Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

17.1.07

MORRE EM MACAÉ, AOS 82 ANOS, DUDÚ TRINDADE COELHO, VULTO DE NOSSA HISTÓRIA E VIVENCIAS

José Milbs de Lacerda Gama


Perde a comunidade de nossa região um dos seus mais ilustres homens. Desportista, comerciante, grande contador de histórias e de vivencias macaenses, o senhor Eduardo Trindade Coelho faleceu na cidade que nasceu, viveu e fez histórias nos seus 83 anos...

“América F.C. de carteirinha”, Seu Dudu, foi um exemplo de uma alegre vivencia. Simples, sempre cercado de pescadores, caçadores de pássaros e fiel ao Esporte Clube Nacional da Aroeira, onde foi Beque Central. Sofria de uma doença que tombava seu corpo musculoso a cada dia. Jamais, no entanto se deixou abater. Cercado do carinho de seus netos e bisnetos ele sorria feliz, com a dor que o quedava, sem deixar de perder o sorriso de menino de 82 anos, vividos todos eles nas Ruas Empoeiradas de Macaé.

Nascido de pais simples “subiu na vida” sem perder a naturalidade. Sempre era visto, até poucos dias, na direção de seu velho bugre ou no Corcel Amarelo que mantinha o escudo do América F.C. sua grande paixão. As suas brincadeiras se resumiam em alegres piadas que seus netos entendiam e riam. Quando se referia ao América dizia: “Gegéco (era Zé Paulo seu neto), o América não perde há muito tempo”. E, quando recebia o olhar espantado do neto, emendava: È por que não tem jogado.

‘Era um homem de grande valor histórico em Macaé. Sobrinho do Empresário Amphiolphio Trindade ele herdou dele o respeito aos valores comerciais e uma grande preocupação com o social. Sem conhecer a cultura do Socialismo nem nunca ter lido nenhum dos filósofos marxista, na prática, deixou um exemplo de vida. Não acumulou riquezas mais não deixa seus dependentes sem o mínimo para sobreviver.

Dudu jamais se deixou levar pelas facilidades.De origem simples, em uma cidade pura no início do Século XX, “Seu Dudu” jamais se deixou tocar pela “varinha da indiferença aos pobres” e era sempre com eles que compartilhava seu sorriso e encantamento humano. Era um gentlman.

Atento a família, aos amigos simples que sempre o rodeou. Deixa os filhos Lucia, Sonia e Eduardo. Os netos Luís Cláudio, Ana Cristina, José Paulo, Eduardo, Ivana, Rodrigo, Rafael e Luiz Eduardo. Os bisnetos Paulo, Manuela, Pedro, Gabriela, Mariana, Ana Clara, João Pedro, Lucas, Filipe e Maria Eduarda.

Mais antigo morador da Rua Francisco Portela, onde construiu sua residência a mais de 60 anos, se orgulhava sempre de dizer das dificuldades deste tempo neste local que “era um charco”. Seu neto Luís Cláudio Coelho de Lacerda Gama, herda esta veia de construção civil e constrói um prédio na Estância Vista Alegre que, poucos dias antes de deixar este mundo, Eduardo Trindade Coelho veio visitar, como que se despedindo alegre, e com gestos trejeiros, dos netos e da filha Lucia que era sua companheira quando de suas idas e vindas ao Cine Santa Izabel para as Sessões Colossos dos anos 50.

Sua psicologia, fruto de uma longa existência, o fazia entender os olhares piedosos, em seu final de existência e não permitia estes olhares em sua direção. Brincava, gesticulava, fazia sinais de “tudo bem” e cortava a onda de piedade com os olhos do entendimento do saber de que a vida era mesmo uma passagem.
. Brincava, gesticulava e não se deixava trair pelas dores que brotavam no seu interior e se refletia, traindo-lhe, nos olhos secos pelo cansar dos anos...

O quarteirão onde morava era o seu mundo de belas e longas manifestações das lembranças. Catucado, nas paredes de seu lembramento, ele citava os velhos moradores como eles ainda ali estivessem. Otto Pacheco, Dúia, Concy, Epaminondas Mathias Netto, Paulo Silva, Álvaro Bastos, Norma, Benedito e Sula. De todos estes que já voaram, como ele voou, Dudu tinha de cada um algo de belo para contar e se recordar. Suas últimas aparições, no encostamento do muro de sua aconchegante casa, poucos puderam ver. Fica, para muitos que o conheciam com suas brincadeiras e acenos, a saudade de seu vulto alegre e cordial...

Orgulhoso de ter sido um dos bons jogadores de Futebol do Forte Marechal Hermes e das investidas, dos Comandantes Militares de seu tempo, para que fizesse carreira militar, que, mais tarde ele viu renascer em Eduardo Coelho Medeiros, seu neto e Major da Força Aérea Brasileira.

Seus últimos dias foram cercados mais de perto pelo carinho de sua fiel companheira Ivone Manhães Coelho e de sua neta/amiga Dra. Ana Cristina Coelho de Lacerda Gama, de sua filha, a pedagoga Lucia Maria Coelho de Lacerda Gama, de Luis Cláudio Coelho de Lacerda Gama e do enfermeiro/amigo Michel do Hospital Público Municipal (HPM).

Macaé perde, com morte de “seu Dudu”, um grande filho. Eu perco um grande amigo de 50 anos, avô de meus 3 filhos Luís Cláudio, Aninha e Zé Paulo.
Acostumado a vê-lo, em seu velho Bugre, seu caniço espairado num gancho, cabelos brancos esvoaçados e assanhados ao vento de nossos verões, os macaenses sentirão saudades deste nativo.

São mais de 60 anos de idas e vindas nas “Pedrinhas” para a caça de peixes e crustáceos que traziam, em seu velho bornal, em tardes amenas de uma Macaé que se esvai no esquecimento de seus verdadeiros vultos.

Dudu resistiu, com bravura, firmeza e sanidade, a doença que o abatia. Procurava sempre, com o olhar de menino de 84 anos as pessoas queridas em sua volta. Parecia que sua mente vagava e, ao vagar, se via no Cine Santa Izabel, nas sessões dos foroestes em companhia de sua filha Lucia. Os olhos lacrimejantes e de grande saudade o fazia adormecer. Sonhos numa Macaé só dele deve ter sido a sua ida para o infinito intransponível ao inteligível humana. Talvez, longe, num aceno de quem “parte deixando saudades” ele nem saiba que deixa o corpo imóvel e frágil para ser sepultado.

Afirmo, que a criação dos seres vitais, não permite que saibamos o que fomos. Assim como a linda Borboleta que não sabe ter vindo do Casulo. È bom isso. Dudu deve estar voando, com o seu musculoso e atlético corpo que tanto orgulho dava a quem o conheceu e amou.

A Dona Ivone Manhaes Coelho, paulista, Artistas Plástica e Estilista de Marília, sua companheira de mais de 60 anos, minhas sinceras condolência pela perda. Dona Ivone, filha de uma das mais tradicionais famílias de São Paulo, fundadora de Marilia, deixou tudo para se casar com este que seria o seu companheiro de tantas lutas e alegrias. A jovem paulista, que vinha passar férias em Macaé, onde seu pai era e foi o primeiro proprietário do tradicional “Balneário de Imbetiba”, se apaixonou pelo jovem Cabo Trindade e, desta paixão nasceu uma bela e feliz família de macaenses.

De minha parte jamais posso esquecer seu gesto de amigo, num tempo em que dinheiro era dinheiro e eu objetivava compra as oficinas de O REBATE e o titulo da Empresa. Seu aval foi definitivo e hoje o jornal ai está graças a um dos muitos gestos amigos que este homem teve em vida...

O verão de Macaé, numa mistura de Sol, Mar, Ondas Bravias e Pescadores Solitários, fica, neste início de 2007, seu o seu fiel admirador e amigo.
O América F.C. companheiro desde os tempos do Rádio de Pilha e das peladas do Indaraí, não mais terá este torcedor fanático. Dudu morre, às vésperas da contratação de Junior Bahiano e não irá vê-lo fazer renascer suas esperanças de um Campeonato Carioca. A vida continua...

Um dos últimos olhares de felicidade, esboçando um leve sorriso de alegria e contentamento, foi quando soube do ingresso de seu neto Zé Paulo Coelho de Lacerda Gama, na Estatal Brasileira da Petrobrás, por Concurso Público...

Nenhum comentário: