Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

10.7.07

MEUS NETOS, MINHAS HISTÓRIAS, MEUS FILHOS E UM PETROLEIRO DE 18 ANOS...

As paredes das memórias guardam. O PC pede e a gente escreve. Ontem meu filho de 18 anos, Zé Paulo, o mais jovem Empregado da Petrobrás, falava da alegria de ter 8 sobrinhos e eu 8 netos. "Empatemos"...rimos...



DA RUA DO MEIO À ESTAÇÃO:
UMA VIAGEM

Quando meu filho José Paulo, tinha cinco anos, pedia para contar histórias do tempo em que minha idade era igual à dele. Ele dizia que a sua "Tia Leila" do "Ana Benedita" queria saber coisas além das coisas que o escritor Tonito Parada deixou de escrever em "COISAS E GENTE DA VELHA MACAÉ".

José Paulo diz que "Toninho" Parada (ele chama de Toninho) é muito inteligente, dizendo ele que soube no Colégio. Confirmo que sim e digo que o Tonito foi meu Professor e do irmão da Tia Leila, Binho Ramalho, quando a gente estudava no Senai em 1953. Ele ministrava aulas de Fisica e Quimica para a gente. Gostava do Fluminense e tinha um humor muito aflorado quando seu time vencia. A mãe dele, disse eu ao Zé Paulo, era amiga de minha avó Nhasinha. O nome dela era dona Arthemia e uma irmã do Tonito, Anita, foi uma das mais lindas e inteligentes professoras que tive no Colégio Luiz Reid...

Como José Paulo só acreditava em história que começa com ERA UMA VEZ, lá ia eu:

"Era uma vez uma cidadezinha muito bonita, que tinha uma praia de nome Imbetiba, de areia que a gente batia e caía sozinha do corpo, e que era dona de ondas esverdeadas e pedras cobertas de balsedos azulados". Uma das poucas praias em centro de cidade.

Era a praia mais bonita do mundo. Tinha uma bacia natural na qual a gente se banhava. Até pouco tempo, Marquinho Brochado, Jojó, Cláudio Santos, Niltinho e Renault brincaram nela. Zé Paulo não conhece nenhum destes amigos que falo. Mais parece entender que falo de minhas infâncias que sei ser igual a todas as infâncias do mundo...

As tardes eram umas misturas de Sol Azul e Céu Cinza-lilás. À noitinha, quando os sinos da matriz soavam e eram ouvidos até no Mercado de Peixes , barcos entrelaçados de gaivotas e tesoureiros saudavam pescadores que vinham do alto mar. Estes pescadores iam e vinham nas ilhas do Francês, Papagaio e Farol. Traziam peixes, Não haviam os atravessadores e eles mesmos vendiam o produto. Com cestas nas cabeças, com um pano enrolado para não machucar, eles iam anunciando: - olhe o Gordinho: tenho pescadinha, espadas, ciris e camarão... nas cestas, alguns pedaços de galhos de árvores conservam o peixe fresquinho e com a gueurra vermelha. Neste tempo não havia gelo para colocar. Até por que se colocasse o degelo ia molhar o vendedor/pescador...

Nas praças, gente de idade mais que a nossa, era cumprimentada (naquele tempo se dava "Bom Dia", "Boa Tarde" e "Boa Noite").

Numa Estaçãozinha de Trens, a vida era mais movimentada que no resto da cidade. De tarde, vinha o EXPRESSO. À noitinha, vinha o RÁPIDO e, pela madrugada, num apito que sonorizava música, chegava o NOTURNO.

Muita gente descia do trem. Não havia os desastrosos ónibus e, lá do outro lado da linha, onde mora "Tia Leila', não tinha casa nenhuma". Havia apenas uma casa onde morava uma senhora de nome Filhinha. Era nossa prima.

Era uma "viagem da Rua do Meio até lá". Vielas pela Chácara do Chico Lobo; pulando valas na Praça da Luz, onde foi enforcado o Motta Coqueiro que seu bisavô Emílio conheceu ; desviando de cachorros no tronco do Pé de Tamarindo, olhando a bela casa de dona Yayá Vieira; dando uma passadinha em Conceição Almeida, Izolino e tia Domingas. Enfim, era um dia de sagrada alegria para mim, menino na sua idade, contava eu para José Paulo.

Esperando o trem, sempre havia 4 carros de Praça, todos muito reluzentes. Os donos ficavam horas e horas passando flanelas até que o trem vinha. Era sempre com um pequeno atraso, o que nos dava mais euforia. Os motoristas dos carros eram pessoas muito queridas em nossa pequena e meiga comunidade. Otacílio Caramelo, que é pai do ex-marido de sua Tia Leila e que foi o primeiro proprietário do Rápido Macaense, o pai de Moadyr Vitorino, e um homem muito alegre de apelido "Papa Capim".

- Uma cidade muito feliz, esta do meu tempo de sua idade, continuava com ele a minha história...

- Um dia, quando que a maldade humana habitou a cabeça de um governo, desativaram os trens que carregavam a gente.

Ai, a Estação ficou triste. Nem o Seu Petrônio, pai de Ricardo e Roberto, passou mais com uma Chaleira de Café e com o prato de Mãe Benta pela Rua da Estação.

Naquele tempo, ainda não tinham inventado a Garrafa Térmica, que conserva mais fria que a velha chaleira de ferro...

O apito do trem cedeu lugar às buzinas e a Estação ficou com cara de velho de asilo, só, pensantemente aceso e infeliz..

Quem sabe, um dia, algum menino que hoje tem sua idade,não governa o Brasil e faça voltar os trens.

- E aí, como toda historinha, ela termina com José Paulo respirando profundamente.

Hoje, quando o vejo com 18 anos, alçando seu voo de adolescente para rapaz, me veio esta vontade de escrever e republicar este texto de meu livro LUAR DE IMBETIBA.

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