Boas vindas

Que todos possam, como estou fazendo, espalharem pingos e respingos de suas memórias.
Passando para as novas gerações o belo que a gente viveu.
(José Milbs, editor)

17.8.08


QUANDO AQUI CHEGUEI ERA MATO PURO. HOJE ASFALTO E CAMINHÕES BARULHENTOS ESPANTAM MEUS GANSOS

Durante longo período fiquei afastado do Sítio que minha mãe trocou pelo terreno que minha avó deixou para como herança. O terreno era na Rua do meio onde nasci. As pessoas achavam uma “loucura de Ecila trocar um terreno perto da linda e aconchegante Praia de Imbetiba, com 10 metros de frente com 33ms de fundos por um pedaço de mato com 1 alqueire cheio de árvores velhas, cobras, sem estrada e com um brejo nos fundos”. Naquela época, anos 70, as cabeças eram parecidíssimas com as de hoje. Grana, tudo pela grana, pelo “vamos viver hoje que amanha a gente não sabe”...

O Sitio era na Granja dos Cavaleiros uma antiga fazenda da Família Reid que virou loteamento. A época estava no Movimento Hippie e só falava em deixar a cidade e ir para o campo. “Ter uma casinha branca de varanda. Um quintal e uma janela para ver o sol nascer.” era tudo que eu queria e minha mãe fez minha vontade.

Deixar a cidade e ir morar longe dos burburinhos fazia minha cabeça e aceitei de pronto. Embora continuasse morando na Rua Visconde de Quissamã, numa vila, vinha todos os dias no sitio e vivenciava p encantamento do local com sua mansidão solitária.

Apenas uma picada feita por andar humano e bicicletas formava o caminho de uma estrada feita para vender os lotes que tinham de cinco mil a 10 mil metros quadrados.

Passarinhos expulsos de Macaé, que já começava a se tornar uma metrópole com suas Ruas e Vielas tomadas pelo cheiro de óleo queimado e buzinas, tinham por aqui seu local tranqüilo e firme para a procriação. Bacurau pelo caminho, borboletas de todas as cores, preás, rãs, eram alguns dos componentes que se podíamos admirar nos dois quilômetros que separavam o sitio da estrada.

Rolinhas, papas-capins, tizius, sabiás, andorinhas, pombos selvagens, pombas-rola, anuis, gaviões e, patos que se fizeram selvagens, vindos do Sitio de Lafaiete Cyríaco, que mais tarde também foi expulso de seu belo recanto poético, davam a certeza que ainda existia paraíso para se viver dentro de uma cidade que começava a ter sua historia deteriorada, em sua essência, pela chegada da Petrobrás que criava ganâncias materiais aos menos avisados.

De vês em quando, cavalos e cavaleiros passavam e, nos cumprimentos, se podia notar das purezas, ainda latentes, em seus cavalga mentos sem destino.

Era ainda a virgindade de um local que se conhecia no dia a dia de matinais alegres e tardes preguiçosas e calmas. As manhãs eram sempre maiores e já se podiam notar os verdadeiros moradores do lugar. Seu Flanque (como é conhecido) tinha a beleza nascente da bondade e da presteza. Peroba, Cimar, Natalina, Beto, João seus irmãos e seu pai Pacuçu, Seu Walter se misturavam a novos Baianos como Manoel Vieira que morava do meu lado com dona Lindaura que trouxe e espalhou uma raça de bons meninos. Dona Lindaura nos deixou em plena forma e vigor.

Jorge Barbudo, Moraes, José e Milward Barreto enfim o local começava a se formar com gente que conhecem cada palmo e cada planta. Dona Rola, com sua meiga presença, era uma espécie de abelha Rainha deste paraíso intocado numa Macaé ainda não desbravada. Roberto, seu filho, irmão de Chicão sabe, como eu, o quanto as coisas mudam e se transformam. Nosso Bairro ainda era conhecido como Molambo, nome herdado das longas e intermináveis idas e vindas na Fazenda dos descendentes do Luiz Lawrie Reid.

Morou ainda por aqui Manoel do PU e seus filhos, ele, autor de “Cascudinho Azarento”, música de sua autoria que fala num peixe de seu sertão nordestino. Falava e fazia um apelo para não falar no nome deste peixe que dá azar e não se pesca nada. Cantou no Festival que fizemos no “O REBATE” nos anos 60 e que mereceu aplauso e preferência de José Carlos Oliveira, Jaguar e Olga Savani, embora Piry tenha vencido com o apoio de Egberto Gismonti e Alberto Reis. Manoel era enfermeiro do PU e morou na casa grande do sitio quando ficou uma época sem local.

Era desta gente pura como o ferroviário Marinho e seus filhos, notadamente Stalin, que foi registrado com Estalin, num dos famosos erros cartoriais macaenses, que se iniciou o Bairro Novo Cavaleiro que tinha o alegre e puro nome de Bairro do Molambo.

A presença de Moraes, no sítio, vinha de sua morada com Barreto, irmão de Milward, bem lá onde fica o final do ônibus 80 que faz trajeto Cavaleiro /Aroeira. Nesta época não tinha estrada, e uma picada nos levava ao sítio deste amigo Barreto, que era vizinho de Dodô do Bicho e Roberto Bueno. Dodô saiu da área e Roberto continua morando lá.

Durante muito tempo editei o jornal O REBATE neste Bairro, num galpão construído com a mão de obra local, e suas paredes, por incrível que pareça, feitas de pau a pique.

Ricardo, como Natalina e outros, trabalhavam comigo no jornal que era uma espécie de orgulho do Bairro. Chicão e Peroba, um dos mais antigos moradores daqui, sempre falam com Luís Cláudio, meu filho, que o Molambo já teve um jornal Semanal e um Diário, já que Luís Cláudio, Magrinho, Elton, Ricardo, Natalina, Fraga, editaram o DIARIO MACAENSE que infelizmente não vingou por falta de uma coisa muito comum no jornalismo que é o acocoramento ao poder, que não fizemos e, por isso perdemos o bonde da história, embora este bonde não seja lá um bonde muito digno de se viajar.

Em novembro era tempo de colher Jabuticabas, Acerolas, Pitangas, Amoras. As Mangueiras começam a ter seus frutos caídos com os ventos vindo do Sul e as Jaqueiras nos dando a certeza que teremos doces no mês de dezembro. Aproximar. Muitos Cajus Brancos e Vermelhos e Abricós.

O sitio era um local virgem na Macaé que se prostituiu com o progresso descompassado e feio. O galo ainda canta nas madrugadas e os anus brancos e negros teimam em fazer seus ninhos nas árvores que mantenho ainda em teimosa posição de reação as multinacionais que me cercam por todos os lados. Expulsaram o Lafaiete Ciryaco, o Alfredinho Tanus, filho de Camil, o meu primo Nélio Almeida, o Paulo da Farmácia e encolheram o terreno de dona Rola mãe de Chicão, Roberto e Peroba.

As empresas chegam e compram tudo nesta área, que puseram o nome de expansão urbana. Resisto e continuo preferindo o cantar dos galos, o pio dos passarinhos ao barulho fedorento de guindastes empacotando correntes de ferro e container. A nascente que brota no final do terreno é a maior de todas as riquezas do Sítio. Estou cercado de firmas de apoio.

Aterraram Brejos, Nascentes e Córregos. mantenho minha nascente de Aba de Morro com sua água cristalina que abastece tudo. È a minha herança para meus filhos que tem sua origem na Fazenda Airys que meu avó Mathias Coutinho de Lacerda deixou para minha avó Alice Quintino de Lacerda nos anos l926 e que, trocados daqui e dali veio a dar nesta Estância Vista Alegre onde moro.

Hoje, ano de 2008, edito "O REBATE" on-line que está me dando alegrias e encantamento, Chegamos a um milhão de acessos ao site de www.jornalorebate.com e com isso sinto que nem tudo foi em vão na minha vida. Cercado de árvores filhos e netos caminho para os 80 anos na busca incessante de "Buscar o Dever Cumprido”. (José Milbs de Lacerda Gama editor)

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