A FÉ DE NHASINHA
Dr. Moacyr Santos e Frei Baltazar se olharam de soslaio. De um lado o materialismo dialético do competente, do caridoso médico. Do outro a crendice de um velho Frei, musculoso, acostumado as durezas do dia a dia. Ambos se uniram numa coisa que une todos os seres da criação: o amor.
Os olhos lacrimejastes de Nhasinha tocaram as profundas almas destes dois homens acostumados com a morte. Moacyr e Frei Baltazar saíram do quarto e deixaram Nhasinha com seu filho ao colo moribundo.
"Nada podemos fazer", sussurram ou ao outro no longo corredor da velha e secular Casa de Caridade de Macaé.
Até o olhar de conforto que Dona Durvalina e Seu Aluísio Andrade faziam, que ficariam registrado no diário do tempo e escrito hoje, previam a morte rondando e sentiam que o pior estava para acontecer. Médico e Frei saiem do quarto 10 da Casa de Caridade de Macaé, Na 1ª dobra do longo corredor, balançam as cabeças para o casal Aluisio/Durvalina.
O menino estava desenganado
José Milbs ainda respirava. Nhasinha com as lágrimas que caiam em sua face enrolou a criança num lençol hospitalar e foi para o corredor. Ainda pode ver ao final do belo e imponente corredor o Médico Moacyr Santos e o Frei balthazae dobrarem com destino ao portão principal do Hospital, onde tinha uma Capela.
Ecila entra no quarto e diz com os olhos cheios de lágrimas: "Nada mais se pode fazer, minha mãe. Já foi minstrada a Extema-unçao, Ele foi batizado, como a senhora pediu. Não tenho culpa. Eu quis e lhe dei o meu filho em lugar do seu, meu irmão que a senhora perdeu...
Infelizmente ele não deve sobreviver. Falou Ecila, amparada pelo casal Aluisio/Durvalina Andrade.
Nhasinha foi em direção ao corredor com o recém-nascido ao colo, começou um processo de respiração com a criança, que só os deuses podem explicar. Se ali aconteceu algum milagre ninguém pode afirmar.
Fato é que pela manha, aquele corpinho gelado já dava sinais de aquecimento.
Os olhinhos começaram a tremer dando sintonia à existência vital ao redor. Dr. Moacyr chegou ao espanto quando viu o menino no outro dia. Se não fosse materialista diria que aconteceu um milagre.
Temos de pensar agora na parte estética, dificilmente poderá viver uma normalidade pois esse problema da cabeça o deformará.
Mais uma vez ele estava sendo o veículo do canal divino. Ela não se deixou abater. Com a criança sempre ao colo, que só ia para sua mãe de leite Nilza Mello, irmã de Tote Mello e esposa de Tinoco Keller. Nos outros períodos, Nhasinha fazia massagens e torneava a cabeça do menino.
Como um artista que transforma em esculturas peças brutas, ela, pacientemente ia mexendo e moldando a massa de carne vermelha que feiava seu querido neto, na representação viva de seu filho e esposo. O menino representava a trilogia que só o amor pode explicar e entender como vetor do tempo e das verdades ocultas ao homem.
Ela sabia que o tempo era seu aliado. Sabia que o amor e o tempo se unem sempre na existência humana torneando suas raízes e belezas. Nhasinha tinha esse espírito de conceituação filosófica e sabia a extensão do belo e o verdadeiro sentido do divino. Tem pessoas que nascem com este dom natural e Nhasinha tinha este nascimento.
Enquanto Ecila , Nilza e outras senhoras serviam o leite materno Nhasinha ficava noites e dias inteiros modelando esta massa fria de carne vermelha no belo que ela queria para esta criança. que tinha vindo ao mundo num dia 13 de agosto de l939 leonino como ela, que era de 20 de agosto de l889.
Os dias iam passando. As noites de setembro davam lugar a uma primavera fresca que até hoje habita Macaé. a Praça Veríssimo de Mello continuava com as folhas dos oitis caindo, crianças pulavam nos arredores da Casa de Caridade de Macaé.
Já havia a casa de Clóves Mello, filho de Cezar Mello do jornal "O Século", e pai de Euzébio Luiz da Costa Mello. Já havia o casarão onde morava Seu Lafaiete Vieira, pai de Faetinho e Walter e tinha ainda as casas de seu Sátiro Lins e Clodowin Graça pai de nosso querido contemporâneo Zé de seu Clodovil.
Do lado esquerdo havia a imponente casa de Seu Gastão pai de Dona Mirsys, Regis e Rosana Belmont e avô de Tânia Schueler.
Havia também dona "Totinha", Dona Maria Drumond. Como toda cidade, a Praça, a Igreja, pessoas e o mundo fora do Hospital da Casa de Caridade de Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro. Vultos de gente, pessoas e locais habitavam a cabeça de Nhasinha ao olhar e pensar da janela do quarto 10.
Extraido do Livro On-line Saga de Nhasinha em www.jornalorebate.com e ou no livro
http://www.jornalorebate.com/nhasinha/14.htm
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