História dos fatos que levaram a perda do mandato do Prefeito de Macaé nos anos 60 começa com as bicicletas
FILHO DE PEIXE..................JOSE MILBS
O final dos anos 50 e inicio dos 60 foram de convulsão social-política na cidade. De um lado os Estudantes, liderados "pelo locutor que vos fala", como dizia os locutores das famosas rádios rabo quente da época, e no outro lado, um teimoso Prefeito chamado Eduardo Serrano.
Os estudantes querendo de volta mais de 200 bicicletas que não tinham placas (método criado pelo Município) e que foram recolhidas ao depósito da Guarda Municipal. O recolhimento foi feito durante uma sessão de cinema numa 5ª feira onde toda a cidade, como em todo interior do Brasil, fazia, tinha freqüência cheia.
A Federação dos Estudantes de Macaé, bem liderada, modéstia à parte, partiu para o confronto e invadimos o Prédio da Guarda, alguns tentaram resistir, foram dominados, e as 200 bicicletas voltaram a serem pedaladas nas ruas e vielas empoeiradas da velha Macaé dos anos 60.
Serrano chama a polícia, recorre ao judiciário (ele era um abastado funcionário Aposentado do Tribunal de Justiça do RJ), oficializa ao Exército, chama a Câmara dos Vereadores para uma reunião extra e parte para o confronto com a estudantada. " ""Ai a gente, acuado pelos "órgãos de repressão e pelo judiciário que devia" vir de bicho", resolvemos ir para as ruas e fizemos o enterro simbólico do Prefeito", Era a gota d"água que as elites e o Governo do Estado queriam para iniciar o impedimento de governar do Serrano que havia desafiado todos os Poderosos políticos da época, se elegendo Prefeito da cidade, morando e vivendo numa das mais pobres favelas do município. Serrano tinha derrotado o Governador do Estado PTB, o Amaralismo PSD, a UDN e seus conservadores. Tinha sido eleito por um desconhecido PR e a soma dos demais candidatos(6 ao todo) não o alcançou.
Teimoso ele não negociava com a FEM mesmo sabendo de que por trás da reivindicação de não "pegar bicicleta de estudantes e de ferroviários, poderia se desencadear uma briga política mais ampla e de difícil previsão.
Ponderamos, nós estudantes com alguns políticos ligados ao Serrano do perigo da teimosia e que não iríamos abrir mão das passeatas e dos confrontos. Estes senhores vinham a FEM com o intuito de demover a estudantada da luta. Pediam as paralizações do movimento mais o prefeito. A gente ponderava se a Câmara Muncipal ou o Executivo abrissem não da taxa de placas poderia haver um acordo. Luiz Pinheiro, Carlos Eduardo Durval Mota, Mauro Rodrigues, Carlos Augusto Tinoco Garcia, Álvaro Paixão Junior, Abílio de Souza, Joaquim Alberto Brito Pinto, Jorcelino Monteiro e Natálio Salvador Antunes participaram com a gente da reunião tentando remover a teimosia do prefeito. Debalde. Ele queria processar a FEM por danos ao patrimônio, subversão e iria pedir a prisão de alguns dos nossos.
A negativa fez com que a FEM partisse para as ruas, pedradas, tiros, foguetes, quebra-quebra, desligamento de luzes da cidade (a cidade tinha um fraco e pequeno local de abastecimento), enfim, foi neste cenário de reivindicação estudantil e teimosia política que aqui chegou o Repórter fotográfico Livio Campos.
Livio veio a serviço do jornal HJ que tinha ordem do Samuel Vagner para dar cobertura a FEM ai vocês imaginam o trabalho deste bravo repórter. No meio da massa estudantil ele fotografava a pancadaria de seguranças municiais, PM, guardas e estudantes nas ruas escuras de Macaé.
A eminência de a Prefeitura ser ocupada pelos estudantes fez com que o Juiz substituto Benedito Peixoto, requisitasse forças federais. O Exército é acionado. Policia Militar dando tiro pra alto, no escuro, ordenei que alguns estudantes fossem a casa do seu Farias onde se vendia foguetes e tomassem todos que lá tinham. De um lado a PM e nos do outro soltando foguete em cima deles.
Lívio estava lá no meio do fogo e, do alto dos seus quase 2 metros ia fazendo o flagrante e ria dos policiais que corriam no meio do foguetório.
O resto da história, quem tem 60 anos que conte. Apenas revi este episódio para dizer da herança funcional que este lindo amigo deixou. Seus filhos e netos ai estão a fotografar a vida desta cidade que o Gaúcho Livio Campos, escolheu para terminar os seus dias. Sofreu na carne a valentia de sua coragem de repórter e disso toda a cidade se lembra e reverencia.
(José Milbs)
(...texto do livro O Pinguin da Rua do Meio)
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