Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

31.3.12

Poeta, grande figura de alegre pensar. Morre "Hespanho"" que fazia poesia no ver das coisas

JOSE ANTONIO FRANCO HESPANHOL viveu intensamente a Poesia sem nunca se deixar tomar pela política partidária. Nasceu simples com a simplicidade dos homens do interior que buscam sempre na natureza o florir de seus encantos poéticos.
Beleza purissima do homem do Campo, refletida em um de seus cânticos: “Lá na serra de Trajano
Tem um pau pra derrubar
Em cima tem marimbondo
Em baixo tem mangangá”....
José Antonio faz nascer o carinho das pessoas pelo seu querido recanto de nome Triunfo, vive e revive Trajano de Moraes, As Serras, o Alto do Imbé... busca nos Marimbondos nos Mangagás, nos leva ao Cheiro das fumaças que faziam Obras de Artes, na Maria Fumaça que se dirigia as nuvens das Serras...
Quanta poesia, quanto amor ao seu lugar, no refrão de seu Poema:
“A desgraça do pau verde”
É ter um seco encostado
O seco pega fogo
Verde morre assado”.
Um homem com quase 2 metros de altura e um coração tanto maior que vindo morar em Macaé, cidade grande para ele, soube também ver, por entre o progresso e o fim das Cadeiras nas Calçadas, a Macaé bocolina e bem brejeira... JOSE MILBS DE LACERDA GAMA, escritor e editor que ainda será um Poeta no esmelhamento de obras como a do amigo Hespanhol)...





MACAÉ A PRINCESA DO ATLÂNTICO

Adoro-te bela Princesa do Atlântico,
deitada em teu berço esplendido, de areia,
alegre a merecer dos poetas, os cânticos
mais belos que inspiras e semeias.

Bela mulher dos olhos verdes marinhos,
de cabeleiras verdejantes de tuas matas,
de nuvens claras, que em céu azul são arminhos
que vestes para embelezar-te, e te recatas.

Mas esta beleza não poderia passar despercebida, 0
ante ao olhos dos que em ti admiram a vida,
como os menestréis ou bêbados românticos.

E tu deitada languidamente na areia escaldante,
como a musa dos poetas, e a inspiração dos amantes,
bem merece ser chamada de A PRINCESA DO ATLÂNTICO.

José Antonio Franco Hespanhol
Ontem, perdemos um amigo, poeta e apaixonado pelas letras. E ficamos muito tristes. Nasceu em Trajano, mas viveu Macaé. Nossas homenagens
JOSÉ ANTONIO FRANCO HESPANHOL, 13/10/1951 - 20/03/2012 (assim foi dito por alguem que conviveu com ele atraves da Memoria Macaense que registrou o fato)...


“Lá na serra de Trajano
Tem um pau pra derrubar
Em cima tem marimbondo
Em baixo tem mangangá”


Vim pra vida onde se consagra a morte. Nasci no alto do morro ao lado do cemitério. A noite do meu nascimento no jongo, que era um costume local, ouvia-se na serra de Trajano: “Tem um pau pra derrubar, em cima tem marimbondo em baixo tem mangangá”.
A Maria fumaça subia a serra gemendo um sorriso, na alegria de chegar, tão imponente com a locomotiva de número 31, que é exatamente o contrário do dia 13, o dia real de quando chorando, sorri pro mundo. Só que nesse fatídico dia veio outra máquina e desta feita, com o número 51, que era curiosamente o ano da minha chegada ao mundo, que pode-se dizer triunfal, não que Triunfo seja uma pequena localidade no pé da serra, mas sim porque esse treze não era sexta-feira e sim um belo sábado. Não era agosto, pois era outubro, e o relógio que estava com os ponteiros no 12, não era meia noite e sim meio dia. Assim, estava livre dos estigmas populares que atribuem como sendo a sexta-feira treze o dia do azar.
“Tanto pau no mato
Imbaúba é coronel”
E o jongo continuava com sua cantoria: “tanto pau no mato imbaúba é coronel” - como querendo anunciar o nascimento de um ser poderoso que venceu o dia do azar que acontece em pleno inverno e nasceu numa bela e florida primavera, no mês de outubro. Já desde menino, ainda bebê, vencia obstáculos, nascendo no dia certo mesmo sendo um 13 e na hora certa, mesmo sendo 12 com os dois ponteiros na vertical, pois assim estavam apontando para o céu, como se fazendo um elo entre o firmamento e a terra; essa terra bendita, onde se registra o suave murmúrio das águas buliçosas e velozes que desce riscando num tom prateado o colo da serra em direção ao alto do Imbé.
Na pia batismal recebi o nome de José Antonio Franco Hespanhol. O Franco por parte de minha mãe oriundo de família muito conhecida em Visconde do Imbé, e o Hespanhol do lado paterno, de família também muito conhecida em Santa Maria Madalena. Meu avô era imigrante espanhol, fazia parte da casa espírita Jesus Coroado, que situava-se entre o Arranchadouro e o Largo do Machado. Essa rua hoje leva o se nome.
“A desgraça do pau verde”
É ter um seco encostado
O seco pega fogo
Verde morre assado”.

Desde tenra idade sempre procurei andar em boa companhia, sempre seguindo conselhos dos mais experientes e com Deus no coração, pois a desgraça do pau verde é ter um seco encostado; o seco pega fogo e o verde morre assado, como anunciava o Jongo em suas últimas cantorias.
Memórias... Rios em nossas almas. São pontilhões antigos que nos levam ao rio infinito de nossas lembranças. Nossos ritos, nossos mitos, nossa terra e nosso chão. Uma palavra se levanta, PERTENCIMENTO. Sentimento que nos faz sabedores de nossos signos. Nossa memória é a expressão de todos os sentidos quando em comunhão com o Pertencimento. Levantemos nossa memória. Temos o dever de criar os mecanismos necessários para que nossa pegada, enquanto comunidade nesta terra chamada MACAÉ, não seja apagada por invencionices de nossa história. Macaé é muito mais.

Jose Milbs de Lacerda Gama, editor e amigo das "Memórias Macaenses"...