sabor da arte e do bom gosto. Sempre alegres e de olhos acessos e avermelhados, estes senhores dos mares eram figuras presente em toda história nas cidades que habitavam.

Cabo Frio, Búzios, São Pedro de Aldeia, Rio das Ostras, Barra do Rio São João, Macaé, Farol de São Tomé, Ata fona e São João da Barra eram locais em que seus barcos, com pequenos motores e bastante experiência de mar, os levavam nas noites enluaradas e de manhãs amenas. Enchovas, Gordinhos, Galos, Marimbas, Serras, Espadas, Pescadas, Pescadinhas e siris do mar, eram sempre o produto de suas noites onde as gaitas, o velho rádio de pilha e um violão com 4 cordas, deixavam em aberto o coração de volta e mais volta aos lares...

As beiradas das praias estavam sempre cheias de muita gente. As chegadas dos barcos, passando pelas ondas bravias, eram saudadas por centenas de acenos. Mulheres e filhos se juntavam a outros na expectativa de ver o produto de mais uma noite de pesca.

Os pescadores tinham saído de suas simples e aconchegantes residências em plena madrugada. Antes tinham olhado o céu, reparado de onde vinha o vento e, antes mesmo de apagar as luzes dos candelabros de seus quintais, já estavam assoviando cânticos e cordiais acenos aos vizinhos que se juntarão a outros e partirão para o alto mar...

A pesca tinha a essência do belo artesanal. As vendas eram feitas ali mesmo nas praias e o que não era vendido, era colocado numa cesta, coberto com galhos de matos, tirados ali mesmo na restinga e levados nas bicicletas pelas ruas da cidade.

Os anos arquejaram os senhores do mar. Suas redes apodreceram estendidas nos quintais em enferrujados arames. Os barcos, virados de bunda para cima estão totalmente danificados pelo tempo. Esses bravos trabalhadores do mar, hoje de olhos caídos e "encostados no INSS", nem de longe lembram aqueles corpos sarados e olhares brilhantes dos anos de sua juventude...

A herança dos segredos duramente colhidos na vasta extensão de água salgada do mar, de suas artimanhas e ventos, outras vezes herdados de seus pais e avós não podem ser passadas para seus filhos e netos. Apenas a história de casos ocorridos em suas longas noites pode chegar aos ouvidos dos pequenos netos e filhos.

Os braços, estendidos deixando à mostra a pele enrugada e a tez flácida, apontam para ilhas e pedras. Lá, eles comentam dos grandes barcos que habitam os mares. São barcos de bandeira estrangeiras ou de falsa bandeira nacional. Dentro deles, contam a seus filhos que os olham admirados:

- Tem um vidro que vê onde está o cardume. Eles apertam um botão e sai uma rede de fios finos que pegam todos os peixes. Filhotes, fêmeas com ova na barriga, tudo eles levam para longe. Acabaram com tudo - diz, e seus olhos deixam cair uma lágrima que se junta às dos meninos...

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