Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

2.4.08

as ruas empoeiradas sentem saudades de Flauber Machado o nosso "Flobé"

Acontecências II

FLOBÉ? SIM, O NOSSO ...

O Rebate on-line abre as paredes empoeiradas da memória do Escritor, jornalista e Editor JOSÉ MILBS para homenagear um dos mais belos símbolos de nosso cotidiano. Flaubert Machado: O Flobé para os amigos, pobres, favelados, jogadores de purrinha e toda sorte de purezas humanas que temos em qualquer cidadezinha de interior...

Durante quase 60 anos, 4 ou 5 gerações de macaenses se acostumaram a ver, transitando pelas nossas ruas, uma figura angularmente caída para frente, com semblante de santo, olhar de pássaro acuado pelo homem e uma inteligência que batia no normal e se cristalizava no Saber. Flaubert Machado ou simplesmente "Flobé" como ele gostava de ouvir-se chamado pela periferia analfabeta que o cercava e amava. Pois bem: Este ser fora do normal morreu durante O mês de agosto, num dia em que Macaé jamais vai ter oportunidade de ver igual. Era um tempo ciznento, sol escondido nas paredes das moralhas da rua da Praia e um vento frio que cortava a pele de quem não está acostumado com esta cidade de Sol Aberto...

Diziam todos em Macaé que em lugar nenhum do mundo nunca pairou por aqui alguém com a perspicácia que brotava da fala do bom Flobé. Vox populi, vox dei Flobé esbanjava simplicidade numa cabeça altamente privilegiada pelo divino.

Sua vida foi marcada pela fidelidade aos amigos: pelo amor aos filhos: pela igualdade e pela simpatia.

Forjado na experiência da vida, deu o nome de seu filho - colega de colégio de minha Aninha, de Cláudio Moacyr. A quem lhe cobrava puxa-saquismo ele, num soslaio-sorriso, sentenciava com a certeza do futuro que o filho teria:

"Ele vai se fazer sozinho e na profissão que escolher vai ser igual ou melhor que o amigo Cláudio". Profecias ou saber? O fato é que Cláudio Moacyr Machado brilha no futebol português e o velho pai nos mostrava, sempre orgulhoso, sua foto. A integridade funcional era uma característica do bom Flobé. Fiscal de Rendas da PMM, morreu pobre numa profissão em que poderia enriquecer.

Aconselhava os seus colegas mais novos: fazia valer sua experiência e seu caráter para forçar a vida dos que começavam na profissão. Era candidato a vereador e sua morte deixou uma lacuna na saudade dos macaenses que o admiravam.

No início deste Século fui a Prefeitura tratar de de inventário com Sylvio Peixoto. Pude testemunhar o carinho que todos demonstram com a imagem de Flaubert Machado. Rita e um velho Fiscal de nome João me disseram que eles guardam num quadro um artigo que fiz sobre ele. Falaram da saudade que ele deixou. Seu jeito puro e alegre de ver o mundo ainda baila nas mentes de quem teve o privilégio de conviver com ele Mauricio, antigo e competente servidor da PMM sempre recorda, com saudade, a figura do nosso inesquecível criador de frases e belezas mil...

Se existe ou não existe eu não sei. Dizem que existe e não discorda da existência... Mais que alma boa como a de Flaubert flutua nos bons pensamentos , isto eu afirmo e testemunho.

.Os anos passam e a vida filosoficamente vivida e não entendida de uma alma como a deste macaense faz com que a reflexão de nossas indiferentes passagens pelas esquinas da vida nos coloca no dilema do não entendimento do que podíamos ver. Flaubert era um destes exemplos de vigorisidade intelectual que passava por nós sem que nos apercebêssemos de seus valores e de suas frases que se tornaram célebres nos cotidianos de Macaé.

Para que se perpetue, não só a sua passagem por Macaé mais para que seja entendida sua familiaridade torno pública uma carta que recebi de Franci Machado Darigo, escritora, poeta, historiadora e acima de tudo e o que é mais importante, irmã de nosso flobé...

' Niterói, 11 de janeiro de 1999. Caríssimo José Milbs ilustre escritor. Digo-lhe: Gratitudine, enternecida. Do inesquecível Olavo Bilac ficaram-me os dois primeiros versos do soneto "Irania Verba", e transcrevo-os para quem saberá aprecia-los, movido pela sensibilidade do gesto nobre de enaltecer o amigo-irmão com a intenção de perpetuá-lo na memória dos homens e da literatura

"Ah"! Quem há de exprimir , alma impotente e escrava,

O que a boca não diz, o que a alma não escreve?""...

E porque toda palavra torna-se inútil, eu deveria manter-me em silencio, após tanto tempo , quando mais não se esperava acontecer , não fora eu mulher..

Deparo-me com outra aguda dificuldade, qual seja redigir ao aplaudido Escritor, conceituado Editor, ilustre Jornalista José Milbs de Lacerda Gama.Dirijo-me ao confrade da palavra escrita com desvelo, ainda possuída pela emoção profunda que me causou a homenagem que lhe mereceu "in-memoriam" o meu querido irmão Flaubert Machado, na generosa obra "Cabelos Brancos" (que não possuo), página 09, com chancela da Taba Cultural Editora.

Coube-me a grata ocasião de acompanhar o Flaubert nos seus últimos meses de convivência entre nós , justamente pra testemunhar , comovida, o quanto ele era cultuado pelos macaenses, e pelos mais espontâneos, aqueles da periferia, visitados por nós durante a campanha eleitoral em carro vagarosamente dirigido pelas ruas de nossa Macaé, atravessando populosos bairros , conversando com velhos amigos. Muito afeito ao seu caráter, quando éramos surpreendidos com um reduto político de um concorrente, ele como se desculpava corria uma das mãos pela fronte serena e dirigia-se a outro local.

Nós não o sabíamos, mais aquelas ocasiões que com ele estávamos, minha irmã e eu eram as horas do acaso de sua existência, e ali a oportunidade derradeira de dizer-lhe:

"Nós estamos juntos para o que der e vier, nesta vida e nos espaços absolutos de Deus".

"Quando nossa mãe deixou-nos, dona Elça Gomes Machado, 1989, durante as exéquias o padre João assim se expressou:" Jesus Cristo não é um caçador pronto a abater a presa abruptamente, à espreita. ELE é um jardineiro, que aguarda o momento exato para a colheita no seu jardim".

Esta nossa conversa no final de tarde de 11 de janeiro de l999, acontece graças ao nosso amigo professado Jorge Picanço Siqueira, que teve a delicadeza de me oferecer o inspirado texto "Flobé fiscaliza no céu!", portador do sentimento de fraternidade que ora se instala no meu íntimo, razão das doces lágrimas que não desejo conter , neste momento.

Minha gratidão. Gratitude!"A transcrição da carta" da Francine, conceituada Escritora eu a fiz como uma imposição de meu interior que além de me fazer retratar o carinho de Macaé por este ser que habitou nossa vida no século de uma cidade de eternos apagões mentais também torno público o afeto familiar que sempre emanou destas pessoas com o nosso filosofo maior..Ontem mesmo numa roda de amigos no centro da cidade pude ver o afeto familiar que sempre emanou destas pessoas com o nosso filosofo maior.

Ontem mesmo numa roda de amigos no centro da cidade Ricardo Madeira citava o andar paciente, com suas vestimentas sempre a facilitar o reconhecimento no caminhar inteligente por nossa rua principal trazendo frases e olhares nos horizontes que só ele podia ver.

Era uma pequena lembrança dos cotidianos de uma cidade que se não fosse registrado jamais passaria para nossa história..Flaubert , com sua cândida e pura inteligência ainda exerce grande influência a quantos o conheceram...

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